A vida em suspenso ou o tempo em que me perco ou me vou encontrar. Numa fotografia uma infância e os meus dias nas mãos dos homens que amei e que desapareceram cedo demais.
Um avô e um irmão, num momento que quero recordar como meu e que não consigo lembrar na minha cabeça. Só a fotografia me transporta para esta realidade e para o colo de uma vida em corridas desenfreadas pelos caminhos que levavam ao "Pintor", a quinta que ainda hoje recordo como "também minha". Nunca o foi, mas sempre desejei que fosse. Fazer ali uma casa, por mais pequena que fosse, com os espaços de alegria todos na rua, entre a ribeira e a Cabeça do Leão. Sítios secretos que quero guardar para sempre aqui no meu íntimo desejo de partilha.
Queria muito voltar ali, àquele sítio, àquele tempo, àquele espaço em que não percebia muito bem o que era a tristeza. De tristeza só conhecia a hora de deixar o chão do meu avô, o dorso do burro que me levava a mim e aos meus irmãos, e a hora em que a minha mãe me deitava para continuar a trabalhar noite dentro no nosso futuro. Amo-a desde então por isso. Por nos deitar com o descanso no canto dos olhos e por me ensinar que noite dentro cuidamos de quem amamos com o trabalho sério sempre na ponta dos dedos.
Hoje entristeço por saber que quem deveria amar as minhas noites perdidas em nome de um futuro melhor me odeia. Entristeço e não entendo como a inveja está tão assente no trabalho que custa ao outro e não em si.
Deixei de dormir em nome dos filhos e de um desejo intenso de voltar um dia aqui, ao sítio onde estão os homens que amei e que desapareceram cedo demais, com os homens que amo hoje e me dão alento para andar em tempos tristes como a minha mãe andou com os olhos postos no futuro enquanto eu dormia.
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