segunda-feira, maio 04, 2009

Porquê e para quê? Uma questão hipócrita

1. Foi (re) lançada a campanha de prevenção de incêndios florestais para 2009. As frases que desde logo me despertaram alguma atenção foram: “A MAIOR PARTE DOS INCÊNDIOS COMEÇA COM UM ACTO NEGLIGENTE! NÃO SEJA CULPADO POR UM CRIME COMO ESTE!”. Ainda não fazendo um comentário, mas sugerindo-o, começo por caracterizar estas frases como verdadeiramente hipócritas ou, se assim o quiserem, como afirmações enganosas.

2. O Dicionário Houaiss (o dicionário mais global no que diz respeito à Língua Portuguesa) define desta forma a palavra HIPOCRISIA: substantivo feminino 1. Característica do que é hipócrita; falsidade, dissimulação. 2. Acto ou efeito de fingir, de dissimular os verdadeiros sentimentos, intenções; fingimento, falsidade. 3. Carácter daquilo que carece de sinceridade. Esta definição é a leitura mais objectiva e mais clara do sentimento que me percorre de cada vez que tenho de ver na televisão ou de ouvir na rádio o spot publicitário que pretende alertar a sociedade civil para os perigos dos incêndios.

3. Portugal é um país pródigo a afirmar aquilo que não se vem a verificar. Sinto-o na pele e está na altura de o partilhar convosco. Estamos perto de atingir os três anos do Acidente de Famalicão da Serra – incêndio onde perdeu a vida o meu irmão e onde várias famílias ficaram irremediavelmente destroçadas. Não o digo apenas pela minha. Depois desse triste dia, houve um compromisso das autoridades que tinha como intenção o efectivo castigo dos CRIMES cometidos. Isso está comprovado nas palavras ditas e repetidas no lançamento das campanhas de prevenção de incêndios que se seguiram (ver:
Link Eco; Link TVI; Link SIC; Link RTP).

4. Hoje: a hipocrisia continua e é clara. A investigação, às causas que originaram o incêndio, parou no ponto em que o incendiário é visto como um pobre coitado que teve um azar. O ministério público não reabre novas investigações apesar de haver informações que dão como certo um “comportamento negligente” e consciente. Toda a gente assobia para o lado, não querendo afirmar o que realmente aconteceu. Não, posso dizer-vos com toda a certeza: a culpa não está na faísca, está na queimada.

5. Senhor Presidente da República, Senhores Ministros, Senhor Procurador Geral, demais Senhores responsáveis: não é com a mentira ou com a ameaça oca que o problema dos incêndios se resolve. Um mentiroso negligente está a viver impunemente, enquanto há várias pessoas que desde 9 de Julho de 2006 sofrem. Senhores, chega de promessas adiadas e de falsas ameaças, deixem-se de hipocrisias. Castiguem quem devem castigar e não tenham medo de perder votos (ver:
Link Expresso).

Famalicão da Serra, 02 de Maio de 2009
Daniel António Neto Rocha
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(Texto publicado no Portal Bombeiros.pt - 4 a 10 de Maio de 2009, e disponível no link: http://www.bombeiros.pt/entrevista/entrevista.php?id=24)

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