terça-feira, março 06, 2012

09. Crónica Diária na Rádio Altitude (3.ª temporada) – Crónica precisão educativa ou das perguntas difíceis (*)

1. Do meio da loucura capitalista e das mais valias originadas pela exploração sem sentido dos poucos dinheiros dos contribuintes, há, por vezes, algumas acções que merecem destaque e uma análise por parte de nós, pobres comentadores que ninguém ouve ou sequer escuta, mas que também lêem jornais. Daí que o facto de o jornal Público ter uma versão gratuita é estranho, mas mais estranho é essa versão gratuita ser uma análise muitíssimo interessante da vida que nos rodeia e dirigido pelo filósofo José Gil. Se não estão a reconhecer o nome ou se estão a confundi-lo com o músico João Gil, desenganem-se e leiam o seu ensaio extremamente pessimista acerca do nosso futuro enquanto pátria chamado: “Portugal hoje, o medo de existir”. Para além de uma visão muito negativa acerca daquilo que os portugueses vêem como futuro, o autor refere ainda a face negra daquilo a que chamamos, com algum carinho à mistura, democracia portuguesa. Mas isto são só duas ideias que perpassam por todo o ensaio, que deve ser lido por quem educa e por quem se preocupa.

(...)

Guarda, 05 de Março de 2012
Daniel António Neto Rocha

(Crónica Radiofónica - Rádio Altitude, no dia 6 de Março de 2012 - disponível em podcast em Altitude.fm)

(*) Por uma questão educativa!

domingo, março 04, 2012

Há dias felizes #1


Tudo não passa de
alegria incontida
pela presença
calorosa
de um filho.
Eis que a simples
existência
se faz vida.

sábado, março 03, 2012

Pensalamentos #38


Entristecem-me as
ausências
injustificadas dos entes
que rodeiam
a minha real
existência.

Talvez
não passem de ficção
que um dia
criei.

quinta-feira, março 01, 2012

Pensalamentos #37



Acredito no fim
e talvez no princípio.
Acredito na inexistência
e talvez na existência.
Acredito em vida
finda ao fim da morte.
Acredito na tristeza
da longínqua
saudade.
Acredito no sofrer
e também
na dolente
caminhada
solitária
para um horizonte
pleno de trevas.

terça-feira, fevereiro 28, 2012

Crónica Bombeiros.pt: A derradeira encruzilhada?

1. Todos, mas mesmo todos, parecemos ter agora descoberto a pólvora, pois ninguém parece ter-se apercebido antes do porquê da queda em desgraça de centenas (já serão milhares?) de postos de emprego nas corporações de bombeiros! Depois de vários anos de desnorte e de vida desafogada, onde a questão da sustentabilidade mais não era do que um problema que se resolvia com o subsídio governamental e com as verbas provenientes do transporte de doentes, vemo-nos agora sem alternativas. Como é óbvio, o número de transportes de doentes pagos pelo governo teria de diminuir a partir do momento em que a “máquina hospitalar” passou somente a ser gerida por calculadoras, deixando de parte qualquer espécie de acção social. Claro que as corporações de bombeiros eram beneficiadas com as verbas provenientes destes transportes que não eram urgentes. Com a passagem do papel de pagador do transporte de doentes não urgentes das unidades hospitalares para os utentes desfavorecidos financeiramente, a leitura final é simples: os utentes não têm dinheiro para pagar um serviço que é, temos de ser honestos, caro para o português médio! Enquanto utentes de um serviço nacional de saúde, poderemos afirmar que a falta de valências hospitalares numa determinada região desfavorecida do país será algo que não nos pode afastar dos cuidados de saúde de excelência que existem noutros pontos do país. E estamos certos! Por isso é que as despesas de transporte de doentes não urgentes para realização de consultas ou exames, por exemplo, em Coimbra eram, de uma forma justa, assumidas pelo Ministério da Saúde. Mas tudo isto terminou com a ascensão do interesse económico cego.

(...)


Guarda, 26 de Fevereiro de 2012
Daniel António Neto Rocha

drocha@bombeiros.pt


(Texto publicado e disponibilizado no Portal Bombeiros.pt a partir das 00h00m do dia 27 de Fevereiro de 2012)

quinta-feira, fevereiro 23, 2012

terça-feira, fevereiro 21, 2012

08. Crónica Diária na Rádio Altitude (3.ª temporada) – Crónica dos meus carnavais ou da formação para a escrita (*)

1. Nunca fui um fã incondicional do Carnaval, ponto. No entanto, nunca me abandonei a um estado de apatia tal que não reparasse que existia, para os lados do Entrudo, uma realidade cultural e social riquíssima prestes a ser devorada pela minha curiosidade. Deixem-me contar-lhes, em duas ou três penadas, o início desta minha relação quase antagónica com os dias da tradição mais indisciplinada que eu conheço. Tudo começou quando ainda vivia na Guarda (tinha para aí dois ou três anitos), junto à capela de São Pedro. Nessa altura, o mundo parecia perfeito. Naqueles dias ainda brincava com o meu irmão no meio da estrada em frente ao café, então, pertença da família. A diversão era constante e só era interrompida pela ocasional passagem de um automóvel. Pois bem, foi nesses inícios que começaram a existir registos dos fatos ou costumes com que, desde aí, a minha mãe e as minhas tias maternas nos iam envaidecendo. E ainda têm muito jeito, sim senhores! Os registos fotográficos não enganam e, lá no meio da recordação saudosa, vem um ou outro motivo de humor ou de heróica figuração. A foto mais falada, destas nossas carnavalescas andanças, envolve aquele marco dos correios vermelho (que ainda hoje está em frente à casa do bispo) e dois gentis homenzinhos: uma bela dupla de Super-Homens que se aprestam a salvar o mundo das suas cruéis provações e das suas hipócritas resoluções. Eu e o Sérgio éramos dois super-heróis prestes a travar as mais duras batalhas das nossas vidas, mas ainda envergando o delicado sorriso dos nossos inocentes anos. Não muito mais tarde, juntar-se-ia a nós o Hugo, que, por ser um pouco mais novo, já não envergou para a posteridade aquele traje heróico no mesmo sítio. Mas estas são as primeiras memórias dos carnavais que vi quando era criança e vivia na Guarda.

(...)

Guarda, 20 de Fevereiro de 2012
Daniel António Neto Rocha

(Crónica Radiofónica - Rádio Altitude, no dia 21 de Fevereiro de 2012 - disponível em podcast em Altitude.fm)

(*) Por uma questão de vaidade!

sexta-feira, fevereiro 17, 2012

Pensalamentos Emprestados #7

"Senhor, a noite veio e a alma é vil.
Tanta foi a tormenta e a vontade!
Restam-nos hoje, no silêncio hostil,
O mar universal e a saudade."


(Fernando Pessoa, Mensagem, 1.ª estrofe do poema "Prece")

quinta-feira, fevereiro 16, 2012

O Galo (20 de Fevereiro de 2012, pelas 21h30m, na Guarda)


Gosto imenso desta foto! É do espectáculo "Minimamente", do Teatro do Tintinolho, e apresenta-me numa viagem de comboio. Aí, travo conhecimento com uma mulher que trata mal a minha tia... E começa a guerra! Pois bem, ela acaba por ganhar e enforca-me. E termina assim esse quadro teatral. Ironicamente, também como autor dos textos do "Julgamento e Morte do Galo do Entrudo" deste ano terei direito a uma sentença. E que tal se tu, que me lês, vieres ver e ouvir para dares a tua opinião? Não, a entrada é gratuita, pois não há cobradores escondidos pela rua. Dia 20 de Fevereiro (a próxima segunda-feira), pelas 21h30m, vem julgar o Galo... e julgar-me a mim!

Partilhei-me no Café Mondego

Leiam aqui a minha "Partilha" no Café Mondego!

terça-feira, fevereiro 14, 2012

Pensalamentos #35

E no meio de todo
este
barulho arrepiante
de compras e vendas
e mentiras e
curvas lancinantes
preocupei-me em ver
além
junto à ponta do abismo
o que realmente
interessa reter
e aqueles
que não nos
abandonam.

segunda-feira, fevereiro 13, 2012

Pensalamentos #34

A um dia mau

Assustado, restei
envolto em
amanhãs
de tom grave
e de cruel expectativa.
Pedi, a quem me acolhesse
em profana oração,
que me salvasse
de provação terrível
e homicida
mudez.

sexta-feira, fevereiro 10, 2012

Repentes #5 - Novo livro de Eduardo Lourenço


Eduardo Lourenço prepara-se para lançar, já nos próximos dias, um novo livro com o promissor título: "Nós e a pieguice ou como se amordaça o povo".
Segundo o autor, este livro estava já preparado há vários anos (especulam os críticos literários que foi preparado às escondidas do Estado Novo!), mas nunca mereceu vir a público porque poderia diminuir a imagem dos portugueses que foi eternizada nos Descobrimentos e, mais recentemente, na saudosa revolução dos cravos, podendo até comprometer as negociações para a venda da participação pública da EDP à multinacional chinesa "Três Bocarras".
Sabe-se que as FNAC's e Bertrand's do país têm já centenas de leitores acampados às suas portas, esperando a publicação da explicação de Lourenço para este mal que corrói o país e que impede os sucessivos Governos da República de prestarem grandes serviços aos cidadãos.
Em breve, esperamos poder apresentar uma recensão crítica sobre as principais linhas desta que pode bem ser a grande obra literária do terceiro milénio português e, também, poder apresentar a palavra que é lei de Marcelo Rebelo de Sousa acerca deste opúsculo e dos seus ecos no país profundo.

Este blogue pode já adiantar uma das frases que promete gerar mais debates e discussões acesas:
"Os Portugueses vivem em permanente altercação, tão obsessiva é neles a pieguice de não pagar impostos conscientemente e a correspondente vontade de pedir aos pais que continuem a pagar-lhes a segurança social para que eles não caiam nas garras dos tribunais, tanto quando são solteiros como depois de casados."

quarta-feira, fevereiro 08, 2012

Pensalamentos #33

De costas viradas para o Sol,
caminho lentamente nos húmidos
campos, enquanto se erguem
as frias Erínias do cálculo
terrífico e se apostam a verter
o meu sangue. Já culpado,
entrego-me
à decisão de Atena.

terça-feira, fevereiro 07, 2012

07. Crónica Diária na Rádio Altitude (3.ª temporada) – Crónica ao Professor Tó Zé ou do Prémio Café Mondego 2011 (*)

1. Estávamos já nos últimos anos do milénio anterior quando eu e o Armando desatámos à “porrada” em pleno corredor. Éramos, por esses dias, alunos do terceiro ciclo no Liceu e, acabadinhos de fazer a Telescola em Famalicão, chegávamos à Guarda com propósitos um tanto ou quanto enevoados – nem nós sabíamos bem o que queríamos, nem aquele espaço parecia oferecer-nos nada daquilo que nos estava destinado. “Putos” da aldeia, meio “gandins” e com alguns problemas em aceitar que nos apelidassem de “ruras”, vingámo-nos um no outro, não sei bem porquê. Penso que nunca mais trocámos mimos idênticos, apesar de, com toda a certeza, termos trocado mais algumas palavras azedas. Por esses dias, pelos cantos da mítica escola de Vergílio Ferreira, eram contadas histórias inacreditáveis sobre um bando de malfeitores que possuía um título pomposo: os alunos da turma H. Como seria de esperar, nós pertencíamos a essa turma. Pois bem, entretidos na troca de galhardos murros misturados com sublimes pontapés, não reparámos no amontoar de professores e funcionários que se afastavam, temendo aqueles dois monstros que se digladiavam. Ali estivemos em agradável esbofetear alguns minutos até que um desconhecido apareceu e nos separou, enquanto nos dedicava palavras plenas de boas intenções. Foi a primeira vez que eu o vi e nunca mais lhe esqueci o rosto. Claro está que a vergonha de não termos terminado o combate não tinha espaço para vingar no seio de tão vil turma e as horas seguintes foram plenas de elogios retumbantes: “Grande esquerda!”; seguido de “Fantástica direita!”; depois o “Parecias o Undertaker!”; e por fim o mítico “Aquele carrinho foi melhor do que o do Paulinho Santos!” O pior é que estava para vir, e depressa! Foi logo no Domingo seguinte. Nesse tempo, cometia os pecados na escola e confessava-os na missa dominical, onde era também acólito. E, claro, o Armando também. No preciso momento que se seguia ao “Ide em paz”, lá ia eu rua fora quando vejo a figura, risonha, do pacificador da minha disputa semanal. Fiquei boquiaberto! Ele? Aqui? Vim a saber minutos mais tarde que era natural de Famalicão e ouvi pela primeira vez o seu nome: António José Gouveia Dias de Almeida ou, num registo muito mais familiar e amigável, o Professor Tó Zé. Como é óbvio, para um puto com aquela idade, era preciso evitar conversas para que ninguém viesse a saber da tarde de violência, mas o seu nome nunca mais desapareceu da minha memória. Ainda para mais depois de saber da extrema afeição que ele sempre teve pela minha família materna.

(...)

Guarda, 06 de Fevereiro de 2012
Daniel António Neto Rocha

(Crónica Radiofónica - Rádio Altitude, no dia 7 de Fevereiro de 2012 - disponível em podcast em Altitude.fm)


(*) Por extrema amizade, esta crónica é publicada na íntegra!