Mostrar mensagens com a etiqueta reflexão. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta reflexão. Mostrar todas as mensagens

quarta-feira, outubro 05, 2011

Repentes #1

"Provavelmente, os maiores sacrifícios que esta geração teve que fazer." Esta é uma das frases destacadas pelos jornais naquilo que foi o discurso de Cavaco Silva. AS perguntaS que eu coloco são: poderemos falar em sacrifícios de uma geração? Qual é a geração que está, digamos, enrascada? São todas as pessoas desse geração? Ou há os gordos lambe-botas e lambe-pilas que escapam, através de trafulhices?

Quando Cavaco enfatiza que "devemos a todo o custo" escapar a um segundo pedido de empréstimo, a todo o custo significa: passar fome? Ou morrer à fome? Ver os filhos com fome? Ou matar os filhos para não terem fome? Deixar de pagar contas e ir para a prisão? Ou roubar para poder pagar contas e ir parar à prisão?

Enfim, contas que a República apresenta para continuar a sustentar as gordurinhas de quem mama nas suas excelsas e consideráveis mamocas!

domingo, setembro 11, 2011

Vi: Tommy (1975), de Ken Russell


Tommy é um filme, que se baseia na Ópera Rock escrita pelo grupo The Who em 1969, marcadamente crítico da sociedade dos anos 70. Para além desta visão de Ken Russell ser uma sátira à vida consumista dessa época, é ainda um imenso jogo de metáforas com ligação religiosa e social, pretendendo mostrar todos os vícios e crenças que então (e agora?) impregnavam a sociedade. É ainda uma tentativa, aproveitando a ascensão e aparecimento do filme Jesus Christ Superstar (baseado na Ópera Rock de Andrew Lloid Webber), de parodiar alguns dos aspectos mais marcantes deste filme (por exemplo, transforma a via sacra num continuo de maus tratos sobre um deficiente). O que este Tommy nos apresenta é um dedo acusador sobre uma sociedade crente no poder dos mitos recém-chegados, apresentados através de um ritmo rápido e constante (note-se a influência que o Rock tem na divulgação de sentidos) e de um apelo à imagem estranha e, por vezes, surreal. Não é um filme de fácil descodificação (até pela presença de um conjunto de signos e símbolos que emergem vindos de áreas tão distintas como a economia e a religião, a pintura e os direitos humanos, a música e a literatura, etc.), mas o que é estranho tende a entranhar-se mais facilmente e este Tommy não deixa ninguém indiferente pela incrível diferença em apresentar discussões culturais e sociais indispensáveis na época (e ainda hoje!), utilizando para isso um tipo de música que desde sempre esteve ligado ao mundo do álcool e das drogas. Justiça divina? Talvez, o grande triunfo deste filme é conseguir, através da explanação imagética dos problemas, que a crítica feroz a essas mesmas questões seja feita perante a constatação do ridículo.

O filme apresenta uma espécie de circularidade (note-se que o início é o aparecimento, junto ao sol, do pai de Tommy e que o final mostra o filho a assumir a posição de onde se partira para o desenvolvimento da acção) que pretenderá significar, muito sumariamente, o processo biológico do crescimento físico e mental do homem. Este início é surdo, ou melhor, não tem palavras, pois as palavras necessitam de trabalho e de uma comunicação efectiva (não necessária, segundo a intenção comunicativa do realizador, a uma relação reprodutiva). Note-se, ao nível da mera curiosidade, que o pai biológico de Tommy não usa uma única palavra. Não lhe ouvimos a voz e, o que é certo, não precisamos de a ouvir. O que significa esta mudez paterna? Veja-se a tradição religiosa. O pai (Deus) não se ouve. Já o ouviram? Apenas seguimos os seus ensinamentos (exemplares e puros), não necessitando de uma confirmação oral de forma a entendê-lo e a segui-lo. É isso que acontece em Tommy. A figura paterna é a imagem da dedicação e da defesa da família (vai para a guerra para defender o filho que há-de vir). Por lá fica, supostamente, morto. Após a notícia do desaparecimento da figura masculina (associada a Deus?), surgem finalmente as palavras associadas ao nascimento de Tommy. Reconhece-se neste passo toda a simbologia do nascimento de um predestinado. Ele é o foco da atenção. Ele é o salvador. Ele é o desejado.
Tommy é já um rapazinho (com cerca de 5 anos?) quando acontece a morte, perante os seus olhos, do seu pai biológico. Passo a explicar: a mãe e o filho seguem com a vida depois de pensarem que o pai está morto, mas afinal de contas está vivo; no dia em que regressa a casa, a mãe já se encontra a viver com outro homem; Bernie (pai adoptivo), perante a entrada imprevisível do pai no quarto, mata-o; Tommy assiste e entra em choque, começando a viver num mundo só dele onde o pai é o “seu Deus”. A partir deste momento entramos numa espiral de acontecimentos onde se critica o desajuste de tratamento daqueles que são diferentes (deficientes). A evolução é natural e quando damos por nós estamos perante um Tommy crescido (apresenta-se perante nós Roger Daltrey, vocalista do grupo The Who) que inicia a aprendizagem, por vezes, muito cruel da vida (qual via sacra): surge a busca de soluções através de falsos ídolos (a cura é procurada num templo que honra e diviniza Marilyn Monroe, qual deusa que cura os inválidos através do contacto com droga e álcool); aparece o primeiro contacto com as relações sexuais, apresentadas como uma droga capaz de curar; é submetido a uma tortura violenta e é violado pelos próprios familiares; e é ignorado pelos próprios pais. Vivendo num retiro interior, onde contacta com a figura do pai (parecendo em dados momentos o seu refúgio religioso), surge (espantem-se!) o milagre que o transforma no centro do mundo: consegue tornar-se campeão de “pinball”! Este acto faz com que a família, mãe e padrasto, enriqueçam e comecem a ter uma vida desafogada, permitindo também o contacto (crítica às hipóteses de acesso a bens de saúde pública!) da doença de Tommy com os melhores médicos.
No meio desta necessidade de estabilidade familiar, Tommy acorda do sono profundo através de uma violenta queda. A partir daqui, assume uma postura deificada e cria uma seita que pretende a busca de uma harmonia interior e exterior. Como todos os falsos ídolos e falsos profetas (apesar de na índole Tommy demonstrar ter óptimas intenções), dada a exploração que é feita dos crentes, cai por terra a sua intenção de educar mentes e atitudes, através do contacto cego e desinteressado com o “pinball”.
O filme termina com o fechar do círculo. Após o ataque que leva à morte a sua mãe e o seu padrasto, Tommy inicia no meio das chamas o seu caminho de ascensão. Passando por todos os espaços onde inicialmente o pai e a mãe pareciam viver e conviver em profunda harmonia, dá-se o fechamento do círculo e o fim do filme.

Este é, talvez, o filme que apela mais a um entendimento daquilo que é o encontro semiótico entre diversas realidades. Neste caso, precisamos atender à ficção que é tratada no registo cinematográfico e a toda uma cultura ocidental, que se iniciou com a assumpção da religião católica e que se foi desenrolando com a assumpção da "religião" capitalista. Filme tremendo pelo fantástico trabalho musical dos The Who e pela desconcertante visão criativa de Ken Russell. Se querem um filme completo, ei-lo!

P.S. - Vão ter uma surpresa relativamente aos actores que desfilam neste filme.

quinta-feira, setembro 08, 2011

Saudades ou estarei louco?

Isto de ser Professor de uma turma cheia de alunos desiguais e que são claramente rebeldes tem muito que se lhe diga. Pronto, dirão que a ficção invade os espaços brancos deste blog ou que o professor é tão louco que tenta transmitir a sua loucura através de um post que supostamente teria (caso a loucura não pontificasse!) um tanto ou quanto de sinceridade. Sim, terão todos razão ou razão nenhuma; terão todos capacidade interpretativa ou estarão cegos das entrelinhas; terão todos a opção de clicar na cruz branca no quadrado vermelho no canto superior direito desta janela (a qual será a opção mais correcta se pensam em manter a vossa própria sanidade mental!) ou manterão a atenção sibilina e perscrutória de quem quer descobrir onde é que isto irá terminar. Se são pais, terão duas ou três opções (já decido quantas serão!): primeira - correr, guiar velozmente, teclar com uma ávida rapidez o número de telefone ou gritar bem alto para safarem os vossos filhos do contacto terrível com este professor que os leva a ler post's aparentemente sem qualquer razão de ser; segunda - contactar a delegação de saúde e pedir o rápido internamento deste louco numa das suas agradáveis casas de saúde e repouso; e terceira (o que decido? querem escolher? escrevo? continuo? termino? ou dou uma última opção?) - (então eu dou!) riam! riam! riam! (neste momento a loucura também será vossa!). Se são alunos, só me dão uma opção: primeira e única - continuar a escrever e a dar alguns momentos de inigualável e contagiante boa disposição.
É verdade: passaram alguns dias (serão semanas?) da última aula. Também é verdade: as saudades das aulas talvez sejam dos professores e não dos alunos.

(Escrito no dia 9 de Julho de 2009, mas continua actual!)

quarta-feira, agosto 17, 2011

Jaime Antunes é um sábio!

Não costumo dar conta das minhas leituras de opiniões de outros nos jornais nacionais, mas aquilo que li do ilustre Jaime Antunes (eterno candidato às eleições do Sport Lisboa e Benfica) sobre educação (este tipo fala sobre educação????) deu-me vómitos! Não é que na base não tenha alguma razão, mas conhecendo nós (povo português) o jeito ditatorial dos Directores de Escolas para atingir os fins sem olhar a meios deveremos ficar preocupados e não exultantes, como é o caso desta figura destacada da escrita portuguesa. Leiam o texto que saiu hoje (dia 17 de Agosto) na última página do Jornal i (onde parece este ser ser um conceituado cronista, mas desenganem-se: ele é o proprietário do jornal) e regalem-se com a claque acérrima deste homem às últimas decisões do Senhor Ministro da Calculadora. Ele até refere que manda o senhor Ministro dizer que "quem [Directores de Escolas] não apresentar resultados positivos deve sair"! Pergunto eu, senhor Jaime Antunes, o que são para si resultados positivos ao nível das escolas? Os que servem os alunos ou, como tem sido tónica, os que servem a estatística?

segunda-feira, agosto 15, 2011

25 de Abril de 1974: a tomada de assalto

Para quem, como eu, acreditava que Crato podia ser mais do que nome de cidade e, quem sabe, um Ministro em condições, aí estão o proteccionismo e a mesquinhez. Pelos vistos, são os contratados (aquele que ele chama de novos ou do meio da carreira) aqueles que têm de ser avaliados, pois dão maus resultados à Educação do País das Maravilhas. Talvez o Senhor Crato não se lembre (ou não saiba), mas há muitos "bons professores" da velha guarda (a que ele próprio pertence) que são autênticos analfabetos e que continuam instalados airosamente nas cadeiras douradas. Será que ninguém disse a este Ministro da Calculadora quem começou por não querer a avaliação?


Fiz este comentário a esta notícia do www.publico.pt .

quinta-feira, julho 07, 2011

A minha leitura (breve) sobre o "rating" de Portugal e as políticas económicas europeias

Como será óbvio, eu não percebo nada de economia (ainda continuo sem perceber o milagre da multimultiplicação dos juros a pagar ao empréstimo da "santíssima trindade"), mas quero dizer duas ou três coisas sobre o assunto:

1.º - Está mais do que visto que a Alemanha está a lucrar com a "austeridade" que exige que haja em relação aos países "à rasca";

2.º - Já não é a Alemanha que controla a Europa mas sim as agências de "rating" americanas;

3.º - Uma vez que a prostituição de Portugal junto dos outros países não tem dado resultado nenhum, exijo que o nosso país passe a usar um cinto de castidade e exijo também que a chave se perca no fundo do oceano Atlântico! Porquê? Não repararam que passam a vida a F***R-nos e já nem pedem licença?


Para além desta minha leitura tão bem concebida, pretendo que a Europa repare na enternecedora mensagem subliminar que nestes novos dias é transmitida a partir da Assembleia da República. Ainda não repararam em nada? E que tal se repararem na estratégica junção ou emparelhamento entre a Ministra da Agricultura e do Ministro da Educação! Estará em preparação uma nova estratégia de recuperação de alunos? Ou uma nova política europeia de incentivo ao cultivo de nabos?

segunda-feira, maio 02, 2011

"Olhai vós bem que este sam eu!": Estes deputados! Ai!, estes deputados!



"Oriundo de Oliveira do Hospital, distrito de Coimbra, o candidato socialista assume-se como um «beirão da Beira Serra» e «apesar de não ter nascido no distrito, a verdade é que fiz e ainda faço boa parte da minha vida aqui no distrito»."
in O Interior


Hoje, O Interior fez-me lembrar um textinho de Miguel Torga que integra o livro "Portugal". Miguel Torga é um homem de raízes, sendo um transmontano de gema. Daí que a alusão deste a Gil Vicente no texto intitulado "A Beira" me pareça tremendamente actual. Assim que li esta alusão ao novel deputado, lembrei-me que todos podemos ser deputados por Coimbra, pois todos vamos lá a consultas médicas ou, de quando em vez, ver um jogo de futebol. Lembrei-me, ainda, da seguinte passagem daquela maravilhosa Beira de Torga:

"Gil Vicente, que da realidade nacional sabia mais do que os próprios donos da pátria, fala assim no Juiz da Beira:

Olhai vós bem que este sam eu
Homem de boa-ventura,
Empacho nunca me atura
E hei-de dizer o meu
Como qualquer criatura.

É claro que o poeta não estava a fazer geografia humana quando divertia suas majestades, e por isso carregava para onde o gracioso pedia. Mas o bom senso de Pêro Marques é uma obra-prima de observação, e o primeiro verso da farsa é lapidar, e define o nosso homem de cima a baixo.

Olhai vós bem que este sam eu!

Teimoso como um Sísifo voluntário, nenhuma mudez original é capaz de o impedir de tornar audível o que esta afirmação promete de tenacidade, concentração, serenidade e consciência de si. Ou não estivesse a serra por detrás dos seus gestos! Medieval e tosco na capela dos Ferreiros, em Oliveira do Hospital, ajoelhado e renascido em Góis, fidalgo descobridor em Belmonte, viajante na Covilhã, guerrilheiro em Midões, pastor e camponês em toda a parte, ninguém o pode ignorar, porque ele desce a viseira, ergue as mãos, iça a vela, caminha, aponta a carabina, levanta a enxada ou maneja o cajado, e grita:

Olhai vós bem que este sam eu!"

E confirmo que ele é mesmo "Beirão", pelo menos no sentir de Torga. Daí que não é um "Beirão da beira serra"! Não descurando em Miguel Torga ou na competência deste novel deputado em ler textos sobre o Portugal de há 50 anos, talvez fosse bom que ele percebesse que o Beirão é um termo aplicado a quem é da Beira, tout court. Ou então esta marca identitária possuiria, obrigatoriamente, um determinativo: Beirão da Covilhã; Beirão da Guarda; Beirão da Beira Serra; Beirão de Coimbra; etc. e tal! Mas será que ao comprometer-se com este novo tipo de Beirão o Sr. Candidato a deputado estará a autoexcluir-se de algo que o Beirão, per si, possa possuir? Claro que é um termo apetecível, que desperta a cobiça e a inveja, e que atrai olhares lânguidos. O mesmo Miguel Torga diz porquê:

"Não é o brilho que o impõe, nem a honradez, nem a inteligência, nem outras qualidades que o português não tenha. É uma obstinação de caruncho, muda, modesta, inflexível, incapaz da piedade de ceder ao seu próprio cansaço. Mas essa teimosia dá-lhe o triunfo e a convicção de que só ele pode e deve conduzir os destinos da pátria inteira. Sem o dizer, sem o afirmar, o beirão sente-se dono de Portugal. Cingido até fisicamente às estremas da sua courela, herda, contudo, o sentido absorvente e centrípeto da mãe. E vá de inventar uma Beira transmontana, uma Beira alentejana, uma Beira estremenha e uma Beira Litoral, enquanto não se lembra de arquitectar uma Beira minhota e outra algarvia. Não há casal, dos inúmeros que se espalham pela serra fora como pequenos rebanhos de ovelhas, onde não tenha nascido um desses homens sem brilho, apagados e humildes, que começam a tocar pífaro sobre uma lapa, e que às duas por três estão no Terreiro do Paço de aguilhada na mão."

Daqui que compreendo as pretensões de quem, não querendo ser "paraquedista", tem de justificar o porquê de ter vindo de "limousine" com lugar marcado no "charter" com destino ao Terreiro do Paço e querer usufruir dos direitos de voar (não em executiva) em executiva-beirã.

quinta-feira, abril 28, 2011

Li: O Clube de Cinema, de David Gilmour


Sou um aficionado da leitura. Leio, leio, leio e volto a ler. Claro que sei o que são obras primas e o que são obras menores, mas não tenho por hábito deitar fora nada. Leio e, se me agrada o livro, fico satisfeito. Se o livro me enche as medidas até ao fundo da alma, celebro com uma taça de vinho, mas do bom!
Este pequeno opúsculo autobiográfico, de David Gilmour, foi-me "apresentado" por aquele que é, para mim, a grande referência em termos de cinema na cidade da Guarda - o Victor Afonso. Pessoalmente, ele já me tinha dado conta da existência deste livro, sabendo ele que um dos meus métodos pedagógicos preferidos é o ensino alicerçado no instrumento fílmico. Pois bem, aproveitando o lançamento (que a Editora Pergaminho por certo não lhe agradecerá ) deste livro que ele efectuou no seu blog - O Homem que Sabia Demasiado, dei-me conta da imperiosa necessidade de o ler. Assim o fiz e não fiquei desiludido. Por certo, poderia ser bem mais dedicado ao cinema, mas entendo que a relação (que pode ser representada na seguinte equação:) PAI <-> FILHO <-> (ADOLESCÊNCIA + INICIAÇÃO SEXUAL), que é explorada sob o ponto de vista do pai, é bem mais importante para o autor do que a constatação do génio de Hitchcock ou da capacidade criativa (tipo relógio suiço) de Eastwood.
O livro parte das memórias de um tempo difícil na vida familiar dos intervenientes e apresenta a problemática da escola tradicional, que é vista como desagradável para alguns alunos, e a necessidade da existência de alternativas a este tipo de ensino de forma a cativar os alunos menos dedicados ao estudo; apresenta também a iniciação no mundo das drogas e no mundo sexual; apresenta ainda a difícil relação entre os pais e os filhos num mundo em que o emprego consome quase todo o tempo. Desta forma, um pai (David Gilmour) desempregado vai contactar de perto com o desnorte do filho e, numa jogada muito arriscada, decidi acompanhá-lo numa aventura que vai passar pelas mais diversas dificuldades, tanto ao nível do relacionamento entre ambos como ao nível do interesse que os filmes em análise despertam no filho.
A selecção de filmes é vasta e, confesso, muito desconhecida pela minha parte, mas nota-se que o autor pretendeu dar ao filho uma espécie de "rede de salvação significativa", apresentando-lhe sempre filmes com um fundo moral imenso. Claro que lhe deu também uma educação fortíssima em termos de crítica e metodologias cinematográficas (pois ele é um escritor televisivo responsável por alguns documentários e outros programas, penso eu!), mas a grande vitória desta estratégia quase explosiva foi o regresso do Jesse aos livros e ao estudo.
A história é agradável de seguir, a escrita é simples e clara, os temas são extremamente actuais e os valores, que vão sendo expostos, são essenciais.
Um livro a ler e a guardar!

sexta-feira, abril 22, 2011

Pensalamentos #13

A um escrito de Alfred Musset:

Escrevemos sobre aqueles que amámos para esterilizarmos de vez o nosso corpo e a nossa alma com um pingo de ácido semântico!


sexta-feira, janeiro 21, 2011

Goodbye, Mr. Chips, de James Hilton (Obrigado, Manuel Poppe!)

Manuel Poppe tem escrito milhares de palavras sobre vários temas e, principalmente, sobre o valor humano. Foi a partir dele (ver aqui) que eu encontrei um pequeno livro, que devorei assim que o recebi, de leitura obrigatória para todos aqueles que não sabem o que é um professor, no sentido mais puro e desinteressado do termo. Neste opúsculo de James Hilton, Mr. Chips é o professor que trabalha para os seus alunos e não para estatísticas, é o professor exigente e é, sobretudo, um homem que é imperfeito e que reconhece as suas limitações.
Tudo o que acabei de dizer é aquilo que define o ser humano consciente da necessária valorização de pessoas e não da valorização de contas bancárias ou de propagandas enganadoras. Isso é o que tem acontecido nos últimos anos. Os espertalhões do sistema concederam o seu tempo a valorizar-se enquanto secretárias de esquina, preparando-se para integrarem as funções de desnorteadores do ensino sério. Os outros, os que se preocupam em tornar os alunos melhores, são descartados e empurrados para a necessária imbecilização do país.
Este pequena obra abriu-me a alma e emocionou-me. Poderei ser, no futuro, assim recordado?

quarta-feira, junho 16, 2010

Para uns pequenos aprendizes

1. O Adeus é uma palavra que contém múltiplas acepções e diferentes sentidos na constante vivência do ser humano. Por isso, dizê-la é, de alguma forma, construir um horizonte dúbio e difícil de entender. Mesmo assim, há horizontes longínquos onde os ramos de pequenas árvores se tocam e se entrelaçam. Não somos, nós, árvores desconhecidas ou de origens diversas mas, sim, pequenos entes que coexistem numa ampla floresta de emoções vestida. Esta floresta encontra-se sempre em perigo e, por vezes, é vítima de descuidados anseios que a perturbam e a deixam reduzida a cinzas. Aqui chega um Adeus! Permitido pela incúria de uns e pelo desejo de outros. Nós somos as árvores, nós somos os seres que vão ser estilhaçados e transformados nessa cinza que é descrita com um Adeus sentido. Apesar disto, existe, sempre, um amanhã glorioso e brilhante que, a nós, nos espera e nos ilumina na sombra de um Adeus. Amanhã!

2. A metáfora é longa e pode ser triste, mas é nela que nos encontrámos e que nos serve agora de doce recordação. Tudo aquilo que deixamos são comparações, paralelismos, hipérboles, sinestesias, muita ironia e imensas interrogações retóricas. Valeu a pena? Para o eu, que sou, fui e serei eu, toda a metáfora valeu a pena e, qual Fénix, voltará, um dia, a valer. Amanhã!

3. Para vós… Amanhã! Não é um Adeus, mas sim um “Até outro dia!”.

Guarda, 16 de Junho de 2010

Deste vosso, incorrigível, agitador e amigo,
Daniel António Neto Rocha

sábado, dezembro 12, 2009

Cercados pelo Fogo: 2.ª parte (3)


Esta foto foi retirada do blog da Minerva Coimbra, ver aqui, e ilustra o momento em que usei da palavra no lançamento do livro "Cercados Pelo Fogo: Parte 2" (mais sobre este assunto podem ver aqui 1 e aqui 2).
Neste momento, não com a minha total vontade, tive de me virar de costas para toda a mesa. Posso dizer-vos que pedi desculpas antecipadas por este facto, apesar de ter algumas razões para o fazer a um dos elementos que por ali se sentava e que também me as virou na situação que o livro em si relata.
Como não é desse senhor que guardo a amizade, não falemos mais nele. Quero apenas dizer que gostei de estar com o Professor e de partilhar com todos os presentes mais uma vitória da competência e da humanidade. Neste caso do Professor, pois é ele o mais destacado representante de uma maneira construtiva de estar no mundo do combate a incêndios. Ter-me honrado com um convite para participar activamente no lançamento deste seu livro, honra-me muito e faz com que eu ainda o admire mais.
Já tive oportunidade de ler alguns capítulos e de perceber mais um pouco de alguns acidentes que vitimaram os bombeiros e civis que são homenageados pelo livro. Destaco aqui o capítulo que fala sobre o Daniel Ribeiro, pois tenho o prazer de conhecer o seu irmão Pedro, da Sertã. Emociona-me o relato do Professor e sinto nele aquilo que o Pedro um dia me contou. Um abraço a este e um novo agradecimento àquele.
Nada mais por agora. Espero ter um dia destes paciência para analisar o prefácio do livro.


quarta-feira, dezembro 09, 2009

Desculpa, Fernando Pessoa!


Com todos os afazeres e distrações que tenho tido, não assinalei aqui uma data que é importante destacar. 30 de Novembro de 1935. Que eu saiba, não aconteceu nenhum facto digno de realce na política portuguesa (e ainda bem!), mas aconteceu uma grande perda na sociedade portuguesa. Se estive atento e se reparei bem, não houve uma única referência ao facto de terem passado 74 anos da morte de Fernando Pessoa (meu Mestre!) e dos outros todos que eram ele. De uma assentada, faleceram os grandes poetas da língua portuguesa e perdeu a sociedade portuguesa uma oportunidade única de ter um Prémio Nobel da Poesia que, creio-o, seria o único pacificamente aceite pela maioria dos leitores em Portugal.
.
Nota - Dias antes do dia 30 de Novembro de 2009, dizia eu (como factor motivacional através da curiosidade e dos seus interesses pessoais ou ausência deles) aos meus alunos de 3.º ano (o equivalente ao 12.º do ensino regular) assim que chegaram de estágio e se preparavam para iniciar o estudo da Obra de Fernando Pessoa e dos seus "EUS" outros: "Meus caros, notem que Fernando Pessoa educou-se com uma dose infindável de cultura britânica. Aliás, reparem que uma das cidades onde se vai realizar o Mundial de Futebol de 2010 é a cidade onde ele cresceu e onde frequentou estudos - a cidade de Durban." Fado português, "factum" latino ou "anankê" grega, o facto é este: no dia 25 de Junho de 2010 (se não me engano e estou com preguiça para comprovar) realiza-se na cidade estrangeira mais pessoana um encontro da língua portuguesa. O Portugal - Brasil desse dia na cidade da adolescência de Pessoa será o factor mítico para o mundo tomar conhecimento do facto de ter havido um português admirado mundialmente pela sua arte literária que passou por ali. Gosto de pensar que será um dia de esplendor da língua portuguesa no mundo.

.

Aqui fica um dos meus poemas favoritos deste grande Mestre:

.

Louco, sim, louco, porque quis grandeza
Qual a Sorte a não dá.
Não coube em mim minha certeza;
Por isso onde o areal está
Ficou meu ser que houve, não o que há.
.
Minha loucura, outros que me a tomem
Com o que nela ia.
Sem a loucura que é o homem
Mais que a besta sadia,
Cadáver adiado que procria?
.
.
É conhecido, bem sei, mas estará bem compreendido?

terça-feira, outubro 20, 2009

A "Residência" Impossível?

Perdemo-nos, por vezes, em demandadas buscas de existências passadas e pouco abonatórias às nossas realizações futuras. Ao embrenharmo-nos nessas realidades, perdemos o rumo do essencial e divagamos em direcção a um acessório perfeitamente desajustado e inútil.
Vi, pela terceira ou quarta vez, o filme "A Residência Espanhola" (no original, "L'Auberge Espagnole") e, mais uma vez, emocionei-me com o mundo que temos e desaproveitamos a cada instante. Qual a identidade que temos hoje? Qual a personalidade cultural que devemos utilizar na partilha de uma maior honestidade identitária?



quinta-feira, outubro 08, 2009

As ilusões que perdem

Ao contactar directamente com muitos adolescentes todos os dias, tenho sentido e pressentido que nada vai bem "no reino cadaveroso". Estes jovens, mais novos do que os jovens da minha idade, têm navegado à deriva num doce mar de ilusões que, quanto a mim, os tem aproximado cada vez mais de um terrível e imprevisível futuro. Quais os seus sonhos? Quais os seus anseios? Quais as suas aventuras mais utópicas? Quais os seus objectivos? São algumas das perguntas que, regra geral, se fazem antes da, já célebre, resposta:
- Não sei, ainda sou muito novo!
São muito novos? Então e qual é, afinal, a idade para se deixar de ser novo e se passar a ser um elemento válido na sociedade? Haverá limites de idade (nos dois sentidos!) para se ser um cidadão consciente e participativo na vida, mesmo que esta seja SÓ a de cada um dos jovens?
Assistimos nós, agonizados, à infindável (assim a observo!) infantilização dos nossos adolescentes e à não reacção destes contra essas mentes perversas que os tentam "apostar" no "jogo" das estatísticas europeias! Essa imensa "roleta russa", penso-o, só acabará com a desilusão de cada um dos nossos novos cidadãos.
Peço-o a cada um de vós que é pai ou mãe:
- ACORDEM OS VOSSOS FILHOS DA (DES)ILUSÃO FUTURA ANTES QUE PERCAM ESTA, JÁ!, PEQUENA OPORTUNIDADE!