quinta-feira, abril 28, 2011

Li: O Clube de Cinema, de David Gilmour


Sou um aficionado da leitura. Leio, leio, leio e volto a ler. Claro que sei o que são obras primas e o que são obras menores, mas não tenho por hábito deitar fora nada. Leio e, se me agrada o livro, fico satisfeito. Se o livro me enche as medidas até ao fundo da alma, celebro com uma taça de vinho, mas do bom!
Este pequeno opúsculo autobiográfico, de David Gilmour, foi-me "apresentado" por aquele que é, para mim, a grande referência em termos de cinema na cidade da Guarda - o Victor Afonso. Pessoalmente, ele já me tinha dado conta da existência deste livro, sabendo ele que um dos meus métodos pedagógicos preferidos é o ensino alicerçado no instrumento fílmico. Pois bem, aproveitando o lançamento (que a Editora Pergaminho por certo não lhe agradecerá ) deste livro que ele efectuou no seu blog - O Homem que Sabia Demasiado, dei-me conta da imperiosa necessidade de o ler. Assim o fiz e não fiquei desiludido. Por certo, poderia ser bem mais dedicado ao cinema, mas entendo que a relação (que pode ser representada na seguinte equação:) PAI <-> FILHO <-> (ADOLESCÊNCIA + INICIAÇÃO SEXUAL), que é explorada sob o ponto de vista do pai, é bem mais importante para o autor do que a constatação do génio de Hitchcock ou da capacidade criativa (tipo relógio suiço) de Eastwood.
O livro parte das memórias de um tempo difícil na vida familiar dos intervenientes e apresenta a problemática da escola tradicional, que é vista como desagradável para alguns alunos, e a necessidade da existência de alternativas a este tipo de ensino de forma a cativar os alunos menos dedicados ao estudo; apresenta também a iniciação no mundo das drogas e no mundo sexual; apresenta ainda a difícil relação entre os pais e os filhos num mundo em que o emprego consome quase todo o tempo. Desta forma, um pai (David Gilmour) desempregado vai contactar de perto com o desnorte do filho e, numa jogada muito arriscada, decidi acompanhá-lo numa aventura que vai passar pelas mais diversas dificuldades, tanto ao nível do relacionamento entre ambos como ao nível do interesse que os filmes em análise despertam no filho.
A selecção de filmes é vasta e, confesso, muito desconhecida pela minha parte, mas nota-se que o autor pretendeu dar ao filho uma espécie de "rede de salvação significativa", apresentando-lhe sempre filmes com um fundo moral imenso. Claro que lhe deu também uma educação fortíssima em termos de crítica e metodologias cinematográficas (pois ele é um escritor televisivo responsável por alguns documentários e outros programas, penso eu!), mas a grande vitória desta estratégia quase explosiva foi o regresso do Jesse aos livros e ao estudo.
A história é agradável de seguir, a escrita é simples e clara, os temas são extremamente actuais e os valores, que vão sendo expostos, são essenciais.
Um livro a ler e a guardar!

terça-feira, abril 26, 2011

13. Crónica Diária na Rádio Altitude (2.ª temporada) – Crónica das cólicas de Abril

1. Ontem foi dia 25 de Abril e o meu filhote esteve muito incomodado. Seguimos, os dois, os discursos e as histórias que a televisão apresentou. Olhámos, maravilhados, para a capacidade de ficcionalizar o real que os canais portugueses, tão enfileirados, nos propuseram. Mas ele continuava com aquela sensação de peso na barriga, sinal de cólicas ou de enfado. E percebi que, naquele pequeno ser que absorve o mundo, estava em ebulição um conjunto de dúvidas sobre este dia tão marcante na história recente de Portugal. Pareceu-me, então, que ele perguntou: “O que é que isto tudo significa?” O centro da dúvida deslocou-se então dele para mim e fiquei estático. O que responder ao meu filho quando pretendo que ele tenha uma educação baseada nos valores da verdade e da honestidade, e no conhecimento integral de toda a realidade? O que é certo é que a definição de hoje da “Revolução dos Cravos” é muito diferente da que outros conheciam em 1975 ou 1976, pois hoje nós conhecemos o caminho que perseguiram com bafejos ditatoriais todos aqueles que se agarraram como lapas ao poder dito democrático. No final desta reflexão, respondi-lhe de forma leve e risonha: “Gugudádá, filho! Gugudádá!” Ele percebeu a complexidade do tema e riu-se comigo.

(...)

Guarda, 25 de Abril de 2011
Daniel António Neto Rocha

(Crónica Radiofónica - Rádio Altitude, no dia 26 de Abril de 2011 - disponível em podcast em Altitude.fm)

sexta-feira, abril 22, 2011

Pensalamentos #13

A um escrito de Alfred Musset:

Escrevemos sobre aqueles que amámos para esterilizarmos de vez o nosso corpo e a nossa alma com um pingo de ácido semântico!


quarta-feira, abril 20, 2011

Kubik, o cientista de sons



"Depois de seis anos de espera, Kubik vai editar o seu terceiro disco de originais, fechando assim a trilogia iniciada em 2001 com Oblique Musique”. “Psicotic Jazz Hall” é o título do novo trabalho e conta com a edição do Teatro Municipal da Guarda (TMG). O disco é apresentado ao vivo no próximo dia 14 de Maio, no Pequeno Auditório do TMG.
“Psicotic Jazz Hall” (título inspirado num disco do músico francês Pascal Comelade: “Psicotic Music Hall”) explora a matriz do jazz fundindo-a com o rock, a electrónica, músicas do mundo, num resultado musical mutante e sempre na procura de novos desafios criativos.
Kubik é o projecto de música electrónica de Victor Afonso, artista da Guarda com larga experiência musical no rock, na improvisação, na música experimental, e na electrónica.
A música de Kubik cruza vários géneros e é fortemente influenciada pelo imaginário cinematográfico. Manipulação electrónica, free-rock, jazz, hip-hop, ambient, world-music, metal, breakbeat, música de “cartoons”… todas estas diferentes sonoridades se fundem num grande caldeirão de estilos e estéticas que é o universo kubikiano.
O percurso começou há 13 anos com os Prémios Maqueta 1999. Dois anos depois, em 2001, foi revelação musical para o jornal Público. Seguiram-se dois discos, ambos aclamados pela crítica especializada e incluídos nos melhores dos respectivos anos por várias publicações: “Oblique Musique” (2001) e “Metamorphosia” (2005).
«Kubik is an amazing artist. He is moving into a special and particular universe. He has a fantastic records and a fantastic music… He’s a monster!» a frase é de Mike Patton (Faith No More, Mr. Bungle, Fantômas). O músico norte-americano chegou mesmo a convidar Kubik em 2004 a tocar na primeira parte do concerto dos Fantômas na Aula Magna (Lisboa).
Kubik tocou ainda em diversos festivais e na Casa da Música, Teatro São Jorge, ZDB, Fnac, Paredes de Coura, e tem no curriculum dezenas de colaborações com artistas dos mais diversos géneros musicais como Adolfo Luxúria Canibal, Old Jerusalem, Norton, Bypass, Factor Activo, Américo Rodrigues ou César Prata e remisturou vários temas para colectâneas. Compôs ainda música original para três filmes mudos e também para espectáculos de bailado, teatro, exposições, curtas-metragens e performances."


Conto não perder este espectáculo!

domingo, abril 17, 2011

O meu comentário às escolhas distritais de deputados?


Ao que tudo indica as surpresas ao nível dos deputados distritais deram nisto: são daqueles bonequitos que não mexem nem os braços, nem as pernas, nem sequer a mioleira! Estamos mal, estamos muito mal!

segunda-feira, abril 11, 2011

12. Crónica Diária na Rádio Altitude (2.ª temporada) – Crónica de um FMI anunciado


1. E por fim a choraminguice continuará! Já não nos faltava toda a pintura borrada, ainda se constrói um discurso em torno de quem tem culpa e de quem a não tem. Uns dizem que a não têm, outros que os outros é que a têm. Enfim, parece-me abusado que seis anos de responsabilidade máxima na política não originem um bocadinho de participação na queda do castelo de cartas, mas Portugal continua a ser um ninho de fenómenos estranhos e de gente que não mede o tamanho das alarvidades. Agora, penso que a responsabilidade no estado de coisas de hoje se deve especialmente a quem a dada altura disse que a crise tinha passado ao lado de Portugal e que continuou a gastar como se nada tivesse acontecido. Pena é que a memória dos portugueses seja tão instantânea e que com isso quem tem olho continue a ser rei. Em 2009, ano de eleições, foi um mar de rosas que um vendedor de ilusões vendeu para conquistar o poleiro, mas desde aí que os espinhos se agudizaram e se cravaram mais intensamente no costelado de quem trabalha de sol a sol. Eu não me esqueci das promessas de uma terra de onde das fontes jorrava mel! O que de facto continuo a encontrar é uma terra de cujas fontes jorra mm… muito fel! A pergunta que eu faço é a seguinte: não haverá por aí uns candidatos que sejam mais humanistas? Será que só os economistas, advogados, engenheiros é que têm competências para governar o país? Talvez o universo político não goste daquilo que eu digo, mas está na altura de um estado social ter à frente algum homem ou mulher saídos do horizonte das humanidades. É que a sensibilidade artística e cultural consegue olhar mais além e o tempo dos impostos não pode durar muito mais.


(...)


Guarda, 11 de Abril de 2011
Daniel António Neto Rocha


(Crónica Radiofónica - Rádio Altitude, no dia 12 de Abril de 2011 - disponível em podcast em Altitude.fm)

Crónica Bombeiros.pt: Foram-se os anéis! Manter-se-ão os dedos?

1. A crise, a malfadada crise que varre o planeta e, especialmente, os povos que sempre se julgaram imunes ao perigo de bancarrota, não afecta unicamente as actividades dos outros. A reorganização, com cortes acentuados, das contas públicas e dos gastos inerentes à contratação de serviços por parte das entidades estatais veio provocar um cataclismo de resultados ainda não completamente visíveis nas nossas corporações de bombeiros. Por um lado, temos um corte imenso nas receitas que provêm do transporte de doentes (vejam que nunca ninguém assumiu que esta era até há bem pouco tempo a maior fonte de receitas de quase todas as associações de bombeiros do país) e, como sabemos, sem transporte de doentes deixa de haver espaço para a existência de contratados. Por outro lado, quais serão os apoios governamentais que numa situação de crise financeira poderão colmatar essa ausência de receita e quais serão os apoios populares que resistirão ao desgaste provocado por muitos anos de exploração política?

(...)


Guarda, 10 de Abril de 2011
Daniel António Neto Rocha


(Texto publicado e disponibilizado no Portal Bombeiros.pt a partir das 17h00m do dia 11 de Abril de 2011)