quinta-feira, julho 03, 2014

Recensão crítica à peça "A Casa da Memória", por José Monteiro









[“A casa da memória”, Daniel Rocha
Edição: Grupo de Amigos do Manigoto
Manigoto, 2013]

“Regresso devagar ao teu
 sorriso como quem volta a casa.”
(Manuel Antº Pina)

      A casa da memória não será também a memória de uma casa? Quem diz casa, diz lar, diz aldeia, diz imaginário. Diz lenda, escreve passado, traduz mitos. Pensa caminho, rota, transumância. A vereda estreita da memória atravessa gerações e paramos no Manigoto, aldeia fria de clima quente de peripécias; podemos também dizer fria de sentimentos sociais, quente de sentimentos amorosos.
     Assim preparados entramos na casa do imaginário da aldeia – o “Imaginário” dar-lhe-á voz e cor – no ambiente típico da intriga comunitária onde não falta a figura tradicional do prior (bonacheirão, alegre, … interesseiro) e da comadre vicentina (esta não é casamenteira, mas prefere “casar” ela mesma). Pois, o padre Fragoso faz-nos regressar à infância, aos tempos em que o prior era (ou devia ser) a figura pacificadora da vida da aldeia, aquele que mediava conflitos, orientava vocações, … Este padre Fragoso “pega” no jovem António e orienta-o para o seminário não porque ache que tenha vocação sacerdotal, mas para ver se lhe orienta a educação que os pais parecem não conseguir dar-lhe. Ora este António é o rebelde da aldeia que passa a vida a fazer tropelias, a pregar partidas não só à Ti Patrocínia, mas até às colegas de escola que fecha no galinheiro e ainda ao padre Fragoso a quem fecha um burro selvagem no campanário da igreja. Já vemos que nem o sagrado escapa às suas traquinices. Ora este António aparece-nos depois já padre a tomar posse da freguesia, entronizado pelo bispo e rodeado da aldeia. Porém, entre as paroquianas está Maria, a companheira de infância e de brincadeiras, que lhe desperta a paixão antiga e que revela que afinal tinha sido empurrado para aquela vocação de padre que, afinal, não tinha. E, assim, num terceiro momento, vemo-lo a ir a Roma pedir ao Papa a anulação dos votos para casar com a sua amada. Mas a viagem é longa e as peripécias sucedem-se na intriga dramática da ação e tem de ir à Índia em missão. Daí regressa passado um ano precisamente seis meses antes do casamento programado da sua amada com um homem viúvo do Barregão. Voltamos então ao imaginário do Manigoto e encontramos o António no Poço da Risca recolhido/escondido sem saber o que fazer à vida até que lhe “cai no poço” o seu irmão Artur que lhe diz que afinal a sua amada continua a pensar nele e a amá-lo e que, se saírem de lá, ainda vai a tempo de impedir o casamento. Acontece deste modo a recuperação da verdade dramática e lá se realiza o casamento desejado.
    Esta, resumidamente, a vis dramática da peça que o autor soube entretecer de maneira hábil perdendo-se às vezes uma certa unidade sequencial necessária, mas difícil de fazer de outra maneira já que a tarefa de misturar o verosímil com o imaginário popular do Manigoto foi decerto tarefa ingente. De salientar a conseguida viagem ao passado e a recuperação de memórias da aldeia com o esforço, referido na introdução, de ir ao local e ouvir da boca dos habitantes aquilo que é distintivo desse passado comunitário. O autor reconhece na introdução a possível traição à memória recuperada da aldeia, mas porque a literariedade não se compadece com a verdade nua e crua. (Mexer com a memória coletiva de um povo é um ato de traição constante à fidelidade dos factos. – p.7). E como nessa memória às vezes o material fala mais que as pessoas o autor reconhece que tentou ouvir as pedras as ruas e as casas abandonadas da aldeia. (Antes de ouvir as pessoas, ouviram-se as pedras. E foi daqui que tudo nasceu! A casa tem o seu lugar central em toda a peça, não fosse ela a guardiã da memória – p.8).
     Temos deste modo um peça em que se faz uma viagem ao passado presentificando muito do imaginário de um povo que neste caso é o Manigoto, mas que poderia ser qualquer aldeia perdida desta beira-serra. E se o texto e a vida são circulares regresso à questão inicial:  A casa da memória não será também a memória de uma casa?

José Monteiro


(recensão crítica publicada In: Revista Praça Velha n.º 33. – Guarda: NAC/ CMG, Julho de 2013.)


quarta-feira, julho 02, 2014

Recensão crítica ao opúsculo "O convento", por Honorato Esteves









“O Convento”, de Daniel António Neto Rocha

O Convento do Senhor Bom Jesus, ou Convento do Mato Grosso, é indissociável do imaginário de Famalicão. Não será de estranhar, pois, que o imaginário de Daniel Rocha, mais do que a atração do labirinto de silvas, muros, portas e postigos, a que hoje se reduz a parte (des)habitada do Convento, tenha sentido o fascínio da lenda sobre a sua origem e a sua ligação à imagem do Senhor Bom Jesus – objeto continuado da veneração das gentes de Famalicão e arredores.
A história prende a imaginação e a curiosidade do amigo leitor, num tom agradável, entre a crónica e a novela exemplar. Como diria Garrett, conta-se em duas palavras e romanceia uma estória mil vezes passada de boca em boca, à qual o tempo já somou tantos pontos quantos os contadores:
Uma jovem pastora, Madalena, encontra uma pequena imagem de Cristo crucificado, que, fascinada, leva para casa e mostra aos pais. A seguir, vem o facto extraordinário: nos dias que se seguem, perante o pasmo e a excitação cautelosa da família, a misteriosa imagem teima em desaparecer da casa da pastora, para reaparecer no ermo onde pela primeira vez fora encontrada… Pelo meio, a evocação da aldeia de Famalicão nos primeiros anos do século XVI – a pobreza, a religiosidade, os medos do povo e até uma tragédia, absurda e anacrónica como as tragédias de hoje.
Na verdade, O Convento reinventa a velha lenda oral, afastando-se deliberadamente da sua versão mais comum: A pastora, que era anónima e de Valhelhas, vive agora em Famalicão e chama-se Madalena (pretexto para introduzir no enredo a memória das ruínas que já foram a pitoresca capela de Santa Maria Madalena); O frade descrente que – reza a tradição – picou a sagrada imagem e padeceu horríveis maleitas por isso, dá lugar à figura humanista e esclarecida do bom Padre João; Quanto a D. Rodrigo de Castro, senhor de Valhelhas, não mais que uma referência lacónica…
O autor evitou, pois, a tentação de parafrasear a tradição ou de ”fazer crónica” para memória futura. Em boa hora, diga-se: importará a verdade para o caso? Que verdade há nas lendas, para além dos lugares e das pedras – mesmo que o povo acredite?
«A verdade é mais estranha do que a ficção», dizia Jim Morrison. Forjada na rivalidade secular entre Famalicão e Valhelhas, a velha lenda surge matizada de fé – mas também de uma beleza triste e efémera, na evocação do destino da família anónima que se extingue, entre os absurdos da vida e os insondáveis desígnios do Senhor.
Quanto ao convento, que as pedras contem a história…

Honorato Esteves


(recensão crítica publicada In: Revista Praça Velha n.º 34. – Guarda: NAC/ CMG, Maio de 2014.)


"O convento" está esgotado






O meu mais recente "opúsculo" está esgotado! Já há algum tempo que esta 1.ª (e única?) edição deste livrinho ameaçava que isso acontecesse e, agora, o último exemplar que estava à venda (em Famalicão) foi levado em boa companhia no fim-de-semana passado. Espero que os 100 exemplares e respectivos leitores se tenham encontrado num momento de prazer da leitura e que a obra não tenha desmerecido a atenção.
Para marcar este facto, partilho hoje (noutro post) a recensão crítica que "O convento" mereceu por parte de Honorato Esteves, professor e profundo conhecedor cultura famalicense, na Revista Praça Velha n.º 34.

terça-feira, julho 01, 2014

Pensalamentos #251 - apagador

pegar
com amarras de ferro
no amanhã que há-de ser

e esquecer
como água que corre lentamente
os dias e as horas de alegre aparência
marcadas a sorrisos
e a promessas dúbias

segunda-feira, junho 30, 2014

Pensalamentos #250 - estrela cadente

de quando em vez
no centro do mundo
uma estrela 
cadente
em imensidão aparente
surge 
desaparece
lembra
e
dói 

segunda-feira, junho 23, 2014

Sábado, o "Teatro do Imaginário" no Juízo




Fim da Visita com todo o elenco de actores - Foto do Município de Pinhel


As Casas do Juízo - Turismo de Aldeia, um espaço belíssimo e com responsáveis de mente aberta e inovadora, quiseram pautar-se pela diferença e pela originalidade na promoção da aldeia e conseguiram-no. Obrigaram-nos, porém, a uma corrida desenfreada contra o tempo de forma a que tudo fosse perfeito. E esteve muito perto dessa perfeição (que nunca se atinge). 
No Sábado, foi um gosto imenso poder estar em "palco" com onze amigos, entre actores e músico, que trabalharam bem, se divertiram e que divertiram as largas dezenas de pessoas que encheram (e dificultaram, Ufa!) as ruas para esta encenação bem diferente. Foram quase duas semanas de um trabalho intensivo e só possível com o empenho profissional de todos.
O Teatro do Imaginário, do Grupo de Amigos do Manigoto (GAM), está, pois, de parabéns pela excelente resposta que deu, provando que "outros" voos são possíveis.

Para mim, foi um prazer imenso trabalhar com gente empenhada e que, perante a exigência máxima, esteve sempre disponível com o sorriso nos lábios. Assim é bom trabalhar e correr mundo! 

Pena só a ausência do meu filhote (o meu companheiro de ensaios em casa) devido a doença, obrigando (claro está!) a minha esposa - que também acompanhou (quantas vezes forçada) a minha ladainha - a não poder estar presente. Mas estiveram ali comigo em pensamento, ajudando-me a "ganhar as Alvíssaras"!


Visita Encenada ao Juízo - Foto do Município de Pinhel

Visita Encenada ao Juízo - Foto do Município de Pinhel

sexta-feira, junho 20, 2014

Famalicão da Serra: Dia de... continuar a trabalhar!



Há, certamente, vidas mais fáceis do que outras e no nosso caso, dos Bombeiros Voluntários de Famalicão da Serra, o caminho tem sido mais difícil do que o dos outros. Não vou hoje fazer qualquer tipo de historial sobre a nossa origem e crescimento, pois teria de avaliar e olhar para um imenso e complexo conjunto de factores, mas quero deixar três marcas que quanto a mim marcaram aquilo que somos hoje: a união que permitiu criar, no final dos idos anos 90, uma secção de bombeiros; o infortúnio que nos levou o Sérgio; e, aqui há dois passos, a partida, fora de tempo, do Francisco. E, quem conhece como eu a história e os momentos pelos quais temos passado, sabe que tantos e tantos momentos nos marcam como jovem corporação de bombeiros (quem sabe um destes dias não a possamos contar e avaliar em local próprio). 
Hoje, o Hugo ocupará um lugar que ninguém gostaria que ele assumisse tão cedo, e esta é uma verdade que todos os que o rodeiam sabem que é também o pensamento dele. Mas, como penso que é aceite por todos, o Hugo tem sido aquele que tem crescido e procurando melhorar-se a ele próprio para também nos ajudar a nós a melhorar. Por isso, o Hugo aceita de consciência tranquila a passagem de testemunho que a vida obrigou a que fosse rápida demais. E prova, com um espírito abnegado, que a missão a que se propôs quando pela primeira vez envergou a farda de bombeiro é uma missão que merece ser continuada apesar das contrariedades que também ela apresenta. 
Não é fácil (penso que todos sabemos isso) continuar, mas, como ficou provado em 2006, não é fugindo às responsabilidades e dificuldades que conseguimos proteger-nos. Os medos enfrentam-se com medo, mas enfrentam-se! As dificuldades enfrentam-se com dificuldade, mas enfrentam-se! E no meio de tudo isto, que por vezes colocamos nas costas e nas mãos de quem nos representa no mais alto posto, esquecemos que todas as contrariedades se enfrentam com a união de esforços e de vontades. É por isso que mais do que lembrar hoje o Francisco e o Sérgio, nossos exemplos maiores de esforço e de dádiva aos outros, devemos continuar a ser unidos, pois como os dois que partiram merecem todos os nossos esforços, também nós, que carregamos uns no corpo e todos na mente as cicatrizes do nosso passado, merecemos que a nossa entrega e a nossa dádiva não seja em vão.
Por tudo isto e mais, hoje é dia de continuar o trabalho! Hoje é dia de sermos, mais uma vez, o exemplo maior daquilo que ninguém nunca nos acusará de não ter: corajosos e homens de missão! Sabemos todos que nada disto será fácil, mas, se fosse fácil, não era para nós!
O meu desejo hoje é que o futuro que hoje continua seja um futuro mais simpático para nós e que o trabalho que hoje continua possa ser alicerçado em todos nós.
Bom trabalho, Hugo! Bom trabalho, a todos nós!

quarta-feira, junho 18, 2014

quarta-feira, junho 11, 2014

Pensalamentos #245 - vida

andar
como o rio que suspenso vai
em seu passo apressado
pela vida e pelas suas cores
percebendo, titubeante,
que nas curvas e baixios
é a compreensão desse compasso
que permite que a navegação continue
cega, surda e muda

O que se seguirá, Amaro?


Dois segundos de pensamento relaxado obrigaram-me a lançar a seguinte questão: O que se seguirá, Amaro? É que os dias soalheiros (e, sim, houve fama, pelo menos televisiva, para a Guarda) parecem ter terminado com as "grandes" realizações: a FIT e o 10 de Junho. 
Por isso, desculpem trazer isto. É agora que vamos ficar a saber o que vai acontecer com as empresas municipais?

terça-feira, junho 10, 2014

Pensalamentos #244 - apátrida

alimentar a alma
com um sentimento apátrida

A visita encenada ao Juízo, pelo GAM e eu


Em trabalhos intensos e cheios de vontade! 
Eis o estado de espírito dos actores do Teatro do Imaginário, do Grupo dos Amigos do Manigoto (GAM), quando faltam menos de duas semanas para um novo e diferente desafio teatral. A visita encenada à aldeia do Juízo, promovida pelas Casas do Juízo, é no dia 21 de Junho e, até lá, muito trabalho e muitos ensaios serão feitos para tudo bem. Não sendo uma novidade para os nossos lados a existência deste tipo de trabalhos teatrais (veja-se que o TMG foi um dos responsáveis por, anualmente, ter actores a mostrar a cidade da Guarda), é uma inovação ao nível das aldeias Só por isso já a pequena aldeia do Juízo (Azevo, Pinhel) e os responsáveis pelas Casas do Juízo estão de parabéns pela visão cultural que apresentam.
São seis actores, entre os quais estarei eu, a dar vida a uma visita que contará histórias, explicará espaços e situações históricas. O texto e a encenação são propostas minhas a partir das estórias que me foram contadas no Juízo, mas o trabalho evoluiu para uma espécie de proposta.
Zé, Maria, Fernanda, Daniel (o novo), Ana... e eu (já agora!)! Vamos lá divertir-nos!

Tudo vai começar aqui:


Espero ver-vos por lá!

segunda-feira, junho 09, 2014

Pensalamentos #243 - HH comercial

ver HH tornar-se comercial e transformar-se num objecto de consumo e não de fruição é algo que me assusta. estará a poesia a ser lida ou consumida como mero produto de compra e venda? estará a poesia, a infame e incompreensível - como muitos lhe chamam -, a ser olhada com novos e admiráveis olhos de espanto? ou estará, pobre e nua, a ser objecto de aproveitamento, tal como os escravos sem voz ou beira?
ver HH,  silencioso e misterioso, a transformar-se numa voz da rádio... 
ouvir HH é sinal de demência da poesia?
ouvir HH é...
HH o que é agora?

domingo, junho 08, 2014

sexta-feira, junho 06, 2014

Agora os condecorados de Cavaco no 10 de Junho na Guarda


Fiz no post anterior a previsão de algumas pessoas que seriam condecoradas no 10 de Julho. A lista oficial foi conhecida hoje e é a seguinte (a negrito estão aqueles que consegui acertar):
 
"O Presidente da República vai condecorar, na Sessão Solene Comemorativa do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, a realizar na Guarda, no próximo dia 10 de junho, as seguintes entidades:


Antigas Ordens Militares

  • Dr. António Manuel de Carvalho Ferreira Vitorino – Ordem Militar de Cristo (Grã-Cruz)
  • Juiz Conselheiro Vítor Manuel da Silva Caldeira – Ordem Militar de Cristo (Grã-Cruz)
  • Vice-Almirante José António de Oliveira Viegas – Ordem Militar de Avis (Grã-Cruz)
  • Tenente-General António José Maia de Mascarenhas – Ordem Militar de Avis (Grã-Cruz)
  • Major-General Sílvio José Pimenta Sampaio – Ordem Militar de Avis (Grande-Oficial)
  • Dr. Mário Costa Martins de Carvalho – Ordem de Sant’Iago da Espada (Grande-Oficial)
  • Prof. Doutor Rui L. Reis – Ordem de Sant’Iago da Espada (Comendador)
  • Doutor Rui M. Costa – Ordem de Sant’Iago da Espada (Comendador)
  • Rui Chafes – Ordem de Sant’Iago da Espada (Oficial)

Ordens Nacionais

  • Dr. António Castel-Branco do Amaral Borges – Ordem do Infante D. Henrique (Grã-Cruz) – A título póstumo
  • Prof. Doutor Manuel António Garcia Braga da Cruz – Ordem do Infante D. Henrique (Grã-Cruz)
  • Dr. Miguel António Igrejas Horta e Costa – Ordem do Infante D. Henrique (Grã-Cruz)
  • Prof. Doutor Eduardo Lourenço – Ordem da Liberdade (Grã-Cruz)
  • Dr. Álvaro dos Santos Amaro – Ordem do Infante D. Henrique (Grande-Oficial)
  • Prof. Doutor António Ressano Garcia Lamas – Ordem do Infante D. Henrique (Grande-Oficial)
  • Maria João Avillez Van Zeller – Ordem do Infante D. Henrique (Grande-Oficial)
  • Rodrigo Costa Leão Munoz Miguez – Ordem do Infante D. Henrique (Grande-Oficial)
  • Luís Manuel Godinho de Matos – Ordem do Infante D. Henrique (Comendador)
  • Maria Cristina de Castro – Ordem do Infante D. Henrique (Comendador) - A título póstumo

Ordens de Mérito Civil

  • Prof. Doutor Jorge Quina Ribeiro de Araújo – Ordem da Instrução Pública (Grã-Cruz)
  • Dr. António Mota de Sousa Horta Osório – Ordem do Mérito Empresarial – Classe do Mérito Comercial (Grã-Cruz)
  • Eng.º Zeinal Abedin Mohamed Bava – Ordem do Mérito Empresarial – Classe do Mérito Comercial (Grã-Cruz)
  • Eng.º António Afonso Reynaud de Melo Pires – Ordem do Mérito Empresarial – Classe do Mérito Indistrial (Grande-Oficial)
  • Alfredo Henriques – Ordem do Mérito (Comendador)
  • Eng.º António Jorge Nunes – Ordem do Mérito (Comendador)
  • Dr. António Magalhães da Silva – Ordem do Mérito (Comendador)
  • Maria da Luz Rosinha – Ordem do Mérito (Comendador)
  • Dra. Maria das Dores Meira – Ordem do Mérito (Comendador)
  • Dr. Sebastião Francisco Seruca Emídio – Ordem do Mérito (Comendador)
  • Mário Sérgio Alves Nuno – Ordem do Mérito Empresarial – Classe do Mérito Agrícola (Comendador)
  • Alberto Machado Ferreira – Ordem do Mérito Empresarial – Classe do Mérito Industrial (Comendador)
  • Dra. Isabel Maria Mendes Furtado – Ordem do Mérito Empresarial – Classe do Mérito Industrial (Comendador)
  • João Miranda – Ordem do Mérito Empresarial – Classe do Mérito Industrial (Comendador)
  • José Eduardo Marques de Amorim – Ordem do Mérito Empresarial – Classe do Mérito Industrial (Comendador)
  • Manuel Barbeiro Costa – Ordem do Mérito Empresarial – Classe do Mérito Industrial (Comendador)
  • Manuel Madeira Grilo – Ordem do Mérito (Oficial)
  • Jorge Nunes - Ordem do Mérito Empresarial – Classe do Mérito Comercial (Oficial)
  • Escola Regional Outeiro de S. Miguel – Ordem do Mérito (Membro Honorário)"

quinta-feira, junho 05, 2014

10 de Junho na Guarda: os condecorados são...


Por certo já todos saberão quem vão ser os condecorados pelo Presidente da República no dia 10 de Junho na cidade da Guarda. No entanto, como eu estou aqui para o outro lado da serra onde o vento nem sempre passa, nada chegou sobre os "nomes" que receberão tão almejada condecoração. Assim sendo, vou deitar-me a adivinhar, com aquele grau de acerto que me caracteriza. Ou seja, com a grande possibilidade de não acertar nenhum dos nomes. Mas, tal como faço ocasionalmente com o Euromilhões, farei a minha aposta em alguns nomes e tentarei juntar-lhe uma pequena nota justificativa daquilo que poderá pesar para essa atribuição ser afastada do simples afago amigável. Quero, para que não me critiquem sem razão mas com alguma dose de sentido, deixar bem claro que não faço a mínima ideia se alguns destes nomes já terão sido condecorados noutros anos (e não me apeteceu fazer grandes pesquisas para o garantir, pois isto não passa de um exercício divertido sobre a cidade e o país).

Para começar, gosto de pensar que Cavaco Silva dará um bom rebuçado aos seus amigos mais próximos ou antigos Ministros e Secretários de Estado, logo Marília Raimundo (talvez pelo seu papel no Apoio Social com a Fundação Augusto Gil) será, na minha opinião, uma das condecoradas. Ao mesmo nível estará Álvaro Amaro (talvez pelo papel no desenvolvimento do interior (?) e na "batalha" que trava contra a sua desertificação) que, todos sabemos, foi também um secretário de estado de Cavaco.

Depois, porque fica sempre bem na fotografia ter alguns nomes da oposição, penso que será uma boa altura para Almeida Santos, histórico do PS e antigo Presidente da Assembleia da República, receber uma condecoração na "sua terra". E será pelo papel importante no desenvolvimento da democracia e na defesa de Portugal.

Como empresários que são, vejo uma possível distinção de Luís Veiga, dono da cadeia IMB Hotels, e do antigo primeiro-ministro Pinto Balsemão. Também pelo valor acrescentado de serem oriundos na Guarda e por serem bem sucedidos.

Depois, e pelo grande destaque que sempre pareceu ter ao nível da política nacional e do associativismo automóvel, o nome de Luís Celínio também surge como uma das possibilidades na minha mente, apesar de não conhecer a fundo todo o papel e trabalho dele nesta área.

Na área unicamente do mérito individual que a ciência permite, os nomes fortes são Rui Costa e Carvalho Rodrigues. Dois cientistas guardenses que são nomes fortes para a lista de condecorados e que, julgo, serão merecidamente condecorados.

Na área das artes e literaturas, dois nomes surgem desde logo: Eduardo Lourenço, por ser um dos nomes portugueses mais respeitados ao nível do "pensamento" cultural e literário mundial; e Américo Rodrigues, pelo trabalho realizado ao longo de cerca de 40 anos no elevar dos padrões culturais e artísticos de uma região e pelo trabalho poético e teatral que a sua já vasta obra encerra.

Por fim, outros nomes poderia aqui colocar, como o de Pinto Monteiro, Santinho Pacheco, Alípio de Melo, Adriano Vasco Rodrigues, o dono da empresa Gelgurte, ...

São, portanto, meia dúzia de nomes de que me lembrei e que quis deixar na ordem do dia para ver se percebo alguma coisa desta coisa da escolha dos condecorados Os nomes correctos devem estar quase a ser lançados para a comunicação social e, nessa altura, farei um comentário breve às condecorações do 10 de Julho que forem efectivamente feitas.

Pensalamentos #241 - cego

respirar
pelos olhos
ocultando a realidade
que se finge não ver

terça-feira, junho 03, 2014

Nota Guardense: Amaro é Scolari



É bonito quando a "energia positiva" é para ser partilhada! 
Parece que o presidente da Câmara da Guarda, Álvaro Amaro, terá citado Scolari e dito (neste caso) aos guardenses "para colocarem nas suas janelas, varandas e fachadas a bandeira nacional, símbolo da Pátria, que representa a soberania da Nação e a independência, a unidade e a integridade de Portugal" (segundo o jornal i). Até me chegaram as lágrimas aos olhos!
E chorei mesmo quando, segundo a mesma fonte, Amaro terá referido que gostaria "que essa energia positiva chegue também à Seleção Nacional", que lá pelo Brasil estará em competição!

Para não dizerem que sou um desmancha-prazeres, aqui fica a minha bandeira, na minha janela para a Guarda e para o mundo!

Pensalamentos #240 - vida

contar a vida 
com sopros

domingo, junho 01, 2014

Li: "O Menino Rei", de Carlos Carvalheira




Os espaços vazios: O Menino Rei, de Carlos Carvalheira



Os homens precisam de monstros para se tornarem humanos.

(José Gil)




Há quem diga que o espaço do “já contado” é território proibido e que qualquer acrescento ou substituição de tópicos será crime de “lesa majestade”. A ser assim o entendimento do leitor do processo criativo que está implícito na escrita, fica o conselho: não leiam este livro, livrinho ou opúsculo!

Assente nos textos bíblicos de Mateus, o mais atento dos autores do Novo Testamento à questão do nascimento, sobrevivência e crescimento de Jesus da Galileia, o autor, Carlos Carvalheira, concebe um pequeno conto que vai preencher muitos dos espaços vazios que se se reconhecem nos textos dos Evangelhos. Carvalheira desconstrói a visão ocidentalizada da ira de Herodes (como se sabe, o governador sanguinário) e constrói-a segundo uma “visão nova” onde o perseguidor do Menino se torna num dos centros da acção. E aí está a riqueza desta narrativa “em dois andamentos”. Por um lado, o nascimento e a fuga para o Egipto com a finalidade de proteger o recém-nascido. Pelo outro, a notícia do nascimento e a perseguição movida por Herodes. A novidade, que também apelidaremos como “Toque de Midas criativo”, está no tratamento que o autor dá aos espaços não preenchidos nos textos bíblicos e que consistem na categorização do medo sentido pelos fugitivos e pelo perseguidor. Se os fugitivos temem pela vida do “Menino de olhos grandes e com caracóis nos cabelos” e pelas suas próprias, o perseguidor, com traços de monstro insaciável, teme pelo fim do seu espaço (consubstanciado, ironicamente, em toda a opulência da posse de bens materiais e do direito a mandar) enquanto “todo-poderoso”. O autor, segundo nos parece, estabelece aqui um curioso e bem conseguido paralelismo com os tempos actuais, onde a perseguição ao mais fraco com a finalidade de se manterem os lugares de destaque permanece uma evidência social impossível de se menosprezar ou esconder. Neste ponto, uma interrogação parece ganhar destaque e hipóteses de ressoar para além da leitura: até que ponto estamos dispostos a chegar para conseguirmos manter o estatuto social? Não existe uma resposta, ou não se pretenderá dar resposta a esta pergunta, funcionando o conto como catalisador da reflexão para além das barreiras da própria história. Como refere José Gil (no texto “Metafenomenologia da monstruosidade: o devir-monstro”), e como nos parece que Carlos Carvalheira pretende com o seu conto, nós exigimos mais dos monstros, pedimos-lhes, justamente, que nos inquietem, que nos provoquem vertigens, que abalem permanentemente as nossas mais sólidas certezas; porque necessitamos de certezas sobre a nossa identidade humana ameaçada de indefinição. Os monstros, felizmente, existem não para nos mostrar o que não somos, mas o que poderíamos ser. Entre estes dois pólos, entre uma possibilidade negativa e um acaso possível, tentamos situar a nossa humanidade de homens.” Ou seja, o conto vem revelar que a sociedade de hoje precisa de “monstros” que permitam a nossa localização enquanto homens, entendendo-se estes homens como elementos harmonizadores de uma existência comum. Herodes ganha, portanto, o direito de ser o centro da acção desde a primeira até à última página, só perdendo esta centralidade nas últimas linhas do conto quando (levantem-se em defesa da pureza do “verbo inicial”) o Menino Rei lhe dirige algumas palavras plenas de ocasião e de ingenuidade. Os dois planos narrativos interagem por fim e a distância que os afasta transforma-se no inusitado e no criativo do momento, rendendo-se o “monstro” perante a fragilidade do Menino.

Um conto em forma infantil (notem-se as repetições, as aliterações e a recorrência, na sua maioria, a um vocabulário simples e claramente perceptível), mas com um subtexto forte e socialmente capaz de provocar no leitor atento uma visão diferente da forma como o mundo de hoje se manifesta.



Guarda, Abril de 2014

Daniel António Neto Rocha

(recensão crítica publicada In: Revista Praça Velha n.º 34. – Guarda: NAC/ CMG, Maio de 2014. – p. 224 a 225.)

sábado, maio 31, 2014

Pensalamentos #239 - dúvida

criar feridas
como quem cria filhos
amá-las
acariciá-las
e, numa alucinação permanente,
duvidar
a alma cheia
de vazio