1. Começo
hoje a fazer uma análise aos caminhos políticos que culminarão nas Eleições Autárquicas
2013 e aos protagonistas que vão aparecendo. Estas minhas análises não são de um
entendido na matéria política ou de um comentador profissional. Sou apenas um
cidadão que lê o que se escreve e o que se diz, e que se preocupa com o futuro que
terão as suas terras do berço, tendo uma
clara percepção dos joguinhos e dos oportunismos políticos que teimam em não
desaparecer das ruas escuras da Guarda. São estas sombras vampirescas de falas
angelicais que temos de desalojar a todo o custo, uma vez que é impensável
criar a tão desejada cidade sustentável e sustentada quando ela sacia a jorros,
qual ama-de-favores, os eternos chupistas que, habitando os bastidores, se
refastelam eternamente de pança inchada ao sol. E é este o meu propósito: olhar
e perceber, ao mesmo tempo que comunico aquilo que vejo e aquilo que se apresta
a acontecer. Vou exagerar, perguntam vocês. Sim, possivelmente, mas no meu
exagerar verão que há questões que são extremamente curiosas e oportunas e,
pergunto agora eu, não teremos nós de exagerar para depois haver uma, por mais
pequeníssima que seja, reflexão sobre a matéria?
2. A
candidatura independente de Baltasar Lopes. Do cabeça de lista sei aquilo que
todos sabem e que são factos públicos: presidente de junta, deputado da Assembleia
Municipal, principal motor de uma triste e escusada censura a um cidadão e
obreiro de uma jogada de mestre que o colocou como principal beneficiário na
exploração da praia fluvial da freguesia que preside ou presidiu. Depois disso
o vazio é pontuado com o seu anúncio de candidatura, com a distribuição de um
folheto com uma espécie de apresentação pessoal do candidato e com as recentes
referências à sua retirada da política caso não fosse eleito e a uma frase
enigmática: “nalgumas [freguesias] não vale a pena [ter lista] porque há lá
meia dúzia de pessoas”. Estará o candidato, cuja lema é “Juntos pela Guarda”, a
referir-se ao pequeno universo de votantes que existem naquelas freguesias ou
será uma referência a ódios de estimação que terá por determinadas pessoas das
freguesias em questão. Sendo efectuada uma ou outra leitura, talvez o candidato
queira mesmo retirar-se, após as eleições, de toda a participação política. E
faz muito bem se o fizer!
3. Noutro campo de
independência surge a candidatura de Virgílio Bento. Este traz para o seu lado,
para além desse epíteto de independente, as cores desavindas dos arco-íris
monocolores laranja e rosa. O papel e a capacidade de Bento como autarca são
reconhecidos por todos nós, mas afundam-se nos exageros que aparecem e que
aparecerão criados pela sua ainda secreta base de apoio a estas eleições. Dizem
alguns apoiantes (identificados) que Bento é o único elemento do, até há pouco
tempo, actual elenco autárquico que foi brilhante e que não cometeu qualquer
erro, faltando, por estes dias, atribuir-lhe o papel de profeta curador das
chagas dos pobres e de principal baluarte da ordem mundial. Se é para exagerar,
exagerem em grande! Antes deste papel enquanto autarca, Bento dava aulas e bem,
acreditando eu no que escrevem alguns seus antigos alunos. Claro que, para
construir uma opinião, isto não chega! O candidato principal é bom, este é um
facto, mas a sua ascensão é problemática e levanta muitíssimas questões. A
primeira é o porquê de um socialista que defende a liberdade não aceitar o
resultado das eleições que perdeu e que, como é óbvio desde cedo, têm
implicações nas escolhas das equipas de trabalho. Depois, há quem diga que a
sua candidatura é independente e que os vícios dos partidos ficarão de fora,
mas o que parece existir é um curioso ajuntamento de gente com fortes
responsabilidades partidárias nos últimos 12 (doze) anos. Gente essa que é dissidente
dos partidos e que decidiu apostar forte numa espécie de Aliança Democrática tutti
colori com pretensões independentistas, tentando fazer de conta que nada
tiveram a ver com os anos que originaram o mal-estar entre cidadãos e partidos,
e assumindo camaleonicamente uma oportuna capa de escuteiros bem comportados. “Chama-se
a isto branqueamento do passado e resultará com os papalvos da Guarda”, dirão
eles na sombra! Mas será que esta saída estratégica não serve também para
desparasitar os partidos? Desviei-me em demasia do cabeça de lista. Virgílio
tem grandes hipóteses, é certo, mas mais terá se enxotar as velhas sombras
multicolores e prepotentes que lhe segredam ao ouvido já ouvidas lições de
poder e se se rodear com um “exército” pobre, esquecendo os “mercenários” ricos.
É que em Alcácer-Quibir houve um rei que confiou nos mercenários e, diz a
história, em Portugal seguiu-se o indesejável jugo de Espanha. No fundo de tudo
a filosofia bem nos alerta para o facto de os sofismas não terem desaparecido
com a morte de Górgias e de serem cada vez em maior número os sofistas comportamentais
com pretensões políticas e sociais.
Moimenta da Serra, 20 de Maio de 2013
Daniel António Neto Rocha
(*) Disponível por período limitado de tempo
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