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sábado, março 08, 2014

Crónica Bombeiros.pt: Bombeiros têm medo

São muitos os que apregoam a necessária revolução em todos os sectores da sociedade portuguesa, e, como é óbvio e salutar, também no reino dos bombeiros sabemos que algo tem de mudar. No entanto, e infelizmente, continuamos todos a “assobiar para o lado” quando os factos são tão óbvios como visíveis, aparentando que todos temos “o rabo preso” em algum interesse mesquinho ou em algum amigo que não pode ser tocado pela constatação do erro que realmente cometeu. Chegamos pois à triste ideia de que os bombeiros portugueses têm medo de se assumir como os principais obreiros das suas próprias vidas e carreiras. Ou, espantem-se, pensam todos vocês que a súbita e estranha aproximação de quadros directivos das várias entidades aos bombeiros (homens e mulheres, gente que realmente está no terreno) é mera coincidência? Nós, homens e mulheres bombeiros, temos medo de sermos nós a tomar a palavra que sabemos que merecemos usar e tornamo-nos tantas e tantas vezes “instrumentos” de mera utilização calculista e abusiva. Dá jeito morrermos! Dá jeito que tenhamos lesões graves! Dá jeito que choremos! Dá jeito que nós, homens e mulheres, sejamos o elo mais enfraquecido, pois só assimos abutres poderão refastelar-se com os nossos corpos. No entanto, nós continuamos com medo de dizer “basta!” e de assumirmos nas nossas próprias mãos a tomada de decisão sobre a nossa utilização enquanto força mais capaz de defesa dos nossos concidadãos! E esta “É a Hora!”
 
P.S. – Ver, ouvir e ler os apelos desenfreados de alguns dirigentes e antigos altos responsáveis por entidades de bombeiros a exigir a punição dos “incendiários” do Caramulo dá-me um certo “nojo”! Em que gabinete se escondiam estes defensores quando, de 2000 a 2012, morreram 31 (trinta e um) dos nossos camaradas? Quando dá jeito, somos defendidos! Quando não dá, somos esquecidos!


Famalicão da Serra, 5 de Março de 2014
Daniel António Neto Rocha

terça-feira, janeiro 21, 2014

05. Crónicas Silenciosas – A educação Cratada em Portugal e, agora, também no estrangeiro

Não tenho qualquer fé no futuro! Cultura pelas ruas da amargura. Valores morais completamente apagados da realidade, mais íntima ou mais social. E uma educação, princípio universal para o melhoramento dos homens, de rastos e sem qualquer condição de ser revitalizada. É nisto mesmo que penso por estes dias quando leio, vejo e me apercebo de várias “jogadas” e “jogatanas” que acontecem à vista desarmada e que revelam o que de melhor tem este país: a proximidade de uma fronteira por onde é bom que se fuja enquanto é tempo! Mas vem tudo isto a propósito de uma notícia, espampanante, que leio ainda com alguma dúvida: devo rir ou chorar? Crato, ministro de ocasião (que se espera curta e sem provocar mais danos), revela agora um dos objectivos do seu Ministério: convencer os ingleses a apostar no Português, mandando professores de lá para cá e pagando por isso, de forma a que a nossa língua possa ser implementada em Inglaterra. E a primeira pergunta que eu faço é: mas não houve um corte radical no ensino do Português no estrangeiro que era assegurado pelo Instituto Camões? E a segunda pergunta que faço é: isto tudo é para dar o jeitinho e compor alguma desavença entre o senhor Ministro e os representantes do Ensino Superior em Portugal? A lógica apontada pelo senhor Ministro é, então, enternecedora e baseia-se na “expansão do ensino da língua portuguesa” dada a importância da afirmação do idioma e o benefício que disso podem tirar “os filhos dos emigrantes portugueses” (?). Quer beneficiar os filhos dos emigrantes portugueses? Talvez o senhor Ministro se tenha esquecido que muito deles estão lá, na emigração, por causa das decisões que foram tomadas no país que os rejeitou, mas talvez isso não seja, politicamente, importante. Libertada a fúria, permito-me a acrescentar duas pequenas coisas: primeira, “com papas e bolos se entretêm os tolos”; segunda, a integração das crianças no estrangeiro é essencial que se faça pela aprendizagem da língua do país e não pela criação de guetos linguísticos (como, infelizmente, acontece em Portugal) que não são combatidos pela tutela do ensino. Quanto à segunda afirmação que faço, penso que este incentivo à aprendizagem do Português no estrangeiro para alunos portugueses é uma pequena brincadeira pré-carnavalesca de um ministro que já não sabe mais o que deve inventar dentro de portas para conseguir ser convincente. Eu, na minha pequenez, pediria ao senhor Ministro que não fosse ridículo e deixasse que os outros países tratassem da sua própria Educação, pedindo-lhe de seguida que, se não fosse pedir muito, tratasse também com os princípios que recomenda aos outros da do seu próprio país! 

Moimenta da Serra, 21 de Janeiro de 2013 
Daniel António Neto Rocha

domingo, dezembro 22, 2013

04. Crónicas Silenciosas – Os entretenimentos infantis e os traumas em adultos



Ao longo dos anos que já levo (e posso dizer que já carrego algumas dezenas) tenho vindo a aperceber-me da grande diferença de tratamento que nós, os de oitenta e tal, sofremos face aos do século XXI. Estou a falar de quê? De cantores de músicas infantis, claro! Hoje, na Guarda, esteve o Avô Cantigas a encantar os pais e os filhos, mas penso que mais os pais, com as suas músicas que já vêm do século passado. E dei comigo a pensar nisto: por que é que eu tive como “ídolo” em criança o Avô Cantigas e o meu filho, agora, merece ter como ídolos a Xana Toc-Toc, as moçoilas de Os Caricas e a Anita? Onde está a justiça, meu deus! Já imaginaram no futuro a minha conversa com o meu filhote sobre música infantil? “Pai” dirá ele “no vosso tempo era assim um tanto ou quanto para o gay, não era?” E, traumatizado como fico só em pensar nisso, como é que posso responder? Sim, confesso, estou com uma certa inveja do meu filhote!  





Moimenta da Serra, 22 de Dezembro de 2013

Daniel António Neto Rocha

quarta-feira, dezembro 18, 2013

03. Crónicas Silenciosas – Avaliando o zero da ilusão



“Vergonha”, “humilhação”, “pior dia da minha vida”, “contra”, “insultaram”, “profissão”, “invasão”, “experiência”, “prova”, “professor”… Todas estas são palavras que hoje e amanhã e depois de amanhã e durante vários dias vão fazer correr tinta e toneladas de bytes de informação por esse país fora e que não discutirão, com toda a certeza, a questão principal do “processo avaliativo” que Crato instaurou: Qual a melhoria a que Crato quer chegar ao “avaliar” os professores que não estão e, pelo andar da carruagem, tão cedo não vão estar nas escolas? Absurdo, direi eu e mais mil e muitas pessoas! Como a sociedade e o mundo da educação é tão ridículo, apetece-me fixar a atenção na literatura e em Fernando Pessoa. Apetece-me pegar num dos seus poemas mais conhecidos (“Autopsicografia”) e alterar-lhe um pedaço. Apetece-me explorar a semântica e brincar com as interpretações.

E assim na calha de roda
Gira, a entreter a educação,
Esse comboio de corda
Que se chama ilusão.


 Moimenta da Serra, 18 de Dezembro de 2013
Daniel António Neto Rocha

terça-feira, dezembro 17, 2013

02. Crónicas Silenciosas – Cofre-forte e as garantias da pequena franja



Há um estranho fascínio na cultura portuguesa pelo revivalismo e pelo saudosismo. E não digam que nunca ouviram a expressão “no meu tempo é que…”!? Talvez o principal atraso do país resida mesmo aí e seja mesmo esse um dos grandes problemas que afecta o nosso futuro enquanto nação, dita, moderna. Como podemos pensar o futuro se estamos continuamente a centrar a nossa vivência no passado? E, por antagónico que pareça, este recuo temporal não tem em vista aquilo que seria expectável: a atenção concentrada, a aprendizagem e a não retoma de velhos erros. Este voltar atrás e cercear o futuro é basicamente a ida ao cofre-forte onde guardamos as garantias de futuro que por ali enterrámos há muito tempo e que, admirem-se, servem só uma pequena franja da população portuguesa. O que origina isto? Uma incrível e indesejável sensação de estar a mais num país, supostamente, democrático. E tudo isso se adensa em épocas de crise, onde os protectorados imperam e vemos que a única coisa que é, mais ou menos, estável é a garantia guardada no cofre-forte e que será distribuída pela tal pequena franja da população. Sim, Portugal é um país de velhos e para velhos! O resto… que se dane!    

      

Moimenta da Serra, 17 de Dezembro de 2013
Daniel António Neto Rocha

sexta-feira, dezembro 13, 2013

01. Crónicas Silenciosas – Frio cortante no olhar

Ao longo dos anos tenho-me vindo a aperceber do imenso drama que é a chegada do Natal para milhares de pessoas um pouco por todo o mundo. No entanto, bem perto de nós, esse drama é multiplicado, pois a mistura explosiva entre a tradição (que tanto prezamos) e a actualidade (que tanto desprezamos) faz com que nos olhos das pessoas nós reconheçamos tristeza e desalento. E isso não se pode aceitar ou “encaixar” de ânimo leve. A tradição obriga à partilha. A actualidade obriga ao individualismo. A tradição obriga à união dentro das famílias. A actualidade oferece-nos a desunião, motivada por pequenos interesses ou por necessidades de partida. A tradição dá. A actualidade só tira. E o sorriso das crianças, da idade do meu pequenote? Ou doutras idades também? Pais, avós, tios e restante família? Há um olhar diferente nesta época. Talvez por isso, eu, nos passos lentos em que vivo, olho para tudo e entristeço. Não por aquilo que atrás refiro mas pelo pequeno brilho que, por estes dias, muitos olhos não possuem! 


13 de Dezembro de 2013
Daniel António Neto Rocha

segunda-feira, novembro 18, 2013

Guarda: colaboração com a Rádio Altitude




Terminou, com a reorganização da grelha de programas, a minha colaboração contínua com a Rádio Altitude. 

Infelizmente, nesta nova programação o espaço da Crónica Diária terminou (como é usual e saudável que se faça para não cansar o auditório) e foi-me proposta uma nova colaboração. Mais uma vez infelizmente, essa nova colaboração teria uma componente presencial que a distância (como sabem estou a viver fora da Guarda) me impede de assumir, uma vez que colidia com questões familiares muito importantes. No entanto, tal afastamento da colaboração regular não me impede de nutrir pela rádio e pelos seus profissionais uma amizade salutar e de lhes desejar as maiores felicidades para a temporada que hoje começa e para as suas próprias carreiras profissionais. Já lhes disse e quero tê-lo escrito publicamente: poderão continuar a contar com a minha colaboração assim ela seja útil e possível.
Foram quatro anos de colaboração estreita muito positivos para mim e o meu desejo é que o tenham sido também para todos aqueles que comigo trabalharam e para todos aqueles que seguiram as crónicas pela rádio e por este blogue. Agora que terminou esta fase, farei a publicação (num dia destes em que as condições externas se conjuguem) de todas as crónicas que resultaram desta colaboração. O título será "Atitude Crónica" e agrupará todas as crónicas escritas para a Rádio Altitude, todas as crónicas escritas até ao final de 2013 para o Portal Bombeiros.pt e uma pequena crónica/memória que foi escrita para o jornal Expressão. Espero que esta colectânea possa surgir em breve e, quem sabe, apoiada por algum mecenas ou por alguém que fosse um apreciador desta minha escrita. Caso não seja assim, certamente que terei um pouco mais de dificuldade em fazer esta publicação, mas ela será efectuada. 

Enfim, quatro anos de saudável convivência entre voz e escrita que não poderia aqui deixar de referenciar como algo muito positivo. Por isso, obrigado à Rádio Altitude e aos seus colaboradores! Um até já!

segunda-feira, outubro 14, 2013

Crónica Bombeiros.pt – Bestas não, mas pouco sérios sim!

1. As palavras fogem quando a vontade de as aprisionar na velha folha de papel gasto é maior do que o próprio sentido daquilo que foi acontecendo nos últimos meses na nossa comunidade de bombeiros. E, não, não estou a falar daquilo que a sociedade pensa de nós e que alguém já caracterizou, numa linguagem mais térrea do que a minha, como uma espécie de passagem do oito ao oitenta, regressando depois ao oito. Estou, sim, a referir-me ao nosso (e estou a apontar directamente para cada um dos senhores leitores e para mim próprio!) vício tremendo de sermos os maiores lá no bairro e, quase de certeza, no universo inteiro. Sim, porque nós somos os supra-sumos que não foram apanhados pelas chamas e que, desengane-se quem disser o contrário, nunca o seremos, pois, como num golpe de magia, seremos sempre safos pela nossa experiência e pela nossa capacidade de estarmos fora do lugar errado à hora certa. E, mais ainda, nós somos aqueles que nunca erraram, pois as nossas decisões podem ter sido, e isso sim, mal interpretadas por aqueles (os ignorantes e inexperientes e… sim, traumatizados!) que acabaram por vir a morrer ou a ficar feridos. É que nós, os que tudo sabem e a quem quase nada passa ao lado, podemos sempre falar e especular à confortável distância dos problemas. Já os outros, os que ficam feridos e hão-de, talvez, não perceber bem o que se passou porque afinal tudo correu bem, vão por certo compreender a sorte que tiveram em ficar vivos e querem é esquecer e não voltar a olhar para aquela direcção que lhes deixou cicatrizes e uma má recordação, mas irão, por certo, ser agraciados com as palmadinhas de quem lhes há-de dizer que se não fosse a forma como actuou e teve sangue frio não teria saído dali, avisando-o, contudo, que a culpa foi toda dele. E há ainda os que nunca vão ter hipótese de ler esta crónica e que nunca irão poder analisar nada daquilo que aconteceu e que nunca mais serão lembrados porque a sua memória nos poderá causar algum tipo de insónias por aquilo que não fizemos ou não soubemos fazer. Sim, nós, enquanto comunidade de bombeiros parecemos unidos mas não o somos, porque se cometemos um erro havemos de o querer empurrar até nos sair da vista e cair nas mãos de um dos nossos que até tem o azar de não se saber defender e de ficar com um problema nas mãos, mesmo se estivesse a quilómetros de distância do sítio onde ele aconteceu. Sim, porque nós, bombeiros portugueses, antes que alguém nos diga o que na realidade aconteceu num qualquer acidente, já sabemos que os nossos camaradas foram azelhas, burros, ignorantes e todos os outros adjectivos que lhes manchem o nome ou a, em alguns casos, memória. Sim, porque para nós é mais importante mostrar que sabemos algo do que perceber aquilo que efectivamente aconteceu e, neste ponto, mostramos que toda a nossa vocação é unicamente destruir o outro. 

2. Porque lhes digo isto com uma carga de ironia tão acentuada? Porque é impressionante como no nosso universo se criam histórias mirabolantes para acusar os outros de algo que nem sabemos bem como aconteceu ou para nos descolarmos de algo que efectivamente aconteceu sob a nossa responsabilidade. E é este o ponto que mais me importa ressalvar. Estaremos nós a educar as nossas hostes com o devido respeito pela incorporação da responsabilidade? Estará a nossa vocação de bombeiros preparada para assumir sobre os ombros o peso responsável das nossas próprias decisões? Deixo esta reflexão à vossa consideração. 

3. E chegamos por fim àquele momento quase “zen” em que olhamos para factos que fazem parte do mundo surreal das esferas mais elevadas dos bombeiros. E, como penso que fica sempre bem, este momento pertence por inteiro ao senhor Presidente da Liga. É que estou neste momento perante um imenso dilema que é quase trágico mas que também é cómico. Gabriel García Márquez, escritor colombiano e um dos galardoados com o prémio Nobel da Literatura, publicou em 1961 um dos romances que me vêm à memória todas as vezes que penso no senhor presidente. Chama-se “Ninguém Escreve ao Coronel” e relata a vida de um Coronel na reforma que espera ansiosamente pela chegada de uma carta. No maravilhoso jogo de contrários que a nossa comunidade de bombeiros permite, este romance serviu de ponto de partida para eu inverter esta história e para poder lançar aqui uma questão em jeito de provocação consciente que espero não seja mal percebida pelos adeptos sportinguistas. A minha dúvida é esta: se quiser escrever uma carta ao senhor Comandante, onde é que ele a poderá receber e dar resposta? Já tentei para a Rua Eduardo Noronha e não obtive resposta. Será que tenho de a enviar para o Estádio de Alvalade? 

Famalicão da Serra, 14 de Outubro de 2013 
Daniel António Neto Rocha

 
(Texto publicado e disponibilizado no Portal Bombeiros.pt no dia 14 de Outubro de 2013)

quarta-feira, outubro 09, 2013

quinta-feira, agosto 22, 2013

Crónica Bombeiros.pt: Basta um gesto simples e desinteressado!

(Foto de Sérgio Cipriano/ Bombeiros.pt)

1. Bastaram duas semanas de calor intenso e de (é minha crença) actividades negligentes e criminosas para que não fossem só as matas e pinhais do país a ficarem incendiadas. Também as línguas e vontades dos altos responsáveis desta coisa dos bombeiros ganharam nova força e começaram a disparar numa única direcção: a subida, rápida e em força, na hierarquia económica e política. Mas, comecemos pelo fim, ou seja, por estas últimas horas de grandes incêndios que, segundo o senhor Ministro da Administração Interna logo depois secundado pelo senhor Presidente da Associação Nacional de Bombeiros Profissionais (ANBP), se devem a uma não racionalização de meios (???). Ou seja, o problema, para estes senhores, deve-se a uma existência exagerada de meios que não são aplicados com exactidão nos respectivos incêndios. Pelo menos foi também isto que percebi. Pois bem, tentando perceber melhor esta conjugação de palavras governamentais com as palavras profissionais do senhor presidente da ANBP, cheguei à triste conclusão de que a realidade do interior do país é completamente desconhecida por parte destes excelentíssimos senhores. Algum destes senhores terá perguntado aos centros distritais quantas ocorrências de incêndios têm durante um só dia de trabalho? E já algum destes senhores se deu ao trabalho de perceber os meios complementares (máquinas de rasto, por exemplo) que não existem para um combate poder ser mais efectivo? Sim, estou a ler as palavras ditas e trazidas na comunicação social de forma localizada e, se calhar, não coincidentes com as intenções finais destes senhores, mas não me parece que esteja longe daquilo que eles pretendem. Limando um pouco estas constatações, permitam-me que conclua duas coisitas que gostava que estivessem na mente do senhor Ministro quando disse aquilo que disse perante os jornalistas: primeiro, ele estava a falar do desaparecimento do Grupo de Intervenção, Protecção e Socorro (GIPS) enquanto força que duplicava aquilo que já existia e que foi, digamo-lo, um gasto exagerado de dinheiros públicos em nome de uma qualquer vontade política; segundo, ele fez uma comparação (generalização) despropositada entre o elevado número de operacionais e de meios que é possível colocar nos vários Teatros de Operações (TO) do país, sabendo nós que na região de Lisboa podemos no espaço de 1 (uma) hora colocar facilmente num incêndio florestal 300 (trezentos) homens e sabendo nós também que isso é uma missão impossível de concretizar em qualquer outra área do país (talvez após uma dezena de horas de incêndio isso seja possível). As leituras destes dois pontos ficam em aberto para as considerações dos senhores leitores.

2. Outra das questões que por estes dias veio a lume foram os acidentes na frente de incêndio. Comecemos, outra vez, pelo fim. Na região de Penacova deu-se, naquilo que está relatado e que eu pude ler, um pequeno milagre. O senhor Presidente da Liga, no entanto, chamou-lhe “sangue-frio”. Pois bem, parece-me que teremos os dois um pouco de razão, mas (sem estar a ser arrogante) penso que tenho um pouco mais de razão do que ele. Porquê? Porque o caminho que escolheram foi dar ao sítio certo. Elementar, não é? Sim, imaginem só que o caminho que escolheram e que o “sangue-frio” que eles tiveram os levava para um beco sem saída criado pelo incêndio? Sim, senhor presidente da Liga, as nossas decisões contam muito, mas também conta a conjugação de factores que não depende de nós. Em todo o caso, não há ninguém que fique mais feliz com o desfecho do incêndio de Penacova do que eu.

3. Por fim, volto devagar e com um sentimento de solidariedade imenso aos dias tristes de Miranda do Douro e às faces de todos aqueles que deixaram de ter motivos para sorrir. Não tenho a intenção de dar conselhos ou recomendar qualquer paliativo, pois sei que as palavras que possa dizer aos familiares do António Ferreira ou aos seus companheiros não significam muito. Quero, portanto, virar-me para todos aqueles que serão essenciais no futuro próximo e que, a faltarem, farão com que a vida se transforme num sítio terrível para se habitar. Quero, então, virar-me para as famílias de todos os bombeiros e para as comunidades de Miranda do Douro, e pedir-lhes uma coisa muito simples e que não custará qualquer soma ou esforço: estejam presentes e, quando sentirem que é hora, dêem uma mão, um abraço ou uma palavra de conforto a quem, não o pedindo, o precisará.   


Figueira da Foz, 13 de Agosto de 2013-08-13
Daniel António Neto Rocha