Pensalamentos #231 - rezar

esquecer fátima
ou o acaso
rezar
não como sempre
mas sempre ao contrário

Pensalamentos #230 - cansaço

viver cansado
viver cansado
viver cansado
viver cansado
...
morrer cansado

Pensalamentos #229 - punho

cair na desordem
gato vadio
com o norte no faro
vadio
com as sete vidas em punho

Pensalamentos #228 - quase no fim

instante

indefinido ou mordaz

quase no fim da linha

quase no fim

de tudo

do instante

do fim

Pensalamentos #227 - urgente

o silêncio
urgente
cegou-me a ânsia
e calou-me a alma
ateando os sons
duros
nas fímbrias
da ilusão

Pensalamentos #226 - gelo

ver,
gelados,
os suspiros
faiscantes dos dias

Pensalamentos #225 - gigantes

ter gigantes
sobre os meus ombros
empoleirados para um bem maior
e ser o garante
infeliz
da sua ascensão

Pensalamentos #224 - olhar

olhar os passos
com a amplitude dos dias
e a firmeza de um cabelo

Pensalamentos #223 - colher

colher os frutos
sem sujar as mãos

Pensalamentos #222 - preocupação

a preocupação
ronda ronda ronda
em ziguezagues
turbulentos
em demandas singulares
em vistas curtas e umbiguistas
em ziguezague em ziguezague em ziguezague
olhando
só
só
pensando
só
só
em si

Pensalamentos #221 - sei

dar conta
dos dias e das horas das mentiras 
sensíveis
e correr
agressivamente
os segundos que faltam
para o fim

Pensalamentos #220 - não

não me agradam as vestes vistosas
nem as línguas viperinas

dão-me sono!

Pensalamentos #219 - silêncio

e o silêncio
outrora ingrato e cruel
começa a parecer-me grato
nos olhos de quem o assume
infiel

Pensalamentos #218 - mar bravo

fugiram-me cinco gaivotas
do poema escondido
e revoltoso

Pensalamentos #217 - ?

dúvida

sentar-se a um canto

preso nas teias visíveis

olhar o vazio e as linhas cruas

enquanto, fora,

as ruas limpam os pés

silenciosos

Pensalamentos #216 - turva

ver as acções
de cara amigável
e alma de veneno

Pensalamentos #215 - homicídio

mata-se
por dentro
homem maior e vacinado
mas não imune a doenças do foro interno
que tem problemas de localização
vulgo deslocalização
e que possui pouco tempo
não de vida mas de existência
mata-se
portanto
depressa e em boa hora

Pensalamentos #214 - sono

o dia infiltrou-se
nos ossos
nas veias
e nas sinapses irregulares
(que morrem devagar)

Pensalamentos #213 - observadora

tu, 

que altiva e dissimulada,

observas

espreitando

os passos vagarosos

esquece-te de ti

e olha

bem

para o teu vazio

Pensalamentos #212 - raízes

encolher

ossos e raízes

de encontro ao chão

e colher

(fingidamente)

as molas que prendem as vestes

de almas enfeitadas