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terça-feira, março 29, 2011

11. Crónica Diária na Rádio Altitude (2.ª temporada) – Crónica do pedido de demissão ou da nova corrida de “boys”!

1. “Não é sempre igual!” Dirão vocês, muito solenemente, quando se fala de governos e da constituição dos mesmos. Pois é, começa agora, mais cedo do que expectável, mais uma corrida desenfreada aos direitos adquiridos e aos contratos milionários. Iupi! Vamos lá, boys!, vamos lá puxar das bandeirinhas e das gargantas afinadas, pois as inscrições para o Coro dos Pequenos Candidatos a Cunhas e Afins estão quase a terminar. As eleições, apimentadas por um Coelho que, ao contrário do da Alice, anda sempre adiantado e que nos parece apresentar um enigma de país ainda maior do que o maravilhoso criado por Lewis Carrol, estão a ser marcadas por debates interessantíssimos ao nível das pastas que irão ser ocupadas pelos useiros e abuseiros do costume. Depois da bonança que trouxe para Portugal, talvez fosse bom que alguém dissesse ao Engenheiro Sócrates que estava, sequer, proibido de se aproximar de um qualquer teleponto televisivo. Quanto aos outros Ministros, Secretários de Estado, Chefes de Gabinete, Acessores, Secretárias e nem sei mais que cargos existem por ali pelo meio, podem ir para todo o lado (até para o raio que vos parta!) menos para lugares de decisão onde já provaram que decidem mal. Será assim tão difícil perceber que as políticas que vendem não têm qualquer pingo de originalidade e podem ser encontradas nas mais reles feiras da ladra?

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Guarda, 28 de Março de 2011
Daniel António Neto Rocha
(Crónica Radiofónica - Rádio Altitude, no dia 29 de Março de 2011 - disponível em podcast em Altitude.fm)

terça-feira, março 15, 2011

10. Crónica Diária na Rádio Altitude (2.ª temporada) – Crónica da paternidade e das interjeições inocentes

1. Não tenho como costume inserir neste espaço de opinião assuntos pessoais ou que me digam directamente respeito. Não é que eu não viva uma vida interessante e intensa, mas não me parece que os caros ouvintes tenham de aturar as minhas teorias existenciais ou os meus devaneios surreais. Mesmo assim, e como há uma primeira vez para tudo, vou hoje partilhar convosco um momento de felicidade extrema que me tem animado as noites, as manhãs e as tardes. Para aqueles que me são mais próximos e com os quais mantenho um contacto telefónico ou facebookiano será fácil perceber o porquê desta pequena introdução estranha. Para o resto do auditório cabe-me acrescentar ainda estas breves palavras: fui papá de “um galhardo e valente mancebo”!

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Guarda, 14 de Março de 2011
Daniel António Neto Rocha

(Crónica Radiofónica - Rádio Altitude, no dia 15 de Março de 2011 - disponível em podcast em Altitude.fm)

terça-feira, março 01, 2011

09. Crónica Diária na Rádio Altitude (2.ª temporada) – Crónica da memória e de Manuel Poppe

1. A cidade da Guarda não é conhecida por ser uma cidade que trata bem os seus cidadãos, mas de quando em vez lá se esquece de ameaças ou de repúdios a granel e lá consegue relembrar o bem que muitos deles têm feito para nos apartar desta interioridade doentia e redutora. Destes breves momentos de alucinação, que ainda vão acontecendo, nascem algumas das actividades culturais melhor conseguidas para um público que gosta de ler e que incentiva à leitura, e que se dedica ao ensino da literatura. Está, pois!, de parabéns quem faz cultura na Guarda.

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Guarda, 28 de Fevereiro de 2011
Daniel António Neto Rocha

(Crónica Radiofónica - Rádio Altitude, no dia 01 de Março de 2011 - disponível em podcast em Altitude.fm)

terça-feira, fevereiro 15, 2011

08. Crónica Diária na Rádio Altitude (2.ª temporada) – Crónica do gosto pela história ou do capitalismo solidário

1. Em boa altura veio Dom Manuel Felício lembrar a sociedade portuguesa de um problema que nos devia preocupar a todos e, principalmente, aqueles que têm responsabilidades políticas: o capitalismo selvagem assume, nos dias que correm, um papel preponderante na desgraça social portuguesa. Não é, claro está, o lucro dos outros que está errado, pois quem investiu, quem trabalhou, quem dedicou tempo, quem massacrou o corpo, a mente ou mesmo a família, merece ter o seu lucro e o resultado dos seus esforços deve ser compensado. Nada disto é aqui colocado em causa! O que o Bispo da Guarda questiona e muito bem é o lucro despropositado de bancos e de empresas que gerem sectores essenciais da vida da população portuguesa. Concordo com ele, especialmente, quando diz que é fácil atingir resultados astronómicos quando a variante que motiva essas quantias se baseia na subida agressiva de preços! Água, electricidade, combustíveis e mesmo juros bancários? Qual a arte de conseguir lucro quando tudo se baseia na subida de um montante e na não descida de outros? Meus senhores!, experimentem lá atingir essas somas grandiosas sem esvaziar por completo os bolsos de quem já pouco tem! Lá isso teria a sua arte e seriam realmente grandes gestores ou grandes empresários, assim são só um conjunto de sanguessugas que se aproveitam de uma ausente supervisão concorrencial e de um governo de bananas que vai alimentando o corporativismo financeiro e empresarial por manifesta vontade em se sentar nessas mesmas cadeiras douradas.

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Guarda, 14 de Fevereiro de 2011
Daniel António Neto Rocha

(Crónica Radiofónica - Rádio Altitude, no dia 15 de Fevereiro de 2011 - disponível em podcast em Altitude.fm)

terça-feira, fevereiro 01, 2011

07. Crónica Diária na Rádio Altitude (2.ª temporada) – Crónica do tacho e da forma vuvuzélica


1. Para quem diz que cá pelas terras altaneiras nada se passa, aqui fica mais um record: somos o concelho de Portugal e do mundo com o maior tacho… de arroz doce! Claro que poderíamos fazer desde logo mil e uma piadas acerca do relacionamento deste grande tacho com outros tachos não tão doces mas igualmente apetecíveis; ou com aquele ditado que cada vez está mais certo e que diz: “com papas e bolos se vão entretendo os tolos!”, mas, como sou gente de figuras de retórica, vou assobiar para o lado e continuar a criar imagens. Como não poderia deixar de ser, este record vem confirmar a tendência natural da gente beirã para adoçar o bico a todos aqueles que por aqui passam e que daqui levam não só arroz-doce mas também uns queijos, uns enchidos e umas garrafitas de “tintinho do bom”. O que deixam é que não se sabe muito bem, mas tenho a certeza que haverá gente informada que tem a arca cheia do objecto de troca. Pois bem, ia fugindo do tema principal desta crónica.

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Guarda, 31 de Janeiro de 2011
Daniel António Neto Rocha

(Crónica Radiofónica - Rádio Altitude, no dia 1 de Fevereiro de 2011 - disponível em podcast em Altitude.fm)

segunda-feira, janeiro 17, 2011

06. Crónica Diária na Rádio Altitude (2.ª temporada) – Crónica da leitura sermonária e da irradicação da pobreza

1. A igreja católica tem vindo a ser ao longo dos tempos tema preferencial das mais controversas discussões, sendo um factor de discordância entre milhões de pessoas no mundo. Muitas não entendem que uma só instituição conseguisse atingir um tão elevado poder ao mesmo tempo que cometia as mais atrozes violações dos direitos humanos. Muitas não percebem como continuam milhões de pessoas a entregar desinteressadamente quantias avultadas de dinheiro àquela instituição traiçoeira e indigna da confiança do mais esclarecido dos homens. Outras, ainda, discutem o porquê de, em tempos de crise e de tamanha necessidade de ajuda pública, existir tanto ouro e tantas obras de arte nas igrejas, não sendo todo esse acervo dirigido para engrossar instituições de caridade à escala mundial, desconhecendo que as instituições de que falam pertencem à própria Igreja. Algumas dizem, também, que é uma instituição velha e não adaptada às exigências de uma sociedade que evoluiu, tornando-se a velha igreja católica como que um entrave ou um problema para a ascensão de uma melhor sociedade.

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Guarda, 17 de Janeiro de 2011

Daniel António Neto Rocha

(Crónica Radiofónica - Rádio Altitude, no dia 18 de Janeiro de 2011 - disponível em podcast em Altitude.fm)

terça-feira, janeiro 04, 2011

05. Crónica Diária na Rádio Altitude (2.ª temporada) – Crónica do ano novo e da canonização da mentira

1. Ano novo, vícios e artimanhas velhas! Poderíamos nós viver num país onde tudo funcionasse às mil-maravilhas? Poderíamos, mas não era a mesma coisa! É que isto de andar sempre enrascado tem a sua piada e precisamos urgentemente de quem nos faça rir, pois chorar já nos fazem há quase novecentos anos. Como é óbvio, os desejos de início de ano sucedem-se e repetem-se. Para uns, o bom era estar a milhas de Portugal. Para outros, mais pobres, já era bom conseguir sobreviver em Portugal. Para os altos cargos na banca e governo da Nação, os desejos são ainda mais complexos e tem sido complicado, para eles, descobrir qual dos amigos de caçada ainda está em dificuldades e a precisar de um aumentozito salarial. E há, ainda, muitos e melhores desejos de início de ano, mas confesso que a minha imaginação não anda à velocidade da mestria trafulha e não atinge tamanha sofisticação criminal. Como todos poderão observar, neste círculo à beira-mar plantado, o novo ano começa com uma fantástica acreditação de qualidade, feita pelas máfias internacionais, à capacidade inventiva e criativa dos responsáveis maiores do nosso país.

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Guarda, 03 de Janeiro de 2011
Daniel António Neto Rocha

(Crónica Radiofónica - Rádio Altitude, no dia 04 de Janeiro de 2011 - disponível em podcast em Altitude.fm)

quarta-feira, dezembro 22, 2010

04. Crónica Diária na Rádio Altitude (2.ª temporada) – Crónica do candidato Alegre e do D. Sancho, o Povoador dos tempos modernos

1. Cá vem o saudosista do costume a lamentar-se de factos já passados, mas a realidade é essa. Poderia aqui falar de coisas que aconteceram neste fim-de-semana, mas, como estive fora uns dias, não vi nem ouvi nada, contudo imaginei muito. Deixem-me contar-vos uma coisita que, há cerca de duas semanas, me regalou por completo. Desculpem lá este humorzito negro inicial, visto que o tornado que veio do litoral não poupou cá o burgo e foi mesmo, tal como nos outros locais, arrasador! Prestem atenção, como se a desgraça de uma catástrofe atmosférica fosse pouca, esse violento e improvável tornado trouxe também o candidato Alegre e um seu discurso sobre a necessária simetria entre a nossa região e as outras litorais deste tristonho país. Sim, este Alegre exemplo que há uns anitos próximos fez oposição, quando devia, às propostas do seu Governo maioritário, vem falar em assimetrias de que padecemos muito aqui pelas alturas! Como gostei tanto do seu discurso ideológico e o comparei com aquela “Jornada de África” ficcional, lembrei-me de alguns factos que comprovam a simetria dos seus actos. Vejam: aqui há uns anitos, no tempo da desgostosa Maria de Lurdes Rodrigues, houve uma grande celeuma sobre a aprovação do estatuto da carreira docente; o Alegre deputado e as suas Alegretes faziam as delícias da oposição consentida ao mostrarem dualidade de opiniões dentro do seu partido; isso mesmo se comprovou, pois, ao existir uma votação que visava a aprovação desse estatuto, o deputado Alegre e as suas seguidoras votaram contra a aprovação, contra a vontade do seu próprio partido; que coragem, que coerência, que simetria; uma semana depois, foi levada ao parlamento uma proposta que anulava o estatuto, esperando-se uma posição similar do Alegre deputado e das suas Alegretes, mas nada disso aconteceu; quais as razões?; a simetria dos alegres depende, aparentemente, da existência de um quorum capaz, em número, de permitir devaneios democráticos a este ficcionista.

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Guarda, 20 de Dezembro de 2010
Daniel António Neto Rocha

(Crónica Radiofónica - Rádio Altitude, no dia 21 de Dezembro de 2010 - disponível em podcast em Altitude.fm)

terça-feira, dezembro 07, 2010

03. Crónica Diária na Rádio Altitude (2.ª temporada) – Crónica da Dúvida e da Wikileaks

1. Estive até à última da hora na perspectiva de encontrar algo, nestas inúmeras tropelias da vida, que pudesse servir de base à formulação de uma opinião. Esperei, até ao momento mais terminal, que acontecesse qualquer coisita nestes vastos penedos da serra que vos cativasse. Oh! maravilhas do altíssimo: veio muita neve, veio muito gelo e vieram muitas e variadas opiniões sobre quem chegou tarde na tentativa de resolução desses mesmos problemas! Concordo com todos aqueles que caracterizam estes temas como interessantes, como controversos e como oportunos. No entanto, penso que já foram bastante babosados nos respeitáveis ouvidos do vasto auditório. Por outro lado, oh! musa das artes, pensei em apresentar-vos uma opinião sobre alguns momentos culturais que pautaram a minha vivência citadina durante estes dias, mas fui ultrapassado por outros. No final de contas: onde nada existia como tema a abordar, o zero continuou a ditar regras. É que é difícil ser cronista na Guarda. Sério! Vejam só: quando estamos a escrever, somos atacados pelo frio invernal e existencial da cidade; quando estamos a ser transmitidos, somos atacados pela indiferença perante o nome pouco sonante do cronista ou pelo simples facto de ninguém estar a ouvir. Assim, o que poderá trazer um aprendiz de cronista às ondas hertzianas da rádio que possa captar a atenção do ouvinte mais exigente e do escutador menos interessado?

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Guarda, 06 de Dezembro de 2010
Daniel António Neto Rocha
(Crónica Radiofónica - Rádio Altitude, no dia 07 de Dezembro de 2010 - disponível em podcast em Altitude.fm)

terça-feira, novembro 23, 2010

02. Crónica Diária na Rádio Altitude (2.ª temporada) – Crónica dos Rebuçados ou “da Diabetes Social”

1. E, de repente, somos um país onde o favorecimento político é reconhecido por alguns elementos que já pertenceram à máquina multicolor de algodão doce! Por fim, aquele nobre acto de dar rebuçados só aos meninos que pertencem à nossa equipa foi reconhecido por alguém que, pelo conhecimento demonstrado, deve ter dado pelo menos meia-duziazinha deles. Sabem que o que mais me impressiona na distribuição harmoniosa destes pequenos e terríveis provocadores da diabetes social não é o inchaço de vaidosice que quem deles se alimenta padece. Preocupa-me, sim, o facto de provocar um esvaziamento global ao nível dos valores de trabalho ou de competência profissional, sendo esta uma patologia incurável e tremendamente contagiosa. E isso é que é preocupante, pois, num país onde é tão complicado que as palavras de fora do partido sejam aceites como complemento sólido a uma afirmação nacional, a formatação do futuro de todos nós fica entregue aos gulosos que comem o que o padrinho lhes arranjou sem se preocuparem com aquilo que estão habilitados a comer e, sendo um facto do final deste glorioso banquete, tudo aquilo que foi comido por estes obedientes servos será reciclado na exacta medida da abominável digestão humana.

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Guarda, 22 de Novembro de 2010
Daniel António Neto Rocha

(Crónica Radiofónica - Rádio Altitude, no dia 23 de Novembro de 2010 - disponível em podcast em Altitude.fm)

terça-feira, novembro 09, 2010

1. Crónica Diária na Rádio Altitude (2.ª temporada) – Crónica Desorçamental

1. Abençoados sejam aqueles que acreditam na bondade eterna de Sócrates, o engenheiro, e que, assim, se deliciam com as suas palavras tão boas e extremamente criadoras de ajudas de custo e de infindáveis bónus, pois deles é o reino de São Bento. Não sei bem o que me deu hoje para começar o dia com esta frase tão cheia de ironia, mas sei que começo a estar farto de aturar as mesquinhas atitudes de quem vive com opulência e que ainda tem a lata de dizer “não pensem que esta medida é substancial, pois não há muitos governantes a viver com ela”. Mais coisa, menos coisa, foi assim que o porta-voz de quem nos desgoverna, o Ministro da Presidência Pedro Silva Pereira, veio anunciar o fim da coexistência entre reformas dignas de um Rei e de ordenados principescos aos nível dos representantes do Governo. Até aqui tudo bem, finalmente a máscara da vergonha caiu da cara das sanguessugas do estado e uma das medidas mais essenciais foi por fim considerada. Agora, foi esta uma medida mesmo, mesmo séria? Não! Tenho imensa pena de vos fazer eco disto, mas, para o bem e para o mal, a maior parte daqueles que possuem esta acumulação de riquezas está já, como convém à época em que vivemos, a servir de ponte entre os interesses privados e alguns interesses públicos, ou seja, todos aqueles que esvaziaram os cofres do estado estão agora a administrar empresas privadas que têm contratos prioritários com o próprio estado, estando, desta forma, confortavelmente longe desta medida orçamental. Assim, continuamos quase na mesma e tenho de dar razão ao relações públicas deste governinho ao apelidar a medida de “não substancial”. Aliás, dadas as relações privilegiadas, logo dignas de investigação, entre as grandes empresas privadas e a vontade férrea do Sócrates, não filósofo, em continuar com o TGV, começo a desconfiar que estará brevemente vago um cargo na administração de uma qualquer grande empresa de construção civil destinado a um futuro ex-Primeiro-Ministro.

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Guarda, 8 de Novembro de 2010
Daniel António Neto Rocha


(Crónica Radiofónica - Rádio Altitude, no dia 9 de Novembro de 2010 - disponível em podcast em Rádio Altitude)

quarta-feira, junho 23, 2010

11. Crónica Altitude – Crónica das “vontades”

1. Ser-me-ia completamente impossível o desvio de um tema que marcou a sociedade, em geral, e a literatura, em particular. Refiro-me, como é óbvio, à morte de José Saramago. Desta morte, apenas posso lamentar a perda de um exímio criador ficcional e de um ser humano frontal e coerente. Dos defeitos e feitios afasto-me com a orgulhosa pretensão de não ter conhecido o homem para a ele poder associar tudo aquilo que dele se diz. Enquanto uns, movidos pelas Presidenciais de 2011, se preocupavam em discutir a maléfica ausência de Cavaco Silva das cerimónias fúnebres, eu preocupei-me em perceber melhor, através da observação e da leitura, tudo aquilo que era mostrado nas páginas de jornais, em blogues e em discursos vários. Para além de ter ficado emocionado com as vénias de todo o mundo em direcção à obra do autor de “O Ano da Morte de Ricardo Reis”, fiquei extremamente convencido da projecção mundial das mensagens que Saramago emanou. Na longa demora emotiva que é provocada em quem tem o terrível direito a acompanhar um ente querido à cova, apercebi-me da já referida mesquinhez de todos aqueles que não se coíbem em aproveitar todos os momentos para ter ganhos próprios. Daí que, repentinamente, me lembrei da minha cidade e de toda a complexidade que nela se encerra. Quantos, de nós, terão aplaudido a mesquinhez e quantos terão mantido o silêncio honroso que deve acompanhar aquela última despedida? Quantos terão pensado que o invocar de questiúnculas políticas sobre um caixão é uma táctica eficaz e quantos terão ficado desiludidos com essa atitude mesquinha?


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Guarda, 22 de Junho de 2010
Daniel António Neto Rocha


(Crónica Radiofónica - Rádio Altitude, no dia 23 de Junho de 2010 - disponível em podcast em Rádio Altitude)

quinta-feira, junho 10, 2010

10. Crónica Altitude – Crónica a uma vida crónica ou Crónica Educação

1. Todos os santos dias existe algo de crónico que nos atinge e nos deixa completamente rendidos às evidências físicas e metafísicas da compulsiva estupidificação social. O problema não é pequeno nem se resolve com uma dúzia de antibióticos enfiados pela goela abaixo. Bem pelo contrário! De certa forma, a doença é incurável e persegue-nos desde a criação do Berço de Portugal. Desde sempre o povo foi desconsiderado e reduzido àquele fiel servidor que respeita o pagamento da dízima ou do imposto, que sempre foram impostos, e que assume “as palas” com que deve sempre olhar em frente. Caso estas fossem uma imposição que resultasse numa melhoria das condições de vida, ainda se suportavam com algum desdém; agora, sendo uma imposição que agrava cada vez mais as ilustres condições de miséria do “Zé Povinho” e engorda as cada vez maiores barrigas burguesas, parece-me que “as palas” só servirão para enobrecer o acto do rebaixamento popular.

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Guarda, 8 de Junho de 2010
Daniel António Neto Rocha

(Crónica Radiofónica - Rádio Altitude, no dia 9 de Junho de 2010 - disponível em podcast em Rádio Altitude)

quinta-feira, maio 27, 2010

09. Crónica Altitude – Crónica de Aulas

1. O trabalho de preparação de aulas e de planificação de conteúdos a leccionar é, cada vez mais, moroso e complexo, tendo em conta os interesses e as motivações que os alunos de hoje carregam. No entanto, e de um ponto de vista totalmente docente, é um espaço privilegiado para a reflexão sobre o tempo e o espaço desta e de outras épocas sociais. Neste acto contínuo, o contacto com as tendências sociais e com o pensamento de homens de intelecto é um facto incontornável e, desde logo, impossível de olvidar. Estou, por este dias, a estudar Os Maias, magistral obra de Eça de Queirós, com os meus alunos. E assim sendo, releio vários textos deste meu Mestre da escrita para, mais afincadamente, demonstrar todas as potencialidades literárias e humanas que aquele delicioso romance encerra. A recepção, deste texto maior da literatura portuguesa, por parte dos meus alunos tem sido, no mínimo, “inconstante”. Vejamos: por um lado, as alusões às curvas e contracurvas das espanholas, e as relações adúlteras de Carlos da Maia têm obtido os grandes e divinais aplausos; por outro lado, a crítica social tão certeira e irónica que Eça apresenta tem merecido, ao contrário daquilo que eu previra, as maiores pateadas. Como explicar isto? Não sei, mas tendo a acreditar que a sociedade perdeu todo o pendor crítico, revelando-se transvestida num corpo sensual ao qual nós nos entregamos voluptuosamente. Infelizmente, quando nos apercebemos da sua essência podre, já é tarde para remendar o estrago, pois já nos estamos a queixar de ter apanhado “chatos”.

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Guarda, 25 de Maio de 2010
Daniel António Neto Rocha



Crónica Radiofónica - Rádio Altitude, no dia 26 de Maio de 2010 - disponível em podcast em Rádio Altitude

quarta-feira, maio 12, 2010

08. Crónica Altitude – Crónica de um rol de liberdades permitidas

1. A liberdade de cada um de nós enquanto cidadãos deste país dito democrático é uma questão que me preocupa há muito tempo. Não por pensar que essa liberdade é inexistente, pois estaria a ser tremendamente injusto com a ditadura que nos oferece o direito de escolher entre o mau e o péssimo, mas por não encontrar um elenco ou uma publicação em Diário da República que me esclareçam sobre o patamar de liberdade em que me encontro. É que isto de não haver, logo que a sociedade nos abraça e nos enche de impostos, uma clara indicação daquilo a que temos ou não temos direito ao nível da liberdade é muito mau para nós, dado que podemos fazer algo que não nos é permitido devido ao nosso baixíssimo patamar de liberdade. Dadas estas dúvidas que são originadas pela inexistência de uma lista desse tipo, defendo a criação de uma listagem intitulada "Rol de liberdades permitidas e dos seus respectivos fruidores no estado de coisas português". O título é pomposo, não? Defendo que este rol possua três níveis: primeiro, a liberdade superior: reservado a governantes, familiares de governantes, ajudantes de governantes, seguidores de governantes e amigos de governantes – por vezes variam as caras, mas pouco – que têm acesso a todas as liberdades e mais algumas, inclusive a levar o país para a cova e a ser recompensado de seguida; segundo, a liberdade por serviços prestados: reservado a interesseiros, vendidos e carneiristas, que têm acesso a lugares em empresas de capital público e a serem indemnizados à saída; e terceiro, a liberdade que nos permitem ter: reservado a homens e mulheres honestas, que fazem do trabalho e da família os seus objectivos de vida, não tendo acesso a quaisquer regalias, mas com o direito de pagar atempadamente os seus impostos e a serem espoliados a bem da nação.

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Guarda, 11 de Maio de 2010
Daniel António Neto Rocha


Crónica Radiofónica - Rádio Altitude, no dia 12 de Maio de 2010 - disponível em podcast em Rádio Altitude

terça-feira, abril 27, 2010

07. Crónica Altitude – Crónica de Abril

1. Sempre tive sérias dúvidas sobre tudo aquilo que o 25 de Abril de 1974 representou enquanto movimento revolucionário e enquanto memória educativa a ter em conta nos dias que correm. O problema pode ser exclusivamente meu, admito-o! Mas preocupa-me verificar que a índole da história é bela e amena, mas a forma… Neste ponto, o da forma, vem-me sempre à memória uma frase batida: “Bem fala Frei Tomás, ouve o que ele diz mas não faças o que ele faz!” E questiono-me no porquê desta inquietação, inquietação, inquietação, perante este dogma que insisto em descobrir, enquanto outros se preocupam em o continuar a impingir. Centremos o discurso e questionemos a marca simbólica. O que representou o dia em termos sociais e humanos? Se podemos afirmar que ao nível de uma revolução social a coisa até pegou e anda de “pétalas em popa”, ao nível de uma interacção humanitária a dignidade humana continuou a ser algo desconsiderada, chegando nós ao ponto de discutir, com algumas pessoas ditas “revolucionárias de Abril”, o extracto social onde se deverá iniciar esse picuinhas direito social resumido na expressão “viver com dignidade”. É complexo, eu sei isso! É difícil escolher entre os que “já vivem de barriga cheia” e entre aqueles que “a têm completamente vazia”, não é? Se os primeiros, porventura, perdessem os direitos adquiridos e os partilhassem com os que ainda não tiveram, nem nunca vão ter, acesso a esses mesmo direitos adquiridos, criava-se uma situação de crise partidário-política muito preocupante, pois a barriga ficaria um pouco menos cheia e a maldosa igualdade de oportunidades ganharia contornos reais, o que nenhuma dialéctica neo-tendencialista poderia suportar. É que isto de todos diferentes, todos iguais é aceitável, mas devagar, pois tem múltiplas leituras e também significa: todos iguais na nacionalidade mas todos diferentes na oportunidade. Já me desviei daquilo que me propus cantar nesta crónica, não já?

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Guarda, 27 de Abril de 2010
Daniel António Neto Rocha


(Crónica Radiofónica - Rádio Altitude, no dia 28 de Abril de 2010 - disponível em podcast em Rádio Altitude)

quarta-feira, abril 14, 2010

06. Crónica Altitude - Crónica do Coelho Literário ou a outra forma de politizar

1. Hoje estou completamente fascinado sobre e arrependido de tudo aquilo que tenho escrito e dito, em locais muito próprios, sobre a arte e o engenho dos políticos portugueses ao falarem de literatura. Criticava eu, nesses políticos, a só leitura de compêndios repletos de frases feitas e de tiradas fenomenais. Criticava eu a só leitura de livros e de referências a figuras épicas da nossa praça. Criticava eu a referência tonitruante ad aeternum a apenas um verso ou a uma única frase que merecia lugar de destaque em todos os discursos e ajuntamentos públicos, tornando aquele orador muito sabedor e digno das maiores reverências. Hoje deixei de lado essa minha crença antiga ao nível da major league da política nacional mas, se mo permitem, vou deixá-la ainda para a minor league que se joga aqui por estas ruas. Ok? Espero que estejam de acordo comigo.

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Guarda, 13 de Abril de 2010
Daniel António Neto Rocha


(Crónica Radiofónica - Rádio Altitude, no dia 14 de Abril de 2010 - disponível em podcast em Rádio Altitude)

quarta-feira, março 31, 2010

05. Crónica Altitude – Crónica Pascal

1. O período pascal, em que agora entramos, é sempre um tempo de reflexão e de tentativa de correcção daquilo que de mal se foi fazendo. Neste tempo, olhamos para trás e, tal como Pedro o terá feito há cerca de dois mil anos, constatamos aquilo que devíamos ter feito e aquilo que não deveríamos ter seguido. Assim, nas nossas escolas é tempo de pausar o ano e avaliar alunos e professores. Noutro quadrante, por exemplo no Prós e Contras, é tempo de analisar, numa lógica socrática e claramente social, quem manda na escola ou no sistema educativo Português (como se saber quem manda seja sinónimo de alguma melhoria!). Ao nível do espaço político, é tempo de saber quem é o novo rosto da oposição, através de inúmeras biografias traçadas ao sabor dos interesses pessoais, e de analisar ao pormenor para que lado tenderá agora o eleitorado feminino. A um nível inferior e de interesse, somente, de um pequeno grupo de desalinhados que têm mesmo de trabalhar para sobreviver, é altura de o bonitinho do PEC começar a revelar quanto vai pagar a mais cada um dos portugueses que suportam financeiramente o Governo democraticamente eleito e democraticamente esbanjador.

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Guarda, 30 de Março de 2010
Daniel António Neto Rocha


(Crónica Radiofónica - Rádio Altitude, no dia 31 de Março de 2010 - disponível em podcast em Rádio Altitude)

quarta-feira, março 17, 2010

04. Crónica Altitude – Crónica ao Desgoverno

1. Para onde estamos a dirigir a nossa capacidade de criar e de gerar novas sociedades? Para onde estamos nós, gente com responsabilidade social, a encaminhar a nau das oportunidades que todos os jovens deste país e o próprio país merecem? Enfim, onde estamos nós a deixar cair o nível de exigência que nos deve perseguir e que fará do futuro um espaço aceitável e não manobrável por mentes falsamente aprazíveis?


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Guarda, 16 de Março de 2010
Daniel António Neto Rocha
(Crónica Radiofónica - Rádio Altitude, no dia 17 de Março de 2010 - disponível em podcast em Rádio Altitude)

quarta-feira, fevereiro 17, 2010

02. Crónica Altitude – Crónica relacional

1. Tenho tido, ao longo dos anos, a feliz oportunidade de conhecer pessoas diferentes, com trajectos de vida e visões do mundo completamente díspares. Essas pessoas e as histórias que carregam nunca são iguais, variando no contacto com culturas e experiências ao mesmo tempo que revelam horizontes literários ricos e impregnados de felizes constatações. O que as une, segundo o meu ponto de vista, são, por um lado, alguns traços aventureiros - capazes de causar admiração e de me levar a acreditar na autenticidade de cada jornada por elas percorrida - e, por outro, visões límpidas e desinteressadas da sociedade - enquanto espaço agregador da diferença e despoletador de oportunidades comuns. No seguimento destes pontos, quais serão então as características que mais admiro nas pessoas? Quais as capacidades de atracção que elas possuem e que me fazem ficar rendido? Ora bem, para começar gosto de pessoas que são coerentes, pois obedecem sempre a uma mesma linha de honestidade e não são, por isso, manuseáveis. Depois, prefiro pessoas que ajam segundo um sentimento de familiaridade, seguindo um conhecido ditado popular (tão ao meu gosto) - “Quem dá o pão, dá a educação!”. Seguidamente, agradam-me pessoas que sejam despretensiosas e que consigam colocar de parte o célebre discurso do “- Eu sou x!” ou “- Eu sou o magnífico y!”, sendo este discurso tão usual aqui pelas nossas encostas. Finalmente, um dos traços que mais aprecio num ser humano é a capacidade para ser isso mesmo, um ser humano, capaz de perceber o outro de forma honesta e sensível.


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Guarda, 16 de Fevereiro de 2010
Daniel António Neto Rocha

(excerto da Crónica Radiofónica - Rádio Altitude, no dia 17 de Fevereiro de 2010 - disponível em podcast em Rádio Altitude)