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quinta-feira, junho 28, 2012

Eu e a Revista Praça Velha n.º 31 e o Fio da Memória




Hoje, pelas 18 horas, na Biblioteca Municipal Eduardo Lourenço (BMEL) - Guarda. Na revista participo com uma recensão (a que dei o nome «A “palavra essencial” esquecida: acidente poético fatal, de Américo Rodrigues») ao livro Acidente Poético Fatal, de Américo Rodrigues, e na colecção "O Fio da Memória" com o Julgamento e Morte do Galo do Entrudo 2012 - Textos.

Abaixo leiam mais sobre o conteúdo da Revista Praça Velha 31 e sobre os novos números da colecção "O Fio da Memória".


"A Câmara Municipal da Guarda promove, no próximo dia 28 de junho, quinta-feira, na Sala Tempo e Poesia da Biblioteca Municipal Eduardo Lourenço, pelas 18h00, o lançamento da Revista Cultural Praça Velha nº 31 e dos números 105 ao 109 da coleção “O Fio da Memória”.
O número 31 da Revista é dedicado ao tema "Comunicação Social na Guarda no Século XX" e contará com a colaboração de Adriano Vasco Rodrigues, Jesué Pinharanda Gomes, Victor Manuel S. Amaral, Aires Antunes Diniz, Manuel Leal Freire, António José Dias de Almeida, Joaquim Igreja, José Luís Lima Garcia e Luís Vieira Rente. A Grande Entrevista ao Dr. António José Teixeira é conduzida por Helder Sequeira. Poesia conta com a participação de Cristino Cortes. Portfolio é da responsabilidade de Ricardo Marta. Recensões críticas de livros e Cd’s incluem colaborações de André Boto, António Cunha, António José Dias de Almeida, Daniel António Neto Rocha, Francisco Manso, Joaquim Martins Igreja, José Alberto Ferreira, José Maria dos Santos Coelho, José Monteiro, José Manuel Suzano Louro, Ludgero Paninho, Pedro Dias de Almeida, Regina Gouveia e Vítor Afonso. Este número termina com a já habitual Súmula de Atividades Culturais.
A Coleção “O Fio da Memória” contará com mais cinco opúsculos dedicados aos seguintes temas: “João Nunes Velho - Vida em Poesia” de António Sá Rodrigues; “Julgamento e Morte do Galo do Entrudo 2012 - Textos” de Daniel Rocha; “Vela - O Teatro num Lugar” de António Manuel Gomes e João Neca; “Na sua mão direita - Manuel de Vasconcelos curador do sofrimento humano” de Manuel Poppe e “O dia em que a terra desabou” de Gabriela Marujo." (Fonte: Câmara Municipal da Guarda)

sábado, junho 23, 2012

Quem usará da palavra?

A apresentação do livro fica entregue a uma mulher extremamente competente nestas andanças da literatura. O seu nome é Joana Duarte Bernardes e é uma amiga de longa data (desde os tempos de Coimbra). Para além da amizade que nos une e da competência que todos lhe reconhecem, é uma pessoa de grande sensibilidade poética.

Aqui fica um pouco do seu "currículo":


"Joana Duarte Bernardes é licenciada em Línguas e Literaturas Modernas pela Universidade de Coimbra e Mestre em Teoria e Análise da Narrativa. Como membro do Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX, integra o projeto “Correntes Artísticas e Movimentos Intelectuais”.

Áreas de investigação: Teoria da História e Historiografia; Estudos sobre Memória e Morte; Literatura e Cultura Portuguesa (séculos XIX-XX); Poéticas do Limite.

De entre os trabalhos já publicados, contam-se: “Quando ainda se acreditava que as ideias faziam revoluções: Manuel Emídio Garcia e Eça de Queirós”, Revista de História das Ideias, nº 29, 2008 ; “O século XX ou o ambíguo tempo dos profetas”, Estudos do Século XX, nº 9, 2009; “Limite e utopia: a praia como limiar”, Biblos: Revista da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, nº VII, 2009; “Habiter la mémoire à la frontière de l’oubli: la maison comme seuil”, Conserveries Mémorielles, 7, 2010 ; “A História como sagesseˮ, Revista de Teoria da História, Ano 1, Número 3, 2010; “O ocaso do eurocentrismo”, Estudos do Século XX, nº 9, 2009.

Presentemente, prepara a sua tese de doutoramento em História, especialidade Teoria da História, na Universidade de Coimbra.

É bolseira da FCT.
"

(Fonte: Imprensa da Universidade de Coimbra)

segunda-feira, junho 18, 2012

Ecce diem libri!





Dia 7 de Julho, às 16 horas, na Biblioteca Municipal Eduardo Lourenço (Guarda). Durante a semana divulgarei os restantes dados. Para já, espero que seja um bom dia para vós, pois gostava de vos ver por lá!

quinta-feira, junho 14, 2012

A pele do livro!



Esta é a capa do livro!
O design é do Edgar Silva, meu amigo de Liceu e designer de reconhecido talento na região centro (talvez o nome Puro Design vos diga alguma coisa mais).
Mais informações sobre o dia do lançamento e sobre os responsáveis pela apresentação do livro e do seu autor seguem dentro de momentos!

quinta-feira, junho 07, 2012

Obrigado, Ray Bradbury!


Faleceu ontem (dia 6) um dos homens que escreveu contra os regimes totalitários e limitadores do pensamento humano. A sua novela quase romance (como gosto de lhe chamar) Fahrenheit 451 é um grito de alerta, com mais de cinquenta anos, ao futuro. Já o aqui apresentei segundo um determinado contexto, mas leiam-no e evitem que o nosso futuro seja assim!
Até sempre, Ray Bradbury!

sexta-feira, junho 01, 2012

Lá vem livro!

Estou a ultimar os preparativos para o meu primeiro lançamento de livro. Será em Julho! É um livro que vem com algum tempo de atraso, mas que tem as suas virtudes. É de poesia e espero por vós no dia do lançamento. Em breve darei dados mais precisos.

sábado, janeiro 21, 2012

Li: A Divina Pestilência, de João Rasteiro

A seguinte recensão está publicada na revista cultural Praça Velha, n.º30.


Silêncio silabado: A Divina Pestilência, de João Rasteiro


5. Um súbito silêncio entre as
sílabas de certas palavras
que fica depois a pairar perto dos lábios.

(Manuel António Pina)



Se atentarmos na real necessidade de efectuar uma recensão crítica a uma obra que foi objecto de avaliação e de ponderação por um júri especializado na análise poética, facilmente chegamos à conclusão de que pode ser uma perda de tempo a atenta leitura e a posterior reflexão sobre essa obra vencedora de um qualquer prémio literário. No entanto, teremos de aqui concordar com sábias ideias avançadas por Edgar Allan Poe, um dos incontornáveis e polémicos nomes da literatura mundial, no seu artigo “Carta a B –“. Diz-nos ele (por outras palavras), no meio de uma reflexão acerca da crítica literária (naquele caso a um poema), que um idiota é capaz de dizer que Shakespeare foi um grande autor sem nunca ter lido uma só linha dos seus textos. Daí que nem sempre as críticas são justas ou suficientemente aprofundadas. Tem Poe toda a razão, não só acerca daquela que foi a massa crítica no seu tempo como ainda mais razão conseguiria se se referisse aos tempos que correm. Vejamos, a partir da opinião de ilustres colunistas, a quantidade de autores que nem precisam de ser lidos para serem certezas do próximo cânone literário. Pois, também nós poderíamos aceitar dogmaticamente a decisão de um júri e lançar “laudas” a qualquer obra que seja vencedora. Mas, não estaríamos nós a pactuar com o eternizar do facilitismo e do conforto da opinião única, e, na base, a abdicar da nossa própria inteligência? Eis a impossibilidade que nos atinge e que nos leva a optar por uma posição questionadora e, por vezes, conflituosa, mas extremamente positiva e evolutiva ao nível da construção de um intelecto saudável.
Serve a anterior reflexão de preparação para a análise crítica à obra A Divina Pestilência, de João Rasteiro, vencedora da 1.ª edição do Prémio Manuel António Pina (2010), oportunamente criado pela Câmara Municipal da Guarda em colaboração com a editora Assírio & Alvim. Sobre o autor, poderemos dizer que não será um desconhecido para quem segue de perto o fenómeno poético, uma vez que tem uma presença constante na revista Oficina de Poesia e tem já publicados outros livros: A respiração das vértebras (Editora Palimage), em 2001; No centro do arco (Editora Palimage), em 2003; Os cílios maternos (Editora Palimage), em 2005; O búzio de Istambul (Editora Palimage), em 2008; Pedro e Inês ou as madrugadas esculpidas (Editora Apenas), em 2009; Diacrítico (Editora Labirinto), em 2010; e Tríptico da súplica (Editora Escrituras), em 2011 no Brasil. Para além destas referências, João Rasteiro tem colaborado intensamente com o Brasil, resultando daí algumas das influências que se encontram em A Divina Pestilência e que a transformam num objecto poético invulgar ao mesmo tempo que é um exercício estético de excelência. Sim, tal como Edgar Allan Poe diz no artigo acima referido: “(…) podemos supor que os livros, como os seus autores, melhoram com as viagens”, mesmo que essas viagens sejam unicamente fruto da leitura e da partilha de sensações poéticas, acrescentamos nós. E destas viagens que o autor faz por diferentes culturas e diferentes estéticas (que tentaremos expor mais à frente) nasce uma obra que poderíamos apelidar de multifacetada, tantas são as referências e as hipóteses de leitura que suporta e que nos vai obrigando a relembrar ou a solicitar. Talvez seja esta a grande virtude da quase totalidade da obra: a capacidade de perturbar o leitor e de o levar a “tentar” várias leituras de cada um dos poemas que a compõem.
Tentemos, agora, vislumbrar o interior da obra e perceber as relações de sentido que são desde logo despoletadas, não nos esquecendo da importância que a viagem encerra ao longo das páginas d’ A Divina Pestilência. Pensamos que qualquer leitor terá curiosidade em perceber o porquê do título, que encerra em si duas palavras que são antagónicas (note-se a existência do oximoro): “divina” encerra em si um sentido que aponta para o sublime, a perfeição, para algo que se relaciona com os próprios deuses; enquanto “pestilência” aponta para a doença, para a peste, para as epidemias que dizimam milhões e para a própria morte. Temos, portanto, um título que é paradoxal e que apanha o leitor exactamente pelo intelecto, levando-o a raciocinar e a procurar outros caminhos para o entendimento. Nessa procura por outras explicações, porque não já no interior do livro, o leitor é confrontado com as sete epígrafes (que acompanham o título de cada parte da obra) retiradas da obra maior de Dante: A Divina Comédia. Como sabemos, este título revela desde logo aos seus leitores que a obra do poeta florentino (que é autor e personagem de uma imensa viagem que atravessa o Inferno e o Purgatório, e termina no Paraíso), quanto ao conteúdo, termina de forma feliz. No caso da obra em análise, e seguindo um raciocínio idêntico, poderemos ser levados a interpretar o paradoxo do título com a possibilidade de a obra conter um sentido negativo e que aponte para um final infeliz ou não satisfatório, uma não realização da palavra ou um verbo sem sentido. Continuemos. Após esta reflexão inicial, o autor apresenta a epígrafe prefacial da obra que é constituída por dois haikai do imenso poeta japonês Matsuo Bashô (1644-1694). Estes haikai, que apelam à concisão e à precisão doutrinárias, apontam um sentido de escuridão no poema, demonstrando que o que poderá sobrevir no resto da obra é a constatação de uma esperança que poderá não existir. Já no haikai de Bashô que fecha o livro, apela-se ao silêncio que deixe a natureza fluir e realizar-se plenamente, sendo esta leitura compatível com as necessárias condições que devem ser reunidas para a existência de uma fruição poética completa. Convém referir que este tipo de poema, que ao nível da versificação aponta para uma espécie de terceto irregular, não tem quase expressão em Portugal (Albano Martins, David Rodrigues, ?), mas no Brasil é cultivado desde o início do século XX (1919), por influência do poeta simbolista Afrânio Peixoto. Como referimos acima, a ligação de João Rasteiro com um conjunto de autores brasileiros contemporâneos e o seu gosto pessoal pela poesia daquele país poderá ter despoletado neste a forma escolhida para nos apresentar o seu livro A Divina Pestilência, pois também (conforme veremos mais adiante) a estrofe escolhida pelo autor é o terceto que se aproxima do haikai (não puro) pelo conteúdo, mas que se fica por uma espécie de terceto chave-de-ouro (roubando essa designação à derradeira estrofe do soneto) que encerra a moral ou que pretende resumir o restante texto. No entanto, poderemos ainda acreditar que o autor pretendeu com a utilização do terceto seguir a estrofe utilizada na obra de Dante. Todas hipóteses atrás citadas são plausíveis e pretendem a subjectividade que preenche a escrita do poema, cabendo-nos a nós, que o lemos, escolher a tentativa de interpretação que mais nos agradar. Neste caso, e tentando concluir a ideia iniciada com a reflexão sobre o haikai, convém ter em atenção que João Rasteiro consegue reunir com um agradável equilíbrio culturas distantes física e culturalmente: a ocidental, através de Dante, e a oriental, através de Bashô, ficando a dúvida sobre qual é a cultura que pretende salientar ao invés da outra. Na nossa opinião, nenhuma delas é submetida à outra, antes funcionando estética e representativamente ambas de forma eficaz.
A obra, em termos organizativos, é composta por sete partes, que possuem os nomes das sete colinas que rodeiam Roma: Aventino, Campidoglio, Celio, Esquilino, Palatino, Quirinal e Viminal. A escolha destes títulos para encabeçarem as sete partes da obra não parece relacionar-se com Dante. De outra perspectiva, podemos pensar, por um lado, que é esta uma espécie de celebração da multiculturalidade da cidade que foi Império, tentando o autor apresentar a sua obra como o resultado de várias vivências culturais, ou, por outro lado, que a alusão às sete colinas poderá funcionar como uma alusão aos sete pecados capitais, que como sabemos, são uma das imagens que desde sempre está ligada à la grande meretrice (a cidade de Roma sem moral ou pudor). A realidade é que as colinas são dispostas alfabeticamente, não dando a entender que existe uma qualquer orientação geográfica ou uma qualquer opção estilística, mas uma opção meramente organizativa. Já a referência contínua ao sete (vejamos que as sete partes da obra possuem, cada uma individualmente, sete tercetos) aponta, tanto na tradição bíblica como nas tradições muçulmana e oriental, para a perfeição, sendo destacado na organização dos livros sagrados e da própria cosmologia do universo que cada religião apresenta. A existência do sete pode ainda supor, em associação com a tonalidade negra da obra, o apontar para o Apocalipse, que é também constituído por séries de sete e que aponta para “a plenitude de um período de tempo concluído”, segundo as palavras de Chevalier e Gheerbrant no seu Dicionário dos Símbolos. Tendo esta última referência como objecto de questionação, poderemos constatar que existe uma tentativa de aproximação do teor de um livro a outro?
Centremo-nos no interior das sete partes, mais concretamente nos tercetos. "Tudo é divino e trágico,/ saboreia-se o fel do verbo/ o leito do delírio, a sílaba". No terceto que inicia a obra, verificamos que o objecto de análise é a semiótica e o objecto analisado a palavra. É a partir da palavra que se constrói a antítese. É na existência da palavra que se conseguem os sentidos do poema. É com a palavra que a existência ganha tonalidades. E assim, terceto após terceto (uns de sensibilidade mais oriental – relacionando-se com a observação natural e com um sensacionismo de coloração caeiriana - e outros com uma existência mais ocidental e mais enraizada na discussão estética), o autor dá-nos uma reflexão não só poética mas também filosófica da existência e da efemeridade da palavra, através da dúvida ou da constatação da ausência de caminhos. "O poema serve de mortalha,/ ignoro de que ocultos metais/ é constituída a arte dos dedos". Tendo este terceto como elemento de significação, citemos Roman Jakobson, no seu artigo “O que fazem os poetas com as palavras”, na tentativa de abrir espaços de interpretação que possam aparentemente revelar-se intransponíveis: “Há poetas, escolas, que se orientam para as rimas gramaticais, e poetas, escolas, que visam antes as rimas agramaticais, ou, mais exactamente, antigramaticais.” Não estamos, com a frase de Jakobson, a considerar errada a gramática do terceto ou a gramática do entendimento do poema. Estamos, sim, a recordar o leitor, ainda a partir de Jakobson, de que “tudo na linguagem é, nos seus diversos níveis, significante.” Temos, pois, de procurar as ferramentas que consigam ajudar-nos a compreender toda a amplitude que um texto poético encerra na sua forma, aparentemente, mais simples.
A obra vencedora da 1.ª edição do Prémio Manuel António Pina é de difícil caracterização ou inserção numa qualquer corrente literária que nos tenha precedido ou que exista actualmente. Poderemos ser tentados a chamar-lhe literatura contemporânea pela coexistência consciente de diferentes formas estéticas e de diferentes culturas. No entanto, se houvesse necessidade de a inserir numa corrente a criar ou que exista naturalmente sem necessidade de “encaixotamento”, diriamos que é uma obra que facilmente se inseriria num neossimbolismo de teor oriental, pois vive dos vários símbolos que são projectados em cada um dos tercetos e pretende uma relação do eu - leitor com o poema que propicie o equilíbrio.
Em conclusão, é uma obra que merece ser lida e relida, para que os múltiplos sentidos possam aproximar-se do entendimento. O júri deste prémio viu a potencialidade multissignificativa desta obra e a complexa teia em que ela foi urdida, dando ao poeta João Rasteiro um prémio merecido pelo intenso labor que lhe dedicou e que decidiu partilhar connosco. Não é o livro de poesia ideal, nem sei se existirá “o” livro ideal, mas é um livro obrigatório para apreciadores de poesia que gostem de ser desafiados e que esperem que a sílaba não seja apenas um elemento de uma palavra e, sim, um elemento de significação no meio do silêncio da leitura. Para além disso e como expectativa acerca do resultado final desta análise, diz Poe e nós concordamos, “um poeta, que seja de facto poeta, creio que não poderia deixar de fazer uma crítica justa.”

Famalicão da Serra, 30 de Setembro de 2011
Daniel António Neto Rocha

(In: Revista Praça Velha n.º 30. – Guarda: NAC/ CMG, Dezembro de 2011. – p. 293 a 298.)

quarta-feira, dezembro 14, 2011

Li: Teorias, de manuel a. domingos


Ainda num período de "ressaca" depois da leitura do livro Teorias, faço apenas um pequeno comentário de extremo contentamento. Mais do que lirismo, manuel a. domingos aposta, e muito bem, na espontânea fluidez das ideias, mesmo quando elas parecem incompatíveis com o fazer poesia. Um exemplo perfeito disso é o poema com que encerra o livro: "O poeta sentado/ observa/ o seu umbigo// Vê como/ é perfeito// O poeta retira/ do umbigo/ o cotão/ que se acumula/ (...)". É neste tom, irónico e consciente, que ele constrói uma dialéctica interessantíssima entre a poesia, a teoria da literatura e a vida (a real e quotidiana).
Uma pequena obra, edição de autor e limitada, que merece ser lida e usufruída por quem gosta de poesia.

P.S. - Este livro pode ser encomendado ao autor pelo endereço electrónico: manueldomingos@gmail.com

quarta-feira, novembro 09, 2011

quarta-feira, setembro 14, 2011

Pensalamentos Emprestados #4

"Desgraçadamente a vida partidária em Portugal gira ainda em volta da educação monárquica. Quem dentro dos partidos quiser servir ideais, obriga-se principalmente a servir os homens."

Jaime Cortesão, Memórias da Grande Guerra


Não recebo muitas ofertas de livros pelo correio (mas gostava!), mas não deve ser só por eu ter mau feitio. Talvez as pessoas não soubessem deste meu gosto.

Esta citação retirei-a de uma separata que me foi enviada por um amigo, que é um excelente investigador. É uma separata de um artigo que vem na revista Biblos, número VIII (2010), dedicada à República. Chama-se "Jaime Cortesão: o escritor combatente na I Guerra Mundial" e foi escrito pelo Professor Jorge Pais de Sousa. Se puderem, leiam!

sexta-feira, setembro 02, 2011

Li: Olhos de Cão Azul, de Gabriel García Márquez



Resignamo-nos? Não! Lêmos a terceira.


Em pleno século XX, durante um período de convulsões sociais e políticas (onde se constroem ditaduras ao mesmo tempo que se calcorreiam caminhos de libertação utópica), que percorrem o mundo, amadurece um talento de extensão mundial que se revelará em 1947.
Gabriel García Márquez não é um escritor de biografia agradável ao leitor que procura um ser puro, limpo de má vida ou um Deus feito homem. Quem percorrer a sua autobiografia (Viver para Contá-la) depressa se apercebe que a transgressão e a marginalidade à vida são pratos fortes deste autor. Fará esta vida boémia e por vezes degradante que o autor se apague? Não, não , não e, outra vez, não! Tal como o calor da América Latina sugere aos corpos uma roupa leve a roçar a nudez, também este escritor sugere aos seus leitores o despojamento de alguns utensílios morais e de preconceitos que tornam, por vezes, a leitura de uma obra literária num jogo do esconde e encontra. Ou seja, ler é um exercício que por vezes é doloroso e exige a dádiva (obrigatória!) de sangue, suor e lágrimas, e doutras vezes transforma-se num exercício de sugestão erótica e sensual. Podemos apaixonar-nos por uma personagem de um conto, novela, romance ou de um qualquer texto literário? Podemos e devemos. García Márquez dá-nos essa possibilidade em toda a sua obra.
"A terceira resignação" (1947) é um conto da juventude. Depois de ter abandonado o seu projecto inicial e mítico (já!), "A revoada", sente que é tempo de começar por baixo. Melhor dizendo, é tempo de percorrer um trajecto de construção desde a base, é tempo de assumir as suas falhas e educar-se na escrita. Daqui nasce a ligação ao jornalismo e ao primeiro espaço de publicação da sua obra e, digamo-lo, à vida desregrada com classe. Com a publicação deste conto, García Márquez, cria uma corrente de escrita apelidada de realismo mágico. Creio que com a leitura deste conto nos apercebemos claramente do estilo. Onde já se viu um morto ganhar o papel de personagem principal? Onde já se viu a existência viva de um morto? Onde já se encontrou uma mãe que todos os dias (durante 18 anos!) mede o seu filho de forma a constatar que se encontra vivo apesar de morto?
Fabulosa leitura e uma viagem incrível até um universo que vive sobretudo dos conceitos de estranheza e de amor materno.
Boas leituras e boas descobertas!

sábado, agosto 27, 2011

Li: "Arte de ser português", de Teixeira de Pascoaes


A "Arte de ser Português", de Teixeira de Pascoaes, é uma análise filosófica e lírica do SER português. Em cerca de 100 páginas explora a alma pátria e revela que só na espiritualidade é que um povo consegue atingir toda a sua plenitude. Curiosa é a visão do político português, do pósrevoluções liberais, que se contrapõe aos antigos representantes do povo nas cortes régias. Este visto como um homem de bem que defendia claramente a sua população e aquele um oportunista sectorial que só se preocupa com o partidarismo e com os seus próprios interesses singulares.
Outro dos pontos interessantíssimos é a visão da heterogeneidade do povo português enquanto resultado das misturas que a própria história das invasões apresenta. Para Teixeira de Pascoaes, somos nós, povo português, uma agregação das raças ariana e semita (depreendo que Aristides de Sousa Mendes foi um leitor deste livro!). Como é óbvio, também neste livro se fala de religião, de arte e de carácter. Em relação a este último conceito pouco se pode comparar com os dias de hoje, pois todos sabemos que a maior parte dos portugueses, em especial os que possuem lugares de responsabilidade, são seres amorfos, balofos e completamente desprovidos de algo que se aproxime da palavra carácter.

Para uma obra que está quase a celebrar os seus cem anos de publicação, é um estudo extremamente actual e necessário. Como é óbvio, esta última afirmação subentende tudo aquilo que sempre se aconselha: ler com o devido distanciamento e não assumindo tudo como verdade absoluta!

sábado, junho 25, 2011

Li: “Hieracita”, de Jaime Alberto do Couto Ferreira


O que esperar de um romance de trezentas e algumas páginas com o sugestivo nome de “Hieracita” (corruptela de “Hieracite”), que significa pedra preciosa usada para curar as hemorróidas?
O protagonista maior da obra (o narrador mais do que autodiegético), José de seu nome, vive numa aldeia de burgessos (alusão clara ao que foi (?) a aldeia natal do autor – Famalicão da Serra) de onde vai partir em busca de riqueza e, nota-se no desenrolar do fio da narrativa, ao encontro do conhecimento que nunca poderia atingir num “quotidiano entre as alimárias e os toscos”. Daí, decide sair e tentar a sorte tal como já tinha feito o seu irmão Alberto.
Assim que os dados estão lançados, o narrador dá-nos a visão do grande surto de procura da borracha (nas florestas brasileiras) e o autor mostra-nos todo o seu conhecimento em História da Economia, através de longas (demasiado longas?) descrições acerca dos problemas que se seguiram ao “boom” da borracha. Rico, “maçon” e agora proprietário de múltiplos terrenos em Famalicão, José torna-se um estrangeiro na sua terra.
Regressado de férias, fica fascinado com a beleza de uma menina “aperfilhada” por um padre, sendo em Famalicão que continuará a vida, sempre dando ares de galã e aproveitando para herdar a riqueza do padre Nave. Aqui começa uma descrição imensa sobre o papel da igreja e o autor volta a referir as milhentas leituras efectuadas em literatura oficial da religião católica, apresentando um rol de livros que, aparentemente, estavam na célebre arca do clérigo.
Antes de terminar a vida do narrador/ personagem e o próprio romance, o autor ainda tem tempo para: descrever hábitos e comportamentos dos burgessos de Famalicão e de mulheres “desgraçadas” por uma vida de depravação e de ingenuidade; apresentar histórias rocambolescas da banda filarmónica; e fazer uma apreciação muito curiosa sobre os professores da escola primária.

No final, para quem lê o romance fica a dúvida: estaria o autor a escrever um romance ilustrado com demasiadas referências bibliográficas ou estaria o autor a construir uma lista bibliográfica e saiu-lhe um romance? De qualquer das formas, é um romance que se lê bem (para o comum dos leitores, habituado a sofrer com a escrita realista e naturalista ou com a escrita intelectual de Umberto Eco) e que tem como feliz particularidade a existência de um narrador multifuncional (ao jeito de José Saramago) que cruza tempos e espaços diferenciados (como bem se nota na referência proléptica às eólicas que o narrador nunca sonhou sequer ver). A partir destes pontos de destaque, convém referir ainda a visão, que deve ser lida e analisada em jeitos antropológicos, de Famalicão e dos seus habitantes, pois a leitura sociológica que perpassa por toda a obra é a de que o nativo desta aldeia é abrutalhado e incapaz de um pensamento, havendo a necessidade da fuga ao vale para se atingir, por fim, a abertura de espírito capaz de construir consciências e educar o intelecto. Concordo plenamente com esta visão! Depois, importa fazer notar que é um romance que apresenta muitos erros de escrita, não se notando nele qualquer trabalho de edição por parte de um linguista ou de um revisor. Não é que este último ponto possa fazer do romance melhor ou pior, mas torna a língua deste romance bem pior. Por fim, o autor entrega-nos nas mãos um romance que deve ser lido por quem quer conhecer, não só, um pouco da alma de uma aldeia mas também o espírito dos filhos da terra que um dia saíram e por lá por fora ganharam a clarividência suficiente para conseguirem viver alheados dos burgessos típicos de Famalicão que ainda por lá vão recolhendo aplausos.

sexta-feira, maio 27, 2011

Memória: Manuel Poppe e os seus "Trabalhos e Dias"


Há quem diga que os meios de comunicação "internautas" (digitalmente falando) servem a imensa feira de vaidades em que todos nos enovelamos. Bem, cá está mais uma pequena vaidade em homenagem a um amigo.

"Sabe, Manuel, lá por ter sido homenageado, não quer dizer que agora já possa ser esquecido!"

E que bem sabe lembrar sempre Manuel Poppe através da leitura. Cá para mim, virá dele, brevemente, mais um grande momento de leitura.

Mas isto sou eu a adivinhar! Ou a constatar?

Ver mais fotos (quanto a mim um excelente trabalho do Arménio Bernardo) da exposição "Trabalhos e Dias", dedicada a ele, aqui ou ali.

quinta-feira, abril 28, 2011

Li: O Clube de Cinema, de David Gilmour


Sou um aficionado da leitura. Leio, leio, leio e volto a ler. Claro que sei o que são obras primas e o que são obras menores, mas não tenho por hábito deitar fora nada. Leio e, se me agrada o livro, fico satisfeito. Se o livro me enche as medidas até ao fundo da alma, celebro com uma taça de vinho, mas do bom!
Este pequeno opúsculo autobiográfico, de David Gilmour, foi-me "apresentado" por aquele que é, para mim, a grande referência em termos de cinema na cidade da Guarda - o Victor Afonso. Pessoalmente, ele já me tinha dado conta da existência deste livro, sabendo ele que um dos meus métodos pedagógicos preferidos é o ensino alicerçado no instrumento fílmico. Pois bem, aproveitando o lançamento (que a Editora Pergaminho por certo não lhe agradecerá ) deste livro que ele efectuou no seu blog - O Homem que Sabia Demasiado, dei-me conta da imperiosa necessidade de o ler. Assim o fiz e não fiquei desiludido. Por certo, poderia ser bem mais dedicado ao cinema, mas entendo que a relação (que pode ser representada na seguinte equação:) PAI <-> FILHO <-> (ADOLESCÊNCIA + INICIAÇÃO SEXUAL), que é explorada sob o ponto de vista do pai, é bem mais importante para o autor do que a constatação do génio de Hitchcock ou da capacidade criativa (tipo relógio suiço) de Eastwood.
O livro parte das memórias de um tempo difícil na vida familiar dos intervenientes e apresenta a problemática da escola tradicional, que é vista como desagradável para alguns alunos, e a necessidade da existência de alternativas a este tipo de ensino de forma a cativar os alunos menos dedicados ao estudo; apresenta também a iniciação no mundo das drogas e no mundo sexual; apresenta ainda a difícil relação entre os pais e os filhos num mundo em que o emprego consome quase todo o tempo. Desta forma, um pai (David Gilmour) desempregado vai contactar de perto com o desnorte do filho e, numa jogada muito arriscada, decidi acompanhá-lo numa aventura que vai passar pelas mais diversas dificuldades, tanto ao nível do relacionamento entre ambos como ao nível do interesse que os filmes em análise despertam no filho.
A selecção de filmes é vasta e, confesso, muito desconhecida pela minha parte, mas nota-se que o autor pretendeu dar ao filho uma espécie de "rede de salvação significativa", apresentando-lhe sempre filmes com um fundo moral imenso. Claro que lhe deu também uma educação fortíssima em termos de crítica e metodologias cinematográficas (pois ele é um escritor televisivo responsável por alguns documentários e outros programas, penso eu!), mas a grande vitória desta estratégia quase explosiva foi o regresso do Jesse aos livros e ao estudo.
A história é agradável de seguir, a escrita é simples e clara, os temas são extremamente actuais e os valores, que vão sendo expostos, são essenciais.
Um livro a ler e a guardar!

sexta-feira, janeiro 21, 2011

Goodbye, Mr. Chips, de James Hilton (Obrigado, Manuel Poppe!)

Manuel Poppe tem escrito milhares de palavras sobre vários temas e, principalmente, sobre o valor humano. Foi a partir dele (ver aqui) que eu encontrei um pequeno livro, que devorei assim que o recebi, de leitura obrigatória para todos aqueles que não sabem o que é um professor, no sentido mais puro e desinteressado do termo. Neste opúsculo de James Hilton, Mr. Chips é o professor que trabalha para os seus alunos e não para estatísticas, é o professor exigente e é, sobretudo, um homem que é imperfeito e que reconhece as suas limitações.
Tudo o que acabei de dizer é aquilo que define o ser humano consciente da necessária valorização de pessoas e não da valorização de contas bancárias ou de propagandas enganadoras. Isso é o que tem acontecido nos últimos anos. Os espertalhões do sistema concederam o seu tempo a valorizar-se enquanto secretárias de esquina, preparando-se para integrarem as funções de desnorteadores do ensino sério. Os outros, os que se preocupam em tornar os alunos melhores, são descartados e empurrados para a necessária imbecilização do país.
Este pequena obra abriu-me a alma e emocionou-me. Poderei ser, no futuro, assim recordado?

quarta-feira, agosto 18, 2010

Livro "Cercados pelo fogo - 2"





Caros visitantes:

Caso vivam na Guarda ou no Distrito e estejam interessados em comprar o livro do Professor Domingos Xavier Viegas, "Cercados pelo fogo - 2", podem fazê-lo junto de mim, pois tenho alguns exemplares que o Professor deixou comigo para facilitar a venda. Caso o desejem, contactem-me pelo meu e-mail: danielroc@gmail.com .

A capa do livro é uma foto do incêndio de Famalicão da Serra.

terça-feira, março 16, 2010

Cristo na Cruz


-->Não sei se os meus gostos literários são conhecidos pelos meus caros amigos, mas não há muita gente que conheça este meu gosto (exagerado?) pelos escritores sul-americanos. Confesso-lhes que é, talvez, o meu próximo grande objectivo profissional - estudar melhor este meu gosto. Para já, deixo-vos com um dos meus poemas preferidos do livro (na versão portuguesa) "Os Conjurados", de Jorge Luis Borges.


Cristo en la Cruz
Cristo en la cruz. Los pies tocan la tierra.
Los tres maderos son de igual altura.
Cristo no está en el medio. Es el tercero.
La negra barba pende sobre el pecho.
El rostro no es el rostro de las láminas.
Es áspero y judío. No lo veo
y seguiré buscándolo hasta el día
último de mis pasos por la tierra.
El hombre quebrantado sufre y calla.
La corona de espinas lo lastima.
No lo alcanza la befa de la plebe
que ha visto su agonía tantas veces.
La suya o la de otro. Da lo mismo.
Cristo en la cruz. Desordenadamente
piensa en el reino que tal vez lo espera,
piensa en una mujer que no fue suya.
No le está dado ver la teología,
la indescifrable Trinidad, los gnósticos,
las catedrales, la navaja de Occam,
la púrpura, la mitra, la liturgia,
la conversión de Guthrum por la espada,
la inquisición, la sangre de los mártires,
las atroces Cruzadas, Juana de Arco,
el Vaticano que bendice ejércitos.
Sabe que no es un dios y que es un hombre
que muere con el día. No le importa.
Le importa el duro hierro con los clavos.
No es un romano. No es un griego. Gime.
Nos ha dejado espléndidas metáforas
y una doctrina del perdón que puede
anular el pasado. (Esa sentencia
la escribió un irlandés en una cárcel.)
El alma busca el fin, apresurada.
Ha oscurecido un poco. Ya se ha muerto.
Anda una mosca por la carne quieta.
¿De qué puede servirme que aquel hombre
haya sufrido, si yo sufro ahora?

sábado, dezembro 12, 2009

Cercados pelo Fogo: 2.ª parte (3)


Esta foto foi retirada do blog da Minerva Coimbra, ver aqui, e ilustra o momento em que usei da palavra no lançamento do livro "Cercados Pelo Fogo: Parte 2" (mais sobre este assunto podem ver aqui 1 e aqui 2).
Neste momento, não com a minha total vontade, tive de me virar de costas para toda a mesa. Posso dizer-vos que pedi desculpas antecipadas por este facto, apesar de ter algumas razões para o fazer a um dos elementos que por ali se sentava e que também me as virou na situação que o livro em si relata.
Como não é desse senhor que guardo a amizade, não falemos mais nele. Quero apenas dizer que gostei de estar com o Professor e de partilhar com todos os presentes mais uma vitória da competência e da humanidade. Neste caso do Professor, pois é ele o mais destacado representante de uma maneira construtiva de estar no mundo do combate a incêndios. Ter-me honrado com um convite para participar activamente no lançamento deste seu livro, honra-me muito e faz com que eu ainda o admire mais.
Já tive oportunidade de ler alguns capítulos e de perceber mais um pouco de alguns acidentes que vitimaram os bombeiros e civis que são homenageados pelo livro. Destaco aqui o capítulo que fala sobre o Daniel Ribeiro, pois tenho o prazer de conhecer o seu irmão Pedro, da Sertã. Emociona-me o relato do Professor e sinto nele aquilo que o Pedro um dia me contou. Um abraço a este e um novo agradecimento àquele.
Nada mais por agora. Espero ter um dia destes paciência para analisar o prefácio do livro.


quarta-feira, dezembro 09, 2009

Cercados pelo Fogo: 2.ª parte (2)



Como prometido, aqui fica o comentário pré-lançamento do livro do Professor Domingos Xavier Viegas.

Sou, infelizmente por experiência não aconselhada a outros, um conhecedor do trabalho académico e "livresco" deste conhecido investigador de assuntos relacionados com incêndios. O seu trabalho tem-me (lembrem-se que sou um profissional do mundo da literatura e da língua portuguesa) cativado para uma análise científica, logo consistente, de tudo o que está relacionado com um segundo "EU" - o Bombeiro. Desde que tive a infelicidade de conhecer pessoalmente o Professor (e o Professor e quem me conhece perceberão bem o que significa aquele sentimento, atrás citado), a minha vida tem sido pautada por uma defesa intransigente dos bombeiros e da necessidade de estes serem mais conscientes, mais educados, mais profissionais e mais atentos. Poderão dizer-me que posso exagerar nessa defesa ou que posso não olhar para as reais condicionantes de determinadas corporações nessa mesma defesa, mas o que me interessa acima de tudo é impedir ao máximo que o Professor Xavier Viegas tenha assunto para um próximo livro contendo a temática em que este assenta.
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O livro.
Ainda não conheço este livro ao nível do conteúdo total. Conheço, por especial cortesia do autor, o capítulo dedicado ao acidente de Famalicão da Serra. Chamo-lhe o capítulo do meu descontentamento e sei que o será de muitas outras pessoas. Não por estar mal escrito ou mal organizado, mas simplesmente por existir aquele capítulo. O livro é um relato imenso das experiências de investigação do Professor, mas não o é só. Para além do relato das experiências, é notória a existência de um sentimento que se assemelha a um "pathos" dramático. Qual será a origem deste sentimento? Talvez o facto de por vezes parecer pregar em terra de surdos e de cegos. Realço no seguimento da afirmação anterior o episódio, ainda no capítulo de Famalicão da Serra, que relata a tentativa de alguns intervenientes na análise do acidente tentarem desvirtuar a leitura que o Professor faz do desenlace e das possibilidades de sobrevivência dos infelizes que faleceram. É um episódo agónico e que tem um clímax, onde se vê a integridade do Professor e a sua coragem e clareza de espírito. Mais não digo sobre o livro.
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Amanhã.
Lá irei a Coimbra cumprir o dever de um amigo e de um admirador. Na homenagem que o Professor fará "aos que caíram" em todos os acidentes, será também feita uma homenagem ao homem que tem trabalhado e que é a face mais visível de um projecto que tem impedido que ainda mais possam cair.