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terça-feira, março 17, 2020

Acerca do Desterro #2 - É assim tão difícil tomarmos conta de nós em liberdade?

Não sei como está a ser nas restantes casas, mas cá pela minha tem havido alguma dificuldade em fazer com que dois pequenos rapazes, habituados a correr pelas ruas da aldeia fiquem emparcelados. Claro que tudo isto se deve ao desejo de conhecer o mundo, de soltar as asas e voar ao som da idade.
No caso dos mais velhos, responsáveis pela sua própria vida, será assim tão difícil perceber que ao colocarmos de parte a recomendação de nos suspendermos um pouco (poucos dias, comparados com os que desejamos viver livremente) estamos a colocar em risco muitas centenas de vidas?
Tenho pensado muito sobre tudo isto. Tenho pensado muito sobre as decisões que todos temos tomado em deixar de parte aquilo que é o nosso "ganha pão" para possibilitarmos que se ganhe tempo para o bem comum poder vencer. 

Daí que urge pedir a todos que fiquem quietos!
Daí que urge pedir a todos que peçam a familiares para ficarem onde estão e não se movimentem!
Daí que urge que esqueçam todos aquilo a que chamamos férias e que nem pensem em ir visitar os familiares mais velhos lá à aldeia!
Daí que urge pensar mais no outro do que em nós!

Todos temos telefones para contactar e para chegarmos junto daqueles de quem gostamos. Por isso, é urgente avisá-los de que, para o seu próprio bem, não os iremos visitar nos próximos tempos. 

Eu tenho saudades da minha avó, tenho saudades da minha mãe, tenho saudades de toda a minha família que está longe de mim, tenho saudades de todos as pessoas com quem partilho o gosto de fazer teatro, tenho saudades dos meus alunos e dos meus colegas. Sim, tenho saudades! Mas quero continuar a ter por mais algum tempo até que a minha presença não os coloque em risco a eles ou a deles a mim. 

É tempo de não ter pressa, para em breve nos abraçarmos! 
 

domingo, março 15, 2020

Acerca do Desterro #1 - Amor em tempos de Covid19

Não sei o que toda a gente pensa sobre os dias que vivemos, mas confesso-vos que ainda não consigo perceber bem esta realidade que nos caiu em cima. Estamos no papel de desterrados da nossa própria vida, ou melhor, da vida que tanto nos habituámos a viver. 
Ainda ontem, ou anteontem (em tão pouco tempo de desterro os dias começam a confundir-se), olhava pela janela de casa e pensava nos dias seguintes como momentos de contacto e de ligação em prol de projectos e aulas e amizades que tinham datas e lugares marcados. A aceleração pessoal, a excitação dos dias, a aproximação de datas para apresentar o resultado de meses de trabalho intenso e tão apaixonado... 
Hoje a incerteza já não é uma opção. Há a certeza de dias de afastamento físico e de projectos que poderão cair por terra. Há a certeza de um vida que irá mudar radicalmente até que o medo e o desconhecido possam de novo dar lugar ao sol que nos comanda e nos aquece os dias.
Mas é tempo de dar espaço e de ajudar os outros que estão, neste momento, na linha da frente de toda esta luta desenfreada pelo menor dano possível.
É para mostrar o nosso amor por médicos, enfermeiros, farmacêuticos, auxiliares e demais funcionários do sector da saúde que nós devemos proteger-nos e ficar em casa.
É para mostrar o nosso amor por cientistas, investigadores, forças de Proteção Civil que estão no terreno a contactar com doentes (como elementos da Cruz Vermelha e Bombeiros) que nós devemos proteger-nos e ficar em casa.
É para mostrar o nosso amor por quem de telefone em pulso gere com necessária calma o atendimento a milhares de pessoas que precisam de ajuda (seja por culpa deste inimigo cruel, seja por outras doenças) que nós devemos proteger-nos e ficar em casa.
É para mostrar o nosso amor pelas forças de segurança que precisarão de toda a nossa colaboração que nós devemos proteger-nos e ficar em casa.
É para mostrar o nosso amor pelas Forças Armadas que estarão, com toda a certeza, a suportar e a preparar-se para darem todo o seu apoio a tantas outras pessoas que nós devemos proteger-nos e ficar em casa.  
É para mostrar amor por todos aqueles que amamos (e que muitos de nós têm numa qualquer profissão que acima mencionei) que nós devemos proteger-nos e ficar em casa.
Se tivermos dúvidas sobre tudo isto, olhemos os rostos das pessoas que mais amamos e imaginemos tudo o que seremos capazes de fazer para as continuarmos a amar por muito e largos anos.

Os dias que se aproximam serão de adaptação a uma nova realidade.
Os dias que se aproximam irão, de certeza, assustar-nos.
Os dias que se aproximam irão ser de grande desconfiança.

Mas sabemos que estamos, de dentro das paredes das nossas casas, a ajudar todos aqueles que têm de estar lá fora a ganhar uma batalha que é de todos.

Vamos proteger-nos e ajudar a proteger todos aqueles de quem gostamos muito!