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sexta-feira, outubro 28, 2016

Crónica Bombeiros.pt: Pequena carta aos filhos dos bombeiros

Amigos,
Como imagino que podeis não saber ainda ler, peço ao vosso pai ou à vossa mãe (ou mesmo a outro familiar) que me ajude a chegar a vós.
Sabeis, neste tempos difíceis em que os vossos pais bombeiros têm passado tanto tempo longe de vós, eles têm partilhado alguns instantes, algumas aflições e tanto e tanto suor com outros homens e mulheres que, como eles, tentam defender o vosso futuro e o vosso país.
Não, eles não vos abandonaram nem sequer se esqueceram de vós. Aliás, em todos os momentos de descanso ou de viagem rumo a outro incêndio, é de vós que eles se lembram e é a vós que desejam voltar rapidamente.
Sim, eles só vos vêem a vós! E dizem mesmo que o que os move é o vosso sorriso, a vossa alegria, quando chegam, cansados, e vos vêem correr para eles de braços abertos ou vos vêem dormir, descansados, em casa. Sim, os vossos pais sabem que vós os amais. Sim, os vossos pais amam-vos acima de tudo e de todos.
Aqui há dias, enquanto combatíamos um incêndio no cimo de uma montanha, a montanha mais alta de Portugal, e no momento em que o Sol e a Lua apareciam quase a par e mostravam que algumas flores tinham sido poupadas, alguns bombeiros acabavam de apagar um dos sítios que ardiam. Assim que tal aconteceu, sentaram-se por momentos e falaram de vós, pequenos heróis, que estavam em casa à espera de uma notícia ou de apenas um Bom Dia! E falaram do gosto de cada um de vós pelo momento em que se ligam as luzes brilhantes do carro de bombeiros e vós vos juntais a um momento de descansada diversão no quartel. Nesse momento, vós sonhais com o ser bombeiro e com o papel importante que ele, bombeiro e vosso pai, tem.
Sabeis, naquela montanha, naquela manhã, naquele momento em que o Sol e a Lua bailavam acima de tudo e de todos, naquele instante em que vários pais falavam sobre os vossos sorrisos, uma frase simples, em jeito de pergunta, ficou-me no ouvido e foi dita por tantos de vós no momento que os vossos pais saiam de casa:
“Pai, vais ajudar as pessoas?”
Sim, os vossos pais vão ajudar milhares de pessoas, mas amam-vos acima de tudo! Nunca se esqueçam!

Daniel António Neto Rocha
Famalicão da Serra, 9 de Setembro de 2016

Crónica Bombeiros.pt: No país dos sábios e santos

Não haverá país no mundo inteiro onde, por ordem e graça divina, a sabedoria tenha sido tão semeada como nas terras senhoriais de Portugal, tanto continental como insular.
Que somos um país abençoado pela graça divina… já o sabemos desde o Ourique, relembrado recentemente por sua excelência o (novo) Presidente da República. Também o sabemos pela capacidade formativa ao nível da santidade: temos António, temos Nuno, temos os beatos e outros teremos, certamente. Por fim, temos também a vinda da virgem santíssima que decidiu instalar-se em Fátima. Tudo isto, vejam bem, apenas com um pequeno correr de memória da santidade portuguesa.
Santidade vista… falemos da sapiência que, pelos vistos, também será qualidade do ADN de ser português. Poderíamos comprovar este facto com provas dadas e com trabalho feito por gentes que se destacam nas mais diversas áreas, mas tudo isso para quê? Não podemos nós fazer antes alusão à esperteza que conduz as mais diversas instituições que acabam por ruir? Não poderemos nós fazer menção a todos aqueles que “em bicos dos pés” e com uma “sem-vergonhice desmesurada” se aprestam a dizer presente quando a ausência é sempre notada?
Pois bem, de aparecimentos divinos e sapientes em função da comunicação social estão os bombeiros fartos, mesmo que a desfaçatez destes santos e sábios de ocasião tente passar uma ideia contrária.

Moimenta da Serra, 6 de Julho de 2016

Crónica Bombeiros.pt: “Puta que pariu” o terrorismo à maneira portuguesa!

1.São tempos de convulsões extremas na dita sociedade ocidental. O medo – aliado a um desconhecimento imenso do “outro” – e a subsequente insegurança – até agora encapotada pelos milhões de euros, dólares, etc. – são motivos para governantes e seus protegidos se aliarem numa tentativa flagrante de manutenção de um estado de coisas favorável à escravidão dos novos tempos e à ditadura dos números. Tudo isso vitima de uma ganância e de uma assumida estratégia de soma de parcelas em que se exploram os de cá (os do seu próprio país) e os de lá (os dos países controlados por ditadores assumidos ou por grupos criminosos “de pistola e catana”) sem olhar para a forma como os direitos humanos mais básicos se transformam em palavras de ordem e de desordem nas ululantes redes sociais. Ah!, tudo isso misturado com a moda da defesa intransigente de tudo o que mexe e rebola, nem que seja pela acção do vento. Mas, não nos desviemos do assunto! O terrorismo, tal como antes, assume hoje características impensáveis para uma dita sociedade das nações ou sociedade mundial ou sociedade humana. O terrorismo é hoje motivo para migrações de pessoas cansadas de estar aprisionadas em campos de concentração modernos (os chamados campos de refugiados) em que famílias inteiras esperam apenas pela morte, subsistindo e pouco mais. O terrorismo mediático, o tal dos “gajos fundamentalistas do islão”, é, aparentemente, aceite pelos polícias do mundo com uma calma preocupante, enquanto morrem milhares de pessoas e milhões vivem em constante estado de terror.

2.E nós por cá, pelo rectângulo encantado à beira mar plantado? Nós, por cá, preocupamo-nos! E ainda bem! Somos gente capaz de estar atenta às necessidades dos outros e de “sofrer” com a agrura destes povos aterrorizados por guerra, bombas e gente capaz de queimar os cidadão com um litro de gasolina. Mas, o que leio eu, nós preocupamo-nos com o “terrorismo fundamentalista islâmico” e não nos preocupamos com o “terrorismo incendiário” que nos persegue há tantos e tantos anos? Sim, também o povo português vive rodeado de um terrorismo pouco escondido, com fumo a entrar-nos pelos olhos e pelos pulmões, e com um constante aterrorizar das pessoas que vivem no meio rural e, pasmemo-nos, até com as pessoas que vivem no meio urbano. E se para combater o “terrorismo lá de fora” (sim, sei que estão a dizer que temos de prevenir o que pode vir a acontecer no futuro) são até implementadas leis que fazem de um curioso, sobre estas hordas de verdadeiros infiéis às religiões, um terrorismo em potência e com mandato de captura imediata, no caso do terrorismo cá de dentro o que fazem os governantes? Nada mais, nada menos do que tirar às forças de investigação (às forças policiais) a oportunidade de encontrar indícios de que estas acções terroristas são isso e nada menos do que isso. E são estas “pequenas” asneiras legislativas, aliadas à constante desculpabilização da negligência grosseira e dos comportamentos marginais, que fazem com que o doce aroma do Verão português seja o da madeira queimada. “Puta que pariu” o terrorismo à maneira portuguesa!

Moimenta da Serra, 24 de Setembro de 2015

quarta-feira, junho 24, 2015

Crónica Bombeiros.pt: Lá vai um, mas só um, um Kamov a voar…

E Portugal e as entidades que ganham dinheiro com Portugal… aí estão no seu melhor! Uma frota de meios aéreos essenciais para a sobrevivência não só da cadeia de Protecção Civil de um país (lembremos que se trata de um equipamento utilizado no socorro urgente e no combate a incêndios florestais e no transporte de doentes e etc.) e fica INOP de um momento para o outro, como se de uma surpresa se tratasse.
Não, não estou a dizer que não existem imponderáveis (como acidentes ou outros inconvenientes), mas há um controlo de meios e do seu desgaste que tem de ser efectuado sem… (e aqui pode doer) pensar só em ganhar dinheiro ou distribuir o mesmo dinheiro! Oito anos de desgaste de meios aéreos não foram acompanhados por equipas técnicas? Oito anos de trabalhos intensos não foram suficientes para salvaguardar a época e impedir que “a surpresa” acontecesse?
No início de Abril, em Viseu, perguntava eu ao Senhor Secretário de Estado da Protecção Civil o que aconteceria ao dispositivo, ao nível de meios aéreos, se houvesse um excesso de ocorrências e a carência desses meios. Ou melhor, se havia um plano B para o reforço desse contingente aéreo. A resposta foi: sim, tudo está previsto! As palavras significaram isto, não sei se foram efectivamente estas.
Agora, e perante este facto que é ter uma falha de vários meios aéreos e ainda não ter começado o “foguetório”, as perguntas que se impõem são: Há alguém a pensar e a cuidar dos meios para que eles não faltem quando deles mais se precisa? Ou a única questão que se coloca é saber quanto se ganha ou se distribui pelos “mais amigos”?

Moimenta da Serra, 23 de Junho de 2015

terça-feira, abril 21, 2015

Crónica Bombeiros.pt: O poder de uma “mentira”

Foi, como já fizemos menção, a nossa mentira do dia 1 de Abril, o tradicional Dia das Mentiras onde se perdoa um oportuno desvio da natural verdade noticiosa dos outros trezentos e sessenta e alguns dias. A “notícia” tinha como título “DECIF 2015: Bombeiros vão ter de passar recibo verde” e despertou muita curiosidade e levantou muita e, digo eu, necessária discussão.
A pergunta que muitos mantêm passados cerca de vinte dias é: e se fosse verdade? Pois bem, também eu, enquanto trabalhador português a recibos verdes, me coloco a mesma questão… e, o certo, é que não é nada despropositado que esse dia chegue aos bombeiros portugueses. Para quem não conhece (e esperando que haja muitos que não conheçam e pedindo ajuda aos que conhecem melhor do que eu), o recibo verde terá sido uma criação governamental transitória e reguladora de situações pouco esclarecidas e indesejáveis que se transformou no regime predilecto de contratação da “patronice” nacional, instituições governamentais incluídas. Até aqui penso que não erro muito.
Pois bem (outra vez), dentro deste regime de trabalho é incrível o número de actividades consagradas e as cambiantes para cada uma, tanto ao nível do IVA como do do IRS. Daí que… não era nada descabido que cada um de nós, bombeiros, pudéssemos ser obrigados a prestar contas sobre as compensações que recebemos nos DECIF. Digo mais, talvez fosse uma boa forma de evitar alguns “abusos” que podem, ainda, ir acontecendo por esse país fora. Não, não conheço nenhum, mas tenho a mania de ficcionalizar as coisas.
E é dentro deste contexto que surgem muitas e boas questões suscitadas pela “notícia” publicada por nós aqui no Portal. A discussão que originou revela dois campos de diálogo diferentes e bem necessários: em primeiro lugar, a necessidade de haver um amplo esclarecimento público no universo dos bombeiros portugueses sobre as compensações atribuídas aos seus elementos, começando nas direcções, passando por comandantes e contemplando bombeiros e suas famílias; em segundo lugar, a percepção por parte do Governo de que a visão que os portugueses, no geral, têm da relação que mantêm com as Autoridade Tributária é igual à que em Inglaterra havia em tempos entre o povo e o Xerife de Nottingham, ou seja, as Finanças, para os portugueses, só servem para “tirar” e não para “regular”.
Aí está o poder de uma “mentira” que, no interesse geral e devidamente enquadrada, poderia nem ser uma má medida de todo.

Moimenta da Serra, 20 de Abril de 2015
Daniel António Neto Rocha

quarta-feira, fevereiro 18, 2015

Crónica Bombeiros.pt: Pensar diferente


Não farei uma grande exposição, pois para grandes males os pequenos remédios são mais eficazes, mas apetece-me falar sobre nós, bombeiros, e sobre a forma como nos vemos. Regra geral, todos pensamos que somos os melhores e, a cultura que nos vendem, diz-nos isso mesmo. Somos os melhores e ponto! 
Depois, todos nos apercebemos das carências que temos nas nossas corporações (quantas vezes corremos atrás de meros equipamentos de segurança) ao nível do mais básico da nossa profissão e refilamos, berramos, e mais, e mais, mas fazemos tudo como se estivéssemos super equipados (também mentalmente). E, não, não estamos! Somos dedicados, aplicados e voluntariosos, mas isso não chega. Para além disso temos de nos conhecer bem e aceitar as nossas limitações, rirmos do desajuste que temos entre o que podemos (e devemos) fazer e o que efectivamente fazemos (tantas vezes colocando-nos em risco). 
Mas, nada disto é exclusivo de nós “a carne para canhão”. Isto é especialmente preocupante nas esferas directivas, que continuam a acreditar que são os melhores e os mais sobredotados. Este é o mal que temos de reparar antes que seja tarde para outros. 
Porém, nem só de “certezas absurdas” está o nosso Inferno cheio. Também precisamos de repensar a nossa atitude perante a vida que nos rodeia, começando por saber rir dos absurdos dela. E dos absurdos da nossa realidade, pois nenhuma realidade é isenta de humor ou de factos que podem ser risíveis. Nós, bombeiros, merecemos mais! E é por merecermos mais que eu não aceito que alguém diga que “há bombeiros que não pensam”, “que há bombeiros que não percebem o que se lhes diz”, “que há bombeiros que têm de ser levados pela mão”, etc.. Os Bombeiros Portugueses precisam de começar a exigir que os não tratem como mero “verbo de encher”.


Moimenta da Serra, 17 de Fevereiro de 2015

terça-feira, janeiro 13, 2015

A liberdade de expressão é tudo! Mesmo na Guarda.



Nunca fui muito de travar impulsos. Sério! A minha mãe até me dizia muitas vezes: ganhava eu mais contigo, se o contador contasse, do que com o Ti António a ligar para a França! É óbvio, penso eu, que todos já perceberam que a minha mãe tinha no seu comércio um telefone público. Daí para cá, ainda pouco, lá me vou contendo de impulsionar uma resposta a quem, digo-o eu, não falou para mim, mas para que todos pudessem fazer uma silenciosa reflexão e, com um pouco de boa vontade, acolhessem cegamente o que tinham acabado de ouvir.
Pois bem, hoje, por incrível que pareça, fiz um recolhimento (uma espécie de confissão interior) e perguntei-me várias vezes: vale a pena? vale a pena? vale a pena? x (leia-se: vezes) o infinito! Este recolhimento tinha por base uma questão que roça as fímbrias da teologia, mas que fica muito longe por eu não ser um estudioso ou, sequer, especialista (rápido) do diálogo entre universos paralelos. Pois tudo me soou a isso. 

Quer dizer, um homem levanta-se (devagar, para não tropeçar em qualquer questão religiosa sensível, como a verdadeira cor de Cristo ou o grau de inclinação do bigode de Maomé, já para não referir os caracóis típicos de um respeitável judeu ou o raio perfeito da barriga de Buda) e apanha com o dom da audição directamente no centro das suas convicções? Raios partam o Ar da Guarda e as propriedades poluentes (ao nível das substâncias psicotrópicas partilhadas) que esse mesmo ar possui!

Hoje, ouvi alguém (que não vou identificar para que o senhor Bispo da minha diocese não me excomungue - coisa que a minha mãe e a minha esposa nunca me perdoariam) dizer umas coisas. Óbvio que não concordei com tudo e discordei com muito. Daí que tive de escrever!
Ora bem, uma agressão bárbara e criminosa e assassina e ... não tem qualquer tipo de justificação! Ponto! Ponto! Ponto! Ponto! Esse é o princípio básico da condição humana! Aliás, é-o desde que ganhámos consciência uns dos outros e uns dos direitos dos outros! Penso que não me estou a enganar (notem a ironia) quando digo que existe um mandamento nosso (pois sou cristão) que diz: Não matarás! Certo? Logo, quem mata precisa de um conjunto de juízes e advogados (à boa maneira portuguesa) que dão tantas voltas à questão que se vai descobrir que o culpado é o assassinado por estar na frente das balas (leia-se: qualquer tipo de arma) que o assassino (leia-se à maneira da justiça portuguesa: pobre coitado que teve motivações, porventura erradas, mas que respondem a provocações) por querer e conscientemente disparou? Precisa, pois tem direito a uma defesa. Concordemos ou não com essa defesa. Já viu como os corruptos se safam, não já?

Agora, a "sociedade tem de repensar a liberdade de expressão"? São isto laivos do Cardeal Cerejeira? Quererá, porventura (pois eu tendo a ser um abusado ao nível da interpretação que faço destas coisas), dizer que terá de deixar de existir "liberdade de expressão" pois algumas questões são tabu? Ou dogmas? Ou questões que implicam uma queda para a cova? Veja bem, eu, que até sou um crente (esquisito, mas crente!), tenho uma certa dificuldade em aceitar um regresso ao século XII, quando os Reis se sujeitavam aos ditames e regras da religião para poderem armar-se como Reis. Verá que eu nem falo dos desgraçados que se chamavam "povo", como ainda agora. Já em relação ao não discutir certos assuntos... Sim, bem sei, bem sei que existe uma ou outra coisas curiosas na nossa religião que não merecem discussão, mas o que me impede de a não discutir? Porventura, teremos algum braço armado fundamentalista que me corte a língua ou os dedos se eu o fizer? Penso que não, mas... Sim, também sei, também sei que os primeiros divórcios foram uma dor de cabeça para a Igreja, que preferia uma mulher com um braço partido e submissa à virilidade do pater familias e assim uma boa dona da casa e seguidora dos desígnios divinos. Mas hoje estamos errados, ou não? Não me vai dizer que se nega a comunhão a mulheres divorciadas, pois não?

Ora bem outra vez, outro dos aspectos interessantes é o diálogo transformado num monólogo. Melhor dizendo, o respeito pelas convicções dos outros não dá direito a que as pessoas que não concordem com essas convicções as exponham? Ou, como fica bem, umas pessoas podem ter as convicções que quiserem e outras não? Eu posso ter as minhas convicções religiosas e o Manel (refiro-me àquele do Jorge Jesus) ser completamente contrário a isso e desconfiar dessas mesmas convicções, certo? Podemos trocar argumentos a favor ou contra qualquer dos nossos campos defensivos, mas não deixamos ambos de ter razão. Nesta campo lembrou-me um senhor chamado António que tinha aprendido em Santa Comba Dão que Não se discute a pátria! Claro que, aqui pela Guarda, não é só o senhor que eu ouvi que soa a Santa Comba Dão.

E, para terminar, multiculturalidade não é a aceitação do que os outros nos impingem! Multiculturalidade é o respeito e a aceitação da diferença, não existindo a submissão de nenhuma das partes diferentes. Aliás, a multiculturalidade encoraja a diferença e a convivência entre as culturas. E nisso não vejo cinzentismo nenhum, vejo sim o direito de escolher a cor que preferem e a adopção daquela cor que lhes parece mais coerente. Mesmo que não seja a nossa, devemos respeitar a escolha dos outros. Parece-me que o diálogo inter-religioso é defensor disso mesmo.

Agora, parece-me que o caso final, o caso das escolas portuguesas, é o cúmulo de tudo. Então a laicização do ensino não deveria integrar religiões? Claro que ao lado de uma cruz podemos colocar mil símbolos religiosos e assim ter uma sala mais vestidinha e mais repleta de multiculturalidade. Ou, numa sociedade inclusiva, devemos nós icluir tudo e todos no nosso pensamento e credo? Mas isso é tolher as liberdades. Ou não?

Pois bem, leiam-me com ironia e com alguma dose de alucinação, mas penso que devem, principalmente, dar-me a liberdade de escrever o que bem e sobre o que bem me apetecer. Como eu vos estou a dar a liberdade para lerem ou para não lerem.

Em todo o caso, também podem responder. Não o façam é com balas, sou alérgico!

      

sexta-feira, setembro 12, 2014

Crónica Bombeiros.pt: Sexo, Drogas e Incêndios



Por incrível que pareça, não foram os incêndios das últimas semanas que estiveram no foco reflexivo principal de todos aqueles que vivem os bombeiros portugueses com intensidade e sinceridade.
Por incrível que pareça, foram as letras gordas dos jornais e os sons agressivos da rádio e televisão a anunciar que alguns dos “nossos” bombeiros eram responsáveis pelo início de um sem número de incêndios, foram as notícias a anunciar que dois dos “nossos” bombeiros tinham sido apanhados devidamente uniformizados em pleno acto de tráfico de droga, foram as notícias de um dos “nossos” bombeiros que usou a ambulância para a prática de sexo… Estes foram os momentos negros que importa, sim, trazer para a discussão e lançar uma pergunta que merece, sim, uma visão mais romântica (o estatuto agónico do bombeiro é sempre uma visão que vende bem), mas será preciso, principalmente, que essa mesma pergunta tenha uma resposta bem mais realista: O que é um Bombeiro?
Dos casos que atrás se enunciaram, e que estiveram presentes nos intervalos do combate a incêndios, o último (sim, o do bombeiro, sexo e uma ambulância) merecerá uma menção especial e rápida, pois trata-se de uma questão de cinema. O desejo despertado pelos filmes sobre bombeiros, de origem principalmente norte-americana, na mente dos bombeiros portugueses poderá ter originado esse acontecimento, juntando-se por fim aquele célebre provérbio que diz que a “ocasião faz o ladrão”. Neste caso, parecerá que o calor terá elevado os corpos a um estado tal de desejo que a irracionalidade provocada pelos filmes e pelo sexo terá sido mais forte. Um descuido? Um acto irreflectido? Um desejo secreto? Talvez, mas um mau princípio e uma atitude primária que deve estar longe de seres que se querem racionais e objectivos na missão que quiseram abraçar. Logo, querem-se homens e mulheres que cumpram as suas missões e que não se remetam a momentos que, acredito, possam ser interessantes mas que não são os daquele espaço. Para além disso, e vendo o lado positivo e risível, pode ser uma boa oportunidade de negócio para os empreendedores dos encontros românticos: vá, empresários da hotelaria, empreendam e abram um quartito para encontros românticos dentro de uma ABTD! Aposto que terão clientes e que o sucesso será tal que até me poderão atribuir uma percentagem desses ganhos.
Os casos dos bombeiros incendiários e do tráfico de droga são questões de polícia e merecem, da parte de quem se entrega a esta causa de forma honesta, o tratamento mais radical possível. Nós, bombeiros portugueses, temos pais, irmãos, amigos que morreram em incêndios e não podemos permitir que os “nossos” bombeiros nos coloquem em risco só porque estão mal dispostos ou tiveram um mau dia. Esses homens e mulheres não merecem nem podem estar do nosso lado e devem, de imediato, ser expulsos de todos os corpos de bombeiros e entregues às autoridades policiais. Não pode nem deve haver contemplação com estas atitudes que, como todos sabemos, nos colocam em risco máximo. E isto é extensível aos “nossos” que nos comprometem ao utilizar drogas ou ao praticar qualquer tipo de negócio obscuro ao coberto do bom nome dos bombeiros. Vejam que não foi o “João” ou o “António” que foram detidos por tráfico de droga ou por crime de incêndio. Foram os “bombeiros” que foram detidos. É toda a estrutura dos bombeiros, todos aqueles que dão de si na defesa da sociedade e na defesa das pessoas e bens, que estão a ser expostos pelos crimes de meia dúzia de delinquentes que contaminam as nossas fileiras.
Sim, tudo isto para chegar ao ponto e à questão fulcral que é preciso colocar de forma fria e objectiva: estamos nós, bombeiros portugueses, a recrutar quem não pode nem deve ser recrutado?
   

Famalicão da Serra, 7 de Setembro de 2014
Daniel António Neto Rocha

(crónica publicada no Portal Bombeiros.pt no dia 8 de Setembro de 2014)

quarta-feira, julho 30, 2014

06. Crónicas Silenciosas – Moralidades



Sempre desconfio de quem, do alto da sua imponente inutilidade real, debita conselhos e críticas a quem, espantado pelo desacerto constante de políticas decisões e surreais decisões, vai fugindo à sina imposta e se transforma numa espécie de Robin dos Bosques para sobrevivência familiar. Entre banqueiros, líderes de grandes empresas, políticos, gente bem assegurada pelo erário público, ex-qualquer coisa, descendentes de figuras dos antigos e actuais regimes e, até, ilustres desconhecidos que, vai ver-se, são concubinas ou concubinos de qualquer um dos outros. Daí que aprendi a desconfiar desta “maralha” toda e lanço sempre uma questão: como sobrevivem? “Do seu trabalho”, aponta-me logo o mais perfeito defensor da coisa alheia com um ligeiro interesse a pender sobre si. “Dos lucros dos seus investimentos”, afirma logo outro que conhece tão bem a realidade como nós conhecemos o que vais acontecer ao planeta Terra daqui a um milhão de anos. “Olha, das mentiras que contadas tantas vezes parecem verdades”, liberta infeliz o consciente da desgraça que nos acompanha. E a realidade é bem evidente. Todos os acima não citados, mas insinuados, possuem uma qualidade que é clara: dizem coisas que fazem mas que criticam nos outros. Seja, viver de empréstimos! Seja, consumir acima das necessidades e das próprias posses (apesar do milhão vivem com dois ou três que lhes não pertencem)! Seja, enganar o estado não para sobreviverem, como criticam nos outros, mas para “arrepanharem” mais uns quantos milhares ou milhões! Seja, prejudicar as contas públicas com os seus actos de gestão disparatada, mas elogiada por toda a classe governamental!

Tudo o que acima refiro é uma constatação ingénua e que não possui qualquer validade real, mas que assenta, sobretudo, na memória que tenho (infelizmente, de elefante!) dos anos em que até agora me foi permitido viver.

Para uma conclusão inconclusiva, como não poderia deixar de ser, tenho de fazer aqui uma “declaração de verbo” sobre um assunto que considero essencial para a “limpeza” das falsas moralidades deste país: eu, abaixo assinado, assumo a minha total inclinação para os aventais de cozinha!

Tenho dito!     





Moimenta da Serra, 30 de Julho de 2014

Daniel António Neto Rocha

quarta-feira, julho 09, 2014

Crónica Bombeiros.pt: É a sua honra que está em jogo, Sr. Ministro!



É uma das grandes discussões dos últimos dias, mas é também uma das exigências governativas e uma das necessidades mais visíveis nos bombeiros há, pelo menos, 8 (oito) anos. O Equipamento de Protecção Individual, vulgo EPI, era algo que só em sonhos é que eu, o meu irmão e a maior parte dos bombeiros portugueses pensávamos em vir a ter até Julho de 2006. No dia 9 de Julho de 2006, o meu irmão deixou de poder ter esse sonho e as entidades do sector fizeram uma autêntica revolução legislativa e organizativa que, por tão necessária e exigente que era, ainda hoje não está concluída. Daí para cá, aterrou equipamento a granel nos quartéis, em quantidade mas de qualidade duvidosa, que alegrou, pasmem-se, a maior parte dos bombeiros, inclusive eu. Claro está que para quem tem fome um prato de arroz é um oásis apetecível e nem sequer se discute se é suficiente ou não para aquilo que se faz. Calaram-se as vozes por uns tempos após a esmola. Já quanto ao resto… temos de assumir que começou a existir maior preocupação com o rigor e com a formação dos bombeiros, já a aplicação de qualquer um desses aspectos é algo que poderemos discutir, pois essa discussão também está aí.
Mas permitam-me regressar ao tema desta crónica, pois é o EPI que está aqui no centro da discussão. Só quando começámos a ter um ponto de comparação (com o aparecimento da FEB e do GIPS) é que notámos que eles vestiam bem e nós treta! E começámos a pedir mais qualquer coisa. Mas, e este é o país que temos, tanto o Governo como as Associações de Bombeiros se declaravam incapazes de pagar esses equipamentos. Claro que, e conheço bem a minha para o poder afirmar, quase todas as Associações “remendam e tapam” buracos, por vezes endividando-se, para conseguirem equipar todos os seus homens, optando (erradamente, diremos todos) por preferir a quantidade à qualidade. Mas, pergunto-vos eu, quem não optaria por ter todos os homens com uma percentagem grande de protecção em confronto com a possibilidade de ter metade dos homens com protecção total e a outra metade sem ela? Agora, da parte Governativa vem a pior parte. O Governo não tem verba suficiente para vestir todos os bombeiros portugueses com EPI de alta qualidade? Tem! E já o deveria ter assumido! Espero, sinceramente, que a “sorte” que tem sido madrasta para nós, que damos tanto por nada, seja este ano bem diferente. Se assim não for, espero que o senhor Ministro saiba que deverá demitir-se no primeiro momento em que algum bombeiro português sofra, durante esta época, qualquer tipo de lesão por causa de EPI que não obedeça às normas. É a sua honra que está em jogo, Sr. Ministro!
Claro que, e espero que todos se lembrem disto, não é o EPI o mais importante no combate ao incêndio. O mais importante de tudo é a vossa/ nossa capacidade de dizer não às missões suicidas!
Hoje marcam-se oito anos, em Famalicão da Serra, da morte do meu irmão e eu gostava que tudo fosse diferente daquilo que já foi até hoje.

Famalicão da Serra, 9 de Julho de 2014
Daniel António Neto Rocha

(crónica publicada no dia 9 de Julho de 2014 no Portal Bombeiros.pt)

sexta-feira, maio 09, 2014

Crónica Bombeiros.pt: Pela boca morrerá o bombeiro



Muitas vezes nos habituámos/ habituamos a ouvir dos nossos “mais velhos”, dos pais e dos nossos conselheiros da interacção social a célebre expressão “O SILÊNCIO É DE OURO”. No correr dos dias e da nossa actividade profissional ou de outra espécie, lá fomos dando conta (alguns mais do que outros) da razão que assistia a esses abençoados seres que nos deram o “melhor” dos conselhos.
Há, porém, momentos em que NÃO DEVEMOS, de forma alguma, seguir este sábio conselho e mantermos a cautelosa recusa da voz. E é por isso mesmo que vos peço, a vós que ireis para o seio do perigo e necessitareis de todas as armas possíveis: POR FAVOR, NÃO FIQUEM EM SILÊNCIO! E, pedindo isto, reforço: oiçam a ordem superior, mas questionem-na se não a entenderem/ compreenderem ou se sentirem que não serão capazes de cumprir! Lembrem-se de que nenhum plano de ataque é cumprido com a exactidão da projecção no papel e que os riscos, que surgem quando menos se esperam, têm de ser evitados.
Para além disso que escrevo nas linhas acima, ainda vos digo mais: usem a “porcaria” dos rádios! Sei que há muitos que não os utilizam por vergonha, para evitar a crítica que outros fazem à excessiva utilização do rádio, muitos dizendo que “os incêndios não se apagam por rádio!” Lembrem-se que é através das comunicações que todos temos consciência dos perigos ou das oportunidades do ataque a um incêndio: eles servem, portanto, para questionar, para informar e, em suma, para nos ajudar a manter vivos.
Para terminar, e para que todos tenham uma boa missão, deixem-me voltar, insistentemente, à sabedoria popular para a “virar do avesso”. Todos sabemos, por isso tantas vezes nos calamos, que “pela boca morre o peixe”, mas também sabemos que, se optarmos pelo silêncio obediente perante uma decisão claramente errada de quem comanda, PELA BOCA MORRERÁ O BOMBEIRO!


Moimenta da Serra, 6 de Maio de 2014
Daniel António Neto Rocha

(publicado no Portal Bombeiros.pt)