(Foto de Sérgio Cipriano/ Bombeiros.pt) |
1. Bastaram duas semanas de calor intenso e de (é
minha crença) actividades negligentes e criminosas para que não fossem só as
matas e pinhais do país a ficarem incendiadas. Também as línguas e vontades dos
altos responsáveis desta coisa dos bombeiros ganharam nova força e começaram a
disparar numa única direcção: a subida, rápida e em força, na hierarquia económica
e política. Mas, comecemos pelo fim, ou seja, por estas últimas horas de
grandes incêndios que, segundo o senhor Ministro da Administração Interna logo
depois secundado pelo senhor Presidente da Associação Nacional de Bombeiros
Profissionais (ANBP), se devem a uma não racionalização de meios (???). Ou
seja, o problema, para estes senhores, deve-se a uma existência exagerada de
meios que não são aplicados com exactidão nos respectivos incêndios. Pelo menos
foi também isto que percebi. Pois bem, tentando perceber melhor esta conjugação
de palavras governamentais com as palavras profissionais do senhor presidente
da ANBP, cheguei à triste conclusão de que a realidade do interior do país é
completamente desconhecida por parte destes excelentíssimos senhores. Algum
destes senhores terá perguntado aos centros distritais quantas ocorrências de
incêndios têm durante um só dia de trabalho? E já algum destes senhores se deu
ao trabalho de perceber os meios complementares (máquinas de rasto, por
exemplo) que não existem para um combate poder ser mais efectivo? Sim, estou a
ler as palavras ditas e trazidas na comunicação social de forma localizada e,
se calhar, não coincidentes com as intenções finais destes senhores, mas não me
parece que esteja longe daquilo que eles pretendem. Limando um pouco estas
constatações, permitam-me que conclua duas coisitas que gostava que estivessem
na mente do senhor Ministro quando disse aquilo que disse perante os
jornalistas: primeiro, ele estava a falar do desaparecimento do Grupo de Intervenção,
Protecção e Socorro (GIPS) enquanto força que duplicava aquilo que já existia e
que foi, digamo-lo, um gasto exagerado de dinheiros públicos em nome de uma
qualquer vontade política; segundo, ele fez uma comparação (generalização)
despropositada entre o elevado número de operacionais e de meios que é possível
colocar nos vários Teatros de Operações (TO) do país, sabendo nós que na região
de Lisboa podemos no espaço de 1 (uma) hora colocar facilmente num incêndio
florestal 300 (trezentos) homens e sabendo nós também que isso é uma missão
impossível de concretizar em qualquer outra área do país (talvez após uma
dezena de horas de incêndio isso seja possível). As leituras destes dois pontos
ficam em aberto para as considerações dos senhores leitores.
2. Outra das questões que por estes dias veio a lume
foram os acidentes na frente de incêndio. Comecemos, outra vez, pelo fim. Na
região de Penacova deu-se, naquilo que está relatado e que eu pude ler, um
pequeno milagre. O senhor Presidente da Liga, no entanto, chamou-lhe
“sangue-frio”. Pois bem, parece-me que teremos os dois um pouco de razão, mas
(sem estar a ser arrogante) penso que tenho um pouco mais de razão do que ele.
Porquê? Porque o caminho que escolheram foi dar ao sítio certo. Elementar, não
é? Sim, imaginem só que o caminho que escolheram e que o “sangue-frio” que eles
tiveram os levava para um beco sem saída criado pelo incêndio? Sim, senhor
presidente da Liga, as nossas decisões contam muito, mas também conta a
conjugação de factores que não depende de nós. Em todo o caso, não há ninguém
que fique mais feliz com o desfecho do incêndio de Penacova do que eu.
3. Por fim, volto devagar e com um sentimento de
solidariedade imenso aos dias tristes de Miranda do Douro e às faces de todos
aqueles que deixaram de ter motivos para sorrir. Não tenho a intenção de dar
conselhos ou recomendar qualquer paliativo, pois sei que as palavras que possa
dizer aos familiares do António Ferreira ou aos seus companheiros não
significam muito. Quero, portanto, virar-me para todos aqueles que serão
essenciais no futuro próximo e que, a faltarem, farão com que a vida se
transforme num sítio terrível para se habitar. Quero, então, virar-me para as
famílias de todos os bombeiros e para as comunidades de Miranda do Douro, e
pedir-lhes uma coisa muito simples e que não custará qualquer soma ou esforço:
estejam presentes e, quando sentirem que é hora, dêem uma mão, um abraço ou uma
palavra de conforto a quem, não o pedindo, o precisará.
Figueira da Foz, 13 de Agosto de 2013-08-13
Daniel António Neto Rocha
1 comentário:
http://trepadeira-trepadeira.blogspot.pt/2013/08/guarda-arder.html
Abraço,
mário
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