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terça-feira, dezembro 15, 2020

Respirar lá dentro... no escuro...


Os dias em que se vive são intensos e belos, cheios de aromas e de impulsos que nos apertam e cativam. Dentro deles a vida parece sem importância e plenamente nossa, integralmente possuída e adaptada às nossas vontades, desejos e ambições. Dentro desta somos livres e vivemos e respiramos e espera-se que nos deixem viver e perseguir sonhos com a mesma vontade com que nós desejamos a existência dos sonhos dos outros e as suas próprias conquistas.

Não invejo as conquistas dos outros. Nunca invejei. Desde pequeno, desde a mais tenra idade, sempre me lembro de partilhar e de dar a quem me rodeava aquilo que eu tinha ou que me era dado, naquele breve momento, possuir como meu. Desde essa altura, tenho muitas dificuldades em descobrir um só instante em que a inveja ou o desejo de ter algo meu fosse uma realidade que prejudicasse alguém. Sim, sempre pensei mais nos outros do que em mim. Cresci, continuei a dar o que tinha e o que não tinha, senti-me tantas e tantas vezes mal por ser tantas e tantas vezes prejudicado por não ser filho de pais que fazem parte de grupos de influência e que facilitam a vida dos filhos. Mesmo assim, continuei sempre a dar o pouco que tinha.

Neste instante de agora, tantos e tantos anos depois, sinto-me no fim de uma linha. Não consigo ser diferente, tento e tento perseguir o ser que sempre fui na relação com os outros, seja dentro da família ou fora dela, tento, no entanto, ser feliz com aquilo que tenho e que sinto que consegui de forma honesta, trabalhadora e simples. Não vou ser diferente daquilo que fui, pois não sou um ser diferente daquilo que aprendi e que me fez o homem que todos conhecem. Mas sinto que já só consigo respirar lá dentro, no escuro, escondido de quem, afinal, deveria ajudar-me a respirar.