Para ler o artigo "Tenho uma Pedra na Cabeça no lado anterior frontal ou nada disto,
de Daniel António Neto Rocha: uma educação pela pedra ou a cartilha muda", de Jorge Costa Lopes, é favor carregar AQUI .
segunda-feira, dezembro 24, 2018
quarta-feira, dezembro 12, 2018
Comunidade de Leitores de Gouveia, dia 15 de dezembro de 2018, às 15h
Tenho uma Pedra na Cabeça – no lado esquerdo anterior frontal ou nada disto de Daniel António Neto Rocha é o próximo livro a ser debatido pelos elementos da Comunidade de Leitores de Gouveia (C.L.G.), em sessão marcada para o dia 15 de dezembro, pelas 15h30m, na Biblioteca Municipal Vergílio Ferreira.
A escolha deste livro de poesia de um autor nascido na Guarda, mas que
vive, há já algum tempo, no concelho de Gouveia, partiu de um convite da
Professora Cristina Robalo Cordeiro para que, numa das
sessões da C.L.G., fosse debatido um escritor do concelho, de modo a
inseri-la no Plano Nacional de Leitura (PNL Ler + Ciência). Desta forma,
após o entusiasmante Encontro da C.L.G., em setembro passado, em que
foram discutidos dois livros de poemas de João Rebocho, os leitores
gouveenses regressam à poesia e a um autor do concelho.
(Informação da Comunidade de Leitores de Gouveia)
sábado, dezembro 08, 2018
Pensalamentos #286 - provérbios e expressões idiomáticas
em nome de coisa alguma
em nome da modernidade
em nome do crenças modernas
em nome de qualquer coisa
em nome disto ou daquilo
em nome da nova verdade
em nome disso
pobre cultura...
apagada pela máquina moderna
a caminho do nada
e do continuar a dar as pérolas a cada vez mais porcos
em nome da modernidade
em nome do crenças modernas
em nome de qualquer coisa
em nome disto ou daquilo
em nome da nova verdade
em nome disso
pobre cultura...
apagada pela máquina moderna
a caminho do nada
e do continuar a dar as pérolas a cada vez mais porcos
terça-feira, novembro 27, 2018
12. Crónicas Silenciosas - da ingratidão
A vida e a morte têm destas coisas simples e inexplicáveis ou, se preferirem, complexas e impensáveis. Digo que são a vida e a morte para não dizer que são a malícia e a ignorância, que são o fruto mais comum dos chãos que pisámos comummente.
Está por horas o momento que, em parte da nossa vida, olhámos como destino e como ponto de chegada para uma missão que abraçámos. Está por horas aquilo pelo qual és responsável. Mais uma das "coisas" que deste desde que partiste da terra onde crescemos.
Apesar de tudo aquilo que lhes deste, e de todos saberem que tu lhes deste, todos te esqueceram e todos fingem nem teres existido. Aliás, hoje usarão o teu nome como mero adorno ao discurso laudatório ao Doutor X e ao Doutor Y que fizeram nem se sabe bem o quê nas sombras. Hoje, teremos gente que se elogiará e que te esquecerá. Hoje, não foste convidado, pois já és descartável como é a tua família.
Hoje, nenhum dos que fazem parte da tua pele estarão por perto (como desejaram os que te vêem como estorvo). De tantos convites feitos, esqueceram-se de ti. Isso só diz uma coisa: querem apagar a tua memória. Hoje, tentam apagar a tua memória, mas esquecem-se que é ela que preenche todos os espaços. Hoje, enquanto os falsetes contaminarem vozes que te (se ainda houver um pouco de vergonha!) lembram, não há espaço para a ignorância e para a malícia.
Hoje, dos oportunistas falará o presente, mas encontrar-nos-emos honrados para todo o futuro.
terça-feira, novembro 20, 2018
11. Crónicas Silenciosas - estou farto de velórios!
"Não gosto de ser triste!", repito eu com demorada insistência nas curvas da vida. Talvez todos digam o mesmo ou o digam com maior certeza gramatical. Pois eu, não gosto mesmo de ser triste! Seja no sentido de viver imerso numa cruel e desumana desumanidade, que trate os outros como seres inferiores ou meros pedaços de lixo. Ou, então, no sentido de respirar a vida com demasiado verdete (à maneira de um choraquelogobebense) produzido pelos excedentes de matéria lacrimal.
Vem tudo isto a respeito dos múltiplos lugares de trabalho onde o silêncio tumular invadiu as salas de coabitação e onde, por vezes, o único som que se ouve é o do lento arrastar das cadeiras para não perturbar quem descansa, cedo de mais, num "eterno descanso" à maneira moderna. Gosto de barulho, de conversa e de uma dose de loucura que invada as almas e os espíritos de todos, e os levante da antecipada missa de corpo presente. Estou farto de velórios! Estou farto de amizades que se vão cedo de mais, de amor que é levado sem a minha autorização e de sorrisos que se apagam e não volto a ver.
Não, não e não!
Desatem as amarras da loucura sadia e deixem-na vogar em torno de nós. Loucos, sim loucos! Loucos por viver longe do silêncio de prisões e de obrigações de vida respeitável. Loucos por viver com o sorriso perene preso nos lábios e nos recusarmos a largá-lo. Loucos, sim loucos, porque sim e sem justificações maiores do que o simples facto de estarmos vivos e gostarmos de estar vivos.
quarta-feira, novembro 14, 2018
Crónica ao Professor Tó Zé
Esta crónica já existe há muitos anos e pertencerá ao meu livro (que está à espera de um mecenas que possibilite a sua publicação ou de melhores dias monetários da minha parte) de crónicas chamado "A(l)titude Crónica". O prefácio a este livro de crónicas já está feito pelo Pedro Dias de Almeida, o filho deste amigo a quem dediquei este texto.
O Professor António José Dias de Almeida (o meu amigo Professor Tó Zé) é um incontornável da minha vida e... um exemplo de luta e de dedicação a este mundo da literatura. Será homenageado pela Câmara da Guarda, mas não esqueçamos que já o foi há muitos anos atrás pelo, então Presidente da República, Jorge Sampaio.
Aqui fica a crónica que, em Fevereiro de 2012, lhe dediquei:
Crónica ao Professor Tó Zé ou do Prémio Café Mondego
2011
1. Estávamos
já nos últimos anos do milénio anterior quando eu e o Armando desatámos à “porrada”
em pleno corredor. Éramos, por esses dias, alunos do terceiro ciclo no Liceu e,
acabadinhos de fazer a Telescola em Famalicão, chegávamos à Guarda com
propósitos um tanto ou quanto enevoados – nem nós sabíamos bem o que queríamos,
nem aquele espaço parecia oferecer-nos nada daquilo que nos estava destinado. “Putos”
da aldeia, meio “gandins” e com alguns problemas em aceitar que nos apelidassem
de “ruras”, vingámo-nos um no outro, não sei bem porquê. Penso que nunca mais
trocámos mimos idênticos, apesar de, com toda a certeza, termos trocado mais
algumas palavras azedas. Por esses dias, pelos cantos da mítica escola de
Vergílio Ferreira, eram contadas histórias inacreditáveis sobre um bando de
malfeitores que possuía um título pomposo: os alunos da turma H. Como seria de
esperar, nós pertencíamos a essa turma. Pois bem, entretidos na troca de
galhardos murros misturados com sublimes pontapés, não reparámos no amontoar de
professores e funcionários que se afastavam, temendo aqueles dois monstros que
se digladiavam. Ali estivemos em agradável esbofetear alguns minutos até que um
desconhecido apareceu e nos separou, enquanto nos dedicava palavras plenas de
boas intenções. Foi a primeira vez que eu o vi e nunca mais lhe esqueci o rosto.
Claro está que a vergonha de não termos terminado o combate não tinha espaço
para vingar no seio de tão vil turma e as horas seguintes foram plenas de
elogios retumbantes: “Grande esquerda!”; seguido de “Fantástica direita!”; depois
o “Parecias o Undertaker!”; e por fim o mítico “Aquele carrinho foi melhor do
que o do Paulinho Santos!” O pior é que estava para vir, e depressa! Foi logo
no Domingo seguinte. Nesse tempo, cometia os pecados na escola e confessava-os
na missa dominical, onde era também acólito. E, claro, o Armando também. No
preciso momento que se seguia ao “Ide em paz”, lá ia eu rua fora quando vejo a
figura, risonha, do pacificador da minha disputa semanal. Fiquei boquiaberto!
Ele? Aqui? Vim a saber minutos mais tarde que era natural de Famalicão e ouvi
pela primeira vez o seu nome: António José Gouveia Dias de Almeida ou, num
registo muito mais familiar e amigável, o Professor Tó Zé. Como é óbvio, para
um puto com aquela idade, era preciso evitar conversas para que ninguém viesse
a saber da tarde de violência, mas o seu nome nunca mais desapareceu da minha
memória. Ainda para mais depois de saber da extrema afeição que ele sempre teve
pela minha família materna.
2. E foi já no meu décimo
segundo ano, em 1999, que voltei a falar deste caso com o meu, então, Professor
de Português. Ele riu-se divertidíssimo, por certo do número incontável de
disputas que tivera de serenar nos anos anteriores e que faziam com que o nosso
“combate da década” não passasse de um entre muitos que ele presenciou. Sempre
profissional e tremendamente exigente, ensinou literatura e língua como quem se
deleita com o néctar dos deuses; aconselhou leituras que nos faziam crescer o
intelecto; e formou homens e mulheres que tinham como fundamento principal uma
contínua humanidade. Quando terminou o ano, superei a sua expectativa no exame
nacional e, também culpa dele, decidi dedicar-me às letras portuguesas. O certo
é que me tornei seu amigo e seu admirador, sempre interessado num seu conselho
e em mais um dos seus ensinamentos. Por causa desta amizade crescente,
lembro-me da primeira vez em que, numas férias de Verão em Famalicão, em 2001
ou 2002, eu e o meu irmão Sérgio, também seu aluno, recebemos um convite para
tomar café por parte do saudoso Professor Hipólito, pai do Professor Tó Zé.
Passámos então a ser conhecidos como “os amigos do Tó Zé”! E o certo é que
durante alguns anos, nas férias de Verão em que trabalhávamos nos bombeiros,
era ponto assente que o café semanal era entre o pai e os amigos do Tó Zé. E
foi muito bom viver esses dias, até que os tempos tristes que correm como um
vento tempestuoso nos roubaram, primeiro ao Professor Tó Zé e, um par de anos
mais tarde, a mim, estas companhias tão agradáveis para ambos.
3. Mas
toda esta recordação vem a propósito da recente consagração deste meu sincero
amigo como o vencedor do Prémio Café Mondego 2011, criado em boa hora por
Américo Rodrigues. É um pequeno prémio, sem direito a jornais ou televisões,
mas é o único que olha para o trabalho real dos premiados e para a sua
constituição moral e ética, não embandeirando em propósitos políticos, como o
fazem e fizeram outros entregues recentemente pela Guarda. Ao Professor Tó Zé,
que eu saiba, é este o único reconhecimento público que a nossa cidade já lhe prestou,
apesar da intensa e preciosa colaboração que este homem lhe tem dedicado ao
longo dos anos. Na sua aldeia natal, o panorama é o mesmo e nenhuma entidade o
parece querer reconhecer. A mim, como certamente a outros, tem ele dado alento,
tempo e saber, nunca exigindo nada em troca. Por tudo isto e pela honesta
emoção com que sempre se dedica à vida, tenho que deixar ao Senhor Comendador
da Ordem da Instrução Pública as minhas palavras de apreço num tom emocionado:
“Parabéns, Professor Tó Zé!”
Guarda, 06 de Fevereiro de 2012
Daniel António Neto Rocha
domingo, outubro 21, 2018
10. Crónicas Silenciosas - o conforto de ter uma família
1. A vontade de prejudicar ou de fazer mal ao outro faz parte do ADN de muitos e terá, certamente, uma raiz profunda na incapacidade de pensar que um dia nos podemos encontrar sozinhos, com frio e a precisar de um qualquer acto voluntário do outro. Porém, como acima referi, o ADN, ou a raiva ou a simples vontade de querer "morder" no outro, provoca a alucinada visão da sobranceria e do grande poder.
A análise ao percurso de muitos destes pequenos e fervorosos adeptos da contenda contínua (que é o mesmo que dizer: gente que se baba quando fala e que parece estar sempre prestes a sofrer uma apoplexia) revela que se rodeiam sempre de fervorosos seguidores. O facto de haver fervorosos seguidores não é mau por inteiro. O que será mau é que estes mesmos seguidores são (já dizia o Padre António Vieira) rémoras que têm como única intenção "alimentar-se dos restos do maior". E é nisso que se baseia a missão desses muitos, profundamente atraentes na arte de bem dividir: dar o que os outros esperam ou aspiram receber. Este acto de "orgia alimentar" junta os alegres comensais até ao dia em que um e outro, tomando consciência de que algo está mal, se afastam. Oh! Maravilhas do baixíssimo, tal como foram adorados como súbditos eficazes eis que são agora tratados pelo grande e acérrimo grupo como "gentes de mal" e que (dizem de ouvido a ouvido dos primos e colegas orgiásticos) "fizeram muitas maldades".
Mas, como a base dessas pessoas tem uma família que é clara e nada tem a esconder (por exemplo, não tem negócios secretos que impliquem a solidariedade cega de todos), quem fugiu do grupo fervoroso e extremista terá uma aceitação. Isto se, como é óbvio, a intenção de quem regressa ao leito familiar for a integração no mesmo leito e a concórdia (não feita com paninhos quentes e com o jogo do esconde-esconde, mas com diálogo sério e não predeterminado).
2. Há muitos anos, em Alexandria (no Egipto), Hypatia é morta por fervorosos cristãos (encabeçados por Cirilo) que a acusavam de bruxaria. Hypatia era "só" professora e entusiasta de matemática, astronomia, filosofia, religião, poesia, artes, oratória e retórica. Educava várias facções, entre cristãos e não cristãos, e acreditava que a educação de todos serviria para criar um ambiente de convivência e respeito entre todos, onde o diálogo (lembro-me sempre do "Banquete", de Platão) e a aprendizagem mútua seria o motor daquela sociedade. No entanto, a ausência de diálogo entre os "donos da verdade cristã" e os outros ganhou. Hypatia morre apedrejada, maltratada, difamada e acusada de "centenas" de crimes. Hypatia morre por ser alguém que pensava de forma diferente dos outros, o grande e ganancioso grupo, acrescento eu. A morte de Hypatia, segundo alguns dos maiores especialistas das áreas que ela ensinou e desenvolveu, originou a decadência intelectual de Alexandria e o fim do diálogo entre facções. Hypatia tinha, supostamente, alguns amigos. Hypatia não tinha já família. Hypatia não foi responsável pela decadência que se gerou.
3. Em suma: não nos devemos queixar de não florir uma flor no nosso jardim quando andámos com o herbicida atrás das poucas que floresciam; não devemos também esquecer que as decisões que tomamos, em favor de uns e contra os outros, terão continuidade; não devemos esquecer que a família tem raízes de ferro, que nos assegurarão algum suporte, mas não podemos andar a fundir o mesmo ferro e esperar que ele não sofra.
terça-feira, setembro 18, 2018
09. Crónicas Silenciosas - é como morrer, mas mais difícil!
Fechamo-nos, tantas e tantas vezes, no casulo da esperança à espera do dia em que das fontes jorrem rios de mel e em que dos céus desça a cura para a mais vil das doenças. Apesar deste (aparente) afastamento da "vida real", sabemos que a terra prometida nunca chegará e que apenas nos estamos a enganar mais alguns minutos ou a perder mais uns segundos de vida.
Chegou o fim. Chegou o dia em que tudo acaba. Chegou o dia em que a missão terminou e em que é hora de mudar de ares.
Traição? Sim, aos meus ideais e ao teu sangue, à tua memória e aos nossos sonhos. Quanto ao resto... Aqueles que merecem o nosso abraço saberão retribuir-nos um sorriso saudoso. Os outros? Que tenham uma boa vida e que engordem, como sempre quiseram, à conta do esforço e do suor de muitos.
Para mim acabou. E como me custa aceitar que acabou. Sinto-me como se morresse, mas com uma dor mais profunda. Peço-te perdão, a ti, mas não consigo.
A canalhice entrou já onde não deveria ter entrado e, por certo, até laços seguros desapareceram.
Adeus!
sexta-feira, março 16, 2018
08. Crónicas Silenciosas - um certo bebedor de hidromel que não é um deus e percebe as abelhas
Há a vida e, depois, há o viver nesta coisa inconstante que é a vida.
Corrupio incessante e vertiginoso que nos obriga a olhar vezes sem conta para o fundo da carteira vazia e para a fome que nos transporta a imaginação. Centro de tudo, os nossos passos encaminham-se mecanicamente na direcção do que é certo mas errado, trunfo aparente que é derrota na certa.
A vida. A vida, por vezes, mostra-nos o lado mais sábio de tudo ao virar de uma esquina, no topo de um penhasco ou no meio de uma aldeia perdida no atlântico.
A vida das abelhas, manifesto reaccionário contra o fim do mundo, inserida em histórias de deuses, de anjos, de imperadores e de Don Juans improváveis. A sede de viver, intensamente, como dança ziguezagueante num qualquer lago de cisnes perdido numa floresta tropical e desconhecida, quem sabe visitada por seres mágicos durante o passado.
Equilíbrio maior em vida menor, o pólen da vida movimenta-se improvavelmente e culmina em lágrimas de álcool no copo sedento da minha mão. A vida líquido do copo que na mão tenho, como Zeus passando a imortalidade para a minha existência.
Hidromel autoritário perdido na Atlântida a poder ser e encontrado como voam as abelhas em busca de vida maior... Intermitentemente.
sexta-feira, outubro 20, 2017
Crónica Bombeiros.pt: Senhor Presidente, demita-se!
O debate acerca dos incêndios de 2017
ainda não saiu à rua. De facto, a imensa turba barulhenta que se tem
ouvido é exclusivamente partidária e com intenções claramente
eleitoralistas. Foi-o antes das autárquicas e é-o já (e isto é de louvar
nos partidos mais activos) na preparação das eleições de 2019.
Arrisco-me a dizê-lo, houvesse uma pró-actividade tão grande destes
putativos governantes no tratamento da res publica, quando são efectivamente governantes e deputados e outras coisas, e viveríamos descansadamente num país perfeito.
Depois da pequena introdução, gostaria
de fazer uma pequena declaração: sou um homem livre no uso e abuso da
minha vontade expressiva e na reflexão temática, não sendo dado a
preferências partidárias ou de outra índole. Digo isto porque penso que
as demissões compulsivas não funcionam e que as mesmas têm de ter um
fundamento que vai para além da emotividade própria dos momentos
trágicos ou da aparente constatação de fracassos de modelos. Onde quero
chegar com isto? Quero dizer que a cosmética não tem qualquer efeito na
efectivação de medidas e que a demissão de responsáveis governativos não
adianta nada de nada. Provas? O que disse o autarca de Pedrógão Grande
depois do dia 17 de Junho? Disse que os Planos de Emergência não serviam
para nada, pois seriam, no seu entendimento, teoria que ninguém lê e
ignorou a sua real aplicação. Como ele, quantos não dizem e não fizeram o
mesmo? Convém recordar os mais incautos, os menos atentos e os que não
vão além do horizonte da sua casa, que o responsável máximo ao nível dos
concelhos na área da Protecção Civil é o Presidente da Câmara. Deverá,
portanto, caber a este a gestão e monitorização de tudo o que puder ser
tido como risco e de todos os intervenientes na actividade de prevenção
ou resolução desses riscos. Faço um desafio aos leitores: se o não
souberem já, perguntem nas Câmaras Municipais dos vossos concelhos
quantas reuniões das Comissões que preparam as medidas a aplicar ao
nível da prevenção de riscos e do combate aos mesmos riscos houve
durante este ano. E tentem saber quais as decisões que foram tomadas e
efectivadas no terreno. E, já agora, tentem também perceber junto das
Juntas de Freguesia (as actas das Assembleias serão uma boa fonte de
informação) se houve a necessária comunicação de riscos existentes para
os gabinetes concelhios.
Quem ouve, através da comunicação
social, todos e cada um a falar sobre a falência do Estado na defesa de
povoações e de pessoas, e tende a acusar qualquer Ministro e
incentivá-lo a demitir-se, deve pensar naquilo que não fez!
Quem fala, nos mesmos canais, nos
pedidos feitos ao Presidente da República ou a Secretários de Estado ou à
“virgem Maria” para enviar meios para os seus concelhos e durante a
ocorrência anda a dar beijinhos e abracinhos pelo meio das ruas das
aldeias a arder, deve pensar naquilo que não fez e naquilo que deveria
estar a fazer para minimizar os estragos!
Quem acusa, seja comunicação social,
comentadores, opinadores ou candidatos a tantos lugares ricamente
emplumados, deve pensar naquilo que não fez e naquilo que fez enquanto
as povoações ardiam, e na informação que poderia disponibilizar às
povoações e não disponibilizou!
Para termos razão no apontar de dedo que
fazemos aos outros, sejam bombeiros, sejam operacionais de outras
forças, sejam ministros, sejam presidentes de autoridades ou de outras
instituições, temos de ter a certeza de tudo termos feito da nossa parte
para impedir que a desgraça acontecesse. E isto não aconteceu!
Por tudo isto, e usando a estratégia de
tantos e até do Sr. Presidente da República, pergunto agora eu aos
Senhores Presidentes das Freguesias e Senhores Presidentes das Câmaras: Quando
vão assumir a vossa responsabilidade em tudo o que aconteceu e assinar a
vossa carta de demissão? Ou não há dignidade da vossa parte?
P.S. – A aldeia onde vivo, sim, também esteve debaixo de fogo no dia 15 de Outubro de 2017.
Moimenta da Serra (Gouveia), 20 de Outubro de 2017
Daniel António Neto Rocha
quinta-feira, agosto 31, 2017
07. Crónicas Silenciosas – E depois do depois?
Todos, não os seres vivos na sua totalidade, mas todos nós, homens e mulheres deste mundo, temos como desígnio olhar para quem nos olha e imaginar o que pensa aquele ou aquela que nos olha. Não será, no completo do grupo olhado, um grande problema ou uma grande satisfação, mas tendemos, seres umbilicais que somos, a querer ser atenção e foco. Muito ou pouco desejosos, aspiramos a que pensem em nós e gostem daquilo que fazemos. É humanamente natural e, creio-o, desejável que assim seja.
Também eu tenho este vício de gostar de ser olhado e discutido, para o bem o para o mal, dentro da cabeça daqueles que me rodeiam ou que me olham. Penso até que, loucura minha que espero possa não ser lida por psicanalistas ou entes próximos destes, é salutar para quem olha fazer o exercício de apreciação daquele para o qual olha com admiração, desejo, pavor ou ódio. Claro está que no "objecto vivo e pensante" admirado podem estar todas as classes sociais, todos os feios, todas as beldades, todas as profissões e até quem passa pelo mundo como respiração impensada e automática. Tudo o que é vivo e mexe é digno de ser apreciado, diz o filósofo Rocha D..
E depois? Sim, e depois do depois? Aí, como é ou como será o registo do olhar, o tom da lembrança ou o ritmo da respiração? Sim (e sorrio), como será quando eu for simples matéria orgânica? Qual será o olhar do vazio antes imagem? Qual será a lembrança de gestos, de atitudes e de existência?
Interrogo-me sem a necessidade de que alguém me responda, para além de mim próprio. o dia de depois do depois, o dia de depois da existência material, o dia de depois da vida...
Alguém gastará dois segundos do seu tempo a lembrar aquele amigo, inimigo, conhecido, desconhecido, vizinho, ser que passou por ali?
O Nuno Costa Santos lembrava há dias um amigo que morreu e lembrava-o sem floreados ou excesso de dramatismo. Lembrava-o como o amigo que foi e se mantém para si presente.
E eu? Terei quem escreva simplesmente que um dia existi?
domingo, julho 09, 2017
Crónica Bombeiros.pt: Sérgio, desculpa-me! Onze anos passaram e continuo a falhar.
Sérgio, passaram onze anos. Onze anos desde que tu partiste
e onze anos em que eu prometi a mim mesmo que não permitiria que mais ninguém
passasse por aquilo que nós, os que ficámos, passamos ainda hoje. Fui demasiado
crente na minha pequena capacidade para mudar o mundo e acreditei que o mundo,
o nosso mundo português, também quisesse mudar a bem de todos. Enganei-me!
Ninguém me quer ouvir, ninguém se quer preocupar, ninguém quer resolver coisa
nenhuma, ninguém abdica do seu conforto pessoal em benefício de todos, ninguém
parece importar-se connosco, aqueles que ficam.
Sérgio, no ano passado, por esta altura, houve um alto
representante dos bombeiros, daqueles que os formam, que disse que o que nós
fazemos aqui no nosso berço, mostrando a quem quer aprender os teus últimos
passos, “não adianta, não traz nada novo, está ultrapassado, pois nós [a Escola
Nacional de Bombeiros] fizemos centenas de formações onde abordamos este tema”.
Outro, presidente da Liga, acabou por dizer que “isto é feito por duas pessoas
e não é necessário”. Estás a rir-te, não estás? Eu sei que sim. Sabes que eu
continuo a ser bombeiro e, nestes onze anos, apenas ouvi falar do acidente de
Famalicão da Serra em contexto de formação aqui nas nossas Jornadas? Sim,
Sérgio, sei que sabes e sei que nada podes fazer para o mudar… Quem pode, não o
quer fazer. E quem acaba por pagar são os mesmos, os que não têm voz (mas têm
braços, e cansaço, e determinação, e vontade de ajudar, e família).
Sérgio, desculpa-me! Falhei! Onze anos falhados na procura
de melhorias que impedissem o sofrimento das pessoas, de bebés… Desculpa as
lágrimas, mas não suporto esta sensação de falhanço. A culpa é minha, pois não
consegui resolver nada. Não consegui fazer com que as pessoas aprendessem mais
e melhor, não consegui que as leis fossem cumpridas, não consegui que os nossos
governantes percebessem que a sua acção ou inacção faz com que pessoas morram,
não consegui nada… apenas consegui falhar.
Sérgio, onze anos… nunca me demiti desta missão de mudança,
nunca desisti, nunca percebi que não havia nada a fazer nem que tudo já está
feito.
Sérgio, pedi, no ano passado por esta altura, ao Secretário
de Estado que não fizesse promessas, que dissesse à Ministra que não fizesse
promessas, que levasse esta mensagem ao Primeiro-Ministro: “Não prometa aquilo
que não pode cumprir! Preferimos que trabalhem para realizar algo, não que
prometam esse mesmo algo!”. Não pedi a ninguém que se demitisse, apenas pedi
mais acção e menos promessas.
Sérgio, passaram onze anos e ninguém parece querer admitir
que todos nós falhámos na nossa obrigação de proteger os outros, e que só em
conjunto e admitindo com humildade as nossas falhas é que podemos TODOS fazer
mais e melhor.
Subscrever:
Mensagens (Atom)