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quarta-feira, julho 30, 2014

06. Crónicas Silenciosas – Moralidades



Sempre desconfio de quem, do alto da sua imponente inutilidade real, debita conselhos e críticas a quem, espantado pelo desacerto constante de políticas decisões e surreais decisões, vai fugindo à sina imposta e se transforma numa espécie de Robin dos Bosques para sobrevivência familiar. Entre banqueiros, líderes de grandes empresas, políticos, gente bem assegurada pelo erário público, ex-qualquer coisa, descendentes de figuras dos antigos e actuais regimes e, até, ilustres desconhecidos que, vai ver-se, são concubinas ou concubinos de qualquer um dos outros. Daí que aprendi a desconfiar desta “maralha” toda e lanço sempre uma questão: como sobrevivem? “Do seu trabalho”, aponta-me logo o mais perfeito defensor da coisa alheia com um ligeiro interesse a pender sobre si. “Dos lucros dos seus investimentos”, afirma logo outro que conhece tão bem a realidade como nós conhecemos o que vais acontecer ao planeta Terra daqui a um milhão de anos. “Olha, das mentiras que contadas tantas vezes parecem verdades”, liberta infeliz o consciente da desgraça que nos acompanha. E a realidade é bem evidente. Todos os acima não citados, mas insinuados, possuem uma qualidade que é clara: dizem coisas que fazem mas que criticam nos outros. Seja, viver de empréstimos! Seja, consumir acima das necessidades e das próprias posses (apesar do milhão vivem com dois ou três que lhes não pertencem)! Seja, enganar o estado não para sobreviverem, como criticam nos outros, mas para “arrepanharem” mais uns quantos milhares ou milhões! Seja, prejudicar as contas públicas com os seus actos de gestão disparatada, mas elogiada por toda a classe governamental!

Tudo o que acima refiro é uma constatação ingénua e que não possui qualquer validade real, mas que assenta, sobretudo, na memória que tenho (infelizmente, de elefante!) dos anos em que até agora me foi permitido viver.

Para uma conclusão inconclusiva, como não poderia deixar de ser, tenho de fazer aqui uma “declaração de verbo” sobre um assunto que considero essencial para a “limpeza” das falsas moralidades deste país: eu, abaixo assinado, assumo a minha total inclinação para os aventais de cozinha!

Tenho dito!     





Moimenta da Serra, 30 de Julho de 2014

Daniel António Neto Rocha

quarta-feira, julho 09, 2014

Crónica Bombeiros.pt: É a sua honra que está em jogo, Sr. Ministro!



É uma das grandes discussões dos últimos dias, mas é também uma das exigências governativas e uma das necessidades mais visíveis nos bombeiros há, pelo menos, 8 (oito) anos. O Equipamento de Protecção Individual, vulgo EPI, era algo que só em sonhos é que eu, o meu irmão e a maior parte dos bombeiros portugueses pensávamos em vir a ter até Julho de 2006. No dia 9 de Julho de 2006, o meu irmão deixou de poder ter esse sonho e as entidades do sector fizeram uma autêntica revolução legislativa e organizativa que, por tão necessária e exigente que era, ainda hoje não está concluída. Daí para cá, aterrou equipamento a granel nos quartéis, em quantidade mas de qualidade duvidosa, que alegrou, pasmem-se, a maior parte dos bombeiros, inclusive eu. Claro está que para quem tem fome um prato de arroz é um oásis apetecível e nem sequer se discute se é suficiente ou não para aquilo que se faz. Calaram-se as vozes por uns tempos após a esmola. Já quanto ao resto… temos de assumir que começou a existir maior preocupação com o rigor e com a formação dos bombeiros, já a aplicação de qualquer um desses aspectos é algo que poderemos discutir, pois essa discussão também está aí.
Mas permitam-me regressar ao tema desta crónica, pois é o EPI que está aqui no centro da discussão. Só quando começámos a ter um ponto de comparação (com o aparecimento da FEB e do GIPS) é que notámos que eles vestiam bem e nós treta! E começámos a pedir mais qualquer coisa. Mas, e este é o país que temos, tanto o Governo como as Associações de Bombeiros se declaravam incapazes de pagar esses equipamentos. Claro que, e conheço bem a minha para o poder afirmar, quase todas as Associações “remendam e tapam” buracos, por vezes endividando-se, para conseguirem equipar todos os seus homens, optando (erradamente, diremos todos) por preferir a quantidade à qualidade. Mas, pergunto-vos eu, quem não optaria por ter todos os homens com uma percentagem grande de protecção em confronto com a possibilidade de ter metade dos homens com protecção total e a outra metade sem ela? Agora, da parte Governativa vem a pior parte. O Governo não tem verba suficiente para vestir todos os bombeiros portugueses com EPI de alta qualidade? Tem! E já o deveria ter assumido! Espero, sinceramente, que a “sorte” que tem sido madrasta para nós, que damos tanto por nada, seja este ano bem diferente. Se assim não for, espero que o senhor Ministro saiba que deverá demitir-se no primeiro momento em que algum bombeiro português sofra, durante esta época, qualquer tipo de lesão por causa de EPI que não obedeça às normas. É a sua honra que está em jogo, Sr. Ministro!
Claro que, e espero que todos se lembrem disto, não é o EPI o mais importante no combate ao incêndio. O mais importante de tudo é a vossa/ nossa capacidade de dizer não às missões suicidas!
Hoje marcam-se oito anos, em Famalicão da Serra, da morte do meu irmão e eu gostava que tudo fosse diferente daquilo que já foi até hoje.

Famalicão da Serra, 9 de Julho de 2014
Daniel António Neto Rocha

(crónica publicada no dia 9 de Julho de 2014 no Portal Bombeiros.pt)

sexta-feira, maio 09, 2014

Crónica Bombeiros.pt: Pela boca morrerá o bombeiro



Muitas vezes nos habituámos/ habituamos a ouvir dos nossos “mais velhos”, dos pais e dos nossos conselheiros da interacção social a célebre expressão “O SILÊNCIO É DE OURO”. No correr dos dias e da nossa actividade profissional ou de outra espécie, lá fomos dando conta (alguns mais do que outros) da razão que assistia a esses abençoados seres que nos deram o “melhor” dos conselhos.
Há, porém, momentos em que NÃO DEVEMOS, de forma alguma, seguir este sábio conselho e mantermos a cautelosa recusa da voz. E é por isso mesmo que vos peço, a vós que ireis para o seio do perigo e necessitareis de todas as armas possíveis: POR FAVOR, NÃO FIQUEM EM SILÊNCIO! E, pedindo isto, reforço: oiçam a ordem superior, mas questionem-na se não a entenderem/ compreenderem ou se sentirem que não serão capazes de cumprir! Lembrem-se de que nenhum plano de ataque é cumprido com a exactidão da projecção no papel e que os riscos, que surgem quando menos se esperam, têm de ser evitados.
Para além disso que escrevo nas linhas acima, ainda vos digo mais: usem a “porcaria” dos rádios! Sei que há muitos que não os utilizam por vergonha, para evitar a crítica que outros fazem à excessiva utilização do rádio, muitos dizendo que “os incêndios não se apagam por rádio!” Lembrem-se que é através das comunicações que todos temos consciência dos perigos ou das oportunidades do ataque a um incêndio: eles servem, portanto, para questionar, para informar e, em suma, para nos ajudar a manter vivos.
Para terminar, e para que todos tenham uma boa missão, deixem-me voltar, insistentemente, à sabedoria popular para a “virar do avesso”. Todos sabemos, por isso tantas vezes nos calamos, que “pela boca morre o peixe”, mas também sabemos que, se optarmos pelo silêncio obediente perante uma decisão claramente errada de quem comanda, PELA BOCA MORRERÁ O BOMBEIRO!


Moimenta da Serra, 6 de Maio de 2014
Daniel António Neto Rocha

(publicado no Portal Bombeiros.pt)

sábado, março 08, 2014

Crónica Bombeiros.pt: Bombeiros têm medo

São muitos os que apregoam a necessária revolução em todos os sectores da sociedade portuguesa, e, como é óbvio e salutar, também no reino dos bombeiros sabemos que algo tem de mudar. No entanto, e infelizmente, continuamos todos a “assobiar para o lado” quando os factos são tão óbvios como visíveis, aparentando que todos temos “o rabo preso” em algum interesse mesquinho ou em algum amigo que não pode ser tocado pela constatação do erro que realmente cometeu. Chegamos pois à triste ideia de que os bombeiros portugueses têm medo de se assumir como os principais obreiros das suas próprias vidas e carreiras. Ou, espantem-se, pensam todos vocês que a súbita e estranha aproximação de quadros directivos das várias entidades aos bombeiros (homens e mulheres, gente que realmente está no terreno) é mera coincidência? Nós, homens e mulheres bombeiros, temos medo de sermos nós a tomar a palavra que sabemos que merecemos usar e tornamo-nos tantas e tantas vezes “instrumentos” de mera utilização calculista e abusiva. Dá jeito morrermos! Dá jeito que tenhamos lesões graves! Dá jeito que choremos! Dá jeito que nós, homens e mulheres, sejamos o elo mais enfraquecido, pois só assimos abutres poderão refastelar-se com os nossos corpos. No entanto, nós continuamos com medo de dizer “basta!” e de assumirmos nas nossas próprias mãos a tomada de decisão sobre a nossa utilização enquanto força mais capaz de defesa dos nossos concidadãos! E esta “É a Hora!”
 
P.S. – Ver, ouvir e ler os apelos desenfreados de alguns dirigentes e antigos altos responsáveis por entidades de bombeiros a exigir a punição dos “incendiários” do Caramulo dá-me um certo “nojo”! Em que gabinete se escondiam estes defensores quando, de 2000 a 2012, morreram 31 (trinta e um) dos nossos camaradas? Quando dá jeito, somos defendidos! Quando não dá, somos esquecidos!


Famalicão da Serra, 5 de Março de 2014
Daniel António Neto Rocha

terça-feira, janeiro 21, 2014

05. Crónicas Silenciosas – A educação Cratada em Portugal e, agora, também no estrangeiro

Não tenho qualquer fé no futuro! Cultura pelas ruas da amargura. Valores morais completamente apagados da realidade, mais íntima ou mais social. E uma educação, princípio universal para o melhoramento dos homens, de rastos e sem qualquer condição de ser revitalizada. É nisto mesmo que penso por estes dias quando leio, vejo e me apercebo de várias “jogadas” e “jogatanas” que acontecem à vista desarmada e que revelam o que de melhor tem este país: a proximidade de uma fronteira por onde é bom que se fuja enquanto é tempo! Mas vem tudo isto a propósito de uma notícia, espampanante, que leio ainda com alguma dúvida: devo rir ou chorar? Crato, ministro de ocasião (que se espera curta e sem provocar mais danos), revela agora um dos objectivos do seu Ministério: convencer os ingleses a apostar no Português, mandando professores de lá para cá e pagando por isso, de forma a que a nossa língua possa ser implementada em Inglaterra. E a primeira pergunta que eu faço é: mas não houve um corte radical no ensino do Português no estrangeiro que era assegurado pelo Instituto Camões? E a segunda pergunta que faço é: isto tudo é para dar o jeitinho e compor alguma desavença entre o senhor Ministro e os representantes do Ensino Superior em Portugal? A lógica apontada pelo senhor Ministro é, então, enternecedora e baseia-se na “expansão do ensino da língua portuguesa” dada a importância da afirmação do idioma e o benefício que disso podem tirar “os filhos dos emigrantes portugueses” (?). Quer beneficiar os filhos dos emigrantes portugueses? Talvez o senhor Ministro se tenha esquecido que muito deles estão lá, na emigração, por causa das decisões que foram tomadas no país que os rejeitou, mas talvez isso não seja, politicamente, importante. Libertada a fúria, permito-me a acrescentar duas pequenas coisas: primeira, “com papas e bolos se entretêm os tolos”; segunda, a integração das crianças no estrangeiro é essencial que se faça pela aprendizagem da língua do país e não pela criação de guetos linguísticos (como, infelizmente, acontece em Portugal) que não são combatidos pela tutela do ensino. Quanto à segunda afirmação que faço, penso que este incentivo à aprendizagem do Português no estrangeiro para alunos portugueses é uma pequena brincadeira pré-carnavalesca de um ministro que já não sabe mais o que deve inventar dentro de portas para conseguir ser convincente. Eu, na minha pequenez, pediria ao senhor Ministro que não fosse ridículo e deixasse que os outros países tratassem da sua própria Educação, pedindo-lhe de seguida que, se não fosse pedir muito, tratasse também com os princípios que recomenda aos outros da do seu próprio país! 

Moimenta da Serra, 21 de Janeiro de 2013 
Daniel António Neto Rocha

domingo, dezembro 22, 2013

04. Crónicas Silenciosas – Os entretenimentos infantis e os traumas em adultos



Ao longo dos anos que já levo (e posso dizer que já carrego algumas dezenas) tenho vindo a aperceber-me da grande diferença de tratamento que nós, os de oitenta e tal, sofremos face aos do século XXI. Estou a falar de quê? De cantores de músicas infantis, claro! Hoje, na Guarda, esteve o Avô Cantigas a encantar os pais e os filhos, mas penso que mais os pais, com as suas músicas que já vêm do século passado. E dei comigo a pensar nisto: por que é que eu tive como “ídolo” em criança o Avô Cantigas e o meu filho, agora, merece ter como ídolos a Xana Toc-Toc, as moçoilas de Os Caricas e a Anita? Onde está a justiça, meu deus! Já imaginaram no futuro a minha conversa com o meu filhote sobre música infantil? “Pai” dirá ele “no vosso tempo era assim um tanto ou quanto para o gay, não era?” E, traumatizado como fico só em pensar nisso, como é que posso responder? Sim, confesso, estou com uma certa inveja do meu filhote!  





Moimenta da Serra, 22 de Dezembro de 2013

Daniel António Neto Rocha

quarta-feira, dezembro 18, 2013

03. Crónicas Silenciosas – Avaliando o zero da ilusão



“Vergonha”, “humilhação”, “pior dia da minha vida”, “contra”, “insultaram”, “profissão”, “invasão”, “experiência”, “prova”, “professor”… Todas estas são palavras que hoje e amanhã e depois de amanhã e durante vários dias vão fazer correr tinta e toneladas de bytes de informação por esse país fora e que não discutirão, com toda a certeza, a questão principal do “processo avaliativo” que Crato instaurou: Qual a melhoria a que Crato quer chegar ao “avaliar” os professores que não estão e, pelo andar da carruagem, tão cedo não vão estar nas escolas? Absurdo, direi eu e mais mil e muitas pessoas! Como a sociedade e o mundo da educação é tão ridículo, apetece-me fixar a atenção na literatura e em Fernando Pessoa. Apetece-me pegar num dos seus poemas mais conhecidos (“Autopsicografia”) e alterar-lhe um pedaço. Apetece-me explorar a semântica e brincar com as interpretações.

E assim na calha de roda
Gira, a entreter a educação,
Esse comboio de corda
Que se chama ilusão.


 Moimenta da Serra, 18 de Dezembro de 2013
Daniel António Neto Rocha