terça-feira, julho 16, 2013

Pensalamentos #97 - a olhar para a Guarda

 
(Uma luz na floresta negra - Óleo sobre tela - de Daniel Martins)

De facto, as cidades são seres inesperados e amorfos, onde qualquer lógica moral perde o sentido mal interesses superiores se mostram. Quem pensaria que delas poderia sair algum tipo de exemplo moral, ao bom estilo dos heróis que cavalgam a terra em busca do bem supremo (veja-se por exemplo a literatura sobre a Demanda do Graal), está hoje, como eu, plenamente convencido de que, mais do que seguir aquilo que realmente se sente e pensa, ela, a puta suprema e agregadora de poderes e de saberes, é falsa e interesseira. Talvez haja mesmo necessidade, perante este novos desenvolvimentos da cidade pardacenta, de questionar a sociedade de hoje se foi realmente benéfica para a população dita normal a passagem de um regime ostracizador para um regime de controlo nas sombras e ligeiramente aberto ao diálogo. Estas cidades de hoje (não lhes chamarei polis pelo conhecimento histórico sobre o funcionamento e a hierarquização daquele nome grego) são apenas carcaças quase putrefactas onde os abutres pousaram as garras e onde vão, ciclicamente, debicando as últimas amostras de vivência salutar. É nesta cidade, cheia de ruas escuras e de duvidosas palavras de liberdade, que eu me apercebo da demagogia e do engano consciente que muitos assumem. É esta cidade que me enche de raiva e de desilusão, e que me afasta de quem um dia olhei como uma lanterna que servia de guia pela escuridão dos tempos. É nesta cidade que caminho sozinho. 

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