contar a vida
com sopros
terça-feira, junho 03, 2014
domingo, junho 01, 2014
Li: "O Menino Rei", de Carlos Carvalheira
Os espaços vazios: O Menino Rei, de Carlos Carvalheira
Os
homens precisam de monstros para se tornarem humanos.
(José
Gil)
Há quem diga que o espaço do “já
contado” é território proibido e que qualquer acrescento ou substituição de
tópicos será crime de “lesa majestade”. A ser assim o entendimento do leitor do
processo criativo que está implícito na escrita, fica o conselho: não leiam
este livro, livrinho ou opúsculo!
Assente nos textos bíblicos de Mateus, o mais atento dos
autores do Novo Testamento à questão do nascimento, sobrevivência e crescimento
de Jesus da Galileia, o autor, Carlos Carvalheira, concebe um pequeno conto que
vai preencher muitos dos espaços vazios que se se reconhecem nos textos dos
Evangelhos. Carvalheira desconstrói a visão ocidentalizada da ira de Herodes
(como se sabe, o governador sanguinário) e constrói-a segundo uma “visão nova”
onde o perseguidor do Menino se torna num dos centros da acção. E aí está a
riqueza desta narrativa “em dois andamentos”. Por um lado, o nascimento e a
fuga para o Egipto com a finalidade de proteger o recém-nascido. Pelo outro, a
notícia do nascimento e a perseguição movida por Herodes. A novidade, que
também apelidaremos como “Toque de Midas criativo”, está no tratamento que o
autor dá aos espaços não preenchidos nos textos bíblicos e que consistem na
categorização do medo sentido pelos fugitivos e pelo perseguidor. Se os
fugitivos temem pela vida do “Menino de olhos grandes e com caracóis nos
cabelos” e pelas suas próprias, o perseguidor, com traços de monstro
insaciável, teme pelo fim do seu espaço (consubstanciado, ironicamente, em toda
a opulência da posse de bens materiais e do direito a mandar) enquanto “todo-poderoso”.
O autor, segundo nos parece, estabelece aqui um curioso e bem conseguido
paralelismo com os tempos actuais, onde a perseguição ao mais fraco com a
finalidade de se manterem os lugares de destaque permanece uma evidência social
impossível de se menosprezar ou esconder. Neste ponto, uma interrogação parece
ganhar destaque e hipóteses de ressoar para além da leitura: até que ponto estamos
dispostos a chegar para conseguirmos manter o estatuto social? Não existe uma
resposta, ou não se pretenderá dar resposta a esta pergunta, funcionando o
conto como catalisador da reflexão para além das barreiras da própria história.
Como refere José Gil (no texto “Metafenomenologia
da monstruosidade: o devir-monstro”), e como nos parece que Carlos Carvalheira pretende com o seu
conto, “nós exigimos
mais dos monstros, pedimos-lhes, justamente, que nos inquietem, que nos provoquem
vertigens, que abalem permanentemente as nossas mais sólidas certezas; porque
necessitamos de certezas sobre a nossa identidade humana ameaçada de
indefinição. Os monstros, felizmente, existem não para nos mostrar o que não
somos, mas o que poderíamos ser. Entre estes dois pólos, entre uma possibilidade
negativa e um acaso possível, tentamos situar a nossa humanidade de homens.” Ou seja, o conto vem revelar que a sociedade de hoje
precisa de “monstros” que permitam a nossa localização enquanto homens,
entendendo-se estes homens como elementos harmonizadores de uma existência
comum. Herodes ganha, portanto, o direito de ser o centro da acção desde a
primeira até à última página, só perdendo esta centralidade nas últimas linhas
do conto quando (levantem-se em defesa da pureza do “verbo inicial”) o Menino
Rei lhe dirige algumas palavras plenas de ocasião e de ingenuidade. Os dois
planos narrativos interagem por fim e a distância que os afasta transforma-se
no inusitado e no criativo do momento, rendendo-se o “monstro” perante a fragilidade do Menino.
Um conto em forma infantil (notem-se as repetições, as
aliterações e a recorrência, na sua maioria, a um vocabulário simples e
claramente perceptível), mas com um subtexto forte e socialmente capaz de
provocar no leitor atento uma visão diferente da forma como o mundo de hoje se
manifesta.
Guarda, Abril de 2014
Daniel António Neto Rocha
(recensão crítica publicada In: Revista Praça Velha n.º 34. – Guarda: NAC/ CMG, Maio de 2014. – p. 224 a 225.)
sábado, maio 31, 2014
Pensalamentos #239 - dúvida
criar feridas
como quem cria filhos
amá-las
acariciá-las
e, numa alucinação permanente,
duvidar
a alma cheia
de vazio
como quem cria filhos
amá-las
acariciá-las
e, numa alucinação permanente,
duvidar
a alma cheia
de vazio
quinta-feira, maio 29, 2014
terça-feira, maio 27, 2014
sexta-feira, maio 23, 2014
quarta-feira, maio 21, 2014
O Américo e o seu "Porta-voz" em Coimbra
É sempre um gosto ver a Universidade de Coimbra a actualizar a sua componente formativa e a procurar a qualidade nas áreas mais fascinantes. Então o facto de ver a "minha" Faculdade receber um amigo, que é só a grande referência portuguesa e um dos grandes nomes europeus da poesia sonora, enche-me de grande orgulho. O Américo Rodrigues vai a Coimbra mostrar e falar sobre o seu último trabalho poético: "Porta-Voz".
A quem andar e estiver em Coimbra, aconselho que não perca. Criatividade ligada a muita qualidade!
"Américo Rodrigues apresentará ao vivo a obra «Porta-Voz»
no próximo dia 23 de maio de 2014, pelas 21h30, na Casa das Caldeiras,
em Coimbra. Esta apresentação é uma organização do Programa de
Doutoramento em Materialidades da Literatura (Programa Doutoral FCT) e
integra igualmente a programação do ciclo «Paisagens Neurológicas» (TAGV, maio de 2014, org. de Isabel Maria Dos)."
Vídeo das apresentações Teatrais em Pinhel
E aí está o vídeo da presença do Teatro do Imaginário na Feira das Tradições em Pinhel!
terça-feira, maio 20, 2014
A "louca" da Andreia e Fernando Pessoa, em Barcelona
Itália, Grécia, Espanha e a sua terra natal. Eis aquele que é o percurso "profissional" da mais "louca" das minhas amizades.
E não se tem safado mal! Aliás, tem sido um prazer ver e saber dos feitos dela.
Agora está em Barcelona, onde tem um criativo TeaTuga (aulas de Língua Portuguesa com teatro pelo meio) e onde amanhã (dia 21) vai levar Fernando Pessoa aos ouvidos da cidade condal.
segunda-feira, maio 19, 2014
Pensalamentos #234 - frestas
o som da água
do esquecimento
que escorre das mãos
de alguém
ressuma colorido
entre as frestas
incolores
de um aroma
triste
do esquecimento
que escorre das mãos
de alguém
ressuma colorido
entre as frestas
incolores
de um aroma
triste
domingo, maio 18, 2014
Teatro das Beiras (Covilhã): "RADIO CABARET"
Como outros terão o vício de tudo e de mais alguma coisa, eu tenho o vício de aconselhar bom teatro e com excelentes actores e encenadores. Sendo assim, e que tal não perderem por nada nesta vida o (tenho a certeza ainda sem ter visto) "RADIO CABARET"apresentado pelo Teatro das Beiras. Se não conhecem, vão até à Covilhã e perguntem onde fica o auditório do Teatro das Beiras.
A peça estreou no dia 15 Maio, mas haverá ainda sessões hoje (18) às 16h, assim como acontecerá no dia 25 (votem a tempo e vão ao teatro depois), e depois nos dias 22, 23 e 24 de Maio às 21h30.
A encenação é de um amigo e Mestre, Gil Nave, que tem um imenso defeito, pois tudo o que encena tem um toque de excelência.
Informação do Teatro das Beiras:
"RADIO CABARET" de Karl Valentin no auditório do Teatro das Beiras
estreia: 15 Maio às 21h30
em cena: 16, 17, 22, 23 e 24 de Maio às 21h30 e 18 e 25 Maio às 16h
sinopse:
“Radio Cabaret” é um espetáculo construído a partir dos textos do comediógrafo alemão Karl Valentin. Num ambiente social de um bairro popular é emitido a partir de um pequeno auditório, (o auditório da Emissora de Rádio do Bairro), um programa de variedades onde desfilam personagens-tipo, criados pelo imaginário daquele que foi um dos autores que no seu exercício de criação teatral, mais influenciou e determinou o chamado teatro de variedades europeu. Através de paródias, jogos de palavras, trava-línguas, enredos linguísticos, a construção deste espetáculo é estruturada tendo como ponto de partida alguns dos elementos mais representativos da sua obra; monólogos, diálogos, cenas, peças e canções, que são o universo da criação artística e teatral de Karl Valentin, organizadas numa linha estética que supõem poder interessar e agradar ao público contemporâneo português. O carácter clownesco e multidisciplinar inspirado em situações do real confluem para um universo ficcional onde ao real-programático se opõe o absurdo e o irreal-fantástico. Propagado e difundido pela produção artística no século XX no espaço europeu e de origem remota e distante no tempo (antiguidade clássica e idade média), o chamado teatro de variedades, que em Portugal era designado por Teatro de Revista, foi sempre um território de expressão artística onde a crítica e o sentido cómico, às vezes trágico, era consubstanciado em torno das questões sociais. As obras de Karl Valentin, como Charlie Chaplin ou Buster Keaton cujas características são exemplo de comunicação estética e artística, influenciaram a criação teatral do último século. Muita da criação teatral contemporânea está marcada por esta influência, visível no teatro do absurdo (Ionesco, Samuel Beckett , Adamov), surgido no rescaldo da Segunda Guerra Mundial, cuja atmosfera é marcada por um ambiente de devastação, isolamento e falta de comunicação na sociedade contemporânea, mostrada artisticamente por meio de alguns traços estilísticos e temas que divergem decididamente do teatro de carácter realista.
Ficha técnica:
Encenação: Gil Salgueiro Nave
Interpretação: Adriana Pais, Marco Ferreira, Pedro Damião e Sónia Botelho
Cenografia e figurinos: Luís Mouro
Desenho de Luz: Jay Collin
Operação de som e luz: Jay Collin
Fotos: Paulo Nuno Silva
estreia: 15 Maio às 21h30
em cena: 16, 17, 22, 23 e 24 de Maio às 21h30 e 18 e 25 Maio às 16h
sinopse:
“Radio Cabaret” é um espetáculo construído a partir dos textos do comediógrafo alemão Karl Valentin. Num ambiente social de um bairro popular é emitido a partir de um pequeno auditório, (o auditório da Emissora de Rádio do Bairro), um programa de variedades onde desfilam personagens-tipo, criados pelo imaginário daquele que foi um dos autores que no seu exercício de criação teatral, mais influenciou e determinou o chamado teatro de variedades europeu. Através de paródias, jogos de palavras, trava-línguas, enredos linguísticos, a construção deste espetáculo é estruturada tendo como ponto de partida alguns dos elementos mais representativos da sua obra; monólogos, diálogos, cenas, peças e canções, que são o universo da criação artística e teatral de Karl Valentin, organizadas numa linha estética que supõem poder interessar e agradar ao público contemporâneo português. O carácter clownesco e multidisciplinar inspirado em situações do real confluem para um universo ficcional onde ao real-programático se opõe o absurdo e o irreal-fantástico. Propagado e difundido pela produção artística no século XX no espaço europeu e de origem remota e distante no tempo (antiguidade clássica e idade média), o chamado teatro de variedades, que em Portugal era designado por Teatro de Revista, foi sempre um território de expressão artística onde a crítica e o sentido cómico, às vezes trágico, era consubstanciado em torno das questões sociais. As obras de Karl Valentin, como Charlie Chaplin ou Buster Keaton cujas características são exemplo de comunicação estética e artística, influenciaram a criação teatral do último século. Muita da criação teatral contemporânea está marcada por esta influência, visível no teatro do absurdo (Ionesco, Samuel Beckett , Adamov), surgido no rescaldo da Segunda Guerra Mundial, cuja atmosfera é marcada por um ambiente de devastação, isolamento e falta de comunicação na sociedade contemporânea, mostrada artisticamente por meio de alguns traços estilísticos e temas que divergem decididamente do teatro de carácter realista.
Ficha técnica:
Encenação: Gil Salgueiro Nave
Interpretação: Adriana Pais, Marco Ferreira, Pedro Damião e Sónia Botelho
Cenografia e figurinos: Luís Mouro
Desenho de Luz: Jay Collin
Operação de som e luz: Jay Collin
Fotos: Paulo Nuno Silva
sábado, maio 17, 2014
Pensalamentos #233 - destino
trocar o destino às voltas
e correr
correr
em volta dos próprios passos
e correr
correr
em volta dos próprios passos
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