1. O trabalho de preparação de aulas e de planificação de conteúdos a leccionar é, cada vez mais, moroso e complexo, tendo em conta os interesses e as motivações que os alunos de hoje carregam. No entanto, e de um ponto de vista totalmente docente, é um espaço privilegiado para a reflexão sobre o tempo e o espaço desta e de outras épocas sociais. Neste acto contínuo, o contacto com as tendências sociais e com o pensamento de homens de intelecto é um facto incontornável e, desde logo, impossível de olvidar. Estou, por este dias, a estudar Os Maias, magistral obra de Eça de Queirós, com os meus alunos. E assim sendo, releio vários textos deste meu Mestre da escrita para, mais afincadamente, demonstrar todas as potencialidades literárias e humanas que aquele delicioso romance encerra. A recepção, deste texto maior da literatura portuguesa, por parte dos meus alunos tem sido, no mínimo, “inconstante”. Vejamos: por um lado, as alusões às curvas e contracurvas das espanholas, e as relações adúlteras de Carlos da Maia têm obtido os grandes e divinais aplausos; por outro lado, a crítica social tão certeira e irónica que Eça apresenta tem merecido, ao contrário daquilo que eu previra, as maiores pateadas. Como explicar isto? Não sei, mas tendo a acreditar que a sociedade perdeu todo o pendor crítico, revelando-se transvestida num corpo sensual ao qual nós nos entregamos voluptuosamente. Infelizmente, quando nos apercebemos da sua essência podre, já é tarde para remendar o estrago, pois já nos estamos a queixar de ter apanhado “chatos”.
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Guarda, 25 de Maio de 2010
Daniel António Neto Rocha
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Guarda, 25 de Maio de 2010
Daniel António Neto Rocha
Crónica Radiofónica - Rádio Altitude, no dia 26 de Maio de 2010 - disponível em podcast em Rádio Altitude
2 comentários:
Parabéns, não conhecia a suas crónicas na Rádio Altitude. Vou continuar acompanhar. Abraço professor.
Daniel, nem tudo continua igual a 1926. Interessaria saber quantos militantes e doutrinários republicanos se conformaram ou aderiram à situação.O alfobre estava nos integralistas, é certo, mas a mão de obra estava nos republicanos saudosos do Pimenta de Castro...
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