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sexta-feira, novembro 09, 2012

01. Crónica Diária na Rádio Altitude (4.ª temporada) – Crónica Americana ou do Autoclismo


1. Hoje é mais um daqueles dias em que a palavra mudança assume contornos reais e ilusórios, dada a impossibilidade que a honestidade tem de ganhar em qualquer parte do mundo. É impressionante como num mundo em que tudo está controlado pelo lucro e pela escravidão existem estes espaços de luz e de ar puro que nos vão aliviando o sofrimento com contornos de liberdade. Há quatro anos atrás uma onda de confiança e de crença varreu o mundo. Há quatro anos atrás, do outro lado do Atlântico, veio uma lufada de ar fresco que prometia agitar todo o globo e condenar a tirania e a escravidão ao desaparecimento. Há quatro anos atrás eu acreditei que poderia de facto acontecer algo bom. Sim, estou a falar da incrível eleição de Barack Obama como presidente daquele que todos admitem ser o país mais democrático do mundo. E realmente a democracia funcionou e o povo escolheu o seu representante. Aquela eleição marcou uma completa reviravolta naquilo que era o sistema quase monárquico a que o país dos hambúrgueres nos tinha habituado. (...)

Guarda, 05 de Novembro de 2012
Daniel António Neto Rocha

(Excerto da Crónica Radiofónica - Rádio Altitude, no dia 06 de Novembro de 2012 - disponível em podcast em Altitude.fm)
 

segunda-feira, novembro 05, 2012

Surpreendam-se!

Amanhã começa a quarta temporada de colaboração entre mim e a Rádio Altitude. Amanhã pelas 9h15 e às 17h15 ouçam o que tenho a dizer ou então não ouçam. Começa amanhã e depois de quinze em quinze dias! Surpreendam-se!

quarta-feira, outubro 31, 2012

Renovação de contrato com a Altitude

Gosto de renovar contratos, mesmo os contratos que são apenas verbais. Aliás, destes assim até gosto mais, pois gosto de pessoas que honram as suas palavras e não fazem de conta que nunca disseram nada. Sobre esta questão da honra tenho alguns episódios curiosos que um destes dias poderei começar a contar, mas logo vemos. Renovei contrato, numa sessão simples e discreta, na Segunda-feira, com a Rádio Altitude. Vai ser já o quarto ano de ligação com aquela Rádio. Quatro anos! E parece que foi ontem. Por lá tenho dado o que de melhor tenho: sinceridade e profissionalismo, aliados a muita ironia (e algum sarcasmo) e a uma postura sempre coerente. Talvez as gentes da Rádio, de quem gosto, tenham outras opiniões sobre as minha crónicas e nem gostem muito delas, mas este convite enche-me sempre de orgulho. Afinal, é uma Rádio que não muda de caras. Conheço todos os que lá estão desde o primeiro dia. Coisa rara nestes dias onde a "máquina" exige que se depurem os que não são da cor ou da opinião.
Caro Rui e demais amigos, aqui fica a promessa de mais umas quantas crónicas. As que forem necessárias e com muito picante, para os ouvidos mais sensíveis.
Até breve e vão estando atentos!

terça-feira, junho 26, 2012

17. Crónica Diária na Rádio Altitude (3.ª temporada) – Crónica das palavras ou da retórica demagógica (*)

1. “Quando a pátria que temos não a temos/ Perdida por silêncio e por renúncia/ Até a voz do mar se torna exílio/ E a luz que nos rodeia é como grades”, assim escreveu Sophia de Mello Breyner Andresen em 1962 no seu Livro Sexto. O poema chama-se “Exílio” e dá-nos a entender que a palavra e a participação pública são essenciais para a manutenção de uma saudável pressão democrática sobre os usurpadores do poder, que tantas vezes aprisionam as vozes do povo e as levam a um suicídio participativo. Quero com isto responder a ou esclarecer todos aqueles que levam e que são levados a pensar que as palavras são inacção, ou melhor, que demasiadas palavras servem, unicamente, para forrar as ruas ou as paredes não servindo para mais do que isso. Alguns, armados da aparente delicadeza e de uma ufana retórica parcial, parecem esquecer que o “verbo” é acção, tanto para a teoria da criação divina, como para o desenvolvimento semântico, logo gramatical, da frase. Claro que, sendo livre e despretensiosa (tal como o ar que respiramos), a palavra pode ser um enfeite ou uma ilusão se usada para encher o ar de coisa nenhuma ou para propalar os feitos encantatórios de quem a quiser usar de forma enganadora e, puramente, política. Porém, quem faz reflexões sobre a palavra deve saber distinguir aquilo que é a função nobre deste símbolo da liberdade de todas as outras utilizações pretensiosas, pois, e num registo extremamente metafórico, não é a faca que mata mas, sim, a mão que a segura. Esclareçamos. A arte política de enganar e de não executar o que prometeu não se deve à inacção da palavra, mas, sim, à falta de honra dos homens! As promessas eleitorais são feitas pela língua, tantas vezes, viperinas dos homens, sendo a palavra apenas um “objecto” transmissor! Os sofismas, de que tantos conceituados oradores são portadores, são habilidades dos homens e não das palavras! Talvez Sophia, a partir do livro já referido acima, possa ainda ajudar-nos a esclarecer todos aqueles que querem ver como culpadas as palavras e não a língua que as articula com o poema “O Velho Abutre”: “O velho abutre é sábio e alisa as suas penas/ A podridão lhe agrada e seus discursos/ Têm o dom de tornar as almas mais pequenas”.

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Guarda, 25 de Junho de 2012
Daniel António Neto Rocha

(excerto da Crónica Radiofónica - Rádio Altitude, no dia 26 de Junho de 2012 - disponível em podcast em Altitude.fm)

(*) Porque acabou a temporada deste ano.

terça-feira, junho 12, 2012

16. Crónica Diária na Rádio Altitude (3.ª temporada) – Crónica do ataque ao interior ou da tentativa de desertificação também cultural

1. “Ne sutor supra crepidam iudicet!”, ou seja, “que nem o sapateiro julgue acima da sandália!” Assim exclamou um dos mais importantes pintores da Grécia antiga, de nome Apeles, aquando da mera crítica destrutiva que um vulgar sapateiro fez ao seu quadro. A história é simples e conta-se em meia dúzia de linhas. Apeles gostava de expor os seus quadros na ágora com o fino propósito de ouvir as críticas e, assim, modificar algo que pudesse estar errado. Um dia, um sapateiro, que por ali costumava passar, criticou a forma como estavam pintadas as sandálias de uma das figuras pictóricas. Consciente do conhecimento que aquele artesão tinha, Apeles retocou o quadro segundo as críticas do sapateiro. No dia seguinte, o pintor voltou a colocar o quadro para ser visto pelo artesão. Este que confirmou a, agora, perfeição da sandália começou, então, a criticar a forma como estavam pintadas as pernas e outras particularidades das figuras. Ao ouvir estas críticas, Apeles surge e grita a frase que apresento acima, demonstrando ao sapateiro que cada um deve criticar aquilo que conhece ou, pelo menos, aquilo sobre o qual tem informações bastantes e esclarecedoras.

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Guarda, 11 de Junho de 2012
Daniel António Neto Rocha

(excerto da Crónica Radiofónica - Rádio Altitude, no dia 12 de Junho de 2012 - disponível em podcast em Altitude.fm)

terça-feira, maio 29, 2012

15. Crónica Diária na Rádio Altitude (3.ª temporada) – Crónica do turismo ou da “cock” para o vinho australiano

1. Se não vivesse em Portugal, com toda a certeza que não seria tão feliz como sou. Portugal é um país que continua a dar mundos ao mundo e a ganhar destaque em todos os cantos do globo. Vejam-se as últimas informações sobre redes de lavagem de dinheiro que se estendem até Singapura! Fabuloso não é? Dirão todos aqueles que tiverem a consciência normalizada que se trata de uma falta de vergonha e, no mínimo, de um crime, mas eu só posso aplaudir este regresso do espírito empreendedor de outrora. Lembrem-se de que já andámos por aqueles cantos do mundo há algumas centenas de anos e, se na altura foi rentável, por que não investir em mais do mesmo ou coisa parecida! É este espírito de compadrio que fará avançar Portugal para águas mais profundas e, por fim, afundar-se em beleza, podendo transformar-se numa real Antárctida e, por causa disto, numa potência turística submarina. Já estou a imaginar os catálogos turísticos: “Portugal, um destino de eleição! Descobrimos novos mundos para o mundo e, agora, empreendemos na arte de afundar tudo aquilo em que tocamos. Venha afundar-se connosco e contacte com a nossa memória líquida!”

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Guarda, 28 de Maio de 2012
Daniel António Neto Rocha

(Excerto da Crónica Radiofónica - Rádio Altitude, no dia 29 de Maio de 2012 - disponível em podcast em Altitude.fm)

terça-feira, maio 15, 2012

14. Crónica Diária na Rádio Altitude (3.ª temporada) – Crónica de um dia diferente ou dos alunos do Zé (*)


1. No dia 4 (quatro) deste mês estive na Escola Secundária Afonso de Albuquerque, a convite do seu Centro de Recursos e do Professor José Monteiro, para falar sobre literatura, especialmente de poesia, com duas turmas de Humanidades. Estive no “Liceu”, minha escola de tantas e tantas aventuras, como tinha estado tantas vezes no passado e como vou estando em memória sempre que penso no espaço essencial que me preenche. Nesse dia, no entanto, estive noutro papel, a mostrar-me inteiro, a revelar-me e a agradecer os ensinamentos que ali recolhi. Voltei à escola como o escritor e poeta que inicia um caminho que poderá revelar-se real. O convite tinha como pressuposto uma conversa dos alunos com o “autor” Daniel Rocha que ainda não tem um livro. E não é que foi uma conversa franca e aberta entre gente interessada e consciente da existência de algo mais do que crises económicas e promoções de quaisquer sectores comerciais? Até se falou em teoria da literatura!

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Guarda, 14 de Maio de 2012
Daniel António Neto Rocha

(Crónica Radiofónica - Rádio Altitude, no dia 15 de Maio de 2012 - disponível em podcast em Altitude.fm)

terça-feira, maio 01, 2012

13. Crónica Diária na Rádio Altitude (3.ª temporada) – Crónica dos feriados de Abril ou do “Dia do Desempregado”(*)

1. Irra!, mais um feriado para atrapalhar a retoma económica do nosso grandioso país! Mas que cultura esta que insiste em celebrar dias assinalados pela tradição ou pela história como simbólicos e não compreende que a trabalhar é que o povo enriquece as suas contas bancárias e as dos patrões nacionais. Enfim, depois venham queixar-se dos impostos ou das subtracções de vencimentos. Se não trabalham e se andam por aí a aproveitar para descansar, estão à espera de quê? Só no mês de Abril parámos o país por dois dias! E porquê? Primeiro foi por causa de uma tal de Páscoa e dos ovinhos que, responda lá a biologia animal a isso, foram postos por um coelho. Depois, orgulhosos e extremamente crentes nos feitos passados de uma rica corja de políticos portugueses e na bela herança que diariamente recebemos deles, assistimos às quase inexistentes celebrações daquilo a que chamam o dia mais importante de Portugal. Que gente esta e que raio de cultura! Não sabem que é a trabalhar que a gente se entende? É claro que estou a usar e a abusar da ironia! Em primeiro lugar, neste período pascal o senhor coelho não deu ovos mas sim “caganitas”. Em segundo lugar, no dia 25 de Abril de 2012 nada de novo se acrescentou ao que já se sabia, apenas constatámos outra vez que a mentira é que há-de fazer com que alguém melhore. E por aí adiante.
 

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Guarda, 30 de Abril de 2012
Daniel António Neto Rocha

(Crónica Radiofónica - Rádio Altitude, no dia 01 de Maio de 2012 - disponível em podcast em Altitude.fm)

(*) As melhores perspectivas do Governo, ainda hoje, são a evolução dos números do desemprego para números nunca vistos. Estão preparados para sofrer?

sexta-feira, abril 27, 2012

12. Crónica Diária na Rádio Altitude (3.ª temporada) – Crónica de António Ferro ou da nova temporada de “Os Marretas”

1. Por vezes, ainda me entretenho a ler jornais e a ver telejornais, como se não tivesse mais nada para fazer do que flagelar-me todos os dias com mentiras, enormidades e hipocrisia descarada. Claro está que compreendo bem o poder da comunicação e o poder da imagem. O habilidoso António Ferro, aqui há uns bons anos, já tinha reparado na utilidade desse poder que constrói o que quer e destrói o oponente. Daí que construiu uma imagem de Portugal bucólica e tremendamente útil ao regime em voga, para além de ter perpetuado uma imagem de doce revivalismo dos tempos antigos que ainda hoje é admirada por todas as velhas gerações deste país. Destaque-se que, de forma extremamente hábil e encapotada, foi neste período de acção de António Ferro (cerca de 1933 a 1949) que os portugueses tiveram mais actividades culturais de índole popular e sessões de exacerbamento do espírito patriótico nacional. É óbvio que tudo isto fazia parte de um plano de controlo social através daquilo que alguns estudiosos apelidam como “tempos livres concedidos ao povo”, ou seja, actividades que permitiam ao estado manter o povo debaixo de um conjunto de manifestações culturais que o formatava à imagem e semelhança de um qualquer animal doméstico – que come na mão do dono de forma pacífica e enternecedora!

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Guarda, 16 de Abril de 2012
Daniel António Neto Rocha

(Excerto da Crónica Radiofónica - Rádio Altitude, no dia 17 de Abril de 2012 - disponível em podcast em Altitude.fm)

terça-feira, abril 03, 2012

11. Crónica Diária na Rádio Altitude (3.ª temporada) – Crónica sobre os joelhos da Assunção ou dos recibos esverdeados

1. Não é todos os dias que temos o prazer de assistir a mudanças radicais na política da Segurança Social, para além daqueles momentos em que entra um amigo laranja para o lugar do amigo cor-de-rosa. Daí que pensei que o dia das mentiras tinha chegado quando fiquei a saber que a roubalheira aos bolsos dos trabalhadores a recibo verde, feita por quem se quer solidário, poderia ter, finalmente, um alívio. Claro está que falo da já anunciada decisão de permitir que os trabalhadores independentes por necessidade acedam ao subsídio de desemprego. Mas como não poderia deixar de ser, tudo não passa de uma grande jigajoga governamental que fará com que os já depenados trabalhadores que retêm 21,5% do ordenado para o IRS e que devolvem 23% do mesmo ordenado para o IVA, e que somam a tudo isto uma quantia que pode chegar aos duzentos e tal euros para pagamentos à Segurança Social, sejam forçados a manter, parece que a partir de agora e até daqui a dois anos, a entrega intensiva de dinheiro a essa mesma entidade de solidariedade social, mesmo que não ganhem qualquer verba durante esses mesmos dois anos. Confuso? Sim, confesso que é muito confuso. (...)


Guarda, 02 de Abril de 2012
Daniel António Neto Rocha

(Excerto da Crónica Radiofónica - Rádio Altitude, no dia 3 de Abril de 2012 - disponível em podcast em Altitude.fm)

domingo, março 25, 2012

10.Crónica Diária na Rádio Altitude(3.ª temporada) – Crónica dos gritos de liberdade na literatura ou da justiça que nunca mais chega à humanidade (*)

1. Talvez todos os que me rodeiam tenham razão e talvez a minha única alternativa seja fingir-me de ficção. Sim, talvez a única opção para quem acredita na coerência e na lisura de comportamentos seja rodear-se de irrealidades em que não acredita e tornar-se membro honorário do clube português de negócios, onde só entra quem já tiver vendido a mãe e estiver a segundos de terminar a licitação do pai (mas tudo isto ao melhor preço!). Eis a ridícula opção para sobreviver em Portugal, treta de país onde reina a corrupção, o desrespeito por leis e a crónica atitude de passividade perante um bem superior que se nos oferece. E apetece-me, aqui, concordar com o banqueiro, personagem central do conto “O banqueiro anarquista”, de Fernando Pessoa, que diz a certa altura: “Empregar todo o nosso desejo, todo o nosso esforço, toda a nossa inteligência para implantar, ou contribuir para implantar, uma ficção social em vez de outra, é um absurdo, quando não seja mesmo um crime, porque é fazer uma perturbação social com o fim expresso de deixar tudo na mesma.” E lembro-me, inevitavelmente, das palavras magoadas de Manuel António Pina a caracterizar os homens e mulheres dos seus vinte anos, cheios de utopias e de crenças na melhoria e na mudança do futuro de um país que esteve demasiado tempo no tronco da opressão, mas que se revelaram habilidosos continuadores da usurpação de liberdades. E lembro-me das histórias sobre gritos de revolta, ensaiados pelas ruas, que culminariam numa madrugada enganadora e puramente ficcional, a que eufemisticamente demos o nome de Revolução. E espero, ainda, o dia em que a opressão seja verdadeiramente subjugada pela igualdade e onde a tirania deixe realmente de ter “um machado que corte a raiz ao pensamento”. E sinto-me, na proximidade dos meus trinta anos, enganado pelas utopias que me venderam e que me prometiam um futuro justo e pleno de igualdade para todos os habitantes deste triste país, onde aos filhos da revolta foi prometido o fim do sofrimento imposto pela ditadura dos direitos desiguais e das leis do Príncipe João e do seu Xerife de Nottingham. E acordo assustado de cada vez que olho pela janela e vejo que, editado em 1890, o livro Os Selvagens do Occidente, de Alfredo Gallis, parece o relato dos dias de hoje em que “O fisco, de olhar matreiro e ventas dilatadas, anda todo o santo dia a cheirar as algibeiras do pobre, a ver se lhe pode roubar alguns ceitis para encher o tesouro público, miserável canastra sem fundo, que outros se encarregam de despejar.

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Guarda, 18 de Março de 2012
Daniel António Neto Rocha

(Crónica Radiofónica - Rádio Altitude, no dia 20 de Março de 2012 - disponível em podcast em Altitude.fm)

(*) Por uma questão de princípios.

terça-feira, março 06, 2012

09. Crónica Diária na Rádio Altitude (3.ª temporada) – Crónica precisão educativa ou das perguntas difíceis (*)

1. Do meio da loucura capitalista e das mais valias originadas pela exploração sem sentido dos poucos dinheiros dos contribuintes, há, por vezes, algumas acções que merecem destaque e uma análise por parte de nós, pobres comentadores que ninguém ouve ou sequer escuta, mas que também lêem jornais. Daí que o facto de o jornal Público ter uma versão gratuita é estranho, mas mais estranho é essa versão gratuita ser uma análise muitíssimo interessante da vida que nos rodeia e dirigido pelo filósofo José Gil. Se não estão a reconhecer o nome ou se estão a confundi-lo com o músico João Gil, desenganem-se e leiam o seu ensaio extremamente pessimista acerca do nosso futuro enquanto pátria chamado: “Portugal hoje, o medo de existir”. Para além de uma visão muito negativa acerca daquilo que os portugueses vêem como futuro, o autor refere ainda a face negra daquilo a que chamamos, com algum carinho à mistura, democracia portuguesa. Mas isto são só duas ideias que perpassam por todo o ensaio, que deve ser lido por quem educa e por quem se preocupa.

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Guarda, 05 de Março de 2012
Daniel António Neto Rocha

(Crónica Radiofónica - Rádio Altitude, no dia 6 de Março de 2012 - disponível em podcast em Altitude.fm)

(*) Por uma questão educativa!

terça-feira, fevereiro 21, 2012

08. Crónica Diária na Rádio Altitude (3.ª temporada) – Crónica dos meus carnavais ou da formação para a escrita (*)

1. Nunca fui um fã incondicional do Carnaval, ponto. No entanto, nunca me abandonei a um estado de apatia tal que não reparasse que existia, para os lados do Entrudo, uma realidade cultural e social riquíssima prestes a ser devorada pela minha curiosidade. Deixem-me contar-lhes, em duas ou três penadas, o início desta minha relação quase antagónica com os dias da tradição mais indisciplinada que eu conheço. Tudo começou quando ainda vivia na Guarda (tinha para aí dois ou três anitos), junto à capela de São Pedro. Nessa altura, o mundo parecia perfeito. Naqueles dias ainda brincava com o meu irmão no meio da estrada em frente ao café, então, pertença da família. A diversão era constante e só era interrompida pela ocasional passagem de um automóvel. Pois bem, foi nesses inícios que começaram a existir registos dos fatos ou costumes com que, desde aí, a minha mãe e as minhas tias maternas nos iam envaidecendo. E ainda têm muito jeito, sim senhores! Os registos fotográficos não enganam e, lá no meio da recordação saudosa, vem um ou outro motivo de humor ou de heróica figuração. A foto mais falada, destas nossas carnavalescas andanças, envolve aquele marco dos correios vermelho (que ainda hoje está em frente à casa do bispo) e dois gentis homenzinhos: uma bela dupla de Super-Homens que se aprestam a salvar o mundo das suas cruéis provações e das suas hipócritas resoluções. Eu e o Sérgio éramos dois super-heróis prestes a travar as mais duras batalhas das nossas vidas, mas ainda envergando o delicado sorriso dos nossos inocentes anos. Não muito mais tarde, juntar-se-ia a nós o Hugo, que, por ser um pouco mais novo, já não envergou para a posteridade aquele traje heróico no mesmo sítio. Mas estas são as primeiras memórias dos carnavais que vi quando era criança e vivia na Guarda.

(...)

Guarda, 20 de Fevereiro de 2012
Daniel António Neto Rocha

(Crónica Radiofónica - Rádio Altitude, no dia 21 de Fevereiro de 2012 - disponível em podcast em Altitude.fm)

(*) Por uma questão de vaidade!

terça-feira, fevereiro 07, 2012

07. Crónica Diária na Rádio Altitude (3.ª temporada) – Crónica ao Professor Tó Zé ou do Prémio Café Mondego 2011 (*)

1. Estávamos já nos últimos anos do milénio anterior quando eu e o Armando desatámos à “porrada” em pleno corredor. Éramos, por esses dias, alunos do terceiro ciclo no Liceu e, acabadinhos de fazer a Telescola em Famalicão, chegávamos à Guarda com propósitos um tanto ou quanto enevoados – nem nós sabíamos bem o que queríamos, nem aquele espaço parecia oferecer-nos nada daquilo que nos estava destinado. “Putos” da aldeia, meio “gandins” e com alguns problemas em aceitar que nos apelidassem de “ruras”, vingámo-nos um no outro, não sei bem porquê. Penso que nunca mais trocámos mimos idênticos, apesar de, com toda a certeza, termos trocado mais algumas palavras azedas. Por esses dias, pelos cantos da mítica escola de Vergílio Ferreira, eram contadas histórias inacreditáveis sobre um bando de malfeitores que possuía um título pomposo: os alunos da turma H. Como seria de esperar, nós pertencíamos a essa turma. Pois bem, entretidos na troca de galhardos murros misturados com sublimes pontapés, não reparámos no amontoar de professores e funcionários que se afastavam, temendo aqueles dois monstros que se digladiavam. Ali estivemos em agradável esbofetear alguns minutos até que um desconhecido apareceu e nos separou, enquanto nos dedicava palavras plenas de boas intenções. Foi a primeira vez que eu o vi e nunca mais lhe esqueci o rosto. Claro está que a vergonha de não termos terminado o combate não tinha espaço para vingar no seio de tão vil turma e as horas seguintes foram plenas de elogios retumbantes: “Grande esquerda!”; seguido de “Fantástica direita!”; depois o “Parecias o Undertaker!”; e por fim o mítico “Aquele carrinho foi melhor do que o do Paulinho Santos!” O pior é que estava para vir, e depressa! Foi logo no Domingo seguinte. Nesse tempo, cometia os pecados na escola e confessava-os na missa dominical, onde era também acólito. E, claro, o Armando também. No preciso momento que se seguia ao “Ide em paz”, lá ia eu rua fora quando vejo a figura, risonha, do pacificador da minha disputa semanal. Fiquei boquiaberto! Ele? Aqui? Vim a saber minutos mais tarde que era natural de Famalicão e ouvi pela primeira vez o seu nome: António José Gouveia Dias de Almeida ou, num registo muito mais familiar e amigável, o Professor Tó Zé. Como é óbvio, para um puto com aquela idade, era preciso evitar conversas para que ninguém viesse a saber da tarde de violência, mas o seu nome nunca mais desapareceu da minha memória. Ainda para mais depois de saber da extrema afeição que ele sempre teve pela minha família materna.

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Guarda, 06 de Fevereiro de 2012
Daniel António Neto Rocha

(Crónica Radiofónica - Rádio Altitude, no dia 7 de Fevereiro de 2012 - disponível em podcast em Altitude.fm)


(*) Por extrema amizade, esta crónica é publicada na íntegra!

terça-feira, janeiro 24, 2012

06. Crónica Diária na Rádio Altitude (3.ª temporada) – Crónica da Loja Marquês de Sade n.º 69 ou dos “Croissants” Guardenses

1. Podem não acreditar, mas toda esta conversa sobre maçonaria e sobre a Loja Mozart me fez lembrar as histórias de piratas de Emilio Salgari ou os livros de Hergé e do seu herói Tintim. Cada macaco no seu galho, as histórias do italiano e do belga são grandes pérolas da literatura mundial, que envolvem intensas e inacreditáveis narrativas de piratas e bem urdidas histórias que envolvem “gangsters”! Já estas novelas à volta da maçonaria não passam disso mesmo e são histórias tão mal contadas e com tão maus actores que é uma pena não existir justiça em Portugal, pois, se houvesse, resolver-se-iam ao mesmo tempo dois problemas: primeiro, prendiam-se os maus actores que fazem de gente de alto gabarito e corrupta; e, segundo, desterravam-se os contadores de histórias, para que não houvesse mais destas cenas ou quaisquer próximos capítulos. Mas, como não há lei para esta gente “ilustre”, nem sei porque perco tempo a conjecturar horizontes utópicos. Daí que o melhor mesmo é rir da desgraça que é ser português e acreditar que, por trás de qualquer uma das vastas lojas deste país, existe alguma máfia que ainda nos há-de valer.

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Guarda, 23 de Janeiro de 2012
Daniel António Neto Rocha

(Excerto da Crónica Radiofónica - Rádio Altitude, no dia 24 de Janeiro de 2012 - disponível em podcast em Altitude.fm)

terça-feira, janeiro 10, 2012

05. Crónica Diária na Rádio Altitude (3.ª temporada) – Crónica de “2012, Odisseia no Buraco” ou “Tudo o que você sempre quis saber sobre o orçamento d

Crónica de “2012, Odisseia no Buraco” ou “Tudo o que você sempre quis saber sobre o orçamento de estado, mas teve medo de perguntar”

1. «Bem-vindos a “2012, Odisseia no Buraco”!» Aos primeiros minutos do Novo Ano, foi com esta mensagem que brindei alguns amigos e conhecidos. Parodiava, assim, o título do fabuloso filme que, em 1968, Stanley Kubrick lançava com prenúncios de um futuro glorioso – o mítico “2001: Odisseia no Espaço”. Neste filme, encontramos uma história sobre a evolução que coloca em confronto o homem e a tecnologia. O resto é imaginação, fantásticas imagens e uma tentativa de prever o que alguns anos mais tarde poderia acontecer. O facto é que em 1968 poderíamos imaginar que o ano 2001 fosse grandioso, até porque a “guerra pelo espaço” estava no seu auge e dadas todas as evoluções científicas e tecnológicas que num curto espaço de tempo surgiram. O certo é que nem tudo correu como previsto e o futuro que Kubrick anteviu para 2001 não é o futuro que realmente se viveu. Ora, a minha mensagem de bom ano, penso que, irónica, poderia também ser vista como uma provocante antevisão do ano de 2012. (...)


Guarda, 9 de Janeiro de 2012
Daniel António Neto Rocha

(Excerto da Crónica Radiofónica - Rádio Altitude, do dia 10 de Janeiro de 2012 - disponível em podcast em Altitude.fm)

terça-feira, dezembro 27, 2011

04. Crónica Diária na Rádio Altitude (3.ª temporada) – Crónica do sorriso da minha Mãe ou de um Natal mais alegre (*)

1. E o que interessa cumpre-se: bebe-se vinho; come-se como se não houvesse amanhã; vive-se intensamente o amor familiar; ama-se o quente da lareira caseira; abraça-se o amor verdadeiro; e olha-se o futuro com auspiciosa ansiedade. No dia seguinte, eis-nos, com umas gorduritas e com uns gramas a mais, a caminho do virar do ano, que é como quem diz: da ingestão de mais uns quantos venenos, para a saúde, tremendamente saborosos! Mas quem se importa com isso no meio deste clima geral de desânimo em que Portugal aterrou e em que, muito provavelmente, todos os que viveram à grande no passado continuarão a viver à grande? Pois… dirão vocês e eu. Rendido às evidências que as mensagens de Natal dos pobres governantes deste país me trazem, a única coisa de que me consigo lembrar é de aproveitar para ir ao hospital este ano e antecipar desde logo as consultas de urgência que de certeza terei de fazer nos próximos anos para curar as minhas laringites e faringites, que no futuro me custarão mais do que um mês de trabalho. Mas, como por vezes sonho que em tempos vivi à grande e gastei todo o dinheiro a comprar vivendas no Algarve, apetece-me, quando caio na realidade, imitar as palavras de Ricardo Araújo Pereira e perguntar ao grande tronco da nação se também tive assento nas negociatas da Sociedade Lusa de Negócios ou se a taluda que o BPN concedeu aos felizes contemplados com empréstimos milionários se aproximaram sequer de mim, pois posso garantir a esse senhor, que é um imenso monte de lenha seca e oca, que, desses negócios tão frutíferos para os seus bolsos, eu só tenho pago dividendos que outros tiveram e não me recordo de ter recebido nada que me tivesse feito ter uma vida menos complicada desde que me conheço. Enfim, não vamos estragar este clima de festividade com palavras tão desagradáveis sobre ladrões e amigos de ladrões que parecem bandos de pardais à solta quando se trata de festas, festanças e inaugurações.

(...)

Famalicão da Serra, 25 de Dezembro de 2011
Daniel António Neto Rocha

(Crónica Radiofónica - Rádio Altitude, no dia 27 de Dezembro de 2011 - disponível em podcast em Altitude.fm)

(*) Excepcionalmente, esta crónica é publicada na íntegra. Talvez porque é Natal.

terça-feira, dezembro 13, 2011

03. Crónica Diária na Rádio Altitude (3.ª temporada) – Crónica de um Natal mais manso ou dos presentinhos cor de laranja

1. Espero que os vidros aí de casa ou do local onde o caro ouvinte se encontra não se partam. É que o meu filhote exige-me que esta crónica tenha uma pequena banda sonora introdutória alusiva à época natalina. Aí vai: “É Natal, é Natal, tudo tem mais luz!” Gostaram? Também é verdade que aqui pela Guarda não seguimos os conselhos desta pequena balada de Natal, porque o orçamento municipal há muito que está “às escuras”, mas, como sabiamente me tem recordado o meu pequeno herdeiro, o que interessa é a sinceridade e o puro amor da verdadeira família. Tudo o resto são fogo de vista, chantagem e meras jogadas políticas, pelos costumeiros vaiadores da assembleia popular que gostam de receber prendinhas de onde calhar.

(...)

Guarda, 12 de Dezembro de 2011
Daniel António Neto Rocha

(Excerto da Crónica Radiofónica - Rádio Altitude, do dia 13 de Dezembro de 2011 - disponível em podcast em Altitude.fm)

quinta-feira, dezembro 01, 2011

02. Crónica Diária na Rádio Altitude (3.ª temporada) – Crónica do desempregado ou dos empreendedores do assento

1. Mestre de obras! Gostam? Este é, talvez, o meu novo título no feérico mundo do admirável país das maravilhas e do trabalho precário, onde se trabalha de borla a mando de um coelho saltitão que, já se provou, não é nada atrasado mas, sim, um grande aldrabão. Através de uma complexa teoria de metamorfose, que transforma competências básicas em competências mui avançadas, já fui relações públicas, monitor, tarefeiro de múltiplas tarefas (passe a redundância), explicador, formador, professor e mais, muito mais! Agora, quando o mundo do desemprego, no sentido mais estrito da palavra, também decidiu recair sobre mim, deixando de me alojar no Inferno a recibos verdes, e me faz calcorrear em busca do próximo trabalho, decidi ser empreendedor e apostar numa área para a qual não tenho qualquer formação ou sequer conhecimentos. Bem, bem vistas as coisas é o mesmo que fazem tantos políticos da nossa praça, que são nomeados para cargos muito nobres, sendo que a única coisa que vão acabar por fazer é empatar quem lá trabalha e encher de despesas o contribuinte. Enfim, todos conhecemos bons exemplos destes empreendedores do assento.

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Guarda, 27 de Novembro de 2011
Daniel António Neto Rocha

(Excerto da Crónica Radiofónica - Rádio Altitude, do dia 29 de Novembro de 2011 - disponível em podcast em Altitude.fm)

quinta-feira, novembro 24, 2011

01. Crónica Diária na Rádio Altitude (3.ª temporada) – Crónica do que a família em si guarda ou dos “bôchos” de duas patas

1. Já é um hábito antigo, gozar com a nossa ilustre cidade. Quem foi o guardense (ou egitaniense, se for um acérrimo defensor da Igreja!) que não foi ainda enxovalhado por meia dúzia de gente ignorante e, possivelmente, imbecil que diz que um dos cinco efes que nos singularizam é o do adjectivo “Feia”? Pois bem, o importante é estarmos sempre bem armados com duas ou três palavras “de estalo” que encostem os invejosos a um qualquer canto para os lados do cano de esgoto do Kadhafi! Que palavras, meu pobre santinho, acharás merecedoras de uma medalha? Será a nossa altaneira cidade “feliz”? Nestes últimos tempos não, pois o desemprego não pára de aumentar. Terá o granito destas paredes uma atitude de “frescura”? Não me parece, já que tudo aquilo que traz reconhecimento à cidade e que é fruto do labor honesto dos homens é para acabar e depressa. Humm!… O que poderá ser… Sim, já sei, o frio e o escuro da cidade nos dias de Inverno fazem com que tudo se resuma a uma única palavra: “família”!

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Guarda, 25 de Outubro de 2011
Daniel António Neto Rocha

(Excerto da Crónica Radiofónica - Rádio Altitude, do dia 15 de Novembro de 2011 - disponível em podcast em Altitude.fm)