terça-feira, dezembro 27, 2011

04. Crónica Diária na Rádio Altitude (3.ª temporada) – Crónica do sorriso da minha Mãe ou de um Natal mais alegre (*)

1. E o que interessa cumpre-se: bebe-se vinho; come-se como se não houvesse amanhã; vive-se intensamente o amor familiar; ama-se o quente da lareira caseira; abraça-se o amor verdadeiro; e olha-se o futuro com auspiciosa ansiedade. No dia seguinte, eis-nos, com umas gorduritas e com uns gramas a mais, a caminho do virar do ano, que é como quem diz: da ingestão de mais uns quantos venenos, para a saúde, tremendamente saborosos! Mas quem se importa com isso no meio deste clima geral de desânimo em que Portugal aterrou e em que, muito provavelmente, todos os que viveram à grande no passado continuarão a viver à grande? Pois… dirão vocês e eu. Rendido às evidências que as mensagens de Natal dos pobres governantes deste país me trazem, a única coisa de que me consigo lembrar é de aproveitar para ir ao hospital este ano e antecipar desde logo as consultas de urgência que de certeza terei de fazer nos próximos anos para curar as minhas laringites e faringites, que no futuro me custarão mais do que um mês de trabalho. Mas, como por vezes sonho que em tempos vivi à grande e gastei todo o dinheiro a comprar vivendas no Algarve, apetece-me, quando caio na realidade, imitar as palavras de Ricardo Araújo Pereira e perguntar ao grande tronco da nação se também tive assento nas negociatas da Sociedade Lusa de Negócios ou se a taluda que o BPN concedeu aos felizes contemplados com empréstimos milionários se aproximaram sequer de mim, pois posso garantir a esse senhor, que é um imenso monte de lenha seca e oca, que, desses negócios tão frutíferos para os seus bolsos, eu só tenho pago dividendos que outros tiveram e não me recordo de ter recebido nada que me tivesse feito ter uma vida menos complicada desde que me conheço. Enfim, não vamos estragar este clima de festividade com palavras tão desagradáveis sobre ladrões e amigos de ladrões que parecem bandos de pardais à solta quando se trata de festas, festanças e inaugurações.

(...)

Famalicão da Serra, 25 de Dezembro de 2011
Daniel António Neto Rocha

(Crónica Radiofónica - Rádio Altitude, no dia 27 de Dezembro de 2011 - disponível em podcast em Altitude.fm)

(*) Excepcionalmente, esta crónica é publicada na íntegra. Talvez porque é Natal.

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