quarta-feira, março 31, 2010

05. Crónica Altitude – Crónica Pascal

1. O período pascal, em que agora entramos, é sempre um tempo de reflexão e de tentativa de correcção daquilo que de mal se foi fazendo. Neste tempo, olhamos para trás e, tal como Pedro o terá feito há cerca de dois mil anos, constatamos aquilo que devíamos ter feito e aquilo que não deveríamos ter seguido. Assim, nas nossas escolas é tempo de pausar o ano e avaliar alunos e professores. Noutro quadrante, por exemplo no Prós e Contras, é tempo de analisar, numa lógica socrática e claramente social, quem manda na escola ou no sistema educativo Português (como se saber quem manda seja sinónimo de alguma melhoria!). Ao nível do espaço político, é tempo de saber quem é o novo rosto da oposição, através de inúmeras biografias traçadas ao sabor dos interesses pessoais, e de analisar ao pormenor para que lado tenderá agora o eleitorado feminino. A um nível inferior e de interesse, somente, de um pequeno grupo de desalinhados que têm mesmo de trabalhar para sobreviver, é altura de o bonitinho do PEC começar a revelar quanto vai pagar a mais cada um dos portugueses que suportam financeiramente o Governo democraticamente eleito e democraticamente esbanjador.

(...)


Guarda, 30 de Março de 2010
Daniel António Neto Rocha


(Crónica Radiofónica - Rádio Altitude, no dia 31 de Março de 2010 - disponível em podcast em Rádio Altitude)

terça-feira, março 30, 2010

Aqui há uns anos fui invadido pela música do Carlos Paredes

Aqui há uns anos, dediquei este poema ao Carlos Paredes. Ler depois de pôr a música a tocar.





Ao Paredes

Mãos nervosas,
Cordas trémulas,
Ondas vertiginosas,
Tempo à escuta…

Tempo.
Tempo?

Surdez do tempo.
Eclipse das ondas,
Cordas vagarosas…
Guitarra sem mãos!

Sons nos céus…

Imortais sopros do vulto…

Paredes levantado rumo ao tempo!

(Coimbra, 23/07/2004)

sábado, março 27, 2010

Em período de Páscoa, recordo...

Já pertenci e sinto que pertenço ainda a um grupo coral que andou por esse país fora a deixar que a música se entranhasse nos ouvidos das pessoas de forma deliciosamente natural. Hoje, deu-me para ouvir uma das peças mais bonitas que cantei. Oiçam, também, que vale bem o tempo ganho com ela: "Ave verum corpus", do magistral Wolfgang Amadeus Mozart.


sexta-feira, março 26, 2010

Algo ao despropósito

Há, por vezes, a ideia de que o melhor caminho para uma sociedade organizada e viável será a da autocracia. Dessa forma, sustentamos todo o peso da decisão política (e outras) numa figura que, quase sempre, se deixa levar pelo enfolamento e se transforma no "super-homem" cá do bairro. Como é óbvio, esse personagem é o herói da sua própria criação e senhor supremo de todas as ordenações que tomar. Não sendo a figura principal por reconhecimento geral, alimenta-se da sua própria sombra para se tornar num gigante, que a luz poderá, um dia, apagar.

domingo, março 21, 2010

Pela Palavra

(Ao António Jacinto)

Poeta
falas em cabelos de coral
e em algas verdes
ao longo da espuma;
falas de búzios
e do marulhar das ondas
no corpo mineral dos rochedos;
falas das nascentes
que palpitam nas entranhas
e que só tu vês
e sentes

Cantaste no passado
em termos de futuro
desde lá foste presente

Às vezes
emudeces…
mas não, não pode ser;
a tua voz pertence ao tempo
venha ela em ribombar agreste
fendendo a terra
e erguendo as gentes
levada pelo vento

Sim, Poeta
nas tuas veias há o amor
de um povo inteiro
que te fez seu embaixador
e seu guerreiro
na tua voz que pertence ao vento

Queremos-te erguido
vertical
sendo arrimo
diáfano cristal
a catálise
que terá de engendrar
a nova humanidade
pela palavra feita material

Solta o poema
que transmita
a coragem
a fé
o patriótico ardor
dos filhos que se batem
por amor

Que diga
a cada homem
que cada coração
deve dar ao mundo
uma lição
no dia a dia
reconstruindo
resistindo

Vamos, Poeta
este é o momento
a tua voz pertence ao tempo
tu és do povo o embaixador.

(Eugénia Neto)


P.S. - Este poema é a minha comemoração, em jeito de homenagem, ao mundo da Poesia. A Eugénia Neto é a esposa de um dos mais famosos poetas de Angola, Agostinho Neto, e dedicou este poema a outro grande vulto da literatura daquele país, António Jacinto.

quarta-feira, março 17, 2010

04. Crónica Altitude – Crónica ao Desgoverno

1. Para onde estamos a dirigir a nossa capacidade de criar e de gerar novas sociedades? Para onde estamos nós, gente com responsabilidade social, a encaminhar a nau das oportunidades que todos os jovens deste país e o próprio país merecem? Enfim, onde estamos nós a deixar cair o nível de exigência que nos deve perseguir e que fará do futuro um espaço aceitável e não manobrável por mentes falsamente aprazíveis?


(...)

Guarda, 16 de Março de 2010
Daniel António Neto Rocha
(Crónica Radiofónica - Rádio Altitude, no dia 17 de Março de 2010 - disponível em podcast em Rádio Altitude)

terça-feira, março 16, 2010

Cristo na Cruz


-->Não sei se os meus gostos literários são conhecidos pelos meus caros amigos, mas não há muita gente que conheça este meu gosto (exagerado?) pelos escritores sul-americanos. Confesso-lhes que é, talvez, o meu próximo grande objectivo profissional - estudar melhor este meu gosto. Para já, deixo-vos com um dos meus poemas preferidos do livro (na versão portuguesa) "Os Conjurados", de Jorge Luis Borges.


Cristo en la Cruz
Cristo en la cruz. Los pies tocan la tierra.
Los tres maderos son de igual altura.
Cristo no está en el medio. Es el tercero.
La negra barba pende sobre el pecho.
El rostro no es el rostro de las láminas.
Es áspero y judío. No lo veo
y seguiré buscándolo hasta el día
último de mis pasos por la tierra.
El hombre quebrantado sufre y calla.
La corona de espinas lo lastima.
No lo alcanza la befa de la plebe
que ha visto su agonía tantas veces.
La suya o la de otro. Da lo mismo.
Cristo en la cruz. Desordenadamente
piensa en el reino que tal vez lo espera,
piensa en una mujer que no fue suya.
No le está dado ver la teología,
la indescifrable Trinidad, los gnósticos,
las catedrales, la navaja de Occam,
la púrpura, la mitra, la liturgia,
la conversión de Guthrum por la espada,
la inquisición, la sangre de los mártires,
las atroces Cruzadas, Juana de Arco,
el Vaticano que bendice ejércitos.
Sabe que no es un dios y que es un hombre
que muere con el día. No le importa.
Le importa el duro hierro con los clavos.
No es un romano. No es un griego. Gime.
Nos ha dejado espléndidas metáforas
y una doctrina del perdón que puede
anular el pasado. (Esa sentencia
la escribió un irlandés en una cárcel.)
El alma busca el fin, apresurada.
Ha oscurecido un poco. Ya se ha muerto.
Anda una mosca por la carne quieta.
¿De qué puede servirme que aquel hombre
haya sufrido, si yo sufro ahora?

sexta-feira, março 12, 2010

Os professores devem aprender a lidar com as provocações dentro da sala de aula?

Li, com atenção e redobrada sensibilidade (se é que é possível!), as notícias sobre o suicídio de um colega professor. Não me interessa o local onde aconteceu ou sequer a realidade social da escola em questão! Interessa-me, sim, saber como é possível que uma direcção escolar não sinta obrigação de defender o nome da escola e de agir sobre um comportamento agressivo! Como é possível que, depois de várias participações disciplinares, a solução apontada seja a de o professor alterar o seu comportamento em sala de aula, aprendendo a lidar com as provocações? Peço imensa desculpa a quem ler este "post", mas considero que é a maior estupidez que alguma vez ouvi na vida! Afinal, queremos criar uma geração de cidadãos responsáveis ou de desordeiros sem lei?