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terça-feira, março 26, 2013

Crónica do meu avô Zé Bico - 11. Crónica Diária na Rádio Altitude (4.ª temporada)




1. Estes dias de chuva intensa, a bater velozmente nas janelas, fazem com que o ritmo alucinante deste tempo de enigmas constantes e de incontroláveis agitações sociais se dilua no centro de memórias longínquas ou de rememorações familiares. E é nesse calor da lareira dos avôs que me encontro neste momento, afagado por braços ternos e de uma sensibilidade gigantesca. No ninho inicial, aqui mesmo onde se forma o mundo e o fim de tudo. Prestes a chegar à triste memória de sete anos, é o sorriso trocista do meu avô que serve de pauta à música que vai soando lentamente e que é acompanhada pelo bater incessante das pequenas gotas da natureza, lá fora, onde se ouve o natural enleio do mundo. Cá dentro é o som de Haendel e do seu belíssimo oratório “A escolha de Hercules” que vai acompanhando a memória e tudo o que ela encerra. 

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Moimenta da Serra, 25 de Março de 2013 
Daniel António Neto Rocha 

(Crónica Radiofónica - Rádio Altitude, no dia 26 de Março de 2013 - disponível em podcast em Altitude.fm

terça-feira, março 12, 2013

Finalmente, em crónica - 10. Crónica Diária na Rádio Altitude (4.ª temporada)

1. Em todos os cantos da cidade se vai por estes dias levantando a voz para comentar ou tentar perceber quem vão ser as caras que aparecerão como candidatos à presidência da Câmara Municipal da Guarda. Há já candidatos assumidos, como são os casos daquele que tem nome de Rei Mago e do outro que na minha meninice se me apresentou sempre como o advogado do Diabo, mas consubstanciado num eufemismo religioso. E há os putativos candidatos, sendo que, na minha modesta opinião, um é mais putativo do que outro. Por um lado Virgílio Bento, um candidato forte e com provas dadas junto dos cidadãos que vive refém dos apoios que não desejaria ter, mas que lhe são dados porque esses apoios não têm mais nenhum candidato sério que os aceite como apoiantes, e refém também de uma “esquisita” vontade popular que parece capaz de galvanizar o próprio Vice-presidente da Câmara. E o problema de Virgílio coloca-se neste exacto ponto, pois não parece ser conciliável o apoio da massa cidadã que está cansada dos bastidores da política com o apoio da velha guarda que só sobrevive à custa dos bastidores da política e do carneirismo. 

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Moimenta da Serra, 11 de Março de 2013 
Daniel António Neto Rocha 

(Excerto da Crónica Radiofónica - Rádio Altitude, no dia 12 de Março de 2013 - disponível em podcast em Altitude.fm

terça-feira, fevereiro 26, 2013

Crónica dos “caga-sentenças” ou de como Portugal tem um governo de mercenários - 09. Crónica Diária na Rádio Altitude (4.ª temporada)

1. E o mais triste de tudo é que nós ainda continuamos a permitir que haja gente desta a gerir o todo nosso, que é o Estado. Ainda hoje, e já passaram dois ou três dias, tenho uma vontade extrema de pegar em facas e em outros objectos que possam causar dano de cada vez que me lembro dos mercenários Borges, Botas e Moedas. Não estão a ver quem possa ser? Pois, estamos tão concentrados em saber a letra do “Grândola Vila Morena” que nos esquecemos de ler e ouvir aquilo que vai sendo babujado aqui pela parvónia lusitana. Este trio de animalejo sentido, representativo daquilo que está bem e se recomenda por muitos e bons anos, parece ter cada vez maior o ego e a bolsa. Neste fim-de-semana, o Borges veio do alto da sua cadeira de “caga-sentenças a mando do Governo” afirmar a plenos pulmões que, e passo a citar, “os portugueses ainda têm de apertar mais o cinto!” Será óbvio que o vómito asinino do senhor assenta em toda a política de recuperação financeira que o país atravessa, mas não foi esta questão falsa e preocupante que me deixou atarantado. A questão principal, que é transversal ao Botas e ao Moedas e que parece ser uma das características dos currais políticos deste país, é esta: a que raça ou a que nacionalidade pertencem estes seres que se afastam do comum dos portugueses? É bastante normal ouvir em debates da Assembleia da República os senhores deputados referirem-se aos “portugueses” e às “portuguesas”. É mais difícil, mas também acontece, ouvir o senhor Presidente da República afirmar que os “portugueses” e as “portuguesas” não podem mais em vez de fazer análises linguísticas que só favorecem os amigos do peito. É muito normal ouvir os líderes dos partidos dizerem que “os portugueses” e “as portuguesas”. E então os caciquistas da nação… nem se fala! 

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Moimenta da Serra, 25 de Fevereiro de 2013 
Daniel António Neto Rocha 

(Excerto da Crónica Radiofónica - Rádio Altitude, no dia 26 de Fevereiro de 2013 - disponível em podcast em Altitude.fm)

terça-feira, fevereiro 12, 2013

Crónica séria sobre Bento XVI e cómica sobre a sede de poder - 08. Crónica Diária na Rádio Altitude (4.ª temporada)

1. A renúncia de Ratzinger ao seu papel de pastor da Igreja Católica e ao nome de Bento XVI é vista por muitos como algo completamente inesperado. Claro está que o timing escolhido é completamente inesperado e poderá causar alguns debates curiosos entre aqueles que estão sempre disponíveis para criar alguma teoria da conspiração sobre a forma como são geridos os muros do Vaticano. No entanto, se tivéssemos estado atentos ao que se disse e escreveu naquele já longínquo mês de Abril de 2005, poderíamos hoje reconhecer que tudo não passa do final de um período de transição que até nem correu muito mal. A idade do cardeal Ratzinger e o papel que desempenhou junto de João Paulo II, até ao fim da vida deste, apontavam desde o início do pontificado de Bento XVI para uma solução que seria obrigatoriamente de curta duração. E o facto é que isso aconteceu. Mesmo assim este homem, que liderou a Igreja durante sete anos de altos e baixos, teve momentos de grande atitude e conseguiu surpreender todos aqueles que lhe imaginavam um percurso penoso e de contínuo afastamento dos crentes. É certo que hoje ainda se olha para trás e, para aqueles que aprenderam a admirar João Paulo II, se sente a falta daquela presença constante e contagiante do papa de Fátima, mas Bento XVI não foi o conservador e reaccionário que muitos esperariam, sendo mesmo capaz de derrubar muros que separavam a Igreja da sociedade moderna e que João Paulo II nunca consentiu que fossem derrubados. Agora, e sabendo nós do calculismo que costuma existir ao mais alto nível dentro da religião católica, esperemos calmamente pelo novo nome que ocupará a cadeira de São Pedro e vejamos se a solução de transição serviu mesmo para preparar um melhor futuro da Igreja. O certo é que se a preparação do futuro que se avizinha foi desleixada esse seria, sim, um grande e rude golpe na credibilidade da Igreja e na fé cristã.

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Moimenta da Serra, 11 de Fevereiro de 2013
Daniel António Neto Rocha

(Excerto da Crónica Radiofónica - Rádio Altitude, no dia 12 de Fevereiro de 2013 - disponível em podcast em Altitude.fm

quarta-feira, janeiro 30, 2013

Crónica da escatologia financeira - 07. Crónica Diária na Rádio Altitude (4.ª temporada)

1. A “festa nacional”, tão popularizada na voz estridente da Milu (antiga Ministra da Educação e actual Presidente da Fundação Luso-Americana), parece ter regressado ao panorama nacional. Não a festa como sinónimo de novas obras, de novos contractos de parcerias duvidosas com os privados ou de novos lugares de ouro para gente sortuda. A festa, durante a última semana, foi de alívio pelo regresso aos mercados a uma taxa de juro inferior (signifique lá isso o que significar!) que me cheirou a mim a um daqueles pratos bem condimentados e repletos de picante. A taxa de juro do empréstimo de dois mil e quinhentos milhões de euros, a cinco e a dez anos, ficou num patamar de cerca de 5% e o Gaspar sorriu. Eu, na minha leiguice económica, estremeci! 

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Moimenta da Serra, 28 de Janeiro de 2013 
Daniel António Neto Rocha 

(Excerto da Crónica Radiofónica - Rádio Altitude, no dia 29 de Janeiro de 2013 - disponível em podcast em Altitude.fm)

sábado, janeiro 26, 2013

Casa da Rádio, na Rádio Altitude (26-01-2013)

Estive na conversa com o Joaquim Martins na Casa da Rádio, na Rádio Altitude. Hoje de manhã foi uma conversa muito agradável e onde fiz questão de, como sempre, falar direito e de forma incisiva. Os assuntos foram muitos e diversificados. Talvez lhes apeteça ouvir o que disse ou talvez não. Caso queiram, oiçam depois o podcast.

terça-feira, janeiro 15, 2013

Crónica de uma Vela bem acesa ou de um “Retrato de Mónica” - 06. Crónica Diária na Rádio Altitude (4.ª temporada)



1. Há momentos e acontecimentos que não se podem perder e, sei-o, aquilo que eu perdi neste fim-de-semana é de facto uma grande perda. Nem é pelo facto de saber se alguém lhe prestou a devida atenção ou se, como é comum nestas paragens de gentes pasmadas, tudo não passou para todos como um mero exercício visual e juvenil. Não pensem que falo no concerto da fadista Ana Moura, que deve ter tido centenas de espectadores em pose de ocasião e de desinteresse pelo futuro da cultura na Guarda. Falo, isso sim, de 10 minutos de trágica visitação de um dos contos mais absurdos e ao mesmo tempo mais esclarecedores de Sophia de Mello Breyner Andresen, que se chama: “Retrato de Mónica”. Esta visitação, com contornos teatrais e tão ironicamente oportuna, tem como actor António Rebelo e todo o trabalho da equipa que compõe os Gambozinos e Peobardos – Grupo de Teatro da Vela (Guarda). Não sei como correu a estreia, sabê-lo-ei em breve, mas tenho uma firme certeza: aqueles que se vendem na praça pública e que são dissimulados profissionais, e que mesmo assim ousarem assistir a esta peça, levarão metaforicamente um forte murro no estômago.

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Moimenta da Serra, 14 de Janeiro de 2013

Daniel António Neto Rocha


(Crónica Radiofónica - Rádio Altitude, no dia 15 de Janeiro de 2013 - disponível em podcast emAltitude.fm)

quarta-feira, janeiro 02, 2013

Crónica de como pressentir o inimigo ou de à procura de um emprego - 05. Crónica Diária na Rádio Altitude (4.ª temporada)

1. É um dos meus escritores e pensadores preferidos, o homem de quem quero começar por falar este ano. Professor universitário e grande medievalista, Umberto Eco é uma das imensas bibliotecas que as culturas humanística e livresca criaram e nos dão o prazer de continuar a apreciar ao longo dos anos. Aqui há uns meses, quando tive o imenso gosto em estar na Escola Secundária Afonso de Albuquerque a falar de poesia com alunos do secundário, foi-me oferecido um exemplar de um livro deste grande Mestre que eu já tinha andado a namorar nas livrarias mas que, por razões várias, ainda não tinha adquirido. O livro chama-se Construir o inimigo: e outros escritos ocasionais e a versão portuguesa é de Setembro de 2011 Para quem não o conhece, é uma colectânea de várias palestras e artigos de jornal que foram sendo elaborados por essa Europa fora. Será óbvio que o título é basicamente um factor de atracção, mas o seu interior são aulas e aulas e leituras e reflexões e… e uma enormidade de conhecimentos postos ali à mão de semear sem qualquer censor a impedir-nos de o ver. Não, não sou muito bom a publicitar livros nem é minha intenção querer que vós que me ouvis o compreis, mas há uma pequena citação de Sartre que diz muito sobre o papel que hoje Portugal tem na Europa e a relação que os vários estados vão assumindo entre si e, oh reminiscências da antiga URSS, o papel que hoje é assumido de forma gratuita por muitas das pessoas que connosco convivem diariamente. (...)


Moimenta da Serra, 31 de Dezembro de 2012 
Daniel António Neto Rocha 

(Excerto da Crónica Radiofónica - Rádio Altitude, no dia 01 de Janeiro de 2013 - disponível em podcast em Altitude.fm)

quarta-feira, dezembro 19, 2012

Crónica de Natal e da sinceridade comportamental - 04. Crónica Diária na Rádio Altitude (4.ª temporada)

1. O meu filhote tem andado a experimentar palavras e umas coisas que parecem frases, mas tudo com uma boa dose de graça e de sorrisos na cara. É verdade, o meu pequeno mais que tudo está a descobrir com uma interessante intensidade o admirável mundo novo da comunicação verbal e não se tem saído lá muito mal, principalmente naquilo que diz respeito à capacidade de levar a água ao seu moinho, que é como quem diz, conseguir que os papás lhe façam a vontade. É um espertalhão, direi eu. E até por isso, a época de Natal que se aproxima a toda a velocidade é vivida de uma forma mais intensa do que é habitual. Se noutras alturas a reunião familiar era vista como uma forma de juntar os amores das nossas vidas, agora é também a altura de viver com a certeza do seu sorriso atrevido e do seu ar maroto. Sim, porque se há coisa que eu nunca tinha imaginado era esta alegria que ele nos dá a cada dia que passa e a forma doce e desinteressada como ele nos dá as melhores prendas que um pai alguma vez pode receber: um abraço verdadeiro e beijos cheios de ternura. 

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Moimenta da Serra, 17 de Dezembro de 2012 
Daniel António Neto Rocha 

(Excerto da Crónica Radiofónica - Rádio Altitude, no dia 18 de Dezembro de 2012 - disponível em podcast em Altitude.fm

quarta-feira, dezembro 05, 2012

Crónica da água no bico e das histórias com éguas dentro - 03. Crónica Diária na Rádio Altitude (4.ª temporada)

1. Aprender a duvidar da própria sombra quando ela se apresenta perfeita demais é um princípio que nos deveriam ensinar logo nos primeiros anos de escola. Ao contrário daquilo que se vai vendendo e procurando inculcar na sociedade, nem sempre o elogio ou o panegírico é algo que deva ser levado a sério, pois a maior parte das vezes traz anexada uma intenção claramente falsa e com propósitos muito suspeitos. Daí que já aprendi a usar uma expressão tão querida ao povo de cada vez que alguém me diz que fulano ou sicrano proferiu isto ou aquilo em meu favor. A expressão, como todos facilmente reconhecerão, é “Isso traz água no bico!” e significa que alguém pretende fazer algo a seguir ao elogio que é quase sempre negativo para o elogiado. Em Portugal, como já todos percebemos, a onda de elogios é sempre idêntica e apesar de Portugal “ter a geração mais preparada de sempre” e de o “povo português ser o melhor do mundo” percebe-se claramente que o elogio serve apenas para encher balões. Assim sendo, compreendem-se as salvaguardas de quem ouve estas palavras e ouve nelas não um elogio ou uma qualquer constatação, mas sim uma tentativa de criar falsas expectativas e esperanças num futuro que se espera melhor que o presente, mas não para os elogiados. 

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Guarda, 3 de Dezembro de 2012 
Daniel António Neto Rocha 

(Extracto da Crónica Radiofónica - Rádio Altitude, no dia 4 de Dezembro de 2012 - disponível em podcast em Altitude.fm

quinta-feira, novembro 22, 2012

02. Crónica da Teoria da Rolha ou dos afogados - Crónica Diária na Rádio Altitude (4.ª temporada)

1. Haverá momentos em que uma crónica pensa em emigrar dada a míngua de assuntos novos que a mereçam. É que este país, para além de não ter nada em que os seus contribuintes se possam empregar, ainda tem o condão de obrigar a pobre crónica a voltar sempre ao assunto do costume: o embuste político nesta espécie de passerelle política onde feios e incapazes “boys” e “girls” passeiam as suas contas em constante aumento. Por isso, crónica, pobre crónica, hoje fugimos destes temas que nos perseguem e fugimos em direcção ao mundo do faz de conta, em que todos nós somos gentes felizes e em que o pessoal não pensa só nos amiguinhos dos tempos do PREC e dos tempos das deliciosas soirées em plena boulevard de Paris!

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Guarda, 19 de Novembro de 2012 
Daniel António Neto Rocha 

(Excerto da Crónica Radiofónica - Rádio Altitude, no dia 20 de Novembro de 2012 - disponível em podcast em Altitude.fm)

sexta-feira, novembro 09, 2012

01. Crónica Diária na Rádio Altitude (4.ª temporada) – Crónica Americana ou do Autoclismo


1. Hoje é mais um daqueles dias em que a palavra mudança assume contornos reais e ilusórios, dada a impossibilidade que a honestidade tem de ganhar em qualquer parte do mundo. É impressionante como num mundo em que tudo está controlado pelo lucro e pela escravidão existem estes espaços de luz e de ar puro que nos vão aliviando o sofrimento com contornos de liberdade. Há quatro anos atrás uma onda de confiança e de crença varreu o mundo. Há quatro anos atrás, do outro lado do Atlântico, veio uma lufada de ar fresco que prometia agitar todo o globo e condenar a tirania e a escravidão ao desaparecimento. Há quatro anos atrás eu acreditei que poderia de facto acontecer algo bom. Sim, estou a falar da incrível eleição de Barack Obama como presidente daquele que todos admitem ser o país mais democrático do mundo. E realmente a democracia funcionou e o povo escolheu o seu representante. Aquela eleição marcou uma completa reviravolta naquilo que era o sistema quase monárquico a que o país dos hambúrgueres nos tinha habituado. (...)

Guarda, 05 de Novembro de 2012
Daniel António Neto Rocha

(Excerto da Crónica Radiofónica - Rádio Altitude, no dia 06 de Novembro de 2012 - disponível em podcast em Altitude.fm)
 

segunda-feira, novembro 05, 2012

Surpreendam-se!

Amanhã começa a quarta temporada de colaboração entre mim e a Rádio Altitude. Amanhã pelas 9h15 e às 17h15 ouçam o que tenho a dizer ou então não ouçam. Começa amanhã e depois de quinze em quinze dias! Surpreendam-se!

quarta-feira, outubro 31, 2012

Renovação de contrato com a Altitude

Gosto de renovar contratos, mesmo os contratos que são apenas verbais. Aliás, destes assim até gosto mais, pois gosto de pessoas que honram as suas palavras e não fazem de conta que nunca disseram nada. Sobre esta questão da honra tenho alguns episódios curiosos que um destes dias poderei começar a contar, mas logo vemos. Renovei contrato, numa sessão simples e discreta, na Segunda-feira, com a Rádio Altitude. Vai ser já o quarto ano de ligação com aquela Rádio. Quatro anos! E parece que foi ontem. Por lá tenho dado o que de melhor tenho: sinceridade e profissionalismo, aliados a muita ironia (e algum sarcasmo) e a uma postura sempre coerente. Talvez as gentes da Rádio, de quem gosto, tenham outras opiniões sobre as minha crónicas e nem gostem muito delas, mas este convite enche-me sempre de orgulho. Afinal, é uma Rádio que não muda de caras. Conheço todos os que lá estão desde o primeiro dia. Coisa rara nestes dias onde a "máquina" exige que se depurem os que não são da cor ou da opinião.
Caro Rui e demais amigos, aqui fica a promessa de mais umas quantas crónicas. As que forem necessárias e com muito picante, para os ouvidos mais sensíveis.
Até breve e vão estando atentos!

terça-feira, junho 26, 2012

17. Crónica Diária na Rádio Altitude (3.ª temporada) – Crónica das palavras ou da retórica demagógica (*)

1. “Quando a pátria que temos não a temos/ Perdida por silêncio e por renúncia/ Até a voz do mar se torna exílio/ E a luz que nos rodeia é como grades”, assim escreveu Sophia de Mello Breyner Andresen em 1962 no seu Livro Sexto. O poema chama-se “Exílio” e dá-nos a entender que a palavra e a participação pública são essenciais para a manutenção de uma saudável pressão democrática sobre os usurpadores do poder, que tantas vezes aprisionam as vozes do povo e as levam a um suicídio participativo. Quero com isto responder a ou esclarecer todos aqueles que levam e que são levados a pensar que as palavras são inacção, ou melhor, que demasiadas palavras servem, unicamente, para forrar as ruas ou as paredes não servindo para mais do que isso. Alguns, armados da aparente delicadeza e de uma ufana retórica parcial, parecem esquecer que o “verbo” é acção, tanto para a teoria da criação divina, como para o desenvolvimento semântico, logo gramatical, da frase. Claro que, sendo livre e despretensiosa (tal como o ar que respiramos), a palavra pode ser um enfeite ou uma ilusão se usada para encher o ar de coisa nenhuma ou para propalar os feitos encantatórios de quem a quiser usar de forma enganadora e, puramente, política. Porém, quem faz reflexões sobre a palavra deve saber distinguir aquilo que é a função nobre deste símbolo da liberdade de todas as outras utilizações pretensiosas, pois, e num registo extremamente metafórico, não é a faca que mata mas, sim, a mão que a segura. Esclareçamos. A arte política de enganar e de não executar o que prometeu não se deve à inacção da palavra, mas, sim, à falta de honra dos homens! As promessas eleitorais são feitas pela língua, tantas vezes, viperinas dos homens, sendo a palavra apenas um “objecto” transmissor! Os sofismas, de que tantos conceituados oradores são portadores, são habilidades dos homens e não das palavras! Talvez Sophia, a partir do livro já referido acima, possa ainda ajudar-nos a esclarecer todos aqueles que querem ver como culpadas as palavras e não a língua que as articula com o poema “O Velho Abutre”: “O velho abutre é sábio e alisa as suas penas/ A podridão lhe agrada e seus discursos/ Têm o dom de tornar as almas mais pequenas”.

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Guarda, 25 de Junho de 2012
Daniel António Neto Rocha

(excerto da Crónica Radiofónica - Rádio Altitude, no dia 26 de Junho de 2012 - disponível em podcast em Altitude.fm)

(*) Porque acabou a temporada deste ano.

terça-feira, junho 12, 2012

16. Crónica Diária na Rádio Altitude (3.ª temporada) – Crónica do ataque ao interior ou da tentativa de desertificação também cultural

1. “Ne sutor supra crepidam iudicet!”, ou seja, “que nem o sapateiro julgue acima da sandália!” Assim exclamou um dos mais importantes pintores da Grécia antiga, de nome Apeles, aquando da mera crítica destrutiva que um vulgar sapateiro fez ao seu quadro. A história é simples e conta-se em meia dúzia de linhas. Apeles gostava de expor os seus quadros na ágora com o fino propósito de ouvir as críticas e, assim, modificar algo que pudesse estar errado. Um dia, um sapateiro, que por ali costumava passar, criticou a forma como estavam pintadas as sandálias de uma das figuras pictóricas. Consciente do conhecimento que aquele artesão tinha, Apeles retocou o quadro segundo as críticas do sapateiro. No dia seguinte, o pintor voltou a colocar o quadro para ser visto pelo artesão. Este que confirmou a, agora, perfeição da sandália começou, então, a criticar a forma como estavam pintadas as pernas e outras particularidades das figuras. Ao ouvir estas críticas, Apeles surge e grita a frase que apresento acima, demonstrando ao sapateiro que cada um deve criticar aquilo que conhece ou, pelo menos, aquilo sobre o qual tem informações bastantes e esclarecedoras.

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Guarda, 11 de Junho de 2012
Daniel António Neto Rocha

(excerto da Crónica Radiofónica - Rádio Altitude, no dia 12 de Junho de 2012 - disponível em podcast em Altitude.fm)

terça-feira, maio 29, 2012

15. Crónica Diária na Rádio Altitude (3.ª temporada) – Crónica do turismo ou da “cock” para o vinho australiano

1. Se não vivesse em Portugal, com toda a certeza que não seria tão feliz como sou. Portugal é um país que continua a dar mundos ao mundo e a ganhar destaque em todos os cantos do globo. Vejam-se as últimas informações sobre redes de lavagem de dinheiro que se estendem até Singapura! Fabuloso não é? Dirão todos aqueles que tiverem a consciência normalizada que se trata de uma falta de vergonha e, no mínimo, de um crime, mas eu só posso aplaudir este regresso do espírito empreendedor de outrora. Lembrem-se de que já andámos por aqueles cantos do mundo há algumas centenas de anos e, se na altura foi rentável, por que não investir em mais do mesmo ou coisa parecida! É este espírito de compadrio que fará avançar Portugal para águas mais profundas e, por fim, afundar-se em beleza, podendo transformar-se numa real Antárctida e, por causa disto, numa potência turística submarina. Já estou a imaginar os catálogos turísticos: “Portugal, um destino de eleição! Descobrimos novos mundos para o mundo e, agora, empreendemos na arte de afundar tudo aquilo em que tocamos. Venha afundar-se connosco e contacte com a nossa memória líquida!”

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Guarda, 28 de Maio de 2012
Daniel António Neto Rocha

(Excerto da Crónica Radiofónica - Rádio Altitude, no dia 29 de Maio de 2012 - disponível em podcast em Altitude.fm)

terça-feira, maio 15, 2012

14. Crónica Diária na Rádio Altitude (3.ª temporada) – Crónica de um dia diferente ou dos alunos do Zé (*)


1. No dia 4 (quatro) deste mês estive na Escola Secundária Afonso de Albuquerque, a convite do seu Centro de Recursos e do Professor José Monteiro, para falar sobre literatura, especialmente de poesia, com duas turmas de Humanidades. Estive no “Liceu”, minha escola de tantas e tantas aventuras, como tinha estado tantas vezes no passado e como vou estando em memória sempre que penso no espaço essencial que me preenche. Nesse dia, no entanto, estive noutro papel, a mostrar-me inteiro, a revelar-me e a agradecer os ensinamentos que ali recolhi. Voltei à escola como o escritor e poeta que inicia um caminho que poderá revelar-se real. O convite tinha como pressuposto uma conversa dos alunos com o “autor” Daniel Rocha que ainda não tem um livro. E não é que foi uma conversa franca e aberta entre gente interessada e consciente da existência de algo mais do que crises económicas e promoções de quaisquer sectores comerciais? Até se falou em teoria da literatura!

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Guarda, 14 de Maio de 2012
Daniel António Neto Rocha

(Crónica Radiofónica - Rádio Altitude, no dia 15 de Maio de 2012 - disponível em podcast em Altitude.fm)

terça-feira, maio 01, 2012

13. Crónica Diária na Rádio Altitude (3.ª temporada) – Crónica dos feriados de Abril ou do “Dia do Desempregado”(*)

1. Irra!, mais um feriado para atrapalhar a retoma económica do nosso grandioso país! Mas que cultura esta que insiste em celebrar dias assinalados pela tradição ou pela história como simbólicos e não compreende que a trabalhar é que o povo enriquece as suas contas bancárias e as dos patrões nacionais. Enfim, depois venham queixar-se dos impostos ou das subtracções de vencimentos. Se não trabalham e se andam por aí a aproveitar para descansar, estão à espera de quê? Só no mês de Abril parámos o país por dois dias! E porquê? Primeiro foi por causa de uma tal de Páscoa e dos ovinhos que, responda lá a biologia animal a isso, foram postos por um coelho. Depois, orgulhosos e extremamente crentes nos feitos passados de uma rica corja de políticos portugueses e na bela herança que diariamente recebemos deles, assistimos às quase inexistentes celebrações daquilo a que chamam o dia mais importante de Portugal. Que gente esta e que raio de cultura! Não sabem que é a trabalhar que a gente se entende? É claro que estou a usar e a abusar da ironia! Em primeiro lugar, neste período pascal o senhor coelho não deu ovos mas sim “caganitas”. Em segundo lugar, no dia 25 de Abril de 2012 nada de novo se acrescentou ao que já se sabia, apenas constatámos outra vez que a mentira é que há-de fazer com que alguém melhore. E por aí adiante.
 

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Guarda, 30 de Abril de 2012
Daniel António Neto Rocha

(Crónica Radiofónica - Rádio Altitude, no dia 01 de Maio de 2012 - disponível em podcast em Altitude.fm)

(*) As melhores perspectivas do Governo, ainda hoje, são a evolução dos números do desemprego para números nunca vistos. Estão preparados para sofrer?