Não tenho por hábito dar resposta a provocações vindas de quadrantes que não se regem por ideias próprias, mas, visto que para mim a Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Famalicão da Serra (AHBVFS) é e será sempre um assunto com contornos afectivos fortes e sérios, decidi publicamente exercer um direito de resposta que se justifica tendo em conta a provocação que foi dirigida nas páginas deste jornal tanto a mim como a outras pessoas. Essa provocação cobarde, pois dirigida através dos jornais, de falta de “coragem para apresentar uma lista”, resulta da não-aceitação, pela minha parte e por parte de outros, da votação sem discussão (naquele espaço e naquela hora) da compra de um edifício que, supostamente, se destinava a ser convertido num quartel.
No jornal A Guarda de 26 de Março de 2009, na página 7, surge em grande destaque a notícia com o título ”António Fontes recandidata-se à direcção dos Bombeiros”. No seu corpo, surgem, para além da acusação “corajosa” acima citada, várias contradições e referências que demonstram um conjunto de processos duvidosos e plenos de infracções às regras democráticas de eleição. Senão vejamos:
1– Logo no primeiro parágrafo, o autor do artigo refere: “ (…) António Fontes recandidata-se à direcção da colectividade após verificar que não se apresentou nenhuma lista concorrente ao acto eleitoral (…) ”. Recandidata-se após verificar que não se apresentou nenhuma lista concorrente ao acto eleitoral? Segundo estas palavras, e dadas as regras democráticas de apresentação de listas, o candidato (já eleito no momento em que escrevo) terá entregado a sua lista depois do prazo permitido por lei!
2– No segundo parágrafo, o artigo continua e dá a resposta à dúvida anterior. “ (…) A entrega das listas terminou no dia 12 deste mês (Março) e, tendo em conta que não foi apresentada nenhuma candidatura, a direcção anterior, liderada por António Fontes, entregou uma lista «para evitar que a Associação caísse num vazio directivo» ”. Em primeiro lugar, não se combate o vazio directivo através de ilegalidades perante os estatutos. Em segundo lugar, o vazio directivo contorna-se através do mesmo processo que intermediou a demissão e as eleições (tal como sucedeu desde o dia 2 de Dezembro de 2008 até ao dia 27 de Março de 2009), e através do adiamento da eleição (havendo, posteriormente, a obrigação moral dos demissionários em marcarem uma Assembleia Geral de discussão da situação em que a Associação se encontra). Logo não haveria nenhum vazio directivo, pois, como se comprova pela candidatura tardia, havia vontade em continuar.
3– Já no terceiro parágrafo é feito o elogio da coragem (?) pessoal. Aparecendo como salvador da pátria (de repente relembro-me de um ilustre personagem político que ficou famoso a partir do 27 de Abril de 1928!), afirma-se o seguinte: “ (…) O dirigente contou ao Jornal A Guarda que a lista «foi feita à última da hora por não aparecer nenhuma», lamentando que os sócios que estiveram na origem da demissão da direcção anterior não tenham tido «coragem de apresentar uma lista, porque foi-lhes dada essa hipótese». ”. Como pudemos ler e agora reler, demonstra-se neste excerto toda a intenção corajosa de uma candidatura isolada. Para além de voltar a demonstrar que a vontade de aparecer como cabeça de lista é superior a uma equipa directiva organizada e pensada para as necessidades da Associação, o dirigente prefere entrar no ataque pessoal. Faz bem. Demonstra ausência de verticalidade (exigível a quem preside a uma Associação Humanitária) e de ética eleitoral. A atitude que é explorada neste excerto é de alguém que acima de tudo quer ganhar. Como (obrigado pelo elogio!) eu, principalmente, e outros, que votaram na proposta de adiamento e discussão da votação, não concordámos com a vontade férrea da Direcção em comprar o edifício em questão sem haver antes uma discussão saudável e profícua (assim o penso!), os órgãos directivos demitiram-se. Porquê? Está visto neste artigo o porquê: o diálogo tem de ser indirecto. Este dirigente recusa a discussão directa dos assuntos e prefere a injúria através dos meios de comunicação social. Aqui lhe dou os parabéns pela “coragem”!
4- Ainda no terceiro parágrafo, lê-se assim: “ (…) Recorde-se que os elementos da direcção da AHBVFS demitiram-se em bloco, no dia 1 de Dezembro de 2008, pelo facto de os sócios não terem concordado com a aquisição de um imóvel para quartel sede.”. Lamento-me eu: oh!, afinal não foi por causa de mim! Então se foi pela não concordância com a aquisição de um imóvel por parte da Assembleia Geral (como neste passo se diz), por que se fala acima (no texto transcrito no ponto 3) da existência de sócios que estiveram na origem da demissão? Sim, meu caro dirigente, pelos vistos a vontade de controlar e decidir isoladamente é o seu forte, mas lembre-se de que vivemos num país onde a Democracia (pelo menos teoricamente) ainda é lei, mesmo em Famalicão da Serra.
5- Não pretendendo transcrever todo o artigo, transcrevo apenas mais um excerto. Diz-se no quinto parágrafo, tentando o autor reconstruir o caminho que levou às eleições, “ (…) De acordo com António Fontes, «como a direcção não pode cumprir com o plano de actividades, pediu a demissão para que essas pessoas [eu e outros] que entendem que deve haver um quartel novo e não uma recuperação, possam tomar conta da associação e cumprirem essa finalidade, porque pela nossa parte não é possível» ”. Afinal de contas parece haver um problema de coerência entre as várias declarações que foram feitas. Naquela altura a causa da demissão terá sido a impossibilidade de cumprir o plano de actividades. Agora a razão ou a causa já se deve a um conjunto de sócios. Decida-se, meu caro, por uma das razões. Isso ajudará na sua capacidade de comunicação, revelando também uma maior coerência de ideias.
Estes são os pontos do artigo que são mais interessantes, pois demonstram de uma forma clara qual é a estratégia e quais são as intenções que parecem nortear a linha programática deste dirigente, infelizmente.
Já agora, dado que nem se preocupou em saber directamente, vou enunciar-lhe as razões que impediram ou desaconselharam uma candidatura pela minha parte:
1-Infelizmente, tenho uma profissão que, neste momento, não me liga a Famalicão da Serra. Felizmente, hoje, trabalho na Guarda, mas amanhã pode ser noutro local. Dava para pertencer a um dos órgãos? Sim, dava, mas pertencer por pertencer não e, também, ninguém me convidou, mesmo “à última da hora”!
2-Como sabe, ou deveria saber, houve um período de candidaturas para construção de Infra-estruturas na Área da Protecção Civil com verbas do Quadro de Referência Estratégico Nacional (QREN), que, curiosamente, se desenrolou desde Dezembro de 2008 até finais de Março de 2009. Curiosamente, as eleições para os órgãos da Associação ocorrem apenas depois desse prazo (a convocação de eleições necessita de um prazo de três meses?). Meu caro, eu não me candidato a nada segundo a vontade de outros ou na altura que convém aos outros. Assumo com coragem as minhas responsabilidades, mas não me candidato a nada para, simplesmente, “encher balões”.
3- Foram sondadas algumas pessoas para que pudesse ser constituída uma lista sólida, desinteressada e alheada de interesses instalados noutros quadrantes. Infelizmente, de algumas dessas pessoas houve uma demonstração de interesse, mas não estavam em condições estatutárias para aceitar. Infelizmente, de outras houve a demonstração de necessidade de afastamento para descansar. Infelizmente, os sócios que estavam interessados são Bombeiros, como sabe, e teriam de afastar-se do corpo activo para integrar os órgãos directivos.
4- Como deixei bem explícito noutro jornal (durante o mês de Dezembro), teria toda a vontade em integrar os órgãos directivos caso viesse a ser necessário. A utilização do conjuntivo deu-me razão, visto que apareceu quem, “após verificar que não se apresentou nenhuma lista concorrente ao acto eleitoral”, se candidatou “corajosamente”.
5- Finalmente, meu caro, tenho pena que Famalicão da Serra viva debaixo de um regime. As pessoas devem ter direito a seguir as ideias próprias. Não pense que as suas ideias são melhores do que as dos outros e, se as suas são diferentes, mude de estratégia e tente convencer de que as suas ideias são melhores recorrendo ao diálogo. Não pense que o poder democrático que possui é sinónimo de autoritarismo. As perseguições por discordância de ideias não funcionam e estão conotadas com uma outra época.
Meu caro, tenho pena que tenhamos chegado a este momento, pois a “conversa” através dos jornais não serve ninguém, mas pelos vistos é assim que tenta lançar-se para outros voos, tentando demonstrar a sua coragem ao invés da dos outros. Tenho pena que tenha pensado que assim ganharia espaço e fôlego políticos. Enganou-se! Posso dizer-lhe que acabou por perder mais do que aquilo que ganhou e digo-lhe, ainda, que talvez tenha ganho alguns adversários! Posso, também, dizer-lhe que a minha postura em defesa das instituições de Famalicão da Serra não é titubeante, ou seja, não prefiro uma (que me pode ser mais útil) em relação a outra (que me é indiferente). A AHBVFS vai contar sempre com a minha participação plena, enquanto sócio e bombeiro, em todos os assuntos e problemáticas. Assim como o Senhor, como Presidente da Direcção, poderá sempre contar com a minha ajuda e colaboração para honrar cada vez mais a Associação que preside, contando sempre com a minha voz crítica e com as minhas ideias pessoais numa dialéctica construtiva, mesmo que, por vezes, sejam contrárias às suas vontades pessoais e políticas.
Famalicão da Serra, 29 de Março de 2009
Daniel António Neto Rocha
(Texto publicado no Jornal A Guarda - do dia 02 de Abril de 2009, e também disponível através do link: http://www.jornalaguarda.com/noticia.asp?idEdicao=295&id=15329&idSeccao=3805&Action=noticia)
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