1. O
mundo actual está envolvido numa espécie de cabala
numérica que mete (salvo seja!) o número três em todos os sítios possíveis e
imaginários: na política, antiga ou actual, com o triunvirato e com a troika; na religião, com a santíssima
trindade e com os três pastorinhos; na protecção civil, com o célebre triângulo
do fogo; na sexologia, onde não farei qualquer tipo de alusão para não deixar
chateado o senhor provedor; e no mundo da escrita, onde há-de haver sempre uma
introdução, um desenvolvimento e uma conclusão. Perante esta espécie de ordem
universal, também eu decidi trazer aos ouvintes uma crónica tripartida, que
iniciei há cerca de um mês e que hoje aqui tem o seu fim. Tentei, nas quase
análises que por aqui fui fazendo, mostrar o que trazem para a Guarda os
candidatos independentes e os candidatos de esquerda, ficando para hoje a
abordagem ao único, até agora, candidato de direita. Curiosidade ou não, são
também, espremidos os campos de origem dos candidatos, três os principais
candidatos a noivas do concelho. Mas deixemo-nos de núpcias antecipadas e
vejamos o que nos traz o candidato da Guarda
com Futuro.
2. Álvaro
Amaro é um velho conhecido da cidade, especialmente da velha cidade, sendo para
os mais jovens cidadãos (como eu) quase um desconhecido. Homem político, que
nos habituámos a ver como jogador de outros tabuleiros bem longe dos concelhos,
o seu percurso, por paradoxal que pareça, foi bem ligado a funções concelhias e
distritais. Nestas mesmas funções acabou por ter algumas picardias célebres que
são muito importantes para perceber as eleições de Setembro. Tem a seu favor o
facto de ser um político que faz um barulho quase ridículo quando se trata de
defender aquilo em que acredita. Mas, será isto bom ou mau? Talvez seja mau, na
medida em que nós não gostamos de cair no ridículo e no mau hábito de sermos
caracterizados como gente rude e um pouco mal-educada por influência directa de
um qualquer político. Talvez seja bom, na medida em que não importa a forma
como se diz mas sim o facto de repararem em nós e nos ouvirem. Claro que penso,
neste ponto, na forma eufórica e quase orgástica como pediu ao
Primeiro-Ministro para não pagar, através do Turismo de Portugal, o Hotel de
Turismo à Câmara Municipal da Guarda. Por este prisma, e pensando no imenso
buraco negro que ainda está por explorar neste e noutros negócios estranhos na
cidade, talvez Amaro consiga cativar mais do que repelir algum do eleitorado,
mas terá para isso de fazer um trabalho de comunicação quase individual com as
gentes do concelho. E estas são as boas notícias para Amaro: o facto de ser uma
alternativa forte (há quem diga que não o será por manifesta antipatia pessoal)
e o facto de ser um comunicador sem problemas em “chatear” quem quer que seja.
Há, no entanto, uma suposta má notícia para Álvaro que talvez o não seja completamente.
Falo da circunstância de Amaro ser o alvo a abater, não só por quem está
naturalmente do outro lado da barricada mas também por quem até há bem pouco
tempo partilhava a trincheira com este candidato. Olhemos bem, o candidato do
PSD é o primeiro (se não for, corrijam-me) a entrar na corrida com a estrutura
concelhia contra e com elementos desta a assumirem papéis preponderantes numa
das candidaturas independentes. Claro que isto é muito mau em termos da imagem
que a estrutura do partido quer passar, mas talvez esta desagregação dos apoios
laranjas seja exactamente aquilo que Amaro pretende: o aparecimento, depois de
muito tempo, de uma candidatura realmente una e coerente. Confusos? Talvez
pareça mais confuso do que é, bastando, para nos esclarecermos todos, que nos
lembremos dos resultados catastróficos das supostas unidades do partido nas várias
autárquicas passadas. Com a ausência de unidade para uma candidatura, Amaro
terá percebido, como todos nós já percebemos há muito tempo, que o PSD da Guarda
é um partido que perde eleições quase que por vontade própria e quis (aí vai a
bomba) testar as forças vivas da cidade, dando-se mal, pois, como Igreja no PS,
suscitou o aparecimento em força dos velhos hábitos e vícios que, naturalmente,
vão manobrando nas sombras. E é neste campo dos vícios que a união com o CDS-PP
me levanta muitas dúvidas e que lá mais para a frente pode ter consequências
desagradáveis para a coligação. No entanto Álvaro Amaro já demonstrou que pode
ter alguns trunfos só tem é de os utilizar.
3. Quem seguiu estas
crónicas pode verificar que tentei ao máximo falar apenas dos cabeça de lista e
das motivações que os pudessem acompanhar para esta corrida. Das cinco estruturas
que se aprontam para a “guerra” há três com um potencial de vitória elevado e
com motivações bem diferentes. Cabe-me, portanto, tentar concluir algo desta
tríade. Primeiro, Bento é, cada vez mais, a face da continuidade e o facto de
ser o receptor dos desavindos dos outros partidos insinua mais do que
esclarece, não deixando de ser (quanto a mim compreensivelmente) o principal
candidato à vitória. Segundo, Igreja é o candidato da renovação do partido e da
renovação (caso vença) camarária, pois trará uma visão experimentada e realista
da sociedade para o campo da discussão sobre o futuro da cidade, mas não me
parece que seja o reformador que todos esperávamos que fosse inicialmente. Terceiro,
Amaro é o representante quase profissional da mudança, só não sei se positiva
se negativa, pois são estranhos os interesses guardenses na defesa de uma
iniciativa, mas como última etapa da vida política quererá ele construir em vez
de destruir, e isto pode ser importante para a definição de uma política e para
a decisão do eleitorado. Para terminar, apressem-se lá, senhores candidatos, a
apresentar a restante equipa porque o eleitorado quer ver bem com quem é que a
mulher de César afinal se anda a deitar para que se faça um bom julgamento.
Moimenta da Serra, 17 de Junho de 2013
Daniel António Neto Rocha
(*) Disponível por um período limitado de tempo
Sem comentários:
Enviar um comentário