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sábado, dezembro 12, 2009

Cercados pelo Fogo: 2.ª parte (3)


Esta foto foi retirada do blog da Minerva Coimbra, ver aqui, e ilustra o momento em que usei da palavra no lançamento do livro "Cercados Pelo Fogo: Parte 2" (mais sobre este assunto podem ver aqui 1 e aqui 2).
Neste momento, não com a minha total vontade, tive de me virar de costas para toda a mesa. Posso dizer-vos que pedi desculpas antecipadas por este facto, apesar de ter algumas razões para o fazer a um dos elementos que por ali se sentava e que também me as virou na situação que o livro em si relata.
Como não é desse senhor que guardo a amizade, não falemos mais nele. Quero apenas dizer que gostei de estar com o Professor e de partilhar com todos os presentes mais uma vitória da competência e da humanidade. Neste caso do Professor, pois é ele o mais destacado representante de uma maneira construtiva de estar no mundo do combate a incêndios. Ter-me honrado com um convite para participar activamente no lançamento deste seu livro, honra-me muito e faz com que eu ainda o admire mais.
Já tive oportunidade de ler alguns capítulos e de perceber mais um pouco de alguns acidentes que vitimaram os bombeiros e civis que são homenageados pelo livro. Destaco aqui o capítulo que fala sobre o Daniel Ribeiro, pois tenho o prazer de conhecer o seu irmão Pedro, da Sertã. Emociona-me o relato do Professor e sinto nele aquilo que o Pedro um dia me contou. Um abraço a este e um novo agradecimento àquele.
Nada mais por agora. Espero ter um dia destes paciência para analisar o prefácio do livro.


quarta-feira, dezembro 09, 2009

Desculpa, Fernando Pessoa!


Com todos os afazeres e distrações que tenho tido, não assinalei aqui uma data que é importante destacar. 30 de Novembro de 1935. Que eu saiba, não aconteceu nenhum facto digno de realce na política portuguesa (e ainda bem!), mas aconteceu uma grande perda na sociedade portuguesa. Se estive atento e se reparei bem, não houve uma única referência ao facto de terem passado 74 anos da morte de Fernando Pessoa (meu Mestre!) e dos outros todos que eram ele. De uma assentada, faleceram os grandes poetas da língua portuguesa e perdeu a sociedade portuguesa uma oportunidade única de ter um Prémio Nobel da Poesia que, creio-o, seria o único pacificamente aceite pela maioria dos leitores em Portugal.
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Nota - Dias antes do dia 30 de Novembro de 2009, dizia eu (como factor motivacional através da curiosidade e dos seus interesses pessoais ou ausência deles) aos meus alunos de 3.º ano (o equivalente ao 12.º do ensino regular) assim que chegaram de estágio e se preparavam para iniciar o estudo da Obra de Fernando Pessoa e dos seus "EUS" outros: "Meus caros, notem que Fernando Pessoa educou-se com uma dose infindável de cultura britânica. Aliás, reparem que uma das cidades onde se vai realizar o Mundial de Futebol de 2010 é a cidade onde ele cresceu e onde frequentou estudos - a cidade de Durban." Fado português, "factum" latino ou "anankê" grega, o facto é este: no dia 25 de Junho de 2010 (se não me engano e estou com preguiça para comprovar) realiza-se na cidade estrangeira mais pessoana um encontro da língua portuguesa. O Portugal - Brasil desse dia na cidade da adolescência de Pessoa será o factor mítico para o mundo tomar conhecimento do facto de ter havido um português admirado mundialmente pela sua arte literária que passou por ali. Gosto de pensar que será um dia de esplendor da língua portuguesa no mundo.

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Aqui fica um dos meus poemas favoritos deste grande Mestre:

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Louco, sim, louco, porque quis grandeza
Qual a Sorte a não dá.
Não coube em mim minha certeza;
Por isso onde o areal está
Ficou meu ser que houve, não o que há.
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Minha loucura, outros que me a tomem
Com o que nela ia.
Sem a loucura que é o homem
Mais que a besta sadia,
Cadáver adiado que procria?
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É conhecido, bem sei, mas estará bem compreendido?

Cercados pelo Fogo: 2.ª parte (2)



Como prometido, aqui fica o comentário pré-lançamento do livro do Professor Domingos Xavier Viegas.

Sou, infelizmente por experiência não aconselhada a outros, um conhecedor do trabalho académico e "livresco" deste conhecido investigador de assuntos relacionados com incêndios. O seu trabalho tem-me (lembrem-se que sou um profissional do mundo da literatura e da língua portuguesa) cativado para uma análise científica, logo consistente, de tudo o que está relacionado com um segundo "EU" - o Bombeiro. Desde que tive a infelicidade de conhecer pessoalmente o Professor (e o Professor e quem me conhece perceberão bem o que significa aquele sentimento, atrás citado), a minha vida tem sido pautada por uma defesa intransigente dos bombeiros e da necessidade de estes serem mais conscientes, mais educados, mais profissionais e mais atentos. Poderão dizer-me que posso exagerar nessa defesa ou que posso não olhar para as reais condicionantes de determinadas corporações nessa mesma defesa, mas o que me interessa acima de tudo é impedir ao máximo que o Professor Xavier Viegas tenha assunto para um próximo livro contendo a temática em que este assenta.
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O livro.
Ainda não conheço este livro ao nível do conteúdo total. Conheço, por especial cortesia do autor, o capítulo dedicado ao acidente de Famalicão da Serra. Chamo-lhe o capítulo do meu descontentamento e sei que o será de muitas outras pessoas. Não por estar mal escrito ou mal organizado, mas simplesmente por existir aquele capítulo. O livro é um relato imenso das experiências de investigação do Professor, mas não o é só. Para além do relato das experiências, é notória a existência de um sentimento que se assemelha a um "pathos" dramático. Qual será a origem deste sentimento? Talvez o facto de por vezes parecer pregar em terra de surdos e de cegos. Realço no seguimento da afirmação anterior o episódio, ainda no capítulo de Famalicão da Serra, que relata a tentativa de alguns intervenientes na análise do acidente tentarem desvirtuar a leitura que o Professor faz do desenlace e das possibilidades de sobrevivência dos infelizes que faleceram. É um episódo agónico e que tem um clímax, onde se vê a integridade do Professor e a sua coragem e clareza de espírito. Mais não digo sobre o livro.
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Amanhã.
Lá irei a Coimbra cumprir o dever de um amigo e de um admirador. Na homenagem que o Professor fará "aos que caíram" em todos os acidentes, será também feita uma homenagem ao homem que tem trabalhado e que é a face mais visível de um projecto que tem impedido que ainda mais possam cair.

sábado, dezembro 05, 2009

Cercados pelo Fogo: 2.ª parte (1)


Para já fica o aviso:

Cercados Pelo Fogo: 2.ª parte, do Professor Doutor Domingos Xavier Viegas, irá ser apresentado em Coimbra na próxima Quinta-feira (dia 10 de Dezembro de 2009), pelas 17 horas.
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A sessão de apresentação decorrerá no Auditório do Departamento de Engenharia Mecânica, da Faculdade de Ciências e Tecnologias da Universidade de Coimbra, e contará com a presença de alguns dos responsáveis máximos das entidades e instituições ligadas aos Bombeiros Portugueses. Mais informações aqui.
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Eu também estarei presente e usarei da palavra num breve (?) comentário à obra. Quanto ao meu comentário pré-lançamento, este ser-vos-á apresentado brevemente neste espaço de discussão.

terça-feira, dezembro 01, 2009

Uns dias com Mestre Gil!


A oportunidade de contactar com o processo de ensaio de uma peça de teatro é sempre uma oportunidade única e imperdível. A oportunidade de ver trabalhar um encenador e de poder privar com ele, quando coloca no palco e nos actores a carga simbólica sonhada dias antes, são momentos de uma aprendizagem intensa e tremendamente recompensadora.

No final do mês de Agosto, estando eu a preparar o início de mais um ano lectivo, recebi a notícia de que o Teatro das Beiras estaria, dentro de dias, a encetar ensaios para a peça “Antígona”, um dos grandes textos da literatura greco-latina. Como a curiosidade de ver encenado um texto desta magnitude é sempre imensa, decidi contactar o encenador Gil Nave (meu Mestre no Curso de Encenadores realizado há cerca de dois anos no Teatro Municipal da Guarda e patrocinado pelo INATEL) com a intenção de presenciar a mise-en-scène desta peça. Pedido aceite com gosto! O Mestre Gil deu-me acesso ilimitado a todos os momentos de preparação da peça, informando-me do dia em que se iniciariam os ensaios e da particularidade de ele ir trabalhar com a versão de Brecht que foi preparada a partir do texto original de Sófocles (quereria eu melhor?). Era chegada a vez de me deslocar até à Covilhã (cidade berço deste grupo de teatro profissional) e tomar contacto com os actores e com o espaço de trabalho.

Não foi uma situação muito normal, a que os actores tiveram de passar, pois um “corpo estranho” (que era eu!) tinha, de um momento para o outro, aparecido no seu espaço e observava tudo o que acontecia. No entanto, experiente e sabedor destas coisas surpreendentes do teatro, o Mestre Gil tratou de me dar a conhecer os e aos actores, resolvendo de forma muito simples um problema que o não chegou a ser. O espectáculo tem de continuar, pensei no momento em que vi o Mestre Gil dirigir o início do ensaio, pensando eu que iria pedir que a concentração e a disponibilidade dos actores fossem colocadas em acção. Pensei-o eu? Sim, pensei-o eu! A diferença entre trabalhar com actores profissionais e com actores amadores nota-se nestes pequenos (grandes?) pormenores, tendo eu recordado, após esta constatação, que, no Curso de Encenadores, tinha já sido referido esse facto. Mestre Gil não necessitou de pedir aos actores que o fossem, dado que o profissionalismo daquele grupo revelou-se perante mim sem demora. Calcorreando visualmente os vários momentos da peça que iam sendo ensaiados, não demorei a voltar a recordar os momentos de poeticidade intensa que me envolveram no ano de 2007. O Mestre Gil gere os seus ensaios e os seus actores com a sensibilidade de um Professor que ensina os seus alunos. Aquilo a que assisti, inicialmente, foi a uma imensa aula de história e de cultura que tinha como destinatários alunos que teriam de vivenciar e de reactivar as lendas e realidades que lhes eram apresentadas. Ainda não revelei qual era o meu papel (se é que o tinha!) naquele espaço de confidências! Pois bem, eu assistia a tudo com vontade de entrar na conversa e de partilhar experiências, mas não o fiz! Porquê? Não sei. Talvez o saiba daqui a algumas palavras.

Uns dias passaram, dependendo da minha disponibilidade a maior ou menor presença nos ensaios.

A peça ganhava forma e a minha visão da aula que frequentava também. Esta imensa aula envolvia um papel passivo e de mera observação. Envolvia, também, vários momentos de discussão sadia com o Encenador, onde lhe pedia a explicação de um determinado gesto ou decisão, onde lhe perguntava o porquê de seguir uma metodologia de encenação mais brechtiana ao invés de uma mais clássica, onde o confrontava com a minha constatação do seu papel quase paterno em relação aos actores, onde me explicou o porquê de um movimento, muito usual nele, de aproximação e de isolamento do actor para uns breves momentos de análise e de explicação do seu comportamento cénico e psicológico, onde me mostrou o porquê da existência de uma necessidade muito humana de sentir a peça como um filho prestes a sair dos nossos braços e onde voltei a admirar a capacidade de Mestre Gil em construir horizontes poéticos.

É este texto baseado e fundado numa análise de uma técnica de encenação? Sim, é. No entanto, quem nos diz que a aprendizagem que efectuamos tem sempre como resultado a descrição de um conjunto de metodologias e de estratégias adoptadas? Como uma peça de teatro que demonstra o que é a vida, também a vida se envolve e interage com o teatro, permitindo a recolha de ensinamentos de uma forma, aparentemente, despida. Aprendi? Muito. Vou fazer como o Mestre Gil faz? Não e sim, dado que o seu ideal de teatro é um (do qual gosto imenso e que admiro fervorosamente) e o meu ideal de teatro será outro, mas isso só daqui a uns anos é que poderá ser constatado.

P.S. – Agradeço ao Mestre Gil a sua atenta consideração pelo meu pedido e peço-lhe desculpa pelo modesto texto que lhe dedico; agradeço também ao Teatro das Beiras a oportunidade de conhecer por dentro o seu espaço; agradeço ainda aos actores (António Alves Vieira, Fernando Landeira, Pedro Damião, Pedro da Silva, Rui Raposo Costa, Sónia Botelho e Teresa Baguinho) o consentimento dado para a minha presença nos ensaios.


Daniel António Neto Rocha

(Texto publicado em Boletim Cultural n.º 21 da Fundação INATEL)