"Realizou-se no passado dia 25 de
Maio de 2013, em Famalicão da Serra – Guarda, o Curso de Combate a Incêndios Florestais com o qual se abriu a 7.ª Jornada de Análise ao Incêndio de
Famalicão.
Pelo sétimo ano consecutivo, o Projecto Sérgio Rocha e o Portal Bombeiros.pt associaram-se para trazer
à memória de todos o trágico acidente que a 9 de Julho de 2006 ceifou a vida a
seis bombeiros, entre eles o bombeiro português Sérgio Rocha, e assim evitar
que os mesmos erros sejam cometidos e que mais vidas se percam. Desta forma,
uniram-se e contaram com o apoio dos Bombeiros
Voluntários de Famalicão da Serra, da Junta
de Freguesia de Famalicão da Serra, da Afocelca
e do Centro de Estudos sobre Incêndios
Florestais (CEIF) da Universidade de
Coimbra para realizar um Curso de
Combate a Incêndios Florestais com um enfoque extremamente prático. Convém
realçar que a organização deste Curso focou de forma clara que esta era a
primeira de um conjunto de actividades que serão realizadas em Famalicão da
Serra durante o ano de 2013, sob o nome de 7.ª
Jornada de Análise ao Incêndio de Famalicão. Entre estas actividades,
destacou a organização, “irão realizar-se sessões de cinema e de música, sendo
que no último trimestre do ano irá realizar-se um Curso sobre Uso do Fogo”.
Este Curso de Combate a Incêndios Florestais ofereceu aos cerca de 40
(quarenta) participantes um conjunto de lições que pretenderam aumentar a capacidade
de análise e de actuação das equipas de combate, visando, por um lado, uma
melhoria na intervenção e uma capacidade de observação que permita uma acção
eficaz e em segurança. Na lição de abertura, Daniel Rocha, responsável pelo Projecto Sérgio Rocha, visitou a
história e fez o retrato dos principais momentos do incêndio de 2006,
apresentando de seguida algumas das conquistas que desde 2007 e até 2012 a Jornada de Análise ao Incêndio de Famalicão
já tinha obtido através da sugestão de alterações a entidades governamentais.
Finalizou com a apresentação dos objectivos para o que resta de 2013 e para o
ano de 2014, anunciando que será iniciado um projecto que visará a realização
de um documentário sobre o incêndio de Famalicão e anunciado que seguirá para a
Liga dos Bombeiros Portugueses (LBP) uma proposta de colaboração para o
lançamento de um projecto de fabrico de uma mochila de transporte de
“fire-shelter” que seja de origem portuguesa e que possa conjugar os factores
da segurança, da eficiência, do conforto e do preço. Para além destes
importantes objectivos, salientou que a realização da Jornada nos anos seguintes evoluirá para uma maior ocorrência de
actividades relacionadas com os incêndios e distribuídos pelo ano inteiro. Após
esta apresentação, Carlos Rossa forneceu aos presentes uma lição que focou
principalmente o tema da segurança no combate, destacando-se aquele que é, no
seu entender, um instrumento extremamente fácil de utilizar e com uma
capacidade enorme de permitir um combate eficaz e seguro. Baseado no sistema
norte-americano LACES, Rossa sugere a
implementação deste sistema de segurança no combate através da sua tradução
para o sistema MARCA – Monitorização,
Ancoragem, Rotas de Fuga, Comunicação
e Área de Segurança, permitindo
desta forma uma maior identificação do combatente português com a terminologia
portuguesa e uma maior capacidade de implementação pela proximidade
linguística. Seguiu-se a lição de David Davim, que focou o tema do combate e
que forneceu algumas pistas de actuação tendo em consideração a observação de
um conjunto de factores que são essenciais no desenrolar de um combate eficaz.
Destacou-se nesta lição a questão do Alinhamento de Factores e a importância da
sua integração no Sistema de Gestão de Operações (SGO), possibilitando desta
forma uma maior capacidade de previsão da evolução do combate. Foram duas
lições muito complementares e que forneceram dicas de actuação muito úteis e
que tiveram uma excelente recepção por parte dos participantes.
Da parte da tarde, foi a vez da
lição de Domingos Xavier Viegas que, com a facilidade de exposição que lhe é
reconhecida, fez num primeiro momento uma revisão pela história recente ao
nível dos números de incêndios florestais que ocorreram depois de uma época de
chuvas intensa, relatando que é a primeira vez que estamos a chegar ao final do
mês de Maio com um índice de chuvas tão elevado e alertando que, caso a época
de chuvas termine agora, poderemos esperar uma fase complicada ao nível dos
incêndios florestais no final de Julho ou início de Agosto. Após esta chamada
de atenção, seguiu-se uma lição sobre as medidas de segurança mais eficazes
perante a possível ocorrência de fenómenos extremos do fogo, não se coibindo de
alertar os presentes para a possibilidade de, perante alguns desses fenómenos
extremos e perante algumas condições do incêndio, ser impossível fazer um
combate em segurança, sugerindo que nesses casos se recue para uma redefinição
de estratégia. Numa lição sempre pontuada com conselhos de combate (como
ocorreu nas lições da manhã), Domingos Xavier Viegas terminou a sua intervenção
com uma referência ao Incêndio que em 2012 consumiu os concelhos de Tavira e de
São Brás de Alportel, fazendo referência às falhas existentes e dando conselhos
sobre actuação em condições idênticas.
Após este conjunto de lições
comunicações, que aconteceram na Casa da Cultura de Famalicão, o grupo
deslocou-se para o local do acidente, em plena serra de Famalicão, fazendo a pé
o trajecto que em 2006 foi percorrido pelos seis homens e tomando conta das
dificuldades que eles teriam sentido naquele trágico dia. Este “staff-ride”, o
único que se realiza na Europa, foi orientado por Domingos Xavier Viegas e foi
complementado com as palavras de alguns dos homens que combatiam em 2006
naquele incêndio, tendo Mário Santos (hoje 2.º Comandante da Corporação de
Famalicão da Serra) relatado visivelmente emocionado o momento em que viu o
Sérgio Rocha pela última vez e o momento em que saiu queimado do incêndio.
No final, antecedendo o minuto de silêncio que encerra cada Jornada, todos os
presentes sentiram vontade em apoiar a iniciativa de criação da Mochila de
transporte do “fire-shelter”, pois será uma forma de ser ultrapassado o
desconforto que cria resistência por parte dos bombeiros à sua utilização.
Orlando Ormazabal, um dos apoiantes da iniciativa e representante máximo da
Afocelca, aproveitou este momento junto ao local onde foram encontradas as
ferramentas dos seus combatentes e compatriotas para contar a sua experiência
pessoal ao nível da utilização do “fire-shelter”, revelando-se emocionado com a
forma como é acarinhada e lembrada a memória daqueles que caíram. A sessão
terminou com um minuto de silêncio e com uma fotografia de grupo, prometendo a
organização mais actividades para os próximos meses."
(Fonte: Bombeiros.pt)