1. Portugal é um país verdadeiramente abençoado pela graça divina em alturas de aperto. Foi assim há oitocentos e tal anos, quando Afonso Henriques tentava formar um país; foi assim há quinhentos e tal anos, quando os Deuses decidiram que seriam os Portugueses os ilustres descobridores de novos mundos e da rota marítima para a Índia (pelo menos na versão de Camões!); e é assim no ano do senhor de dois mil e onze, quando de corte em corte se vão acalorando os bombeiros portugueses. Graças a Deus ou aos deuses, cá vamos tendo uma semanita de fogos, mas sol de pouca dura e tempo bastante para um descanso merecido no quartel, sendo que desta forma o dispositivo pode retemperar forças e preparar-se com solidez para a próxima semana quente que virá quando São Pedro quiser. Felizmente que há quem pense nos bombeiros, pois pareceu-me no início deste verão que para os nossos governantes é mais necessário ter administrações com mais quatro a ser ricos administradores do que investir em mais meios terrestres ou colocar mais um ou dois meios aéreos para apoiar o ataque aos incêndios florestais. A leitura que faço é tão simples quanto isto: os bombeiros podem bem estar enrascados a defender o país e os bens dos portugueses e, quiçá, ter durante esta época de incêndios duas ou três baixas mortais, mas os amiguinhos e carneiros de estimação dos partidos políticos têm de continuar a comer caviar e a beber “champagne” francês de papo para o ar durante esta altura de calor.
Guarda, 03 de Agosto de 2011
Daniel António Neto Rocha
(Texto publicado e disponibilizado no Portal Bombeiros.pt a partir das 01h00m do dia 04 de Agosto de 2011)
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