quarta-feira, julho 24, 2013

Repentes #29 - sugestões para o boneco?

Há uma anormal capacidade nas estruturas governamentais portuguesas para fazerem sugestões que, depois, são tudo menos respeitadas pelas estruturas governamentais que as deveriam receber e fazer actuar. É uma espécie de reino do fantástico, este, onde se fazem leituras e interpretações muito criteriosas e exactas, mas em que o resultado final é o cumprimento total de tudo aquilo que é sugerido que não se faça.
Li no Público o texto que apresento a seguir (sublinhado a negrito por mim), onde são feitas constatações pelo GAVE muito interessantes e importantes. Só falta agora voltar atrás no tempo e evitar todas as decisões contrárias a essas mesmas recomendações, nomeadamente o aumento brutal de alunos por turma e a redução colossal de professores nas escolas.
É que não basta elaborar relatórios, é preciso que os "decisores" nacionais se mentalizem do tempo necessário para o crescimento intelectual de um aluno, sabendo de antemão que os diferentes ritmos de aprendizagem criam embaraços suficientes numa sala de aula para impedir o avanço de uma turma devido à persistência do professor na explicação a um simples aluno. Se multiplicarmos este problema por 30, é capaz de ser um problema grandito, não? 
O exemplo que dou sempre, para tentar que tudo fique mais claro para todos, é o da criança que está a aprender a ler, literalmente. Como todos sabemos, existem diferentes ritmos na aprendizagem da leitura, havendo crianças que vão até à adolescência a soletrar. Agora, coloque-se o caso do momento em que dizemos às crianças que devem ler no sentido figurado ou que devem fazer inferências sobre aquilo que estão a ler, ou seja, devem ser capazes de ler o que não está, literalmente falando, no texto. Quem não trabalha com alunos mas com relatórios poderá não compreender aquilo que por aqui estou a dizer, mas é preciso tempo para criar nos alunos uma capacidade interpretativa que os leve a perceber a subjectividade dos textos e toda a semiótica que os envolve. 
Por fim, é essencial que o aluno seja visto por todo o sistema de ensino como aquela árvore que vai crescendo devagar e que precisa de cuidados constantes para crescer forte e sem doenças. 


"(...) Sugestões para Português 

Em relação ao exame de Português do 12.º ano, analisando os grupos de questões em que os alunos obtiveram piores resultados, o Gave assinala que as principais dificuldades se revelaram em “tanto em itens em que se avalia a leitura orientada de um texto literário, como em itens em que se avalia o funcionamento da língua, quando a resposta exige o domínio de metalinguagem”. 
“É de destacar que, nos itens que exigem resposta estruturada (...), além das dificuldades ao nível do conteúdo, os alunos revelam fracos desempenhos nos parâmetros da organização e da correcção linguística”, sublinha o GAVE. Segundo o documento, “os resultados obtidos nos parâmetros da correcção linguística são inferiores aos resultados obtidos nos parâmetros do conteúdo, embora tanto uns como outros se situem em níveis negativos”. 
Como propostas de intervenção didáctica, o GAVE sugere, no domínio da Leitura, além do desenvolvimento do conhecimento lexical, “um reforço do trabalho que envolva a realização de inferências e o posicionamento crítico face aos textos lidos”. No domínio da expressão escrita, defende a realização de um trabalho sistemático que envolva a aprendizagem e o treino de diferentes tipologias de texto, “assegurando um crescente domínio das capacidades envolvidas na planificação, textualização e revisão dos textos”. 
Já no domínio do funcionamento da língua, segundo o relatório, é fundamental “assegurar o desenvolvimento de um trabalho de acordo com a metalinguagem e as orientações metodológicas explicitadas no Programa”. Nas conclusões, o GAVE refere que se deve continuar a insistir na necessidade de assegurar a melhoria de desempenho ao nível dos processos de leitura e de escrita. 
“As fragilidades a este nível são recorrentemente diagnosticadas na análise dos resultados da generalidade das disciplinas, sobretudo na de Português, mas com igual relevo nas áreas da Matemática, das Ciências Naturais e das Ciências Sociais e Humanas, em qualquer dos níveis de ensino em causa”, acrescenta. 
O Gave insiste ainda que “os resultados continuam a mostrar que, em termos médios, são persistentes as dificuldades em várias vertentes, de que se destacam as capacidades para, entre outros, estabelecer adequadamente ligações entre os vários tópicos de uma mesma disciplina, explicitar relações causa-efeito e desenvolver raciocínios lógico-dedutivos, bem como raciocínios demonstrativos.(...)"
(Fonte: Público)

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