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sexta-feira, outubro 20, 2017

Crónica Bombeiros.pt: Senhor Presidente, demita-se!

O debate acerca dos incêndios de 2017 ainda não saiu à rua. De facto, a imensa turba barulhenta que se tem ouvido é exclusivamente partidária e com intenções claramente eleitoralistas. Foi-o antes das autárquicas e é-o já (e isto é de louvar nos partidos mais activos) na preparação das eleições de 2019. Arrisco-me a dizê-lo, houvesse uma pró-actividade tão grande destes putativos governantes no tratamento da res publica, quando são efectivamente governantes e deputados e outras coisas, e viveríamos descansadamente num país perfeito.
Depois da pequena introdução, gostaria de fazer uma pequena declaração: sou um homem livre no uso e abuso da minha vontade expressiva e na reflexão temática, não sendo dado a preferências partidárias ou de outra índole. Digo isto porque penso que as demissões compulsivas não funcionam e que as mesmas têm de ter um fundamento que vai para além da emotividade própria dos momentos trágicos ou da aparente constatação de fracassos de modelos. Onde quero chegar com isto? Quero dizer que a cosmética não tem qualquer efeito na efectivação de medidas e que a demissão de responsáveis governativos não adianta nada de nada. Provas? O que disse o autarca de Pedrógão Grande depois do dia 17 de Junho? Disse que os Planos de Emergência não serviam para nada, pois seriam, no seu entendimento, teoria que ninguém lê e ignorou a sua real aplicação. Como ele, quantos não dizem e não fizeram o mesmo? Convém recordar os mais incautos, os menos atentos e os que não vão além do horizonte da sua casa, que o responsável máximo ao nível dos concelhos na área da Protecção Civil é o Presidente da Câmara. Deverá, portanto, caber a este a gestão e monitorização de tudo o que puder ser tido como risco e de todos os intervenientes na actividade de prevenção ou resolução desses riscos. Faço um desafio aos leitores: se o não souberem já, perguntem nas Câmaras Municipais dos vossos concelhos quantas reuniões das Comissões que preparam as medidas a aplicar ao nível da prevenção de riscos e do combate aos mesmos riscos houve durante este ano. E tentem saber quais as decisões que foram tomadas e efectivadas no terreno. E, já agora, tentem também perceber junto das Juntas de Freguesia (as actas das Assembleias serão uma boa fonte de informação) se houve a necessária comunicação de riscos existentes para os gabinetes concelhios.
Quem ouve, através da comunicação social, todos e cada um a falar sobre a falência do Estado na defesa de povoações e de pessoas, e tende a acusar qualquer Ministro e incentivá-lo a demitir-se, deve pensar naquilo que não fez!
Quem fala, nos mesmos canais, nos pedidos feitos ao Presidente da República ou a Secretários de Estado ou à “virgem Maria” para enviar meios para os seus concelhos e durante a ocorrência anda a dar beijinhos e abracinhos pelo meio das ruas das aldeias a arder, deve pensar naquilo que não fez e naquilo que deveria estar a fazer para minimizar os estragos!
Quem acusa, seja comunicação social, comentadores, opinadores ou candidatos a tantos lugares ricamente emplumados, deve pensar naquilo que não fez e naquilo que fez enquanto as povoações ardiam, e na informação que poderia disponibilizar às povoações e não disponibilizou!
Para termos razão no apontar de dedo que fazemos aos outros, sejam bombeiros, sejam operacionais de outras forças, sejam ministros, sejam presidentes de autoridades ou de outras instituições, temos de ter a certeza de tudo termos feito da nossa parte para impedir que a desgraça acontecesse. E isto não aconteceu!
Por tudo isto, e usando a estratégia de tantos e até do Sr. Presidente da República, pergunto agora eu aos Senhores Presidentes das Freguesias e Senhores Presidentes das Câmaras: Quando vão assumir a vossa responsabilidade em tudo o que aconteceu e assinar a vossa carta de demissão? Ou não há dignidade da vossa parte?

P.S. – A aldeia onde vivo, sim, também esteve debaixo de fogo no dia 15 de Outubro de 2017.

Moimenta da Serra (Gouveia), 20 de Outubro de 2017
Daniel António Neto Rocha

domingo, agosto 25, 2013

Repentes #35 - o recolher obrigatório e os incêndios

Há um dado que salta à vista de quem o quiser ver e que indicia aquilo a que noutros países chamam terrorismo. Aqui pelas nossas latitudes e longitudes parecemos não prestar atenção a isso, mas, depois, temos os canais informativos a falar de ataques terroristas e de triângulo do mal noutras zonas do globo.
Pergunta: é admissível haver (e olho para o exemplo de hoje) 106 incêndios entre a meia-noite e as nove horas da manhã? Este tipo de comportamento não é terrorismo? Se em vez de incêndios fossem bombas, já alguém se preocupava a sério com isto?
Pois bem, não é altura de decretar o recolher obrigatório com carácter de urgência em alguns distritos ou regiões do país? 

quinta-feira, julho 11, 2013

Campanha: "Sabia que os seus actos não matam só árvores?"

(Clique aqui e consiga o pdf desta acção)

Foi lançada há dois dias a campanha de sensibilização "Sabia que os seus actos não matam só árvores?", destinada a toda a população e tentando criar bases de acção que nos levem a todos enquanto cidadãos a um comportamento mais responsável ao nível da prevenção de incêndios. A campanha é agressiva mas real, pois o resultado final de cada incêndio provocado por mão humana ou por um factor natural é de difícil previsão. No caso de Famalicão da Serra, no dia 9 de Julho de 2006, um acto grosseiro e abusivo deu origem a uma das maiores tragédias nos bombeiros em Portugal. E isto convém que não seja esquecido! Se vir uma queimada a ser realizada sem a presença das autoridades competentes, comunique para os números 112 ou 117! Se vir trabalhos com máquinas junto à floresta num dia de calor intenso, avise as autoridades pelos números 112 ou 117! Se se aperceber de movimentos estranhos de pessoas ou viaturas junto de mato ou florestas, comunique de imediato às autoridades pelos números 112 ou 117 e fixe informações como matrículas ou outras formas de identificação! Todos os anos há bombeiros que morrem ou ficam gravemente queimados nos incêndios de forma a protegê-lo a si! E a si só lhe pedimos que nos ajude a defender aquilo que é seu e nosso! Custa assim tanto tomar a decisão de se proteger? 

Partilhe esta mensagem por todos os seus familiares e os seus amigos! Ajude-nos a ajudá-lo! Ajude-nos a evitar que mais caixões nasçam das cinzas carregados com um dos seus amigos ou familiares!

terça-feira, maio 28, 2013

Notícia: Curso de Combate a Incêndios Florestais abre a 7.ª Jornada de Análise ao Incêndio de Famalicão






"Realizou-se no passado dia 25 de Maio de 2013, em Famalicão da Serra – Guarda, o Curso de Combate a Incêndios Florestais com o qual se abriu a 7.ª Jornada de Análise ao Incêndio de Famalicão.

Pelo sétimo ano consecutivo, o Projecto Sérgio Rocha e o Portal Bombeiros.pt associaram-se para trazer à memória de todos o trágico acidente que a 9 de Julho de 2006 ceifou a vida a seis bombeiros, entre eles o bombeiro português Sérgio Rocha, e assim evitar que os mesmos erros sejam cometidos e que mais vidas se percam. Desta forma, uniram-se e contaram com o apoio dos Bombeiros Voluntários de Famalicão da Serra, da Junta de Freguesia de Famalicão da Serra, da Afocelca e do Centro de Estudos sobre Incêndios Florestais (CEIF) da Universidade de Coimbra para realizar um Curso de Combate a Incêndios Florestais com um enfoque extremamente prático. Convém realçar que a organização deste Curso focou de forma clara que esta era a primeira de um conjunto de actividades que serão realizadas em Famalicão da Serra durante o ano de 2013, sob o nome de 7.ª Jornada de Análise ao Incêndio de Famalicão. Entre estas actividades, destacou a organização, “irão realizar-se sessões de cinema e de música, sendo que no último trimestre do ano irá realizar-se um Curso sobre Uso do Fogo”.

Este Curso de Combate a Incêndios Florestais ofereceu aos cerca de 40 (quarenta) participantes um conjunto de lições que pretenderam aumentar a capacidade de análise e de actuação das equipas de combate, visando, por um lado, uma melhoria na intervenção e uma capacidade de observação que permita uma acção eficaz e em segurança. Na lição de abertura, Daniel Rocha, responsável pelo Projecto Sérgio Rocha, visitou a história e fez o retrato dos principais momentos do incêndio de 2006, apresentando de seguida algumas das conquistas que desde 2007 e até 2012 a Jornada de Análise ao Incêndio de Famalicão já tinha obtido através da sugestão de alterações a entidades governamentais. Finalizou com a apresentação dos objectivos para o que resta de 2013 e para o ano de 2014, anunciando que será iniciado um projecto que visará a realização de um documentário sobre o incêndio de Famalicão e anunciado que seguirá para a Liga dos Bombeiros Portugueses (LBP) uma proposta de colaboração para o lançamento de um projecto de fabrico de uma mochila de transporte de “fire-shelter” que seja de origem portuguesa e que possa conjugar os factores da segurança, da eficiência, do conforto e do preço. Para além destes importantes objectivos, salientou que a realização da Jornada nos anos seguintes evoluirá para uma maior ocorrência de actividades relacionadas com os incêndios e distribuídos pelo ano inteiro. Após esta apresentação, Carlos Rossa forneceu aos presentes uma lição que focou principalmente o tema da segurança no combate, destacando-se aquele que é, no seu entender, um instrumento extremamente fácil de utilizar e com uma capacidade enorme de permitir um combate eficaz e seguro. Baseado no sistema norte-americano LACES, Rossa sugere a implementação deste sistema de segurança no combate através da sua tradução para o sistema MARCAMonitorização, Ancoragem, Rotas de Fuga, Comunicação e Área de Segurança, permitindo desta forma uma maior identificação do combatente português com a terminologia portuguesa e uma maior capacidade de implementação pela proximidade linguística. Seguiu-se a lição de David Davim, que focou o tema do combate e que forneceu algumas pistas de actuação tendo em consideração a observação de um conjunto de factores que são essenciais no desenrolar de um combate eficaz. Destacou-se nesta lição a questão do Alinhamento de Factores e a importância da sua integração no Sistema de Gestão de Operações (SGO), possibilitando desta forma uma maior capacidade de previsão da evolução do combate. Foram duas lições muito complementares e que forneceram dicas de actuação muito úteis e que tiveram uma excelente recepção por parte dos participantes.

Da parte da tarde, foi a vez da lição de Domingos Xavier Viegas que, com a facilidade de exposição que lhe é reconhecida, fez num primeiro momento uma revisão pela história recente ao nível dos números de incêndios florestais que ocorreram depois de uma época de chuvas intensa, relatando que é a primeira vez que estamos a chegar ao final do mês de Maio com um índice de chuvas tão elevado e alertando que, caso a época de chuvas termine agora, poderemos esperar uma fase complicada ao nível dos incêndios florestais no final de Julho ou início de Agosto. Após esta chamada de atenção, seguiu-se uma lição sobre as medidas de segurança mais eficazes perante a possível ocorrência de fenómenos extremos do fogo, não se coibindo de alertar os presentes para a possibilidade de, perante alguns desses fenómenos extremos e perante algumas condições do incêndio, ser impossível fazer um combate em segurança, sugerindo que nesses casos se recue para uma redefinição de estratégia. Numa lição sempre pontuada com conselhos de combate (como ocorreu nas lições da manhã), Domingos Xavier Viegas terminou a sua intervenção com uma referência ao Incêndio que em 2012 consumiu os concelhos de Tavira e de São Brás de Alportel, fazendo referência às falhas existentes e dando conselhos sobre actuação em condições idênticas.      

Após este conjunto de lições comunicações, que aconteceram na Casa da Cultura de Famalicão, o grupo deslocou-se para o local do acidente, em plena serra de Famalicão, fazendo a pé o trajecto que em 2006 foi percorrido pelos seis homens e tomando conta das dificuldades que eles teriam sentido naquele trágico dia. Este “staff-ride”, o único que se realiza na Europa, foi orientado por Domingos Xavier Viegas e foi complementado com as palavras de alguns dos homens que combatiam em 2006 naquele incêndio, tendo Mário Santos (hoje 2.º Comandante da Corporação de Famalicão da Serra) relatado visivelmente emocionado o momento em que viu o Sérgio Rocha pela última vez e o momento em que saiu queimado do incêndio. No final, antecedendo o minuto de silêncio que encerra cada Jornada, todos os presentes sentiram vontade em apoiar a iniciativa de criação da Mochila de transporte do “fire-shelter”, pois será uma forma de ser ultrapassado o desconforto que cria resistência por parte dos bombeiros à sua utilização. Orlando Ormazabal, um dos apoiantes da iniciativa e representante máximo da Afocelca, aproveitou este momento junto ao local onde foram encontradas as ferramentas dos seus combatentes e compatriotas para contar a sua experiência pessoal ao nível da utilização do “fire-shelter”, revelando-se emocionado com a forma como é acarinhada e lembrada a memória daqueles que caíram. A sessão terminou com um minuto de silêncio e com uma fotografia de grupo, prometendo a organização mais actividades para os próximos meses."


(Fonte: Bombeiros.pt)

domingo, fevereiro 03, 2013

Investigador da Guarda em destaque no Portal Bombeiros.pt


"Sempre curioso e disponível para aprender, Elmano Silva tem 44 anos e iniciou há 28 anos a sua ligação ao mundo da emergência (na coluna de socorro Henry Dunnant da Cruz Vermelha) e ao universo da proteção civil (no serviço regional de proteção civil da Madeira). Licenciado em Sociologia, Mestre em Sociologia, Pós-Graduado em Proteção Civil, mestrando em Proteção Civil, Oficial Bombeiro no CB de Fornos de Algodres, Mestre Florestal Principal e Técnico superior de Proteção Civil, é o convidado de Fevereiro na rubrica “à conversa com”." (Fonte: Portal Bombeiros.pt)

Ler mais aqui.

segunda-feira, agosto 13, 2012

Quem é que a Guarda leva a sério?

Foto do Professor Xavier Viegas (do premiado fotógrafo Edgar Martins)


Professor Xavier Viegas com Sérgio Cipriano e este vosso escriba (Foto da organização da Jornada)


E depois acontece isto! O Ministro da Administração Interna decidiu, de uma forma que eu considero merecedora de maior esclarecimento, pedir a um especialista externo à ANPC a análise do grande incêndio que andou livremente pelo Algarve. E quem decidiu ele convidar para tal análise (ler aqui)? Nada mais, nada menos do que alguém que tem colaborado intensamente com o concelho da Guarda em termos de formação para o combate aos incêndios florestais – o Professor Domingos Xavier Viegas. Espantados? Pois, é que o Projecto Sérgio Rocha ou o Portal Bombeiros.pt não têm o peso “cunhista” de outras entidades (sejam fundações, partidos, associações, ou outras coisas quaisquer). Daí que metade do concelho e do distrito desconhecem (quanto a mim não querem conhecer) a mais-valia que todos os anos é oferecida de forma gratuita ou a preço simbólico na jornada formativa que se chama “Jornada de Análise ao Incêndio de Famalicão” e que é a única actividade formativa do distrito para bombeiros desde há seis anos, apresentando também o único “staff-ride” que se realiza na Europa. Mas tudo isto não interessa às entidades da cidade (apenas a Governadora Maria do Carmo Borges olhou para esta actividade com visão de futuro!) e continua a ser feita sem o devido apoio de quem quer um melhor distrito e melhores e mais preparados agentes de protecção civil. Mas, como se pode ver sempre que um bombeiro morre, todos os responsáveis choram amargamente para poderem esquecer no momento seguinte.
Agora, é o senhor Ministro Miguel Macedo que nos dá razão e que nos, aos organizadores, obriga a continuar a nossa actividade, pois, se a sociedade civil desiste, quem nos valerá?
Para finalizar, tenho a certeza que deste relatório agora encomendado sairá uma análise fria e competente daquilo que se passou no Algarve. Espero é que depois não fique guardado na gaveta, pois é uma chatice termos de andar sempre fora da lei a tentar saber as conclusões dos relatórios que nos servem enquanto bombeiros. Só uma ressalva: lembrem-se que, caso fosse necessário, este relatório não serve de investigação policial (talvez o senhor Director Nacional da Polícia Judiciária possa esclarecer o como e o porquê de haver incêndios que não mereceram uma investigação a sério apesar dos resultados deles!), como se tentou fazer crer com outros relatórios.

sábado, setembro 11, 2010

Entrevista ao jornal A Guarda

Caso alguém esteja longe dos espaços de acesso ao jornal A Guarda e queira ler a entrevista que tive o prazer de dar para a edição do dia 9 de Setembro, aqui fica a cópia.

1 – Quem é Daniel Rocha?

Sou um homem simples mas consciente dos valores que deveriam nortear a sociedade. Sou, também, um apaixonado pela Literatura e um amante das artes. E sabe que esta minha paixão pela arte faz-me ter consciência do mundo e de todos os seus intervenientes, originando em mim uma dialéctica bastante interessante e, ao mesmo tempo, tremendamente dolente, pois mostra-me que é cada vez mais difícil o mundo para as pessoas honestas. Sou, ainda, um homem que sonha com um estado de coisas sustentável e, espero não ser mal interpretado, com uma revolução séria que afaste de vez as sanguessugas do país, deixando espaço para aqueles que realmente querem servi-lo e não servir-se dele.

2 – Que ligação tem a Famalicão da Serra?

A minha ligação a Famalicão é, acima de tudo, familiar. A minha Mãe (Maria Julieta), a pedra basilar da minha vida, levou-nos, a mim e aos meus irmãos, para junto dos meus avós maternos em tenra idade e numa fase muito difícil para ela, pois ter três filhos e criá-los sozinha é algo só ao alcance de pessoas com uma força tremenda. Aí, a família e os valores que nela foram ensinados fizeram de mim o que sou hoje, com tudo o que tenho de bom e de mau. Sabe que aquilo de que me lembro mais, hoje em dia, é de alguns dias onde o meu Avô materno (o Zé Bico) assumia o papel de contador de histórias. Posso dizer-lhe que o meu gosto pela ficção e pela criação poética partiu desses dias. Depois, a Famalicão ligo-me pelo ar, infelizmente cada vez mais poluído, que por lá respiro e pelas pessoas amigas que lá guardo. Infelizmente, há um afastamento progressivo de que me tenho vindo a dar conta. Não vou alongar-me muito, pois poderia ser injusto, mas posso dizer-lhe que a concordância medrosa assente num compadrio doentio, que é tão vulgar em meios pequenos, me causa uma grave indisposição mental.

3 – Qual a sua ocupação profissional?

Profissionalmente sou Professor de Língua e Literatura Portuguesas, o vulgar Professor de Português, mas, dada a “estranha” capacidade de adaptação que tenho apreendido ao longo dos anos, tenho tido algumas experiências interessantes noutros campos.

4 – Como foi o seu percurso académico?

Olhe, nesta pergunta vai ter uma resposta possivelmente rara. Comecei por frequentar o jardim de infância que havia no Paço Episcopal, mas houve um dia em que não me deixaram ir ter com o meu irmão à sala do lado e fugi. Esta fuga era prenúncio de mudança e, pouco tempo depois, mudei-me com a minha mãe e irmãos para Famalicão. Aí, fiz então todo o ensino, que então me foi permitido fazer no conforto da aldeia. Deixe-me interromper a resposta para lhe dizer que sou completamente contra aquela treta de fazer com que crianças de 5 e 6 anos, numa fase importantíssima da sua formação mental, sejam forçadas (a bem não sei de quê, talvez de uma economia partidária!) a sofrer um afastamento violento do seu meio familiar! Bem, fiz ainda em Famalicão a antiga Telescola e não me arrependo nada disso, pois foram dois anos de ensino muito próximo por parte dos professores, ao contrário daquilo que se poderia pensar. Fui então para a Guarda e estive 6 anos no “Liceu”. Nessa altura, a mudança foi complicada, pois era só mais um aluno. Essa diferença entre o ser-se conhecido de todos e não ter ninguém que nos controle provocou-me um ligeiro desequilíbrio, mas dá sempre jeito ter uma família preocupada, pois rapidamente voltei aos “bons caminhos”. O Secundário foi muito interessante e profundamente enriquecedor, sendo um espaço de afirmação e de afinação de conhecimentos. A passagem para Coimbra e para o Ensino Superior foi facilitada por toda a exigência que os Professores do “Liceu” sempre tiveram comigo. Digamos que a grande dificuldade de Coimbra era, outra vez, a mudança de ares e a distância de casa. Coimbra era um sonho de criança e não o poderia perder. Assim, tentei “formar-me” no máximo de cursos e vivências possíveis. Nessa altura ainda não se imaginava “Bolonha” e a minha vida pautou-se entre a participação académica (integrei o Coral de Letras da Universidade de Coimbra e o Núcleo de Estudantes da Faculdade de Letras, fui representante dos alunos no Conselho Pedagógico da Faculdade e na Assembleia de Representantes, fui produtor do CD do Coral, participei na organização de colóquios, conferências e exposições, e muitas outras aventuras) e a minha formação, onde tive professores fabulosos que me ensinaram a acreditar nas potencialidades que tinha e a aplicá-las de forma séria e inovadora. Terminada a Licenciatura, continuei a colaborar activamente com o Instituto de Língua e Literatura Portuguesas e com o Centro de Estudos de Linguística Geral e Aplicada, através da itinerância de exposições e da edição de textos (disponíveis on-line). Depois de tudo isto e já mais recentemente, iniciei o Mestrado em Português como Língua Estrangeira e Língua Segunda, tendo já concluído a parte curricular, que espero concluir em breve. Em linhas muito gerais, é este o meu percurso académico.

5 – Quando surgiu o Projecto Sérgio Rocha e quais são os seus objectivos?

O Projecto Sérgio Rocha surgiu exactamente no dia 9 de Julho de 2006. Sabe que a morte do meu irmão foi algo que estilhaçou por completo família e tudo o que aconteceu a seguir, com o aproveitamento que muitas pessoas fizeram da sua morte, deixou-me alheado do mundo e da realidade. Daí que tentei ter o meu irmão junto de nós de todas as formas possíveis. O Projecto surge com a necessária consciencialização de que a única forma de o manter connosco era fazer aquilo que ele gostava de fazer com as pessoas que gostavam dele. Essa é a essência do Projecto! Os objectivos são simples e, ao mesmo tempo, ambiciosos. Um deles é mostrar que não é por não haver dinheiro disponível que se deixa de efectuar actividades. Outro é fomentar a actividade colaborativa e, assim, oferecer oportunidades de participação em acções de vários níveis a todos. Por fim, para não haver a ideia de existirem espaços e dinâmicas adormecidas, o Projecto tenta conjugar vários esforços que conduzam a um bem comum. Pensamos que, se todos derem um pouco daquilo de bom que têm sem estarem a contar com algum lucro, podemos fazer a diferença.

6 – Que actividades o Projecto Sérgio Rocha já promoveu e pretende realizar?

A actividade em que o Projecto tem investido mais profundamente é na Jornada de Análise ao Incêndio de Famalicão. Como é óbvio, não seria possível realizar este seminário sobre combate a incêndios e segurança em combate a incêndios sem a colaboração do Professor Xavier Viegas e da equipa formativa do Centro de Estudos Sobre Incêndios Florestais, e da divulgação nacional feita pelo Portal Bombeiros.pt. Esta actividade é, só, a única do género que se realiza na Europa. Aliadas a esta actividade e aproveitando as infra-estruturas de Famalicão, já realizámos concertos e sessões de cinema (as primeiras a serem efectuadas na Casa da Cultura de Famalicão), inovando as actividades que são apresentadas à comunidade. Outra actividade que obteve muita adesão foi o Concurso de elaboração do logótipo do Projecto e que envolveu alunos da Escola Profissional da Guarda. O futuro é ambicioso e o Projecto quer inovar. Para já, estamos já a preparar condignamente a Jornada de Análise de 2011, onde vamos tentar ter o apoio das entidades políticas e da protecção civil da cidade da Guarda que se têm mantido afastadas, talvez por nossa culpa, desta actividade. E depois tenho um sonho de que o meu irmão gostaria imenso: o aparecimento de uma Orquestra Sinfónica na Guarda. Esta é uma realização que é, hoje, possível se as várias “vontades” da Guarda o quiserem. Utopia? Penso que não. Há espaços físicos, há entidades que ensinam música e diversos instrumentos, há instrumentistas locais que andam pelo país e que, decerto, não enjeitariam uma participação nesta Orquestra. Sim, seria necessário investimento financeiro, mas penso que seria facilmente rentabilizado. Olhe, tenho este sonho e um destes dias vou lançar o desafio às pessoas que poderão ajudar-me a realizá-lo.

7 – Como e quando surgiu a sua ligação aos Bombeiros de Famalicão da Serra?

A minha ligação aos Bombeiros surgiu em 1998, aquando da formação da Secção dos Bombeiros de Gonçalo. A entrada para os Bombeiros foi, na altura, uma mobilização de todos os jovens que pensavam fazer algo pela sua aldeia e pela comunidade.

8 – O que pensa da criação da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Famalicão da Serra?

Esta é uma pergunta difícil. Não pense que não fiquei agradado com a sua criação, mas preferia que o tivesse sido noutras circunstâncias. A minha interpretação é que a criação da Associação pretendeu dar-nos a capacidade de regularmos o nosso próprio crescimento, pois a relação com a casa-mãe não estava a funcionar da melhor maneira, e dinamizarmos de forma positiva a nossa integração como voz audível no distrito. O que outros pensam é que foi uma tentativa de o governo calar alguma rebelião que se levantou na altura pelas circunstâncias que rodearam o acidente. Confesso que não posso deixar de dar alguma razão a estes, pois houve muita gente a colher os louros desta criação. Infelizmente, a autonomia ainda não alterou velhos hábitos nem mentalidades, logo a minha interpretação parece ser errada.

9 – Considera preocupante aquilo que acontece todos os anos, nos meses de Verão, no que se refere aos incêndios?

Considero muito preocupante o que acontece todos os anos, sim, mas não me espanta nada. O problema é que as entidades políticas e judiciais são responsáveis por este estado de coisas. Porquê? As entidades políticas criam uma embalagem interessante e cheia de leis muito positivas, mas não aplicáveis aos amigos. As entidades judiciais aplicam a lei, não fazendo investigações aprofundadas, e servem unicamente para desculpabilizar os amigos dos políticos e, talvez, de outros entes judiciais. Dou-lhe um exemplo simples: em 2006 aconteceu o que aconteceu e, da parca e mentirosa investigação judicial que se fez, concluiu-se que tinha havido negligência; como todos sabemos, um incêndio com origem negligente é punido por lei; o governo criou um spot televisivo onde se fazia alusão a essa negligência e houve um movimento de empresas que criou vários materiais relativos a essa negligência; no final de contas, os autos reconhecem a negligência e desculpabilizam-na, e o governo retira o spot de “circulação”; logo, a lei não é aplicada. Se a lei não é aplicada uma vez, haverá motivo para ser aplicada em situações semelhantes? Penso que não o deverá ser e preocupa-me isso.

10 – Em sua opinião, o que é que devia ser feito para diminuir o número de incêndios florestais?

Existem alguns factores que são determinantes no combate aos incêndios: as condições atmosféricas, o combustível e o dispositivo de combate. O primeiro não é passível de controlo de maneira nenhuma. O segundo depende dos proprietários dos terrenos e sabemos que existe uma total falta de responsabilização de proprietários e dos seus actos. O terceiro é aquilo que todos nós quisermos fazer com ele. Assim, penso que há três apostas que alterarão o cenário que é montado todos os anos: uma real aplicação da lei, sem favoritismos e sem desculpabilizações, fazendo com que quem arrisca o comportamento negligente opte por não arriscar; uma prevenção efectiva assente na distribuição de meios de combate pelos corpos de bombeiros das zonas mais afectadas pelos incêndios (sabe que não é possível que a corporação a que eu pertenço continue unicamente com uma viatura ligeira de combate a incêndios e ninguém se preocupe com isso); e, como medida eficiente e algo utópica no combate aos incêndios, a criação de grupos de reforço (GRIF’s) distritais assentes no voluntariado, ou seja, a aquisição por parte da protecção civil de veículos de combate que possam estar situados ou estacionados junto dos Centros Distritais de Operações de Socorro e que, em situações de emergência, possam ser accionados pelo recurso a bombeiros que não estejam integrados nas Equipas de Combate (ECIN). Sabe que eu acredito que os problemas que nós vamos ter com os incêndios justificam investimentos elevados, tal como o investimento nas Forças Armadas.


(Entrevista publicada no Jornal A Guarda - do dia 09 de Setembro de 2010)