O debate acerca dos incêndios de 2017
ainda não saiu à rua. De facto, a imensa turba barulhenta que se tem
ouvido é exclusivamente partidária e com intenções claramente
eleitoralistas. Foi-o antes das autárquicas e é-o já (e isto é de louvar
nos partidos mais activos) na preparação das eleições de 2019.
Arrisco-me a dizê-lo, houvesse uma pró-actividade tão grande destes
putativos governantes no tratamento da res publica, quando são efectivamente governantes e deputados e outras coisas, e viveríamos descansadamente num país perfeito.
Depois da pequena introdução, gostaria
de fazer uma pequena declaração: sou um homem livre no uso e abuso da
minha vontade expressiva e na reflexão temática, não sendo dado a
preferências partidárias ou de outra índole. Digo isto porque penso que
as demissões compulsivas não funcionam e que as mesmas têm de ter um
fundamento que vai para além da emotividade própria dos momentos
trágicos ou da aparente constatação de fracassos de modelos. Onde quero
chegar com isto? Quero dizer que a cosmética não tem qualquer efeito na
efectivação de medidas e que a demissão de responsáveis governativos não
adianta nada de nada. Provas? O que disse o autarca de Pedrógão Grande
depois do dia 17 de Junho? Disse que os Planos de Emergência não serviam
para nada, pois seriam, no seu entendimento, teoria que ninguém lê e
ignorou a sua real aplicação. Como ele, quantos não dizem e não fizeram o
mesmo? Convém recordar os mais incautos, os menos atentos e os que não
vão além do horizonte da sua casa, que o responsável máximo ao nível dos
concelhos na área da Protecção Civil é o Presidente da Câmara. Deverá,
portanto, caber a este a gestão e monitorização de tudo o que puder ser
tido como risco e de todos os intervenientes na actividade de prevenção
ou resolução desses riscos. Faço um desafio aos leitores: se o não
souberem já, perguntem nas Câmaras Municipais dos vossos concelhos
quantas reuniões das Comissões que preparam as medidas a aplicar ao
nível da prevenção de riscos e do combate aos mesmos riscos houve
durante este ano. E tentem saber quais as decisões que foram tomadas e
efectivadas no terreno. E, já agora, tentem também perceber junto das
Juntas de Freguesia (as actas das Assembleias serão uma boa fonte de
informação) se houve a necessária comunicação de riscos existentes para
os gabinetes concelhios.
Quem ouve, através da comunicação
social, todos e cada um a falar sobre a falência do Estado na defesa de
povoações e de pessoas, e tende a acusar qualquer Ministro e
incentivá-lo a demitir-se, deve pensar naquilo que não fez!
Quem fala, nos mesmos canais, nos
pedidos feitos ao Presidente da República ou a Secretários de Estado ou à
“virgem Maria” para enviar meios para os seus concelhos e durante a
ocorrência anda a dar beijinhos e abracinhos pelo meio das ruas das
aldeias a arder, deve pensar naquilo que não fez e naquilo que deveria
estar a fazer para minimizar os estragos!
Quem acusa, seja comunicação social,
comentadores, opinadores ou candidatos a tantos lugares ricamente
emplumados, deve pensar naquilo que não fez e naquilo que fez enquanto
as povoações ardiam, e na informação que poderia disponibilizar às
povoações e não disponibilizou!
Para termos razão no apontar de dedo que
fazemos aos outros, sejam bombeiros, sejam operacionais de outras
forças, sejam ministros, sejam presidentes de autoridades ou de outras
instituições, temos de ter a certeza de tudo termos feito da nossa parte
para impedir que a desgraça acontecesse. E isto não aconteceu!
Por tudo isto, e usando a estratégia de
tantos e até do Sr. Presidente da República, pergunto agora eu aos
Senhores Presidentes das Freguesias e Senhores Presidentes das Câmaras: Quando
vão assumir a vossa responsabilidade em tudo o que aconteceu e assinar a
vossa carta de demissão? Ou não há dignidade da vossa parte?
P.S. – A aldeia onde vivo, sim, também esteve debaixo de fogo no dia 15 de Outubro de 2017.
Moimenta da Serra (Gouveia), 20 de Outubro de 2017
Daniel António Neto Rocha