É uma das grandes discussões dos últimos dias, mas
é também uma das exigências governativas e uma das necessidades mais visíveis
nos bombeiros há, pelo menos, 8 (oito) anos. O Equipamento de Protecção
Individual, vulgo EPI, era algo que só em sonhos é que eu, o meu irmão e a
maior parte dos bombeiros portugueses pensávamos em vir a ter até Julho de
2006. No dia 9 de Julho de 2006, o meu irmão deixou de poder ter esse sonho e as
entidades do sector fizeram uma autêntica revolução legislativa e organizativa
que, por tão necessária e exigente que era, ainda hoje não está concluída. Daí
para cá, aterrou equipamento a granel nos quartéis, em quantidade mas de
qualidade duvidosa, que alegrou, pasmem-se, a maior parte dos bombeiros,
inclusive eu. Claro está que para quem tem fome um prato de arroz é um oásis
apetecível e nem sequer se discute se é suficiente ou não para aquilo que se
faz. Calaram-se as vozes por uns tempos após a esmola. Já quanto ao resto…
temos de assumir que começou a existir maior preocupação com o rigor e com a
formação dos bombeiros, já a aplicação de qualquer um desses aspectos é algo
que poderemos discutir, pois essa discussão também está aí.
Mas permitam-me regressar ao tema desta crónica,
pois é o EPI que está aqui no centro da discussão. Só quando começámos a ter um
ponto de comparação (com o aparecimento da FEB e do GIPS) é que notámos que
eles vestiam bem e nós treta! E começámos a pedir mais qualquer coisa. Mas, e
este é o país que temos, tanto o Governo como as Associações de Bombeiros se
declaravam incapazes de pagar esses equipamentos. Claro que, e conheço bem a
minha para o poder afirmar, quase todas as Associações “remendam e tapam”
buracos, por vezes endividando-se, para conseguirem equipar todos os seus
homens, optando (erradamente, diremos todos) por preferir a quantidade à
qualidade. Mas, pergunto-vos eu, quem não optaria por ter todos os homens com
uma percentagem grande de protecção em confronto com a possibilidade de ter
metade dos homens com protecção total e a outra metade sem ela? Agora, da parte
Governativa vem a pior parte. O Governo não tem verba suficiente para vestir
todos os bombeiros portugueses com EPI de alta qualidade? Tem! E já o deveria
ter assumido! Espero, sinceramente, que a “sorte” que tem sido madrasta para
nós, que damos tanto por nada, seja este ano bem diferente. Se assim não for,
espero que o senhor Ministro saiba que deverá demitir-se no primeiro momento em
que algum bombeiro português sofra, durante esta época, qualquer tipo de lesão
por causa de EPI que não obedeça às normas. É a sua honra que está em jogo, Sr.
Ministro!
Claro que, e espero que todos se lembrem disto, não
é o EPI o mais importante no combate ao incêndio. O mais importante de tudo é a
vossa/ nossa capacidade de dizer não às missões suicidas!
Hoje marcam-se oito anos, em Famalicão da Serra, da
morte do meu irmão e eu gostava que tudo fosse diferente daquilo que já foi até
hoje.
Famalicão da Serra, 9 de Julho de 2014
Daniel António Neto Rocha
(crónica publicada no dia 9 de Julho de 2014 no Portal Bombeiros.pt)