Está mais que provado que a Guarda só acolhe quem quer, quando quer e como quer. Mas já lá vamos!
No
passado dia 21 de Novembro fui até à Guarda para corresponder a dois
convites que me tinham sido feitos por amigos para falar sobre teatro,
na Escola Secundária Afonso de Albuquerque, e sobre cultura e prazeres,
no Café Concerto do TMG. Pois bem, lá fui e fiquei satisfeito por
comprovar aquilo que tenho vindo a comprovar há muito tempo.
(Foto de Inês Coimbra) |
(Foto de Inês Coimbra) |
(Foto de Inês Coimbra) |
No Liceu a
tarde foi muito interessante. O José Monteiro, o "Zé Monteiro" para
mim, é um professor preocupado com os seus alunos e com a educação para a
vida e para as leituras que eles possam ter. Assim sendo, lá vai
convidando os seus alunos a conhecerem coisas novas e a interessarem-se
pelo escritos da gente da cidade e da região, coisas nos dias de hoje
tão difíceis de encontrar. E foi assim que a conversa que fui ter com
aos seus alunos e com os alunos da professora Emília Costa (que foi
minha professora no terceiro ciclo!) começou com uma tentativa de
explicação daquilo que actualmente faço: escritor freelancer! A
definição desta expressão? Escritor + freelancer = desempregado com
estilo! Ou seja, o que faço actualmente é trabalhar com o improvável e
com aquilo que me vão pedindo para escrever. Claro que não há muita
gente que esteja interessada em ler, quanto mais pagar para algo ser
escrito! E foram alguns risos sinceros que ouvi. Coisa a que começo a
não estar acostumado. Passámos então pelas épocas mais interessantes
(para esta turma) do teatro: Sófocles e o seu "Édipo"; Gil Vicente e
toda a sua obra; Almeida Garrett e o seu "Frei Luís"; até chegar a
Manuel Poppe, com o seu "Pedro I"; terminando depois na minha "A Casa da
Memória" (razão maior para a minha presença ali). Claro que lhes
expliquei como cheguei a "entrar na casa" e contei também um pouco do
longo processo de recolha e de escrita e da gritaria interminável que
foi a relação entre personagens que não gostam de estar sozinhas! E eles
sorriram. Claro que lhes desvendei algumas das histórias incríveis que o
Manigoto me contou e que as suas gentes respiram. E deu para mais:
falámos de educação, de cultura e de Américo Rodrigues. E do seu último
livro. E do seu afastamento do cargo de Director do TMG. E da
irresponsabilidade (desinteresse seria a palavra mais exacta) dos
políticos pelo futuro deles. Sim, não o disse, mas talvez fosse
necessário dizer-lhes que não é na subjugação que reside a força das
pessoas e o seu futuro! Um dia digo!
(Foto de Inês Coimbra) |
E terminei com a
resposta a algumas perguntas. Feitas por gente interessada (ou com
atrevimento) em conhecer ou confirmar caminhos certos ou errados ou,
simplesmente, caminhos! E saí com a satisfação de um momento que,
espero, serviu para mostrar que um escritor ou autor não é mais do que
um homem que não se importa de pensar de forma livre e aberta,
procurando que as suas palavras sejam partilhadas e ouvidas.
E
houve uma pausa para um chá! A constipação estava, realmente, a ganhar
terreno e era preciso impedir que o dia acabasse ali. Foi um chá
partilhado a três. Com pessoas de quem gosto e que sabem que não sou
mais do que isto: um homem que vive. Não vou dizer quem foram, mas só
não digo porque não quero que algo de mal lhes aconteça! É que estavam
tão perto de mim!
O
jantar foi caseiro! Casa da mãe, ali a dois passos. Pouca fome e muito
mal-estar físico. Sintomas da febre que começava já a apoquentar. Enfim,
a noite ia estar boa, pois, qualquer que fosse o número da plateia, ia
estar entre amigos. Subir o vale e percorrer os lombos do Caldeirão até à
cidade da Guarda foi um instante. Eis-me no Café Concerto!
Pouca
gente! O Victor Afonso já lá estava com a malta do teatro que zela pela
qualidade das actividades. E um ou outro conviva, talvez acidental. E
chegaram amigos (gostei de ver especialmente o Américo, sei que os
restantes amigos compreendem este meu destaque, que o são e até família!
O Hugo. Sorri ao vê-lo entrar! Gostei muito! Como habitual, não vi
gente que em tempos foi "amiga". Talvez fosse do frio, penso,
forçadamente, eu. Responsáveis camarários também não vi, pois não devia
aquela ser uma sessão que fosse agradável de seguir. Afinal só estaria o
responsável máximo por uma das escolas superiores da cidade, onde um
dos vereadores dá aulas! Hora de começar e... Afinal o professor Carlos
Reis não estava! Perdera-se, ficcionei eu, num qualquer labirinto
citadino onde os pavores nocturnos (ao bom estilo infantil!) são
originados por gente "grande"! Voilá! O palco era meu! E do Victor! E de todos aqueles que comigo e com o Victor quisessem partilhar experiências.
(Foto de Hugo Rocha) |
E falámos
de livros: desde José Gomes Ferreira a Gonçalo M. Tavares, passando por
Manuel Poppe e por David Gilmour, indo até George Orwell e Ray
Bradbury. E música: Queen, Sigur Rós, Arcade Fire, Purcell e o seu
fantástico "Dido e Eneias" (que saudades daquela noite no Grande
Auditório!). E filmes: Dead Poets Society, The Hours, Good Bye Lenin! e... Guarda: Sopro Vital
(este último, não sendo um filme, é a gravação de um trabalho aturado
que demorou cerca de 30 anos a cumprir-se e que pode agora ter
terminado)! Outros prazeres: ainda nos filmes de animação, Kung Fu Panda!
E por fim os mais importantes de todos: conversar com os amigos e
aprender coisas novas todos os dias, e estar com a família e com ela
ganhar asas e voar pela alegria de viver!
E
a "cidade" não se interessou por vir ouvir, tal como já fez noutras
ocasiões, aquilo que eu tenho para dizer. Dizem-me que estreou um filme
popular português! Talvez a cidade por lá estivesse a cultivar-se.
Enfim, resta-me continuar a falar mais e mais e a escrever ainda mais e
mais! Quem sabe, um dia até podem ter o azar de tropeçar numa das minhas
frases.
A
vida de um dia! Cansado, constipado, com febre e com uma garganta
completamente desnorteada, lá voltei, depois de mais um chá e de mais
dois dedos de aprendizagem em contexto de conversa, rumo a casa, onde a
noite já ganhara o desafio e o sono tinha conquistado o carácter estóico
de uma família que espera por mim e me afaga com a sinceridade dos dias
bons e dos dias maus.
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